Quando pensamos em um sistema de produção convencional, voltado para a pecuária moderna, como o baseado nos conceitos do boi 7.7.7, temos que: a estação reprodutiva deve ser curta (75 a 90 dias), com a maioria dos animais engravidar no “precoce”; a criação não deve exceder 12 meses e, finalmente; deve ser adotado um sistema de terminação intensivo, seja em pastagem ou confinamento buscando conferir um animal pesado e de qualidade.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!Ainda nesse sistema – tradicionalmente – os animais são desmamados por volta dos sete meses de idade, época que coincide com o início da seca em grande parte da região central do Brasil.
Podemos dizer que este é um momento crítico na vida do animal e fundamental para a definição de um sistema de produção otimizado. Nessa fase, se o animal parar de ganhar peso, grande parte do lucro obtido durante a estação chuvosa será drenado para “cobrir” os danos deixados pela seca.
O que acontece é que a análise conjunta da criação às vezes encobre gargalos na produção e impede o produtor de otimizar seu lucro.
Fica claro, então, que fases longas devem ser encaradas de forma segmentada, principalmente no caso da criação, já que a grande maioria ocorre em pastagens, sofrendo grande influência das oscilações climáticas ao longo do ano.
Pré-confinamento: o que fazer?
Dentro do cenário de reprodução, um segundo momento crítico seria a transição da estação chuvosa para a segunda seca pós-desmame. Se fizemos bem o dever de casa, por volta de março-abril do ano passado do animal, já estamos com esses itens pesados, “quase” no ponto de iniciar a fase de acabamento.
O problema é que esses animais já começam a demandar uma quantidade maior de energia e, justamente nesse momento, temos o início da queda na qualidade do capim, o que impacta diretamente na dieta consumida, não suprindo a necessidade energética de os animais.
Uma rápida análise da Figura 1 permite concluir que, independentemente do tipo de suplementação, à medida que o outono avança, há sempre uma queda no desempenho animal.
Não é incomum encontrar produtores negligenciando essa fase, céticos de que: o ganho compensatório inicial da fase de engorda “corrige” esse problema de diminuição do desempenho animal e deixa “tudo bem”.
Antes de tudo, precisamos fazer uma pausa e entender o que realmente está acontecendo com o animal. O primeiro passo é saber que o ganho compensatório é um conceito antigo (Bohman, 1955), que diz: um animal submetido a algum tipo de restrição alimentar, quando bem tratado, apresentará um ganho de peso acima do esperado para aquela dieta.
Esta situação não é difícil de encontrar no nosso quotidiano. Quem nunca encontrou um animal no confinamento ganhando muito peso, e o produtor feliz por estar explorando o ganho compensatório? Ou, um animal que passa por uma seca severa, e quando as chuvas começam, ele começa a ganhar muito peso?
No nosso caso, antes de saber se é vantajoso ou não explorar o ganho compensatório dos animais e se beneficiar da restrição trazida pelo outono, precisamos entender mais profundamente como ocorre esse ganho acima do esperado, o famoso “ganho compensatório”.
Uma vez iniciado um período de restrição alimentar, o organismo do animal busca se adaptar a essa nova realidade. Como em qualquer ser vivo, a queda na oferta e na qualidade dos alimentos significa que o organismo precisa começar a economizar energia e é exatamente isso que ele faz.
Os órgãos metabólicos, relacionados ao processo de digestão, apesar de representarem pouco – proporcionalmente – em relação ao peso do animal, contribuem para grande parte do gasto energético deste para se manter vivo. Portanto, como a atividade de digestão não é mais tão intensa, durante o período de restrição, o tamanho desses órgãos é reduzido, na tentativa do organismo de diminuir seu gasto energético (Figura 2).
A título de comparação, o tecido muscular compõe 41% do peso do animal e representa apenas 23% do gasto energético, enquanto: coração, pulmão, rins e trato gastrointestinal, apesar de representarem apenas 9% do peso do animal, correspondem a quase 50% do gasto de energia para mantê-lo vivo (Baldwin, 1985).
