A indústria brasileira de produtos para a saúde animal deve fechar o ano, pela primeira vez, com faturamento superior a R$ 10 bilhões.
A estimativa é do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), que reúne as empresas do setor.
O valor esperado representa crescimento de 10% nas vendas de medicamentos veterinários, como vacinas, por exemplo.
Embora os números projetados pelo Sindan sejam animadores, o crescimento em 2022 ficará abaixo de 2021, um ano atípico, quando as vendas de produtos veterinários aumentaram 20%.
Mesmo assim, se manterá na média de faturamento do setor na última década.
Patrocinadores
“2020 foi marcado por grandes desafios, como o arrefecimento da pandemia de covid-19 e a adaptação das empresas ao ‘novo normal’, eleições e Copa do Mundo”, diz o Emílio Salani, vice-presidente executivo do Sindan, ao avaliar como positivo o desempenho do setor este.
Segundo Salani, um dos segmentos que têm impulsionado o crescimento constante do setor é o de animais de estimação, hoje verdadeiros membros das famílias. Isso porque os produtos veterinários contribuem tanto para o bem-estar dos pets quanto para a boa produtividade.
Pecuária
Outro segmento responsável por essa expansão é a pecuária. A indústria de medicamentos veterinários é um dos alicerces da garantia da segurança das proteínas animais produzidas no Brasil para abastecer os consumidores dos mercados interno e externo.
Patrocinadores
Sem uma indústria de saúde animal moderna e eficiente, o Brasil não teria se transformado em um dos maiores produtores e exportadores mundiais de carne bovina, suína e de frango, atendendo o mercado nacional e mais de 100 países.
Faturamento da saúde animal deve crescer 10%
Entre os produtos fabricados pela indústria de medicamentos veterinários, as vacinas estão entre os mais usados para a garantia da saúde animal e, consequentemente, a segurança alimentar da pecuária brasileira.
“Somente para a campanha de vacinação contra a febre aftosa realizada em novembro deste ano, as empresas associadas ao Sindan asseguraram o fornecimento de 175 milhões de doses”, sublinha Salani.
Agenda ESG
Nos últimos anos, com o fortalecimento da agenda ESG, os medicamentos veterinários também ganharam mais relevância na produção, graças ao seu papel para a sustentabilidade na pecuária”, destaca o executivo.
“Os medicamentos veterinários têm um papel importante, ajudando a fertilidade dos animais e o desenvolvimento saudável de filhotes, além de diminuir a mortalidade e aumentar a conversão alimentar do rebanho.”
Mesmo num ano de acentuada elevação dos custos de produção, observa Salani, as indústrias de saúde animal investiram em inovação para oferecer soluções cada vez mais eficazes, seguras e sustentáveis aos produtores.
Paralelamente, o Sindan manteve os esforços para combater a pirataria de medicamentos veterinários, visando proteger os consumidores contra produtos ilegais que ameacem a saúde de pets e de animais destinados à produção de proteínas.
“Neste ano, reforçamos a campanha Olhos Abertos para além do ambiente digital. Nosso canal de denúncias também está sendo reforçado com o apoio do Conselho Federal de Medicina Veterinária e das autoridades competentes, além de ações educativas via rádio em todo o país.”
Deputado Heitor Schuch é autor do texto que deu origem à nova leite – Foto: -Alex-Ferreira/Câmara dos Deputados
O Diário Oficial da União desta quarta-feira (14) publicou a Lei nº 14.475, de 13 de dezembro de 2022, que cria a Política Nacional de Incentivo à Agricultura e Pecuária de Precisão. A nova lei foi originada do PL 149/2019, de autoria do deputado federal gaúcho Heitor Schuch (PSB/RS).
O objetivo da lei sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro é aumentar a produtividade e a lucratividade, reduzir o desperdício e os custos e garantir a sustentabilidade ambiental, social e econômica do setor agrícola.
A agricultura de precisão e digital é uma estratégia de gestão que reúne, processa e analisa dados temporais, individuais e espaciais e os combina com outras informações para apoiar as decisões de gerenciamento da propriedade.
Segundo o deputado Heitor Schuch, a nova lei vai melhorar a eficiência no uso de recursos, produtividade, qualidade, rentabilidade e sustentabilidade da produção agropecuária, agregando valor à cadeia produtiva da agricultura brasileira:
“Num momento de crise internacional, agravada pela guerra na Ucrânia, temos condições, com a adoção dessas tecnologias, de reduzir o impacto da falta de insumos e do aumento de custos de produção das lavouras brasileiras.”
O texto define a agricultura e a pecuária de precisão como aquelas que adotam um “conjunto de ferramentas e tecnologias aplicadas em um sistema de gerenciamento agropecuário baseado na variabilidade espacial ou individual e temporal”.
Esse é o caso, por exemplo, do uso de máquinas agrícolas com sensores capazes de identificar a situação do solo. Outro exemplo são os pulverizadores de defensivos automatizados integrados a um GPS para evitar que o equipamento borrife duas vezes no mesmo local.
Essas tecnologias avançadas permitem uma avaliação precisa das áreas de plantio, levando em conta a diversidade e mudanças do solo e do clima. Algumas das principais diretrizes da nova política são o apoio à inovação, à sustentabilidade e ao desenvolvimento tecnológico e à difusão dessas novas tecnologias, e o estímulo à ampliação da rede e da infraestrutura de pesquisa.
Medidas
O texto obriga os órgãos responsáveis pela formulação e regulação da política a criarem linhas de crédito para a aquisição de equipamentos, estimulando o investimento na agricultura e pecuária de precisão. Eles também devem ouvir as reivindicações e sugestões de representantes do setor de pesquisa e dos produtores rurais.
Essas instituições deverão promover a conexão das propriedades rurais à internet, para viabilizar o acesso dos trabalhadores às informações fornecidas pelas máquinas com sensores e permitir o monitoramento do plantio e das aplicações de insumos.
A criação de uma rede de pesquisa, desenvolvimento e inovação direcionada aos pequenos e médios produtores, para que eles tenham acesso aos recursos tecnológicos, é outra diretriz da política, que inclui ainda o estímulo à adoção de técnicas para redução de gases de efeito estufa. A política deve abranger também as necessidades da agricultura familiar e dos empreendimentos familiares rurais.
