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Shell e Raízen farão hidrogênio verde a partir do etanol com a USP

O acordo de cooperação foi firmado com Shell Brasil, Raízen, Hytron e braço de inovação em fibra e biossintéticos (CETIQT) do Senai e prevê a instalação de duas fábricas no campus da USP para produção de hidrogênio renovável, que será testado nos ônibus da Cidade Universitária — atualmente movido a diesel.

Com start-up previsto para o primeiro semestre de 2023, a iniciativa visa viabilizar uma solução de baixo carbono para transporte pesado e indústrias poluentes, além de inaugurar a primeira estação de hidrogênio verde à base de etanol no Brasil e no mundo.

Ao contrário de sua versão “regular”, produzida a partir de combustíveis fósseis, o hidrogênio verde recebe esse nome porque é extraído de fontes renováveis ​​– geralmente energia solar e eólica. Diante da pressão global por soluções para a crise climática, o produto vem ganhando centralidade devido ao seu potencial para descarbonizar setores como siderurgia, indústria química e a própria geração de energia elétrica.

No entanto, o transporte do combustível ainda é desafiador, pois requer armazenamento em baixas temperaturas e alta pressão, dificultando a logística. Além disso, as tecnologias de produção ainda não estão 100% consolidadas, o que ajuda a explicar o interesse de várias empresas nesse mercado.

A Shell, por exemplo, está injetando R$ 50 milhões neste projeto com recursos de pesquisa e desenvolvimento, que são regulamentados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Em maio deste ano, a empresa já havia fechado um acordo para a construção de uma usina de hidrogênio verde no Porto do Açu (RJ).

Segundo Alexandre Breda, gerente de tecnologia de baixo carbono da Shell Brasil, o objetivo do acordo com a USP é posicionar o etanol como fonte de hidrogênio verde.

O projeto desenvolverá um equipamento chamado reformador, que quebra a molécula do biocombustível para transformá-la em hidrogênio. A Hytron, empresa do interior paulista que faz parte da parceria, já possui um protótipo do aparelho, mas a tecnologia ainda precisa ser aprimorada para garantir confiabilidade, escala e eficiência ao processo.

O reformador será instalado na USP, que também receberá um posto de abastecimento de hidrogênio. A ideia, ao final do projeto, é desenvolver uma solução capaz de superar os desafios envolvidos na produção, transporte e armazenamento de hidrogênio verde.

“Todo posto de gasolina no Brasil tem etanol. Então, ao invés de transportar hidrogênio, poderíamos colocar esse reformador dentro do posto para produzir [o combustível] localmente. Portanto, esse desenvolvimento com a USP já será feito em container, para facilitar a instalação futura de forma distribuída”, afirma Breda.

Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP, conta que três ônibus que circulam na Cidade Universitária estão sendo modificados para serem compatíveis com o hidrogênio. A ideia é que os veículos comecem a usar combustível sustentável no primeiro semestre de 2023, quando as fábricas estarão prontas.

“Nosso campus tem potencial para ser um grande laboratório. Depois de estudar quanta energia pode ser gerada e quais são os custos, podemos transformar [os achados] nas políticas públicas, para que as cidades possam incorporar essa tecnologia”, afirma.

Na primeira fase do projeto, serão construídas duas fábricas para produzir 5 kg de hidrogênio por hora. Posteriormente, será inaugurada uma unidade com dez vezes a capacidade.

O biocombustível utilizado no processo será fornecido pela Raízen, maior produtora de etanol de cana-de-açúcar do mundo. Segundo Ricardo Mussa, CEO da Raízen, a ideia de longo prazo é atingir um nível de sofisticação tão grande que o reformador consiga incorporar não apenas os postos de gasolina, mas os próprios veículos elétricos. “No limite, [a ideia é conseguir] transformar etanol em hidrogênio dentro do carro ou ônibus, se o equipamento for compacto o suficiente”, diz.

Mussa lembra que, atualmente, a maioria dos veículos elétricos funciona com baterias, que têm a desvantagem de serem muito pesadas. Uma opção mais leve seriam as células de combustível — que transformam hidrogênio em eletricidade. Poder alimentá-los com etanol, diz ele, seria o ideal.

“Um carro elétrico Tesla, por exemplo, tem cerca de 600 quilos de bateria. O equivalente que essa bateria tem de energia, você encontra em 27 quilos de etanol”, diz. “Se conseguirmos a beleza do motor elétrico, que é muito mais eficiente que o motor a combustão, sem o problema do peso, teríamos o melhor dos dois mundos”, completa.

O CEO diz que o projeto de hidrogênio verde dialoga com os objetivos de longo prazo da Raízen, bem como a recente parceria com a Embraer para estimular a produção de combustível de aviação sustentável (SAF).

O mesmo vale para a Shell, que tem a ambição de ser zero líquido (zero emissões líquidas) até 2050 — embora não planeje sair do mercado de combustíveis fósseis. Segundo Breda, o foco da empresa é reduzir sua pegada ambiental, investindo em biocombustíveis, captura de carbono, energia renovável e soluções baseadas na natureza. “A produção de petróleo e gás continuará sendo importante por muito tempo — e continuamos a investir fortemente nesse mercado”, diz ele.



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