Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) – A volta de um governo petista em 2023, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de domingo, não deve trazer grandes riscos ao setor elétrico brasileiro, na opinião de analistas, que também vê-lo como uma reversão da privatização da Eletrobras é improvável.
De acordo com as equipes de análise do banco, a expectativa é de certa continuidade das diretrizes atuais em questões importantes, como a renovação das concessões das distribuidoras, com uma ruptura como a famigerada “MP 579” — medida provisória emitida em 2012, sob Dilma Rousseff sendo improvável, cujo objetivo de redução de tarifas gerou um forte desarranjo em todo o setor.
O Credit Suisse destaca que, embora a mudança de governo possa implicar em uma mudança no marco regulatório em algum momento, a maioria das concessionárias está protegida por seus contratos de concessão, diferentes níveis de exposição ao PIB e alavancagem em nível sustentável. .
“Então não vemos grandes riscos”, disseram analistas do Credit Carolina Carneiro e Rafael Nagano, em relatório.
Para o Bradesco BBI, as distribuidoras de energia estariam entre as mais protegidas de uma possível intervenção governamental, já que são responsáveis pelo atendimento direto aos consumidores.
“Neste contexto, o risco de interrupção do fornecimento de energia elétrica é algo que nenhum governo quer enfrentar, e exemplos recentes de distribuidoras em dificuldade, apesar de terem controle privado, mostram que o risco/retorno de uma potencial intervenção seria desfavorável”, escreve Francisco. Navarrete, João Fagundes e André Silveira, do BBI.
“Como resultado, não esperamos movimentos bruscos para reduzir os retornos das distribuidoras para reduzir as contas de eletricidade”, acrescentam.
Um dos principais temas da agenda do setor nos próximos anos será a renovação de uma série de concessões para distribuidoras de energia a partir de 2025, começando pela EDP Espírito Santo.
“Considerando os grandes impactos da MP 579 em 2012, não vemos grandes mudanças nos contratos e durante nossa conversa com Mauricio Tolmasquim (assessor do PT para o setor elétrico), ele apontou que os contratos das boas concessionárias devem ser renovados”, a equipe relatou. do Credit Suisse.
O BTG Pactual lembrou que o atual governo já vem discutindo com empresas e agentes do setor as diretrizes básicas para a renovação dos contratos dessas distribuidoras.
“Até agora só tivemos feedback positivo da Aneel, do Ministério da Energia e dos players do mercado sobre o que esperar nessa frente. A mensagem aponta para renovações não onerosas, com eventual implantação de indicadores de qualidade regulatória mais rígidos”, ele disse. a equipe do BTG, destacando também a posição favorável de Tolmasquim para renovações.
Antonio Junqueira e Guilherme Bosso, do Citi, disseram ter uma visão “benigna” sobre a discussão das renovações de concessões, embora ainda estejam aguardando a opinião do novo governo.
“Os investidores modelam o fluxo de caixa das empresas em linha com o processo de 2012, sem renovação de ativos hídricos e de transmissão e com renovação de concessões de distribuição gratuita (com alterações pontuais nos contratos de concessão). As expectativas parecem razoáveis”, disseram. .
No setor de geração de energia, o BBI indicou que o maior risco estaria relacionado às políticas de transição energética, com eventual risco de “excesso de oferta” de energia renovável impactando os preços.
“Os preços da geração em 2023 já caíram devido ao excesso de oferta, e esse cenário pode se estender por mais tempo dependendo de subsídios, ou se a Petrobras começar a desenvolver energia eólica offshore”, avaliaram os analistas do BBI.
Durante a campanha eleitoral, os representantes de Lula vinham defendendo a continuidade do processo de diversificação das fontes de geração da matriz brasileira, principalmente por meio de energias renováveis eólica e solar, além de ajustes na dinâmica dos leilões de energia.
ELECTROBRAS
Com relação à Eletrobras, privatizada em junho deste ano, analistas veem como improvável a volta do controle estatal – ideia que o próprio Lula deu sinais de que descartaria na reta final da campanha.
O Credit Suisse destacou que o processo de privatização exigiu mudanças na legislação, no estatuto e um aumento de capital maciço de mais de 30 bilhões de reais, o que diluiu a participação do governo federal e limitou todos os direitos de voto a 10%.
“Há também uma cláusula de ‘pílula de veneno’ de 200% caso o governo (ou qualquer outro acionista) decida adquirir o controle acionário da empresa (50+1%), o que naquele momento se traduziria em uma conta de mais de 300 bilhões de reais”, calculou o BTG.
Outro desincentivo à reversão da privatização seria a renúncia de bilhões de dólares que irão para fundos de desenvolvimento regional, financiando ações como a revitalização do São Francisco e preservação de bacias hidrográficas.
“Tal ação aumentaria a percepção de risco regulatório para o Brasil como um todo, enquanto a Eletrobras, como empresa privada, contribui com bilhões para redução de tarifas e para fundos regionais de incentivo ao investimento”, disse o BBI.
(Por Letícia Fucuchima, com reportagem adicional de Paula Arend Laier)