Os órgãos terão que incluir disciplinas relacionadas à agricultura e à pecuária de precisão nos currículos dos cursos de ciências agrárias, entre outras ações para estimular a capacitação de mão de obra em nível técnico, superior e de pós-graduação.
A lei determina ainda que deve ser aplicada a mesma alíquota de imposto sobre os itens nacionais e sobre os importados produzidos pela agricultura e pecuária de precisão. Outro ponto estabelece que a agricultura e a pecuária de precisão devem ser reconhecidas como técnicas de redução de riscos para efeito de contratação de seguros rurais.
Desenvolvimento sustentável
O novo instrumento vai contribuir para que o Brasil possa atender seus compromissos com a Agenda de 2030 da Organização da Nações Unidas (ONU), que entende o planeta, as pessoas, a prosperidade, a paz e a parceria como cruciais para o desenvolvimento saudável da vida e determina 17 objetivos de desenvolvimento sustentável a serem atingidos até 2030.
A iniciativa deve contribuir para o atendimento de alguns desses objetivos: a erradicação da pobreza; a fome zero e agricultura sustentável; a saúde e bem-estar; a melhoria da indústria, inovação e infraestrutura; a redução das desigualdades; o consumo e produção responsáveis; e o combate à mudança global do clima.
O texto é um instrumento essencial para estimular a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, a assistência técnica e a extensão rural, a qualificação e gestão dos recursos humanos, a participação e integração dos setores público e privado e a indústria nacional de agricultura e pecuária de precisão.
“Novas soluções técnicas de baixo custo, colheitas programáveis, variedades de plantas resistentes à seca, índices de produtividade previsíveis e estoques administráveis e seguros, serão decisivos tanto para o futuro do agronegócio, como para manter os jovens no campo. Conectados, graduados em escolas e dispondo de tecnologias, os jovens podem ser empreendedores e se tornam atores na nova economia agrícola que se apresenta. Portanto, é mais do que necessário, tomarmos medidas para incentivarmos as novas tecnologias para que possam estar à disposição dos agricultores, especialmente dos agricultores familiares, o mais rápido possível”, enfatiza o deputado Heitor Schuch.
Para saber mais sobre a LEI Nº 14.475, DE 13 DE DEZEMBRO DE 2022
A lei em questão é de caráter principiológico e objetivo, sendo dividida em (I) diretrizes, (II) instrumentos e (III) formulação e execução da Política de que trata o PL. Cabe, principalmente aos órgãos competentes, o papel de estimuladores e organizadores de iniciativas que permitirão ganhos de escala e maior adoção de técnicas e tecnologias pelos produtores brasileiros, independentemente do tamanho de propriedade, sendo adequadas para pequenos, médios e grandes produtores rurais.
A Agricultura de Precisão e a Agricultura Digital se constituem em ferramentas e estratégias para otimizar e agilizar a gestão da tomada de decisão e da produção agrícola em todas as suas etapas, utilizando tecnologias e instrumentos para obtenção e manipulação de grande volume de dados e tem impactado a agricultura brasileira de maneira substancial nos últimos anos.
Os benefícios provenientes da utilização destas tecnologias compreendem maior eficiência no uso de recursos naturais e de insumos e maior produtividade das culturas agrícolas, além da maximização da rentabilidade, levando, entre outros, à redução do impacto ambiental e à maior sustentabilidade da agricultura brasileira.
É importante destacar que o Brasil é o segundo maior exportador de alimentos para o mundo, sendo que, segundo levantamento do CEPEA-CNA no ano de 2020, o faturamento de bens e serviços gerados no agronegócio brasileiro atingiu a soma de R$ 1,98 trilhão, o equivalente a 27,4% do PIB Nacional do ano referido. Em 2019, aproximadamente 47% dos produtores agrícolas brasileiros usaram tecnologias de alta precisão. Recentemente, uma pesquisa publicada pela Embrapa confirma que 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio.
Contudo, as tecnologias utilizadas ainda se limitam a aplicativos de mensagens visando a facilitação na aquisição de insumos, por exemplo. Portanto, é necessário ainda o aprofundamento de tecnologias digitais para maior adesão do setor agropecuário baseado em Agricultura de Precisão e Digital.
O Ministério da Cidadania (MC) liberou R$ 50 milhões para a execução do Programa Alimenta Brasil, informa em nota a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Entre as principais finalidades do Alimenta Brasil estão o incentivo à agricultura familiar e a promoção da inclusão econômica e social, com fomento à produção sustentável, ao processamento de alimentos, à industrialização e à geração de renda.
O programa também incentiva o consumo e a valorização dos alimentos vindos da agricultura familiar e a promoção do acesso à alimentação para as pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional.
Em relação aos recursos liberados nessa terça-feira (13), o Sistema AlimentaBrasilNet está aberto para a retransmissão de projetos de 2021 em razão da necessidade de priorizar as propostas classificadas e não contratadas.
“As operações realizadas pela Conab para a contratação de projetos do Alimenta Brasil passam por um rigoroso controle de sistemas e de documentação, além das fiscalizações realizadas por área competente durante a execução do trabalho. Esse cuidado visa a melhor aplicação dos recursos públicos”, pontua a nota.
As propostas contempladas com os recursos liberados nessa terça-feira são para a modalidade Compra com Doação Simultânea (CDS), por meio da qual a Conab adquire os produtos de agricultores familiares e os próprios produtores entregam os alimentos às instituições socioassistenciais indicadas no projeto.
Os projetos foram classificados pela Conab conforme os critérios definidos pelo Grupo Gestor do Programa, formado pelos ministérios da Agricultura (Mapa), da Economia (ME), da Educação (MEC) e da Cidadania (MC).
Descubra como a Ivermectina está agravando as enchentes!
No Jardim Zoológico de Londres uma estátua ou escultura em escala 60 vezes maior que o natural homenageia alguém que merece muito mais essa honraria do que alguns políticos que já andaram por aí. Trata-se do simpático e popular besouro da família dos Escarabeídeos, mais conhecido como rola-bosta.
Os rola-bostas se alimentam e se reproduzem tendo como matéria-prima o cocô dos animais. Algumas espécies fazem isso no próprio local onde seu manjar cai, outras, mais famosas, constroem uma bola com esse material, muito mais pesada que seu próprio corpo que empurram e rolam com muito esforço e em longas distâncias, qual precioso tesouro, até o local de seu ninho, onde a enterram, depositando ali seus ovos.
