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Pastagem degradada – reformar ou recuperar

Pastagem Degradada ?

O Que Devo Fazer

Reformar ou Recuperar?

O Brasil possui a maior área de pastagem do mundo e também a maior área de pastagens degradas do mundo.

Pastagem degradada - reformar ou recuperar
Pastagem degradada – reformar ou recuperar

Temos hoje aproximadamente 200 milhões de hectares de pastagem e algo em torno de 70 % delas encontram-se ou degradadas ou em algum estágio de degradação e, se não bastasse isso, a pecuária brasileira paga a conta sozinha de um desequilíbrio ambiental mundial.

Mas vamos voltar as nossas pastagens.

É comum eu ser questionado pelo pecuarista em minhas consultorias:

– O que fazer com a minha pastagem?

– Por onde começar?

– Reformo ou recupero?

E eu sempre respondo: a primeira coisa a fazer é realizarmos um diagnóstico minucioso de todas as pastagens da propriedade para assim tomarmos a decisão mais correta e econômica.

É normal o pecuarista querer iniciar o trabalho de melhoria das pastagens pelas piores e isso é um grande erro.

Devemos sim iniciar pelas menos degradadas e que terão um custo menor, pois a recuperação é sempre mais econômica e de menor risco que a reforma da pastagem

Existem vários fatores que levam a degradação das pastagens, porém considero 4 deles os mais importantes: Plantas Daninhas, Fertilidade do Solo, População de capim e Outras Plantas.

Plantas daninhas: estas surgem na pastagem quando há um mal manejo e perde o seu vigor de rebrota. As plantas daninhas são em geral muito mais agressivas que as gramíneas e depois que se instalam na pastagem vão se propagando por todo espaço que encontram.

Pastagem degradada – reformar ou recuperar

Pastagem degradada - reformar ou recuperar
Pastagem degradada – reformar ou recuperar

Fertilidade do solo: em geral o pecuarista esquece que a gramínea é uma planta e como tal necessita de macro e micro nutrientes para viver e o boi é constituído de cálcio, magnésio, fósforo e tantos outros nutrientes que são retirados da pastagem. As pastagens ao longo dos anos de uma atividade totalmente extrativista vão perdendo o vigor.

População de capim: é bom observar a presença deste na área, porque se tem capim podemos recuperar, se não, a saída é a reforma.

Pastagem degradada - reformar ou recuperar
Pastagem degradada – reformar ou recuperar

Outras plantas: considero aqui toda planta de folha estreita presente na pastagem, pouco ou não palatáveis aos que da pastagem se alimentam ou, menos exigentes a fertilidade e mais agressivas que a gramínea principal. Esta planta é tão ou mais grave que as plantas daninhas, pois o seu controle é mais difícil que as de folhas largas.

Pastagem degradada – reformar ou recuperar

Considerando estes 4 fatores desenvolvi uma metodologia bastante simples para o diagnóstico das pastagens:

Pastagem degradada - reformar ou recuperar
Pastagem degradada – reformar ou recuperar

No diagrama acima encontramos 4 situações

O VERDE 1 que se trata de uma pastagem produtiva que apenas requer uma manutenção

O AMARELO 2 uma situação de recuperação onde apesar de alta infestação de plantas daninhas temos uma grande população de capim

O AMARELO 3 outra situação de recuperação e finalmente

O VERMELHO 4 que é uma área totalmente condenada que obrigatoriamente deve ser reformada.

Pontos importantes para uma boa reforma da pastagem:

1. Análise de solo: 

Tudo começa com ele, pois não existe outra forma de se conhecer a real situação da fertilidade do solo sem uma correta amostragem e uma análise feita em um bom laboratório. Devemos atentar para o resultado da saturação de base, pois se esta estiver baixa deverá ser elevada através da calagem para assim dar condições à gramínea fazer uso da fertilidade existente no solo.

Outro ponto importante é a relação Ca/Mg, que deve estar em torno de 3:1. Esta relação irá influenciar na escolha do tipo de calcário a ser usado.

Atente também para o teor de Fósforo existente no solo, pois este nutriente é de grande importância para um bom desenvolvimento das pastagens e que infelizmente os solos brasileiros são bem deficitários.

Fazer a interpretação da Análise do solo com um profissional da área, o engenheiro agrônomo.

2. Incorporar a cultura remanescente: 

É muito importante incorporar devidamente os restos de cultura existentes para que venham a se decompor devidamente, quanto mais cedo se iniciar o preparo do solo melhor.

3. Calagem: 

Se a dosagem recomendada for inferior a 1000kg/ha podemos adiá-la por alguns anos e se for maior que 3000kg/ha parcelar em duas aplicações. Após a distribuição do calcário incorporá-lo com a ajuda de uma grade.

4. Gradagem: 

A gradagem deve ser feita tantas vezes se fizer necessário para descompactar o solo devidamente. Em geral 2 a 3 gradagens são o suficiente.

