Do lado das importações, houve um forte avanço nas negociações, tendo em vista que os preços internacionais estão operando em patamares baixos.
Segundo dados divulgados nesta quarta-feira (10/05) pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), a balança comercial de lácteos foi de aproximadamente -190 milhões de litros em leite equivalente no mês de setembro, um decréscimo de 25 milhões, ou cerca de 13,2% em relação ao mês anterior.
Quando comparado ao mesmo período do ano passado (setembro/2021), o saldo foi ainda mais negativo, com o valor em leite equivalente nesse período sendo de -73 milhões de litros, representando uma diferença de aproximadamente 117 milhões de litros, ou -61,6%.
As exportações continuaram desencorajadas, e não registraram grandes mudanças, experimentando um leve aumento. O período apresentou um aumento de 0,7 milhão de litros no volume exportado, representando um aumento de aproximadamente 10,1%.
Na comparação com 2021, o cenário é semelhante, com aumento de 0,6 milhão de litros, representando um aumento de aproximadamente 8,6% no volume exportado no período.
Gráfico 2. Exportações em equivalente de leite.
Do lado das importações, houve um forte avanço nas negociações, tendo em vista que os preços internacionais estão operando em patamares baixos.
O mês de setembro apresentou alta de 14,8% nas importaçõesem relação ao mês anterior, com aumento no volume de importação de 25,4 milhões de litros em leite equivalente.
Analisando o mesmo período do ano passado, observa-se também um forte aumento nos volumes importados; em setembro de 2021, foram importados 80,1 milhões de litros em leite equivalente, enquanto em 2022 esse valor teve uma variação positiva de aproximadamente 146,6%, configurando um aumento significativo de 117,4 milhões de litros em leite equivalente em relação aos anos, o que pode ser observado no gráfico abaixo .
Esse resultado foi o segundo maior para o volume de importações da série histórica perdendo apenas para setembro de 2016, quando as importações atingiram 225,5 milhões de litros em leite equivalente.
Gráfico 3. Importações em equivalente leite.
Esse expressivo aumento dos volumes importados e ainda desestimulou as exportações, sem grandes mudanças, fez com que a segunda balança comercial de lácteos mais negativa da série histórica, e o recorde do mês de outubro, apresentando o resultado mais negativo do ano, até o momento.
Este cenário foi formado devido a alguns fatorestais como: preços internacionais operando em patamares baixos e preços de produtos lácteos no mercado interno.
Após sofrerem quedas sucessivas, os preços internacionais continuam caindo, conforme noticiado na última matéria do leilão do GDT: “GDT: preços internacionais de lácteos caem novamente”.
A China, ainda com demanda desestabilizada, associada ao aumento da oferta mundial, dada a sazonalidade da produção, vem impactando os preços internacionais e exercendo pressão baixista.
Outro ponto que vem trabalhando para consolidar o cenário de preços baixos é o risco de recessão econômica mundial, que tem vindo a intensificar-se, com os Estados Unidos a apresentarem uma subida da inflação, voltando a subir a taxa de juro de referência em 0,75 pp na última reunião da Reserva Federal numa tentativa de controlar esta questão, e a Europa e a China a enfrentarem um abrandamento económico.
E problemas energéticos e climáticos, com a Europa a enfrentar uma das piores crises energéticas dos últimos tempos, reflexo do clima quente e seco e da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Esses fatos associados baixa disponibilidade de leite no mercado interno no 1º semestre, que impactou os preços, nos últimos meses, trouxe um ganho de competitividade para produtos internacionais, que se refletiu em um maior volume de importações.
Em relação aos produtos mais importantes da pauta de importação em setembro, temos leite em pó integral, queijos, leite em pó desnatado e soro de leite, que juntos representaram 95% do volume total importado.
Leite em pó integral teve aumento de 11% em seu volume importado. Além do leite em pó integral, os produtos que apresentaram maiores variações em relação às importações foram o leite em pó desnatado e o soro de leite, com aumentos de 63% e 41,4%, respectivamente.
Os produtos que tiveram maior participação no volume total exportado foram leite condensado, leite UHT, queijos e creme de leite, que juntos responderam por 88% da pauta de exportação.
O leite UHT e o leite condensado apresentaram aumentos de 51% e 136% no volume exportado, respectivamente, enquanto o leite em pó integral recuou em torno de -88%.
A Tabela 1 mostra o principais movimentos no comércio internacional de lácteos no mês de setembro deste ano.
Tabela 1. Balança comercial de lácteos em setembro de 2022.
O que podemos esperar para o próximo mês?
Depois que o leilão Global Dairy Trade (GDT) passou por correções de preços, e avançou no mês de setembro, devido ao aumento da demanda de países emergentes, como Argélia e Marrocos, que aproveitaram os preços baixos, o preços voltaram a cair no início de outubro, e permanecem em patamares baixos.
A demanda chinesa segue abaixo das expectativas e a oferta começa a subir, dada a sazonalidade da produção, com pressões baixistas sobre os valores praticados.
Conduzindo este cenário está o risco de recessão econômica global, com novos dados dos EUA trazendo um cenário pessimista para o mercado e a Europa enfrentando crise econômica e energética, enfrentando problemas climáticos e a guerra na Ucrânia.
Todos esses fatores impactam negativamente os preços dos produtos internacionais, ajudando a estimular as importações.
Por outro lado, os preços no mercado interno sofreram quedas sucessivas nas últimas semanas, dada a demanda ainda desestabilizada e o aumento da oferta. Esse cenário contribui para desestimular as importações.
Assim, para os próximos meses, com o aumento da produção nacional de leite e com os preços de venda da indústria em patamares inferiores aos observados há alguns meses, o importações devem começar a perder força e a janela de exportação, pelo menos no curto prazo, deve continuar fechada.