Não é à toa que os rola-bostas merecem aquela estátua no Zoo de Londres. Esses besouros são os principais recicladores desse tipo de matéria orgânica na natureza. São os únicos capazes de remover as fezes que o gado deixa em grande quantidade nas pastagens. Garantem que os arredores de algumas aldeias indígenas na floresta não seja uma fedentina só devido ao acúmulo de fezes.
Por serem excelentes adubadores de solo e controladores de pragas, os pecuaristas sabem que quanto mais rola-bostas no pasto, melhor para o gado e para as outras espécies criadas em pastagens.
Somente no Brasil existem mais de 700 espécies de rola-bostas. Sem eles, não seria economicamente viável a produção de carne e leite em pastagens, nos ensina Walter Mesquita Filho, Doutor em Entomologia pela respeitadíssima ESALQ de São Paulo.
Quando a população de ovelhas e gado chegou a algumas dezenas de milhões de cabeças na Austrália, os fazendeiros se depararam com o grande problema do acúmulo de fezes nas pastagens. Onde tem fezes e, geralmente, num raio de um metro ao redor delas, o gado não pasta e o rendimento dos fazendeiros despenca drasticamente.
Os rola-bostas desempenham um papel fundamental na reciclagem de matéria orgânica na natureza. Sua capacidade de remover fezes de animais das pastagens contribui diretamente para a saúde do solo e o bem-estar do gado. No entanto, a utilização de ivermectina na pecuária tem causado um impacto negativo nesse ciclo natural.
O impacto da ivermectina nos rola-bostas
A ivermectina, um medicamento utilizado para tratar parasitas em animais, tem afetado diretamente a população de rola-bostas. Por ser expelida nas fezes dos animais tratados, a substância é consumida pelos besouros, causando mortalidade e redução de suas populações. Esse declínio ameaça a função dos rola-bostas como adubadores de solo e controladores de pragas.
O desequilíbrio causado pela introdução de espécies estrangeiras
Para lidar com o acúmulo de fezes nas pastagens na Austrália, fazendeiros importaram rola-bostas de outras regiões. Essa introdução desencadeou um desequilíbrio ecológico, afetando as espécies nativas e gerando novos problemas. Além disso, a falta de estudos sobre o impacto dessas espécies importadas levanta preocupações sobre suas consequências a longo prazo.
A relação entre rola-bostas e enchentes
Além de sua função na reciclagem de matéria orgânica, os rola-bostas desempenham um papel crucial na prevenção de enchentes. Ao cavar galerias no solo, esses besouros facilitam a infiltração da água das chuvas, reduzindo o volume de escoamento superficial e consequentemente, minimizando o risco de enchentes. A eliminação desses insetos pode levar a impactos significativos no manejo de cheias e na saúde dos ecossistemas.
A relação entre a ivermectina, os rola-bostas e as enchentes revela a complexidade da interação entre os seres vivos e o meio ambiente. O uso indiscriminado desse medicamento em animais de criação pode ter efeitos devastadores na biodiversidade e no equilíbrio dos ecossistemas. A importância dos rola-bostas vai muito além da reciclagem de fezes, influenciando diretamente na fertilização do solo e na prevenção de enchentes. Portanto, é crucial considerar todos os impactos antes de tomar decisões que afetem a natureza.
É fundamental que os gestores públicos e legisladores levem em conta o conhecimento científico acumulado para garantir a sustentabilidade ambiental. Ignorar os efeitos colaterais de ações como a aplicação da ivermectina pode resultar em desequilíbrios ecológicos irreversíveis. Precisamos agir com responsabilidade e consciência para preservar a harmonia entre os seres vivos e o planeta que habitamos.
Reflexão sobre o impacto das ações humanas na natureza
A preservação dos rola-bostas e de outras espécies essenciais para os ecossistemas é vital para garantir um futuro sustentável para o nosso planeta. Cabe a cada um de nós refletir sobre o nosso papel na proteção da biodiversidade e na promoção da harmonia entre os seres vivos. A natureza nos mostra constantemente como suas relações são delicadas e interligadas, e é nossa responsabilidade agir em conformidade com esse conhecimento.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo
Como um medicamento aplicado ao gado está agravando as enchentes?
No Jardim Zoológico de Londres uma estátua ou escultura em escala 60 vezes maior que o natural homenageia alguém que merece muito mais essa honraria do que alguns políticos que já andaram por aí. Trata-se do simpático e popular besouro da família dos Escarabeídeos, mais conhecido como rola-bosta.
FAQs sobre o impacto da ivermectina nas enchentes:
1. Qual o papel dos rola-bostas na natureza?
Os rola-bostas são os principais recicladores de matéria orgânica, removendo as fezes deixadas pelo gado nas pastagens.
2. Como a ivermectina afeta os rola-bostas?
A ivermectina, usada para controlar parasitas no gado, é expelida nas fezes dos animais e prejudica os rola-bostas, essenciais para o ecossistema.
3. Qual a relação entre os rola-bostas e as enchentes?
Os rola-bostas cavam galerias que facilitam a infiltração da água das chuvas no solo, reduzindo o volume que provoca enchentes.
4. Por que a diminuição dos rola-bostas agrava as enchentes?
A falta de rola-bostas leva ao acúmulo de fezes, aumentando problemas causados por parasitas e afetando a qualidade das pastagens.
5. Como evitar o impacto negativo da ivermectina nas enchentes?
Estudos são necessários para encontrar alternativas que controlem os parasitas sem prejudicar a população de rola-bostas e o ecossistema como um todo.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo
No Jardim Zoológico de Londres uma estátua ou escultura em escala 60 vezes maior que o natural homenageia alguém que merece muito mais essa honraria do que alguns políticos que já andaram por aí. Trata-se do simpático e popular besouro da família dos Escarabeídeos, mais conhecido como rola-bosta.
Os rola-bostas se alimentam e se reproduzem tendo como matéria-prima o cocô dos animais. Algumas espécies fazem isso no próprio local onde seu manjar cai, outras, mais famosas, constroem uma bola com esse material, muito mais pesada que seu próprio corpo que empurram e rolam com muito esforço e em longas distâncias, qual precioso tesouro, até o local de seu ninho, onde a enterram, depositando ali seus ovos.
