A Logística Desafiadora da Cadeia Leiteira

Desafios na Coleta e Transporte do Leite

Um olhar detalhado sobre a infraestrutura e as condições do mercado

A cadeia leiteira desempenha um papel de extrema importância na produção de alimentos de origem animal, sendo responsável por coordenar toda a logística de coleta, transporte e processamento do leite. No entanto, enfrenta uma série de desafios que tornam a manutenção sustentável dessa rede complexa. Neste artigo, exploraremos os principais obstáculos enfrentados na coleta e transporte do leite, incluindo a infraestrutura das propriedades, a sazonalidade da produção e as flutuações do mercado. Vamos mergulhar no mundo desafiador da logística da cadeia leiteira.

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Sumário

1. Introdução

2. Logística de coleta

2.1. Dificuldade de acesso e distância entre os pontos de coleta

2.2. Investimento em planejamento de rotas e uso de softwares de posicionamento

3. Armazenamento e infraestrutura das propriedades

3.1. Importância das boas práticas de higiene na ordenha e armazenamento

3.2. Controle da carga microbiana e resfriamento do leite

4. Interferências da sazonalidade da produção e flutuação de volume no mercado

4.1. Variações na produção de leite devido às condições climáticas

4.2. Estratégias para mitigar as variações do mercado e da produção de leite

A cadeia leiteira é um dos setores mais importantes na produção de alimentos de origem animal no país, abrangendo uma ampla rede de sistemas que começa com a retirada do leite cru nas propriedades rurais até a disponibilidade do produto lácteo final nas prateleiras.

Nesse contexto, as indústrias lácteas desempenham um papel crucial ao coordenar toda a logística de coleta, transporte e processamento do leite.

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No entanto, é complexo todo planejamento sustentado na manutenção viável dessa rede, especialmente quando levamos em consideração operações como a coleta e transporte do leite. 

Nesse artigo, abordaremos os principais desafios dessa coleta, trazendo pontos como a infraestrutura de armazenamento e vias de acesso nas fazendas, bem como as condições precárias das estradas rurais, a sazonalidade do volume de leite coletado e as flutuações do mercado, as quais tornam o planejamento da captação e transporte um desafio singular para a indústria.

 

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Logística de coleta

A logística de captação eficiente se destaca como um dos maiores obstáculos dentre os desafios no estabelecimento de uma rede de coleta e transporte. O emaranhado de vias rurais, para o acesso às propriedades, se delibera em dois aspectos cruciais: a dificuldade de acesso e a distância entre os pontos de coleta.  

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A precariedade das vias de acesso às propriedades, especialmente estradas mal estruturadas, esburacadas, estreitas e sem nenhuma infraestrutura de drenagem e sustentação, resulta em altos custos de transporte do leite. 

Isso ocorre tanto pela manutenção frequente dos veículos quanto pela necessidade de utilizar veículos menores, o que eventualmente reduz o volume de captação e exige mais viagens dos pontos de coleta aos locais de processamento.

Somado a isso, a distância entre os pontos de coleta atribui um desafio a mais, seja pelo custo com combustível ou pelo tempo de armazenamento do leite cru, o qual, conforme as instruções normativas 76 e 77, não deve ultrapassar 48 horas da coleta ao processamento, com condições específicas de temperatura e qualidade a serem respeitadas.

No entanto, o tempo de armazenamento, mesmo em caminhões-tanques isotérmicos, pode resultar em alterações físico-químicas no leite, tornando-o inviável para o processamento, principalmente quando temperaturas e concentrações microbianas específicas são extrapoladas.

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Além disso, a falta de investimento nas vias dentro das propriedades, também carreiam todos os obstáculos perceptíveis nas vias públicas. Que, não obstante, dos desafios já descritos, torna mais laborioso o deslocamento, e agrega mais custos na manutenção e reparo dos veículos.