Após o período de restrição, o animal precisa reconstruir sua capacidade digestiva e metabólica e, para isso, os órgãos que tiveram seu tamanho reduzido precisam crescer para restabelecer sua capacidade de digerir e desfrutar dos alimentos.
Assim, grande parte do ganho de peso que o animal apresenta durante o crescimento compensatório se deve à reconstrução dos órgãos envolvidos no processo de digestão (Figura 3).
Neste caso, se fizermos uma análise do rendimento ou qualidade do ganho, será baixo, pois grande parte do ganho de peso do animal ocorre pelo crescimento de componentes não carcaça (tripas).
Antes de prosseguir, vale ressaltar que a avaliação da exploração do ganho compensatório deve ser sempre realizada em associação com o resultado e o cenário econômico em questão. Provavelmente haverá momentos em que, mesmo com baixa qualidade de ganho, a exploração do ganho compensatório poderá ser vantajosa.
Voltando agora à realidade descrita no início deste texto, em que temos um momento crítico na qualidade da forragem oferecida aos animais com a chegada do outono, e conhecendo os efeitos da restrição alimentar no organismo do animal, pensemos no que temos até agora e o que poderíamos fazer para otimizar o sistema de produção.
Não é novidade falar em suplementação de animais a pasto. Sem dúvida, esta é uma tecnologia – desde que bem utilizada – que agrega valor ao sistema produtivo. Existem inúmeras estratégias a serem adotadas, cada uma com sua vantagem, o segredo aqui é saber identificar o melhor suplemento para trabalhar em cada caso. Já discutimos a suplementação em diversos momentos aqui no agBlog, então neste texto não vamos nos aprofundar no assunto.
O que precisamos saber é que: se suplementarmos o animal durante a criação, construímos esse animal nessa fase, ou seja, promovemos um bom desenvolvimento esquelético
“fizemos a caixa” – e os órgãos estão metabolicamente ativos, prontos para extrair e processar os nutrientes dos alimentos.
Este animal, ao atingir a fase de engorda, estará um passo à frente dos animais que precisarão restabelecer sua capacidade digestiva/metabólica.
Uma nova análise da Figura 1 permite dizer que, apesar da queda no desempenho animal, a magnitude da queda ocorre de forma diferente com as diferentes estratégias adotadas.
Enquanto os animais que estão recebendo suplementos minerais apresentam uma queda de 86% no ganho de peso, os animais que estão recebendo suplementação energética proteica reduzem seu desempenho apenas em 41%. Com base nessas informações, uma luz de advertência amarela acende.
Considerando a queda na qualidade do pasto e a necessidade de crescimento contínuo do animal, podemos pensar que: aumentar o nível de suplementação compensaria a queda na qualidade do pasto, minimizando os efeitos negativos da transição água-seca.
Essa estratégia é o que chamamos de pré-confinamento ou suplementação de outono. Vale ressaltar que esse aumento na suplementação deve ser acompanhado dos ajustes operacionais que a estratégia exigirá (área de cocho, frequência de tratamento, etc.).
Além do benefício direto na manutenção do crescimento animal, com essa ação, quando os animais chegam ao cocho para engorda, já estão acostumados a maiores quantidades de concentrado, facilitando sua adaptação a novas dietas.
Pense nisso: na fase de engorda, a taxa diária do animal é alta e gastar energia para “reconstruir” as vísceras pode não ser o melhor caminho. A adoção do confinamento permite reduzir os impactos negativos do declínio da qualidade da forragem a um custo menor do que seria gasto no cocho.
Por fim, lembre-se de que a moeda do produtor – na maioria dos casos – é a carcaça e, como já disse em outros momentos, a simples avaliação do ganho de peso dos animais pode esconder verdades importantes.
Fonte : Agroceres
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