Não é à toa que os rola-bostas merecem aquela estátua no Zoo de Londres. Esses besouros são os principais recicladores desse tipo de matéria orgânica na natureza. São os únicos capazes de remover as fezes que o gado deixa em grande quantidade nas pastagens. Garantem que os arredores de algumas aldeias indígenas na floresta não seja uma fedentina só devido ao acúmulo de fezes.
Por serem excelentes adubadores de solo e controladores de pragas, os pecuaristas sabem que quanto mais rola-bostas no pasto, melhor para o gado e para as outras espécies criadas em pastagens.
Somente no Brasil existem mais de 700 espécies de rola-bostas. Sem eles, não seria economicamente viável a produção de carne e leite em pastagens, nos ensina Walter Mesquita Filho, Doutor em Entomologia pela respeitadíssima ESALQ de São Paulo.
Quando a população de ovelhas e gado chegou a algumas dezenas de milhões de cabeças na Austrália, os fazendeiros se depararam com o grande problema do acúmulo de fezes nas pastagens. Onde tem fezes e, geralmente, num raio de um metro ao redor delas, o gado não pasta e o rendimento dos fazendeiros despenca drasticamente.
Além disso, onde não tem quem destrua, espalhe e decomponha o material fecal no solo, os parasitas fazem a festa e passam a atacar o rebanho. Não existindo rola-bostas nativos na Austrália, os fazendeiros resolveram importar espécies da Europa e da África, a um custo total de 200 milhões de dólares, divididos em duas etapas de 100 milhões cada. O mesmo fez o México, os Estados Unidos, a Rússia e outros países.
Para tratar e prevenir parasitas internos e externos, como lombrigas, carrapatos e piolhos do gado, dos cavalos e outros bichos, usa-se ivermectina, remédio alçado à fama em meio à polêmica acontecida no Brasil durante a epidemia de Covid-19. Os rola-bostas são muito sensíveis à ivermectina que é expelida do corpo dos animais pelas fezes, justo o prato preferido deles para alimentação e reprodução.
Afetados pela ivermectina, nossos simpáticos Escarabeídeos passaram a morrer e ficar mais raros e/ou de tamanho menor aqui no Brasil. Isso implicou prejuízo da qualidade das pastagens pelo acúmulo de fezes e pelo aumento de problemas causados pela mosca-dos-chifres, mosca-dos-estábulos e outros, que, em condições normais, são controlados pelos rola-bostas.
O problema ficou tão sério que o próprio Brasil importou uma espécie de rola-bosta africano, pretensamente mais resistente à ivermectina que as espécies nativas, e aí surgiu outro problema. Como isso não foi bem estudado, suspeita-se que a espécie africana esteja sendo responsável também pela diminuição das espécies nativas, causando mais um (MAIS UM!!!) desequilíbrio ecológico.
Ao levar os restos fecais para maiores profundezas do solo como poucos outros bichos fazem, além de promoverem a fertilização, os rola-bostas cavam milhões de galerias de acesso que contribuem para a aeração e ampliam enormemente a infiltração de água das chuvas nos solos. Água que penetra no solo é água que deixa de escorrer pela superfície e fica armazenada, portanto, diminuindo o volume que escoa e provoca enchentes!
A ivermectina, apesar de eficiente controlador de parasitas, tem efeitos colaterais diretos pelos danos que causa aos rola-bostas e só por isso há quem ache que esse fármaco mais prejudica que ajuda na pecuária. Se somarmos a isso a eliminação dos eficientes construtores de galerias no solo, temos um motivo a mais para nos preocupar.
A relação ivermectina – rola-bosta – controle biológico de pragas – enchentes, aqui resumida, também serve de exemplo das miríades de fatores a se considerar na gestão da paisagem, visando o efetivo controle das cheias. Revela que existe conhecimento científico acumulado suficiente para tal.
Parece que nossos legisladores e tomadores públicos de decisões, diante de tudo o que está acontecendo de mudanças climáticas, continuam a insistir em dar as costas para o conhecimento científico e técnico acumulado.
Se eles fossem médicos ao invés de gestores públicos, estariam também ignorando esses avanços científicos e exercendo a medicina ainda com base nas cartilhas dos gregos Hipócrates – o pai da Medicina e Galeno, que viveram cerca de três e dois séculos antes de Cristo?
Iumaã Bacca posa ao lado do merecido monumento aos besouros da família dos Escarabeídeos, conhecidos popularmente no Brasil como rola-bostas e a bola construída com seu precioso material, no Zoológico de Londres, nesta imagem buscada não no fundo, mas, da parte mais de cima do Baú Ambiental. Foto Lauro E. Bacca, em 15/12/2012.
Veja agora mesmo!
Clube de Caça e Tiro Itoupava Rega mantém tradições perdidas na região:
Faturamento da indústria de saúde animal deve crescer 10% este ano
Emílio Salani, vice-presidente executivo do Sindan
A indústria brasileira de produtos para a saúde animal deve fechar o ano, pela primeira vez, com faturamento superior a R$ 10 bilhões. A estimativa é do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), que reúne as empresas do setor. O valor esperado representa crescimento de 10% nas vendas de medicamentos veterinários, como vacinas, por exemplo.
Embora os números projetados pelo Sindan sejam animadores, o crescimento em 2022 ficará abaixo de 2021, um ano atípico, quando as vendas de produtos veterinários aumentaram 20%. Mesmo assim, se manterá na média de faturamento do setor na última década.
“2020 foi marcado por grandes desafios, como o arrefecimento da pandemia de covid-19 e a adaptação das empresas ao ‘novo normal’, eleições e Copa do Mundo”, diz o Emílio Salani, vice-presidente executivo do Sindan, ao avaliar como positivo o desempenho do setor este.
Segundo Salani, um dos segmentos que têm impulsionado o crescimento constante do setor é o de animais de estimação, hoje verdadeiros membros das famílias. Isso porque os produtos veterinários contribuem tanto para o bem-estar dos pets quanto para a boa produtividade.
Pecuária
Outro segmento responsável por essa expansão é a pecuária. A indústria de medicamentos veterinários é um dos alicerces da garantia da segurança das proteínas animais produzidas no Brasil para abastecer os consumidores dos mercados interno e externo.
