laticínios: o que esperar?
Este ano de 2022 foi marcado pelo aumento dos preços do leite no varejo e são vários os motivos que têm impulsionado essa situação: desde condições climáticas, efeitos da pandemia e influências da guerra na Ucrânia, até a maior demanda por parte do mercado que foi não acompanha a oferta.
É interessante destacar que a menor produção de leite também foi extremamente influenciada pelo aumento dos custos de produção no campo, fato que reduziu a quantidade de leite disponível (até porque vários produtores deixaram a atividade leiteira).
Está cada vez mais difícil para o consumidor comprar um litro de leite quando vai às compras, pois há até registros de marcas sendo vendidas a R$ 10 o litro. Dessa forma, fica evidente que o setor precisará de uma reformulação, até porque exigirá maior eficiência produtiva atrás do portão, além de qualidade e competitividade.
Em relação à dica final, as indústrias precisam se alinhar cada vez mais com o que os consumidores buscam e direcionar seus esforços para preencher essa lacuna.
Mas quais são as principais tendências dos laticínios daqui para frente?
Não é novidade que do leite podem ser originados diversos derivados. Assim, a gama de produtos oferecidos é extensa e permite inovações e variações diversas.
Com o advento da pandemia e a maior preocupação com a saúde e imunidade, os probióticos ganharam destaque, pois diversos estudos os associam à prevenção de doenças e melhor bem-estar mental devido ao eixo intestino-cérebro. Iogurtes e outros produtos lácteos com foco na saúde intestinal (como o kefir) provavelmente continuarão sendo uma das principais modas alimentares.
Ainda na área da saúde, há uma demanda crescente por produtos que possuam quantidades relevantes de proteínas. Quando bem balanceados na dieta, ajudam a prevenir a perda de massa muscular e são muito procurados na alimentação de quem pratica esportes, idosos e diversas outras condições, devido aos seus inúmeros benefícios.
Nesse contexto, as proteínas do leite, principalmente as do soro de leite, têm se destacado, pois possuem propriedades funcionais e são utilizadas mundialmente em diversos tipos de alimentos e bebidas.
Bem-estar animal e sustentabilidade
Atualmente, observa-se um aumento no número de consumidores cada vez mais preocupados com a origem dos produtos que estão colocando na sua mesa e na de sua família. Nesse sentido, quanto mais as fazendas e a indústria focarem em ações voltadas ao conforto do rebanho, saúde animal, qualidade do produto final e redução do risco que aquele alimento pode apresentar ao meio ambiente e ao consumidor, maior será a chance de aceitação pelo público. .
Uma das ideias é investir em estratégias que envolvam o uso de ferramentas como:
- rastreabilidade e garantia de origem;
- certificações (há várias opções disponíveis hoje);
- rotulagem informativa e outras formas de comunicação que as empresas podem utilizar para demonstrar os atributos de seus produtos;
- baixo impacto ambiental;
- foco no bem-estar animal;
- embalagens recicláveis e/ou recicladas;
- marcas com vínculos com causas sociais;
- entre outros.
Contar a história do produto também se tornou uma estratégia para diversas marcas, inclusive o termo “localismo alimentar” ganhou força na busca por produtos lácteos mais frescos e de alta qualidade que apoiem as fazendas e a comunidade local.
É importante ressaltar que todas essas ações passam por uma boa gestão na propriedade rural, afinal, os investimentos nas diversas áreas citadas acima demandam uma visão macro da situação atual da empresa, principalmente na área financeira.
Qualidade do leite: essencial para todos os envolvidos na cadeia produtiva
A busca pela qualidade do leite já é um velho conhecido entre os agentes e profissionais que trabalham com leite, pois impacta tanto no bolso do produtor quanto na indústria. Em suma, um pecuarista que não entrega leite com padrões adequados para laticínios acaba perdendo a oportunidade de ser subsidiado. Do lado da indústria, o leite de baixa qualidade interfere na produção de laticínios e reduz sua vida útil.
É por isso que o setor deve continuar lutando pela busca incansável de reduzir a Contagem de Células Somáticas (CCS) à medida que todos os links vencem. Para melhores resultados nesse quesito, a gestão da fazenda leiteira também é essencial, pois proporciona maior transparência nos negócios, saúde financeira e colaboradores mais motivados.
Portanto, fica evidente que o setor deve se esforçar para acompanhar as constantes mudanças nos hábitos de consumo e assim “dançar ao som da música”. Sempre vale a pena acompanhar as novas e variadas tendências – inclusive mundiais – e ficar de olho no futuro, pois é para lá que devemos sempre mirar.
O que lemos para escrever este artigo:
Aumento do preço do leite: o que está acontecendo? EducaPoint, 2022. Disponível em:https://www.milkpoint.com.br/colunas/educapoint/alta-do-preco-do-leite-o-que-esta-acontecendo-230694/>. Acesso em: 14/07/2022.
INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS – ITAL. Brasil Food Trends 2020. São Paulo: ITAL/FIESP, 2010. 173 p. Disponível em: <https://alimentosprocessados.com.br/arquivos/Consumo-tendencias-e-inovacoes/Brasil-Food-Trends-2020.pdf>. Acesso em: 14/07/2022.
NAVAL, M. Five Key Trends Shaping Dairy Products and Alternatives, Euromonitor International, 2022. Disponível em: <https://www.euromonitor.com/article/five-key-trends-shaping-dairy-products-and-alternatives> . Acesso em: 14/07/2022.
Autor do artigo:
Raquel Maria Cury Rodrigues, zootécnica da Unesp de Botucatu e especialista em Gestão da Produção pela Ufscar.