Rotas de coleta e transporte do leite

Figura apresentando rotas de coletas e transporte de leite. Fonte: Milk’s rota 2023

Portanto, nos últimos anos, o planejamento de rotas de captação de leite tem sido um dos principais focos de investimento. Isso envolve a busca por esquematizar trajetos com menor quilometragem e maior acessibilidade das vias de chegada aos pontos de coleta, sempre considerando a capacidade de transporte dos caminhões. 

Além disso, incentivos à manutenção e correção das estradas nas propriedades, seja por meio de bonificações ou descontos sobre o valor pago por litro, é uma ótima aplicação de cooperação entre produtores e indústria.

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Outra medida importante é a adoção de softwares de posicionamento e sinalização de rotas, que se tornaram ferramentas essenciais na dinâmica do transporte de leite.

Esses softwares permitem um acompanhamento otimizado dos trajetos e podem ser atualizados conforme as condições da via e da demanda de volume em cada rota cadastrada, proporcionando maior eficiência logística e redução de custos operacionais.

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Armazenamento e infraestrutura das propriedades

Concomitantemente aos desafios das vias de acesso, a estrutura de armazenamento e a qualidade do leite dentro das propriedades interfere diretamente no planejamento da captação e transporte.  

Visto que, propriedades com sistemas de armazenamento inadequados não conseguem manter o leite em temperaturas ideais, ocasionando instabilidade química do leite e redução de sua qualidade. 

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Além disso, uma má higiene da ordenhadeira, do tanque de expansão e durante a ordenha, contribuem para um aumento da carga microbiológica, gerando uma diminuição do tempo de viabilidade do leite. Essa situação obriga a diminuir o tempo de permanência do leite ao longo do transporte para evitar prejuízos na qualidade.

Deste modo, a adoção de boas práticas de higiene, como a limpeza adequada e o acompanhamento dos equipamentos (ordenhadeira e tanque de expansão), juntamente com o posicionamento correto desses dispositivos, desempenham um papel crucial na redução da contaminação e no controle da carga microbiana.

Dado a rica composição do leite, como também as possíveis sujidades decorrentes da ordenha, os procedimentos de higiene, como o enxágue externo das teteiras e internos nas tubulações, limpeza com detergente alcalinos clorados e detergentes ácidos, e a desinfecção e sanitização do tanque, são primordiais, para a manutenção e prolongamento da viabilidade do leite.

Esquema simplificado de fatores que prolongam a viabilidade do leite frente a coleta e transporte.Esquema simplificado de fatores que prolongam a viabilidade do leite frente a coleta e transporte.

Figura mostrando um esquema simplificado de fatores que prolongam a viabilidade do leite frente a coleta e transporte. Fonte: Eliel Ariadner Scavazzini Neves

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Além disso, o resfriamento do leite no tanque de expansão a temperatura menor ou igual a 4°C deve ser de no máximo 3 horas após a ordenha. 

Todo esse cuidado deve ser seguido também nos tanques isotérmicos dos caminhões coletores. Deve-se realizar a limpeza externa e a sanitização interna do tanque e dos utensílios e acessórios utilizados na coleta, após cada descarga na indústria ou postos de refrigeração. 

Além disso, antes e após cada coleta, a realização da higiene do registro de saída do tanque é imprescindível para a não contaminação do leite, já que é um local de acúmulo de sujidade e resíduos.     

Segundo a IN 77, artigo 30 parágrafo único, a temperatura do leite cru refrigerado no ato de recepção na unidade de processamento não deve exceder 7°C, e em situações excepcionais admite até 9°C. De modo que, da coleta na propriedade (4°C), até o recebimento, o tanque isotérmico deve ter a capacidade de manter a temperatura estável, não acrescendo acima de 3°C. Isso implica, na vistoria frequente do potencial térmico dos caminhões, como também no planejamento do tempo entre a coleta e a descarga. 