Sem uma indústria de saúde animal moderna e eficiente, o Brasil não teria se transformado em um dos maiores produtores e exportadores mundiais de carne bovina, suína e de frango, atendendo o mercado nacional e mais de 100 países.
Entre os produtos fabricados pela indústria de medicamentos veterinários, as vacinas estão entre os mais usados para a garantia da saúde animal e, consequentemente, a segurança alimentar da pecuária brasileira.
“Somente para a campanha de vacinação contra a febre aftosa realizada em novembro deste ano, as empresas associadas ao Sindan asseguraram o fornecimento de 175 milhões de doses”, sublinha Salani.
Agenda ESG
Nos últimos anos, com o fortalecimento da agenda ESG, os medicamentos veterinários também ganharam mais relevância na produção, graças ao seu papel para a sustentabilidade na pecuária”, destaca o executivo.
“Os medicamentos veterinários têm um papel importante, ajudando a fertilidade dos animais e o desenvolvimento saudável de filhotes, além de diminuir a mortalidade e aumentar a conversão alimentar do rebanho.”
Mesmo num ano de acentuada elevação dos custos de produção, observa Salani, as indústrias de saúde animal investiram em inovação para oferecer soluções cada vez mais eficazes, seguras e sustentáveis aos produtores.
Paralelamente, o Sindan manteve os esforços para combater a pirataria de medicamentos veterinários, visando proteger os consumidores contra produtos ilegais que ameacem a saúde de pets e de animais destinados à produção de proteínas.
“Neste ano, reforçamos a campanha Olhos Abertos para além do ambiente digital. Nosso canal de denúncias também está sendo reforçado com o apoio do Conselho Federal de Medicina Veterinária e das autoridades competentes, além de ações educativas via rádio em todo o país.”
A variação alia-se à mudança de hábitos de compra do consumidor, que migra de uma linha premium para uma básica, configurando assim a desaceleração do segmento pet em função do cenário econômico atual. A carga tributária incidindo sobre o setor que corresponde a 51,2% (para pet food, produto mais procurado, é 54,2% sob o valor total), fazendo com que o crescimento real do setor seja baixo ou mantenha a indústria estagnada.
As exportações pet somaram mais de US$ 80 milhões no 1º trimestre de 2021. Pet food foi responsável por 94,26% de todo o valor exportado pelo setor, de acordo com o Ministério da Economia. Pet care foi responsável por 3,60%. Produtos veterinários representaram 0,13% das exportações, e a comercialização de animais vivos, 2,01%. O crescimento foi de 34% em relação às exportações no mesmo período de 2020, é importante ressaltar que a alta da moeda americana em 2021 impactou muito no crescimento apresentado
Em meio ao período de entressafra, a oferta de mandioca segue abaixo da demanda, contexto que mantém os preços da raiz em alta.
Mandiocultores consultados pelo Cepea estão sem interesse pela comercialização das lavouras mais novas, devido à baixa produtividade agrícola, e as chuvas também dificultaram os trabalhos de campos.
Preços da mandioca seguem em alta
Assim, entre 5 e 9 de dezembro, o valor médio nominal a prazo para a tonelada de mandioca posta fecularia foi de R$ 1.175,27, com alta de 1,2% frente ao da semana anterior.
Em termos reais (deflacionamento pelo IGP-DI), a média supera em 63% a de igual período do ano passado, sendo a terceira maior de toda a série histórica do Cepea, iniciada em 2002.
Os preços dos ovos se mantiveram estáveis neste início de dezembro. De acordo com colaboradores consultados pelo Cepea, essa estabilidade é reflexo do ajuste entre a oferta e a demanda pela proteína.
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e compilados pelo Cepea mostram que a produção de ovos de galinha (POG) para consumo bateu recorde no terceiro trimestre deste ano.
A produção atingiu 826,5 mil dúzias, crescimento de 0,8% frente à do segundo trimestre e também o maior volume já registrado em um trimestre em toda a série histórica do IBGE, iniciada em 2018.
As exportações brasileiras de arroz (base casca) totalizaram 1,83 milhão de t de janeiro a novembro de 2022, com receita de US$ 568,9 milhões, contra 981,6 mil t embarcadas de igual período de 2021, quando o faturamento foi de US$ 316,2 milhões. O resultado do acumulado do ano representa um crescimento de 186% em volume e de 80% em receita. Os números foram divulgados nesta sexta-feira (9) pela Abiarroz (Associação Brasileira da Indústria do Arroz), com base em dados do Ministério da Economia.
Em novembro, segundo a associação, os envios do cereal para o mercado externo somaram 159,7 mil t, o equivalente a US$ 55,4 milhões. Em igual mês de 2021, as exportações alcançaram 26,3 mil t, com receita de 9,94 milhões.
Diretor de Assuntos Internacionais da Abiarroz, Gustavo Trevisan diz que o volume de exportações do cereal em 2022 está próximo da projeção da entidade, que espera fechar o ano com embarques de cerca de 2 milhões de t.
Trevisan explica também por que ocorreu uma grande diferença entre os percentuais da quantidade enviada ao exterior e de faturamento das exportações. “Essa diferença de percentual – 186% em volume e 80% em receita – se deve a uma maior participação da matéria-prima nos embarques neste período”, pontua Trevisan.
Arroz beneficiado
A gerente de Exportação da Abiarroz, Carolina Matos, acrescenta que as vendas externas de arroz beneficiado, de maior valor agregado, atingiram 483,7 mil t de janeiro a novembro, com receita de US$ 167,6 milhões.
No mês passado, as exportações do cereal beneficiado totalizaram 35,4 mil t, com divisas de US$ 13,8 milhões. Os principais importadores foram Argélia, Estados Unidos, Cabo Verde, Peru, Venezuela, Angola, Trinidad e Tobago, Barbados, Bolívia e São Tomé e Príncipe.
Ela informa que há previsão de aumento das exportações de beneficiado ainda este ano. Em 2022, foram realizadas cerca de 10 ações para promoção do arroz beneficiado brasileiro, por meio do projeto Brazilian Rice, uma parceria de mais de uma década entre a Abiarroz e a ApexBrasil.
Na última semana, entre 30 de novembro e 1º de dezembro, a equipe da Abiarroz promoveu reuniões com 14 adidos agrícolas, em Brasília, para apresentar o produto e abrir novos mercados à exportação do arroz beneficiado. “Tivemos algumas notícias boas e esperamos abrir novos mercados para o arroz beneficiado em breve”, afirma Carolina.
