Pular para o conteúdo

Preço do leite ao produtor deve seguir caindo até o final do ano, diz Cepea

Foto: Alcides Okubo Filho/Embrapa

O movimento de desvalorização do preço do leite ao produtor deve persistir até o final do ano, ainda que em menor intensidade, segundo o Boletim do Leite de Novembro, divulgado nesta sexta-feira (18) pelo Cepea. Em outubro, os pecuaristas receberam R$ 2,8481 pelo litro de leite captado em setembro, conforme a “Média Brasil” líquida. O valor representa queda de 6,5% frente ao mês anterior.

Ainda de acordo com a publicação, o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira recuou ligeiro 0,08% em outubro na “Média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP), sendo este o quarto mês consecutivo de baixa. No entanto, o COE apresenta aumento de 3,04% no acumulado de 2022.

Leia, abaixo, as análises de Natália Grigol, Caio Monteiro e Catarina Simplicio sobre o mercado do leite:

Leite ao produtor segue em desvalorização; ano deve se encerrar com preços em queda

Natália Grigol//Da equipe Leite do Cepea

Pesquisa do Cepea mostra que o preço do leite captado em setembro e pago aos produtores em outubro foi de R$ 2,8481/litro na “Média Brasil” líquida, recuo de 6,5% frente ao do mês anterior. Essa foi a segunda queda consecutiva no campo, mas o valor ainda ficou 15,5% superior ao registrado em outubro do ano passado, em termos reais (as médias mensais foram deflacionadas pelo IPCA de outubro/22). E a expectativa de agentes consultados pelo Cepea é de que esse movimento de desvalorização persista até o final do ano, ainda que em menor intensidade.

A baixa nos preços ao produtor no quarto trimestre do ano é algo esperado pelo setor, uma vez que existe uma tendência de aumento da produção associada ao regime de chuvas. Dessa forma, um fator sazonal contribui para a queda do custo ligado à alimentação e ao aumento da produção no campo neste período, sobretudo no Sudeste e Centro-Oeste.

Além disso, neste ano, observa-se uma retomada de investimentos na atividade proporcionada pelas margens mais atrativas entre o segundo e o terceiro trimestres. Pesquisas do Cepea mostram que os custos da atividade vêm registrando reduções há quatro meses – e, ainda que no acumulado do ano se verifique alta, a variação é menor do que a observada em 2021. Em termos de margens, observa-se melhora do cenário em relação ao ano anterior. A relação de troca é uma proxy para esta análise e, apesar de ter aumentado nos últimos dois meses, ainda está mais favorável ao produtor do que em 2021.

Diante disso, observa-se elevação da oferta no campo nos últimos meses. O Índice de Captação de Leite (ICAP-L) do Cepea aumentou 2,2% de agosto para setembro, quinto avanço mensal consecutivo. Com isso, desde janeiro, o ICAP-L acumula incremento de 8,7% e, desde setembro de 2021, de 10,9%.

Outro fator que tem reforçado o aumento da oferta doméstica é a diminuição das exportações e o elevado patamar das importações nos últimos meses. Os dados da Secex mostram que as exportações seguiram em queda em outubro e, apesar do recuo de 15,4% das importações, o volume internalizado ainda é alto, estando 80,8% maior que o registrado em outubro do ano passado.

Soma-se a esse contexto de pressão sobre as cotações ao produtor a demanda enfraquecida por lácteos na ponta final da cadeia. A pesquisa do Cepea mostra que, desde agosto, os laticínios vêm enfrentando dificuldades nas negociações dos lácteos com os canais de distribuição – e esse cenário se manteve em outubro, devido ao consumo desaquecido. Ainda assim, a desvalorização dos derivados em outubro foi menos intensa que em meses anteriores. Esse movimento baixista no mercado de lácteos em outubro deverá influenciar o preço do leite cru captado naquele mês e pago ao produtor em novembro, corroborando a expectativa de que o ano termine com os preços no campo em queda.

Custo recua pelo 4º mês seguido, mas, no ano, ainda acumula avanço de 3%

Caio Monteiro e Catarina Simplicio//Da equipe Leite do Cepea

O Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira recuou ligeiro 0,08% em outubro na “Média Brasil” (que considera as variações nos estados da BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP.), sendo este o quarto mês consecutivo de baixa. Ainda assim, no acumulado de 2022, o COE apresenta aumento de 3,04%.

A queda dos custos de produção ocorreu sobretudo por conta da redução de 1,25% nos desembolsos com operações mecanizadas – os quais, por sua vez, também caíram pelo quarto mês consecutivo, ainda que em menor intensidade do que em meses anteriores (quando as baixas estiveram acima de 3%). A diminuição nos custos com operações mecanizadas esteve atrelada às desvalorizações dos combustíveis.

Além disso, os gastos com suplementação mineral também caíram em outubro nas principais regiões produtoras da “Média Brasil”, sendo as quedas mais intensas observadas em São Paulo e em Santa Catarina. Apesar das reduções observadas nos últimos meses, a suplementação mineral ainda apresenta alta de 13,47% no preço no acumulado de 2022.

Já os concentrados subiram 0,54% na “Média Brasil” em outubro, contexto que limitou a queda do COE no mês. A valorização desse item ocorreu de vido à alta nas cotações dos grãos, principalmente do milho, em decorrência da demanda externa aquecida, que manteve as exportações brasileiras em forte ritmo em outubro. As elevações mais intensas nos valores dos concentrados foram registradas no Rio Grande do Sul e em São Paulo, de 1,49% e de 1,19% respectivamente.

Ainda que tenha havido redução nos custos de produção em outubro, as consecutivas valorizações dos grãos e as quedas no preço do leite ao produtor vêm estreitando as margens da atividade.

De acordo com dados do Cepea, em outubro, foram necessários 29,51 litros de leite para a aquisição de uma saca de milho de 60 kg. Desse modo, a relação de troca piorou ao produtor pelo segundo mês consecutivo, com perda 7% no poder de compra frente a setembro e de 27,8% em relação a agosto. Ainda assim, é importante notar que a relação de troca está inferior à média dos últimos 12 meses, que é 35,4 litros/saca.

Fonte

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Patrocinadores