Dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) são os principais GEEs. O CH4 e o N2O na atmosfera são 23 a 296 vezes mais capazes de causar o efeito estufa do que o CO2, porém, o CO2 pode permanecer na atmosfera por tempo indeterminado, aumentando muito sua concentração, enquanto o CH4 e o N2O têm meia-vida na atmosfera. atmosfera. atmosfera reduzida ±12,4 anos e ±121 anos, respectivamente.
A queima de combustíveis fósseis é o maior contribuinte de GEEs, principalmente na formação de CO2, sendo responsável por mais de 60% de todas as emissões globais. Entre 1750 e 2017, houve um aumento de mais de 70% na concentração de carbono na atmosfera (Tigchelaar et al., 2018). Entre outras atividades, a produção animal é responsável por cerca de 5,0% das emissões diretas de GEE e considerando toda a cadeia produtiva, a produção animal é responsável por 14,5% dos GEE (FAO, 2017).
Assim, a estratégia para mitigar o efeito negativo desses gases na atmosfera é aumentar sua fixação, tanto no solo, plantas e oceanos, reduzindo seu impacto no efeito estufa (Naqvi e Sejian, 2011; IPCC, 2013).
As emissões de GEE da suinocultura na América do Sul são relativamente baixas (FAO, 2017). No entanto, várias estratégias são utilizadas para reduzir ainda mais o impacto da suinocultura nas emissões de carbono.
Nesse contexto, trabalhar com o conceito de suinocultura de baixo carbono vem ganhando força e incentivo no Brasil a partir de um plano que visa implementar ações e tecnologias que aumentem a sustentabilidade nos meios de produção da cadeia suína.
Na suinocultura, a maioria dos GEEs são produzidos principalmente na decomposição do esterco, em condições anaeróbicas, portanto estratégias que reduzam a concentração de nutrientes no esterco, ou que realizem o tratamento adequado do mesmo, são eficientes no aumento da sustentabilidade. do sistema (COSTA, 2009).
Assim, existem duas formas principais de reduzir a emissão de carbono na atividade, a primeira é aumentar a eficiência no uso dos ingredientes e a segunda é realizar o tratamento adequado dos resíduos.
Na alimentação de suínos, a preocupação do nutricionista em reduzir as emissões de carbono envolve o uso de estratégias para aumentar a digestibilidade dos nutrientes, além de reduzir o excesso de nutrientes fornecidos aos animais.
Nas formulações, deve-se utilizar o conceito de proteína ideal, formulado à base de aminoácidos digestíveis, a fim de reduzir o excesso de proteína e aminoácidos fornecidos aos animais, o que provoca redução na excreção de nitrogênio no ambiente, além de melhorar eficiência alimentar. dos animais, devido ao menor gasto energético para metabolizar e excretar o excesso de nitrogênio dos aminoácidos.
Quando a proteína bruta (PB) é reduzida de 19,3% para 16,0% para suínos em terminação, é possível reduzir aproximadamente 15,0% de CO2 equivalente emitido para o meio ambiente (Atakora, 2009). Além disso, a redução da concentração de PB está positivamente correlacionada com a redução do volume de esterco. Estima-se que para cada 1,0% de PB reduzido da ração, há uma redução de 3,0 a 5,0% na produção de dejetos suínos (Oldenburg, 1996; Kay e Lee, 1996).
Outra estratégia é o uso de enzimas exógenas na nutrição. Enzimas como a fitase promovem a hidrólise do ácido fítico, disponibilizando ao animal fósforo e outros nutrientes complexados em fitato. Dessa forma, promove uma redução na excreção de fósforo e outros nutrientes como cálcio e microminerais, e aumenta a utilização desses nutrientes que estariam indisponíveis para o animal, melhorando assim a eficiência alimentar.
Carboidrases e proteases podem ser utilizadas em associação com fitase para melhorar o aproveitamento dos nutrientes da dieta pelos animais e reduzir a concentração de nutrientes excretados. O uso de enzimas deve ser avaliado de acordo com a fase de produção do animal e o tipo de ingrediente utilizado na ração, a fim de avaliar a proporção de substrato para que as enzimas atuem.
Chen et ai. (2020) demonstraram que o uso de carboidrase para suínos em crescimento reduz a emissão de CO2 em aproximadamente 0,5 g/suíno/dia.
A fim de reduzir a liberação de GEE, as enzimas exógenas têm seu uso justificado devido à maior disponibilidade de nutrientes que promovem, reduzindo a contaminação ambiental pela alta excreção de nutrientes que até então estariam indisponíveis nos dejetos suínos.