A China já foi o maior produtor mundial de soja, respondendo por cerca de 90% das safras globais. Atualmente, 60% das exportações de soja são destinadas ao mercado chinês. Essa dramática inversão foi o resultado do envolvimento do capital internacional e sua manipulação da cadeia de produção, abastecimento e comercialização da soja. De alimento e necessidade cultural, a soja foi reduzida, pouco a pouco, a um instrumento para enriquecer os magnatas das multinacionais de commodities agrícolas.
Mas até que ponto o capital internacional controla as sementes de soja e vários aspectos do seu plantio, comercialização e processamento? Como o capital prejudicou os produtores e consumidores de soja, enquanto colhia lucros devastadores? Que mal causou ao ambiente ecológico e à saúde humana?
De “reino da soja” à dependência das importações
A China é o berço da soja, que é cultivada ali há mais de 4 mil anos. Até a Segunda Guerra Mundial, a China era o maior produtor de soja, respondendo por cerca de 90% da produção mundial. Seus vizinhos asiáticos – Coreia do Sul, Japão, Indonésia, Filipinas, Vietnã, Tailândia, Mianmar e Nepal, entre outros – também cultivam a soja.
Apenas na primeira metade do século XVIII, a soja começou a ser cultivada na Europa. Em 1765, foi introduzida nas colônias norte-americanas como “ervilhas selvagens da China”. No entanto, foi somente na década de 1940 que esse cultivo realmente “decolou” nos Estados Unidos. Nos 50 anos seguintes, os EUA dominaram a produção mundial do grão e, em 1961, os EUA produziam 68,7% da soja mundial; a China ficava em segundo lugar, com uma participação que caíra para 23,3%; e os outros países, em conjunto, respondiam por cerca de 8%.
Na América Latina, o cultivo da soja disparou entre o final da década de 1960 até a década de 1970. Em 1974 e 1998, respectivamente, Brasil e Argentina ultrapassaram a China em produção e, em 2002, ambos países superaram os Estados Unidos na produção total. Em 2011, a participação da China na soja global era de apenas 5,55%, enquanto a participação dos EUA era de 31,88%; do Brasil, de 28,67%; da Argentina, 18,73%; e os demais países atingiram um recorde de 15,16%. Destes, destacava-se a produção da Índia, com 12,3 milhões de toneladas, quase o dobro de sua produção de 2004 e equivalente a 85% da produção da China.
Os dados mostram, no entanto, que o consumo de soja na China vem aumentando ano a ano, de menos de 8 milhões de toneladas em 1964 para quase 70 milhões de toneladas em 2010. E a tendência é de que esse número continuará crescendo.
Em contraste com o rápido crescimento do consumo, a produção de soja da China basicamente decresceu de 1964 a 2010, quando atingiu um nível inferior a 15 milhões de toneladas, e o consumo chegou a 70 milhões de toneladas. Em 2021, a produção nacional de soja foi de 16,4 milhões de toneladas; já o consumo, de 108,72 milhões de toneladas.
Na verdade, a China praticamente não importava soja até meados da década de 1990. A partir de então, as importações de soja cresceram rapidamente e, em 2011, atingiram mais de 80% do consumo. Em 2012, a China importou 58,38 milhões de toneladas de soja, sendo a grande maioria proveniente dos Estados Unidos, Brasil e Argentina.
Em termos de comércio global da soja, o mercado chinês era insignificante até meados da década de 1990. Nos últimos dois anos do século XX, sua participação no mercado era de pouco mais de 10%. Desde então, no entanto, em pouco mais de uma década, a participação de mercado da China cresceu aos solavancos. Agora, 60% das exportações totais de soja do mundo têm como destino o mercado chinês, e a China se tornou o maior importador mundial do produto.
Em 2010, o banco holandês Rabobank publicou, no relatório intitulado “Sustentabilidade e Segurança na Cadeia de Suprimento Alimentar Global”, que a China importa uma variedade de produtos agrícolas, como peixe congelado, lã, óleo de palma e algodão de todo o mundo, mas o maior comércio agrícola está na soja da Argentina, Brasil e Estados Unidos, com um valor total de cerca de US$ 20 bilhões.
O que exatamente causou essa mudança?
Intervenção do capital: de alimentos a commodities
A China foi a maior base mundial de produção de soja até o século 20, quando o grão era pouco comercializado entre os países. Foi o envolvimento do capital multinacional que causou mudanças dramáticas nas regiões produtoras e no comércio da soja.
Em 1908, a japonesa Mitsui & Co., a dinamarquesa Proton & Co. e a Roman Kabalkin & Sons, fundada por empresários judeus russos, abriram um negócio para exportação de soja para a Europa. Com o envolvimento do capital, a soja deixou de ser um mero alimento – rico em proteínas e capaz de fornecer óleo comestível – para se tornar uma mercadoria capaz de gerar grandes lucros para os capitalistas, sendo o seu principal atrativo o fato de ser adequada para um modo de cultivo intensivo em capital e em larga escala.
Atualmente, a produção de soja está concentrada em quatro países: Estados Unidos (35%), Brasil (34%), Argentina (11%) e China (5%). E quem visita as zonas produtivas costuma ver basicamente um campo de cultivo infinito.
Já o consumo da soja e seus produtos (principalmente óleo e farelo de soja, este usado como ração destinada à pecuária) é global. Somente por meio do comércio transfronteiriço em larga escala, bilhões de pessoas que vivem em outros países podem consumir soja e produtos de soja. Desta forma, a cadeia de produção, abastecimento e distribuição, do investimento de capital ao cultivo, ao comércio, ao processamento e ao consumo, torna-se cada vez mais multifacetada e complexa.
Então, quem controla a cadeia produtiva da soja?
O capital é o fator-chave que alimenta a integração da produção, abastecimento e comercialização mundial da soja. Existe uma grande cadeia produtiva da soja que conecta milhões de produtores e bilhões de consumidores, sendo que em cada elo da cadeia há a penetração de empresas multinacionais, geralmente as mesmas: os principais players estão presentes em todos os elos da cadeia, maximizando seus lucros.
Nos mercados financeiros globais, os investidores com os bolsos cheios (incluindo grandes corporações, investidores institucionais, fundos de pensão, trustes e bancos) têm acesso a trilhões de dólares de capital em todo o mundo em questão de segundos, buscando os retornos mais rápidos e mais altos que puderem.