É fundamental terminar o preparo do solo com uma grade niveladora, pois esta irá dar o acabamento do preparo.

5. Conservação do solo: 

A conservação do solo sempre será imprescindível quando a topografia for mais acidentada. Será necessário a construção de terraços para a retenção da água.

A construção de terraços para pasto é um pouco diferente de terraços para uma lavoura. Normalmente depois de alguns anos de pasto os bovinos acabam criando trieiros e estes irão fazer romper os terraços e com isso corre-se o risco de uma grande erosão.

Aconselho a interrupção dos terraços com terra (travesseiro), ou seja: a sua fragmentação, pois caso este venha a estourar apenas irá vazar para a curva de baixo a água contida neste fragmento e não do terraço todo.

6. Escolha da cultivar: 

Para a escolha da cultivar correta devemos analisar alguns pontos importantes: fertilidade existente, se precisa ou não melhorá-la; a topografia do terreno, se este for com declividade deve-se evitar gramíneas de touceira; o tipo de solo, se é seco ou úmido; a finalidade de uso do pasto (bovinos, eqüinos, caprinos ou ovinos).

Para os bovinos uma gramínea de manejo mais alto como os panicuns; lembrando que uma propriedade deve possuir pelo menos 3 tipos de gramíneas diferentes pois com isso evitaremos problemas com pragas e nos permitirá fazer uma melhor estratégia de gestão do rebanho; e finalmente, o quanto pretendemos intensificar, pois se este é o objetivo devemos procurar gramíneas de um maior potencial de produção de massa.

7. Semente de qualidade: 

Aconselho cautela na compra da semente porque é justamente neste item que o pecuarista acaba “metendo os pés pelas mãos” e tendo o melhor preço como fator mais importante na decisão da compra e não a semente mais pura porque esta é sempre de melhor qualidade e maior as chances de sucesso com o plantio.

Infelizmente existe no mercado empresas que não prezam pela qualidade e a fiscalização em nosso pais é deficiente e com isso o pecuarista na ânsia de economizar acaba comprando “gato por lebre”.

8. Uso de adubo fosfatado no plantio: 

Podemos misturar a semente ao adubo fosfatado sem problema, pois ele não causa prejuízo à germinação da semente, pelo contrário, é um ótimo veículo para fazermos volume para uma boa regulagem.

Recomendo as fontes de fósforo de baixa solubilização, pois estas são mais adequadas ao perfil do pecuarista que é o de não adubar com frequência a pastagem.

9. Da época do plantio: 

Uma semente para germinar ela necessita de três fatores: temperatura, umidade e oxigênio, por isso o melhor momento para o plantio é após o início das chuvas.

10. Da profundidade de plantio: 

o plantio ideal deve ser feito com a semente depositada a uma profundidade de 0,5 a 2,0 cm preferencialmente. Feito isto, entre com o uso de uma grade niveladora ou um rolo compactador.

11. Da mistura de duas ou mais gramíneas: 

Não é recomendável a mistura de duas ou mais gramíneas na formação de uma pastagem, pois o bovino é seletivo e escolhe o que vai comer e com isso o manejo é dificultado e a capacidade de suporte da pastagem cai sensivelmente.

Somente recomendamos a mistura de duas cultivares no plantio com Humidícola.

12. Do uso de herbicida para eliminar possíveis invasoras: 

É recomendável que se use um herbicida para eliminar invasoras que possam nascer junto com a pastagem.

Normalmente a dosagem usada é baixa e o custo fica bastante interessante e o resultado é uma melhor formação e menos problemas futuros com invasoras.

13. O primeiro pastejo: 

Existe uma antiga crença de que é recomendável que se deixe o pasto sementear primeiro para depois colocar o gado, isso é tão verdadeiro quanto a estória de “bicho papão”.

O correto é por volta dos 60 a 70 dias realizar o teste do puxão. Simular um corte com as mãos e tentar colher o capim puxando pelas pontas, se quando fizer isso você arrancar as pontas do capim sem arrancar a planta ou abalar as raízes pode realizar o primeiro pastejo com um lote de animais jovens somente para aparar as pontas.

14. Adubação potássica e/ou nitrogenada: 

Caso a análise de solo apresente a necessidade do potássio este poderá ser distribuído após o primeiro pastejo e caso o pecuarista queira potencializar a sua produção de massa poderá fazer uso do nitrogênio na mesma ocasião.

15. Manejo: 

Após a formação e com o início da utilização da pastagem entra a parte mais importante que é o manejo e esta requer que se conheça a altura correta para a cultivar implantada e o período necessário de descanso desta para a sua rebrota.

Lembro que quem manda na pastagem e determina o momento de se retirar o gado é o homem e não o animal.