A mudança da fonte de minerais utilizados na formulação de dietas também é considerada uma estratégia eficiente do ponto de vista ambiental e também visando aumentar a eficiência de sua utilização pelo animal. A mudança de minerais de fontes inorgânicas como óxidos e sulfatos para fontes quelatadas promove maior biodisponibilidade de minerais, o que reduz a inclusão na dieta e consequentemente a excreção no esterco. Alguns minerais como o zinco em sua forma óxido são utilizados em creches com o objetivo de diminuir a incidência de diarreia pós-desmame, diversos estudos mostram que fontes quelatadas de zinco não têm o mesmo efeito, ou não na mesma intensidade, tornando é difícil substituir o óxido de zinco quando utilizado nesta função, mas é possível diminuir os níveis utilizados, pois na maioria das vezes estão acima do necessário para a ação promotora, a redução do óxido de zinco promove uma importante redução na concentração de zinco. zinco presente em dejetos de suínos. Outra estratégia é o uso de ingredientes que também reduzam a incidência de diarreia pós-desmame, mas que não tenham impacto negativo no meio ambiente.
Na fase de terminação, além das estratégias citadas, o uso da ractopamina, um agonista β-adrenérgico, que atua principalmente alterando o metabolismo muscular e adiposo dos suínos, aumentando a taxa de deposição muscular e reduzindo a deposição lipídica, o que promove aumento eficiência de utilização dos nutrientes, pode também promover a redução na excreção de nutrientes devido ao melhor aproveitamento pelos animais, desta forma, esta molécula contribui para tornar a atividade suína mais sustentável.
O uso de ractopamina na terminação faz com que os animais levem em média três dias a menos para atingir o peso de abate, reduzindo assim a geração de resíduos e o impacto ambiental que os dias extras de alojamento para o rebanho proporcionariam (Woods et al. 2011; Hinson et al. al., 2012).
Essas são algumas das estratégias que podem ser utilizadas para reduzir o excesso de nutrientes nas dietas, ou aumentar sua disponibilidade, existem outras que também podem ser utilizadas em associação com as citadas a fim de diminuir a produção de GEE e, consequentemente, contribuem para a suinocultura. pegada de carbono baixa.
As práticas relacionadas ao manejo alimentar também afetam a excreção de nutrientes pelos animais, assim como os programas de alimentação multifásica. À medida que os animais crescem, suas exigências nutricionais como porcentagem da ração diminuem, de modo que dietas monofásicas ou de fase única fornecem, na maioria das vezes, excesso de nutrientes aos animais, aumentando sua excreção no esterco. Assim, o aumento do número de fases de alimentação possibilita a redução dos níveis de nutrientes fornecidos, adequando melhor a oferta à exigência nutricional dos animais, reduzindo o excesso de nutrientes excretados pelos animais, reduzindo assim o impacto na produção. de GEE.
Outro manejo alimentar praticado já nas fases de terminação é a restrição alimentar, utilizada com o intuito de reduzir a deposição de gordura na carcaça e melhorar a conversão alimentar, mas devido ao consumo reduzido de ração, a taxa de passagem do alimento pelo trato gastrointestinal também é reduzida. reduzido, permitindo maior tempo de ação enzimática sobre os nutrientes, aumentando a eficiência da digestão e absorção, o que promove uma redução na excreção diária de nutrientes, principalmente fósforo, nitrogênio e microminerais.
Ainda pensando nas questões de manejo, atenção também deve ser dada à forma de castração dos suínos. Animais castrados cirurgicamente começam a depositar gordura mais cedo do que machos intactos e apresentam menor eficiência alimentar, excretando assim mais nutrientes no ambiente. Para aumentar a eficiência do uso de nutrientes e reduzir as emissões de carbono, as técnicas de imunocastração são as mais indicadas, pois permitem máxima eficiência alimentar e deposição muscular dos animais por mais tempo, o que reduz a geração de resíduos e concentração. dos nutrientes neles presentes. Em relação à pegada de carbono, os suínos imunocastrados abatidos com 115 kg promovem uma redução nas emissões de carbono equivalente a cerca de 28 kg de CO2/animal. Indicando a superioridade desses animais sobre os animais castrados cirurgicamente para sistemas que desejam reduzir as emissões de carbono.
Essas são as principais estratégias para mitigar a excreção de nutrientes associados aos gases de efeito estufa emitidos pela suinocultura. No entanto, além de reduzir os nutrientes excretados, os produtores devem estar atentos às estratégias de tratamento que melhor se adequem ao tipo de dejeto gerado em suas propriedades, a fim de reduzir as emissões de carbono da suinocultura.
Marcos H Soares – Especialista em Nutrição Suína na Vaccinar