Na busca de sólidos retornos de investimento de longo prazo, os investidores financeiros alocaram grandes quantias de capital na produção global de alimentos e no comércio agrícola. Ficou fácil para algumas multinacionais que operam no setor de produtos agrícolas levantar grandes quantidades de capital. Com esses recursos, puderam iniciar novos negócios, adquirir empresas nacionais menores, percorrer o mundo para adquirir grandes empresas nacionais, inclusive seus principais concorrentes regionais.
Essas capacidades são inigualáveis por quaisquer economias individuais, empresas comuns e até mesmo por alguns pequenos países. Com essas vantagens, poucas empresas multinacionais formaram um controle monopolista do mercado global em cada elo da cadeia da soja (genética, sementes, defensivos, fertilizantes, comércio, processamento, distribuição e varejo).
A cumplicidade das quatro gigantes multinacionais dos grãos
Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus são conhecidas como as quatro maiores multinacionais dos grãos. Conhecidas pela abreviação “ABCD”, essas gigantes controlam 80% do volume mundial de grãos e 90% do volume de soja, sendo as três primeiras dos Estados Unidos e a última da França.
A Archer Daniels Midland (ADM), fundada em 1902, é a maior empresa de produção, processamento e manufatura agrícola do mundo, e a maior processadora mundial de canola, milho, trigo e outros produtos agrícolas. A Bunge, fundada em 1818, é a maior processadora de oleaginosas do mundo. Fundada em 1865, a Cargill é a maior empresa privada dos Estados Unidos. Já a Louis Dreyfus, fundada em 1851, é líder global em comércio e processamento de produtos agrícolas e alimentos, com presença global em mais de 100 países.
Alianças horizontais entre as ABCD são comuns. Para citar apenas alguns exemplos, há o projeto de joint venture entre Louis Dreyfus e ADM em 1993, a parceria de intercâmbio entre Bunge e Cargill em 1995 e a joint venture entre Louis Dreyfus e Cargill em 2001.
Além disso, devido às diferenças nos segmentos controlados pelas ABCD, elas costumam formar alianças de diversos tipos, desde joint ventures, parcerias e acordos contratuais de longo prazo até outras formas de alianças estratégicas.
Em suma, essas alianças mostram que há cumplicidade, e não competição, entre elas. Em vez de propriedade total ou controle de uma única empresa, essas alianças estratégicas consistem em várias empresas formando uma rede muito estreita de relações contratuais, a fim de aumentar seu controle sobre todos os segmentos da cadeia de produção, abastecimento e comercialização da soja.
Como exemplo, pode-se citar a cooperação entre a ADM e a multinacional farmacêutica e de biotecnologia Novartis. Em 2000, a indústria agroquímica do Grupo Novartis fundiu-se com a da AstraZeneca para formar a Syngenta, uma líder mundial dos agrotóxicos.
Outro exemplo: em 1998, a Monsanto e a Cargill, duas gigantes estabelecidas há muito tempo, contribuíram cada uma com 50% para formar uma joint venture – a Reneisen, LLC.
As duas empresas, com culturas corporativas e estratégias de negócios muito diferentes, se uniram com o objetivo de combinar os pontos fortes da Monsanto – sementes e biotecnologia – com os pontos fortes da Cargill – processamento de grãos, marketing e controle de risco.
Em síntese, as maiores empresas de agroinsumos do mundo (gigantes de pesticidas, fertilizantes, sementes e biotecnologia) uniram forças com os maiores comerciantes de grãos do mundo (envolvidos no comércio, processamento e comercialização).
As primeiras precisam das instalações globais de manuseio e processamento das últimas para garantir que os produtores que usam seus produtos tenham mercados à jusante; por sua vez, ao fortalecer a cooperação com parceiros à montante, as empresas multinacionais de grãos podem fortalecer seu controle sobre os produtores de soja e matérias-primas.
Com essas alianças em vigor no planeta, não faz sentido falar de mercados abertos. Ou seja, a concorrência e o preço desempenham um papel pequeno em todo o processo de produção, abastecimento e comercialização.
A operação global dos big players
Esses grandes players que controlam o mercado internacional de grãos obtiveram enormes ganhos. Se tomarmos 1999 como ponto de partida, até 2012 as vendas líquidas da ADM aumentaram 4,8 vezes; as da Bunge, 7,55 vezes; e as da Cargill, que tiveram um desempenho relativamente pior, aumentaram 2,93 vezes. De 2001 em diante, os lucros das três ABC aumentaram acentuadamente, em contraste com o período anterior de 1996 a 2001.
O Grupo Louis Dreyfus nunca publica relatórios financeiros anuais, exceto ocasionalmente o relatório de vendas de sua empresa de commodities (Louis Dreyfus Commodities, ou LDC), cujas vendas líquidas quase dobraram em apenas quatro anos (2008 a 2011).
Dados recentes mostram que, em 2021, a receita operacional das quatro gigantes dos grãos totalizou quase US$ 330 bilhões. A Archer Daniels Midland, com US$ 85,249 bilhões em receita operacional, alcançou o melhor desempenho em 120 anos, e a Bunge e Louis Dreyfus tiveram um crescimento de lucro anual de mais de 80% em comparação com 2020. Já a receita anual da Cargill foi de US$ 134,4 bilhões, com um crescimento de 64% no lucro anual, o maior em 156 anos de empresa.
Essas gigantes dos grãos não estão diretamente envolvidas no cultivo da soja, mas controlam a sua produção nas Américas do Norte e do Sul, concedendo empréstimos à produção, construindo estruturas de transporte (ferrovias, estradas, portos) etc., para que os produtores de soja tenham que pagar seus empréstimos com soja barata. As gigantes ABCD compram soja a preços razoavelmente baixos e depois revendem nos mercados futuros internacionais a preços que consideram adequados. Idealmente, é claro, sempre buscam que a diferença entre o preço de compra e o de venda seja a maior possível; no entanto, para derrotar os concorrentes em potencial, eles também reduzem artificialmente o preço de venda, aplicando uma estratégia de dumping.