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Interferências da sazonalidade da produção e flutuação de volume no mercado

O sistema de produção de leite no Brasil possui um perfil muito heterogêneo, sendo composto por diferentes arquiteturas de criação, que variam em intensivo, semi-intensivo ou extensivo, como também variáveis dimensionamentos de rebanhos, sobretudo pequenos e médios.

Isso modula uma bovinocultura de leite sensível e suscetível a várias influências, como a disponibilidade de alimentos, condições climáticas, manejo da criação e a genética do rebanho

Dentre esses fatores, o clima possui uma dinâmica direta com o volume de leite produzido, já que em épocas mais chuvosas os pastos e as plantações se tornam mais abundantes e nutritivos. 

Isso possibilita um maior aporte nutricional, tanto em quantidade quanto em qualidade, resultando em maior produtividade e menor custo de produção por litro de leite.

Como consequência, há um aumento no volume de leite no tanque, permitindo a maximização da coleta de leite com caminhões operando em capacidade máxima. Esse aproveitamento do espaço reduz o custo por volume transportado frente ao consumo de combustível, tornando o frete mais econômico.

Todavia, em épocas secas ocorre a falta da disponibilidade de alimentos em quantidade e qualidade, o que pode gerar uma queda da produção, impactando diretamente nos custos de produção, e também de transporte. 

Além disso, a depender da flutuação do mercado, o produtor sofre um ônus no custo total de produção, ônus este muito presente nos últimos anos, caracterizado por aumento das cargas inflacionárias, acrescido pelo alto custo de expansão do negócio, o qual é agravado pelo gradativo retorno financeiro. 

Esses aspectos diminuem a propulsão da produção dos pequenos e médios produtores, aumentando a instabilidade do sistema produtivo, impactando diretamente no volume de leite coletado pelos laticínios. E como já visto, gera todo um desafio de logística na captação e transporte deste produto.

Gráfico apresentando a queda na produção de leite total adquirido entre 2020 a 2022Gráfico apresentando a queda na produção de leite total adquirido entre 2020 a 2022

Gráfico apresentando a queda na produção de leite total adquirido nos últimos anos, enfatizando quedas históricas na produção em trimestres de menor pluviosidade. Fonte: IBGE 2023 adaptado

Para amortecer esta sazonalidade da produção, como também mitigar as variações do mercado, o planejamento a curto, médio e longo prazo é fundamental.

Planejamentos referentes a quantidade de animais em lactação, pré-parto, cria e recria são fundamentais para a estimativa do aporte alimentar necessário ao longo do ano, principalmente em meses de estiagem. 

Analisar a viabilidade de investimentos, e o preço pago pelo leite em conjunto com o custo de produção, são as bases para solidificar estratégias que favorecem a estabilidade da produção e consequentemente da lucratividade. 

Webinar Análises Financeiras de produtores de leiteWebinar Análises Financeiras de produtores de leite

Algumas indústrias, já vêm implementando um planejamento de produção conjuntamente aos produtores, auxiliando na composição de projetos de médio e longo prazo. Isso favorece tanto o produtor, quanto a indústria, que consegue aumentar a previsibilidade, facilitando a programação de toda a logística de coleta.

Custo de produção do leite de 2006 a 2022Custo de produção do leite de 2006 a 2022

Gráfico apresentando o custo de produção do leite de 2006 a 2022, índice EMBRAPA-CILeite. Fonte: CILeite 2023 

Considerações finais

Diante deste complexo mecanismo associado ao transporte, é evidente que a solução para a redução de custos e, consequentemente, a otimização do transporte de leite, requer uma abordagem abrangente. 

Isso engloba a adoção de ações desde o planejamento cuidadoso da produção na propriedade, passando pelas boas práticas de higiene e armazenamento do leite, até a logística eficiente das rotas de acesso. 

Somente com uma integração efetiva desses elementos é possível alcançar um transporte de leite mais eficaz e sustentável em todos os aspectos.