Além disso, as quatro gigantes dos grãos têm uma vantagem ainda maior no que se refere à posse e ao processamento de informações. Todas elas têm uma operação global, com agências em todos os cantos do mundo dedicadas a coletar informações de mercado, classificadas e analisadas por profissionais, em comunicação em tempo real com o centro de processamento de informações na sede da empresa.
Eles operam 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano, dando suporte às decisões de compra e venda no mercado internacional de futuros.
Os consumidores ganham com isso?
Isso significa que os consumidores dos países importadores também podem pegar a onda e obter ganhos nesse processo?
Não necessariamente.
Sempre que possível essas empresas converterão o benefício dos baixos preços de compra em lucros; temporariamente, elas podem até beneficiar os consumidores dos países importadores para abrir ou consolidar sua participação em um mercado local.
Vários estudos têm mostrado que, em geral, há um spread crescente entre o preço do início da cadeia e o preço final de venda das commodities agrícolas. Por exemplo, em 1997, um estudo do Banco Mundial estimou que no comércio mundial de commodities (sendo o principal exemplo dos autores as commodities agrícolas), a diferença entre os dois preços estava crescendo, chegando a US$ 100 bilhões por ano, e que o comportamento monopolista das tradings multinacionais era o responsável por isso, porque quanto maior a influência de mercado das multinacionais, maior essa diferença se mostra nos contextos locais.
Um estudo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) de 2002 também observou que a diferença entre os preços do produtor e do varejo aumentou rapidamente desde a década de 1980, especialmente nos países com altos níveis de concentração de mercado. Em outras palavras, mais cedo ou mais tarde, os consumidores também se tornam vítimas do comportamento monopolista do capital transnacional.
Quem verdadeiramente ganha nessa história ainda são as empresas multinacionais com grande capital. Eles podem maximizar seus lucros aumentando os preços no mercado global quando entendem ser a hora certa. Se essa análise for verdadeira, os consumidores também são as vítimas, pois por volta de 2008 não foram só os preços da soja que foram às alturas, também os preços de outros alimentos cresceram muito. O aumento dos preços dos alimentos desencadeou distúrbios alimentares em todo o mundo e levou à mudança da dieta em alguns países.
Enquanto o capital se locupleta, são as pessoas e a natureza que pagam o preço.
Primeiro, o impacto negativo do controle do capital sobre a cadeia de produção, abastecimento e comercialização da soja no ambiente ecológico não pode ser ignorado.
Nos cinturões de produção de soja dos Estados Unidos, Brasil e Argentina, a monocultura pode perturbar a composição microbiana natural do solo e causar erosão. Esse perigo é particularmente agudo nas áreas que dependem fortemente de agroquímicos.
Mais assustador ainda, o rápido crescimento da produção de soja no Brasil tornou-se uma das principais causas do desmatamento maciço e da queima da floresta amazônica. Só na década 1990-2000, a área de floresta destruída foi o equivalente ao dobro do território de Portugal. A perda da floresta liberou grandes quantidades de dióxido de carbono que se encontravam fixados na vegetação e no solo. O desmatamento e a queima de árvores na Amazônia transformaram esse “pulmão da terra” em um “emissor de carbono”, tornando o Brasil um dos maiores emissores mundiais de gases de efeito estufa; até 75% dessas emissões vêm da destruição da floresta tropical.
A floresta amazônica contém alguns dos recursos biológicos mais ricos e diversos do mundo, com milhões de espécies de insetos, plantas, pássaros e outros organismos. Sua destruição generalizada levará obviamente à perda de biodiversidade ao mesmo tempo, o que acabará por colocar em risco a segurança da própria espécie humana. Além disso, o uso indevido de herbicidas pode levar à contaminação dos lençóis freáticos e ao surgimento de “superervas daninhas”.
Em segundo lugar, há o desemprego e a fome, consequências da substituição de pequenas fazendas por latifúndios dedicados à monocultura exportadora.
Terras superdimensionadas, intensivas em capital, fortemente dependentes de agroquímicos (pesticidas e fertilizantes) e de máquinas agrícolas: este é um jogo que apenas grandes proprietários de terras e investidores com muito capital podem jogar. Eles compram campos de agricultores pobres em grande escala, substituindo pouco a pouco os métodos de produção pequenos e diversificados.
No Brasil e na Argentina, a soja foi inicialmente produzida em pequenas fazendas familiares com área entre 5 e 50 hectares, mas depois as fazendas de soja cresceram e as menores foram sendo reduzidas a uma parcela da terra cada vez menor.
Nos últimos anos, surgiram novas plantações de soja, muitas vezes em terras de 10 mil a 50 mil hectares, o que significa que a propriedade da terra se concentrou ainda mais nas mãos de grandes proprietários e investidores. A mesma situação surgiu no Brasil e na Argentina: a grande maioria das propriedades rurais é de pequeno porte, mas a grande maioria das terras é ocupada por poucas fazendas de enormes dimensões. As pequenas propriedades empregam um trabalhador para cada 8 hectares de terra, enquanto as grandes propriedades empregam apenas um trabalhador para cada 200 hectares.
Assim, a substituição das pequenas propriedades por grandes fazendas teve uma consequência grave: um grande número de agricultores familiares ficou sem terra, o emprego proporcionado pelas fazendas existentes foi drasticamente reduzido. Ir para a cidade significava viver em favelas, e permanecer no campo significava inanição.
As pequenas fazendas sobreviventes dependem fortemente de empresas multinacionais para obter crédito, sementes, maquinário, fertilizantes, pesticidas e canais de comercialização. Elas são incapazes de competir com a força das tradings multinacionais, muito bem financiadas e dispersas por todo o planeta, e se veem obrigadas a ser subservientes nesse jogo desigual.
As estimativas de produção brasileira e mundial de trigo na safra 2022/23 continuam apontando volume recorde.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a safra 2022/23 no Brasil seja de 9,55 milhões de toneladas, alta de 24,4% frente à temporada 2021/22, um recorde.
Quanto à produção mundial 2022/23, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda – sigla em inglês), está estimada em 780,58 milhões de toneladas, 0,2% acima dos da safra passada.
Preços
Quanto aos preços, dados do Cepea mostram que seguem em queda no Brasil. Segundo pesquisadores, a baixa está atrelada à desvalorização internacional e ao crescimento na oferta de trigo no País. Vale lembrar que a colheita nacional está quase finalizada nos principais estados produtores, Rio Grande do Sul e Paraná.