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A cadeia leiteira: logística e desafios

Introdução

A cadeia leiteira desempenha um papel fundamental na produção de alimentos de origem animal. A coleta, transporte e processamento do leite são temas complexos e cruciais para a indústria de laticínios. Neste artigo, abordaremos os principais desafios enfrentados na logística de coleta e transporte do leite, bem como as medidas para minimizar esses obstáculos.

Logística de coleta

A coleta eficiente do leite é um dos maiores desafios enfrentados na cadeia leiteira. As vias de acesso às propriedades rurais e a distância entre os pontos de coleta são fatores cruciais que impactam diretamente nos custos e na viabilidade da operação. Estradas mal estruturadas, esburacadas e estreitas, juntamente com a sazonalidade do volume de leite coletado, tornam o planejamento da captação e transporte um verdadeiro desafio.

Armazenamento e infraestrutura das propriedades

A qualidade do leite dentro das propriedades é fundamental para o sucesso da logística de coleta e transporte. A estrutura de armazenamento e a higiene da ordenhadeira e do tanque de expansão impactam diretamente na estabilidade química e na qualidade do leite. Além disso, o resfriamento adequado do leite é essencial para manter sua qualidade durante o transporte.

Interferências da sazonalidade da produção e flutuação de volume no mercado

A produção de leite no Brasil é sensível a diferentes fatores, como o clima e a disponibilidade de alimentos. As variações na produção e no mercado impactam diretamente na logística de coleta e transporte do leite. Planejamentos a curto, médio e longo prazo são fundamentais para minimizar os efeitos da sazonalidade e da flutuação de volume no mercado.

Em resumo, a cadeia leiteira enfrenta uma série de desafios logísticos que impactam diretamente na eficiência e viabilidade do setor. A logística de coleta e transporte do leite requer medidas específicas para mitigar esses obstáculos, garantindo a qualidade do produto desde a sua origem até o consumidor final. A implementação de estratégias e tecnologias inovadoras é essencial para superar esses desafios e impulsionar o desenvolvimento sustentável da cadeia leiteira.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo

h2: Conclusão

A cadeia leiteira no Brasil enfrenta diversos desafios na logística de coleta e transporte do leite, desde as condições precárias das vias de acesso até a sazonalidade da produção e flutuações de mercado. No entanto, medidas como o planejamento de rotas de captação, incentivos à manutenção de estradas e a adoção de softwares de posicionamento, assim como a implementação de boas práticas de higiene e investimentos em infraestrutura nas propriedades, podem ajudar a superar esses obstáculos.

h3: Perguntas e respostas

1. Quais são os principais desafios na logística de coleta e transporte do leite?
– As principais dificuldades incluem as condições precárias das vias de acesso, a distância entre os pontos de coleta e a sazonalidade da produção.

2. Como as indústrias têm buscado otimizar a logística de captação de leite?
– As indústrias têm investido em planejamento de rotas, incentivos à manutenção de estradas e adoção de softwares de posicionamento.

3. Quais são os impactos da falta de investimento em infraestrutura nas propriedades na qualidade do leite?
– A falta de infraestrutura nas propriedades pode afetar a qualidade do leite, resultando em instabilidade química e aumento da carga microbiológica.

4. Como a sazonalidade da produção pode influenciar a logística de coleta e transporte de leite?
– Em épocas mais chuvosas, há um aumento no volume de leite produzido, facilitando a coleta e reduzindo o custo de transporte. Já em épocas secas, a produção pode diminuir, impactando nos custos de produção e transporte.

5. Quais medidas podem ser adotadas para mitigar os desafios da sazonalidade da produção e flutuações de mercado?
– Estratégias como planejamento de produção, análise de viabilidade de investimentos e preços pagos pelo leite são fundamentais para lidar com as variações do mercado e garantir a estabilidade da produção.

A cadeia leiteira é complexa e enfrenta desafios significativos, mas com investimentos em infraestrutura, adoção de boas práticas e planejamento estratégico, é possível superar esses obstáculos e garantir a viabilidade desse setor tão importante para a produção de alimentos de origem animal no Brasil.

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