Pontos importantes para uma boa recuperação

No momento da Recuperação muitos pontos importantes na Reforma igualmente o são para a Recuperação, tais como:

1. Análise de solo.

2. Calagem: 

A forma como realizamos a calagem na recuperação é um tanto diferente, pois o calcário desce lentamente no solo e nunca devemos lançar ao solo a dosagem recomendada na análise, pois o cálculo desta é para uma incorporação a 20 cm de solo e não para distribuição em superfície.

Recomenda-se que se corte a dosagem pela metade e o restante poderá ser novamente distribuído dentro de 1 a 2 anos.

É muito importante que a pastagem seja rebaixada antes da aplicação do calcário e este deve ser aplicado ou no início das chuvas ou antes do seu término.

3. Controle de invasoras: 

Este deverá ser feito mediante o tipo de invasoras existentes na pastagem. Temos as plantas duras que são as típicas do cerrado, controladas principalmente durante a seca e no toco logo após uma roçada rente ao solo.

As plantas moles são aquelas controladas via aplicação foliar, o seu controle é feito durante o período das chuvas quando a atividade fotossintética da planta é maior.

As invasoras uma vez instaladas na pastagem raramente são eliminadas através de roçadas e devemos evitar que estas venham a sementear, pois assim estaremos prolongando o problema por mais 2 anos.

É importante lembrar que o uso de herbicida é bastante técnico e para um bom resultado devemos escolher o produto correto e principalmente fazer uso da dosagem correta. Recomendo que se consulte o corpo técnico da cooperativa ou da empresa fabricante.

4. Controle de outras plantas: 

Este poderá ser feito com glifosato e uma aplicação localizada a baixa pressão ou com enxadão através do arranquio.

5. Conservação de solo: 

Caso exista erosão no pasto esta deve ser recuperada com a construção de paliteiros ou bacias.

6. Fosfatagem: 

Estando os níveis do solo abaixo do desejável poderemos no início das chuvas realizar uma adubação fosfatada e esta poderá ser gradativa e parcelada tanto quanto o orçamento do pecuarista assim o exija, porem deve-se respeitar um mínimo de economicidade em relação aos custos de aplicação e custo-benefício. Lembro que os níveis mínimos desejáveis são algo em torno de 20 mg/dm3.

O uso de fontes de fósforo de baixa solubilização é desejável, pois permitem este intervalo entre uma aplicação e outra de 2 a 3 anos.

7. Descompactação do solo quando necessário: 

Caso o solo esteja compactado podemos realizar a sua descompactação através de uma subsolagem ou um aeromix no início das chuvas.

8. Da veda da pastagem: 

Não existe recuperação de uma pastagem sem o seu descanso, este é fundamental.

A veda da pastagem deve ocorrer tão logo a planta inicie a sua rebrota e a pastagem deve ficar vedada até que venha a atingir a altura satisfatória.

a partir daí inicia-se um novo manejo de forma a poupar a pastagem para que ela volte a criar tecidos de reserva e um mínimo aceitável de folhas para a sua fotossíntese.

9. Divisão de pastagem: 

Uma melhor divisão de pastagens na propriedade está ligada diretamente com o manejo.

Só conseguimos manejar corretamente a pastagem respeitando o tempo de repouso para sua rebrota e isso só é possível se tivermos mais pastos para colocar os lotes de animais.

A divisão é uma ótima estratégia para recuperar as pastagens.

Comparativo entre reforma e recuperação

Fatores que levam a degradação das pastagens:

  1. Falta de reposição da fertilidade do solo.
  2. Pastos demasiadamente grandes.
  3. Formato inadequado das pastagens.
  4. Gramínea inadequada para a fertilidade e tipo de solo e topografia.
  5. Mistura de gramíneas.
  6. Transito de máquinas com frequência na pastagem.
  7. Roçadas manuais e/ou mecânicas de forma continua.
  8. Pragas das pastagens.
  9. Fatores climáticos (seca, geada).
  10. Fogo.
  11. Posicionamento errado de aguada e cocho de sal.
  12. Falta de controle de invasoras.
  13. Má formação das pastagens.
  14. Manejo inadequado das pastagens.
  15. Carga de animais elevadas com manejo incorreto.

Além destes temos muitos outros, mas em geral o que leva a degradação é um conjunto destes, portanto faz-se necessário a atenção e muitas vezes o treinamento e a consultoria para corrigir e detectar os diversos pontos que estão levando a degradação.

Podemos recuperar e ou reformar as nossas pastagens inúmeras vezes e elas votarão a se degradar, isso vai ocorrer se o pecuarista não se conscientizar de que sua pastagem é uma cultura como é o milho, a cana e outras mais e como tal tem suas necessidades e limitações.

É preciso conhecer mais sobre as plantas forrageiras e quebrar os paradigmas que os antigos adotavam como verdade.

A forma como se conduziu as pastagens e o negócio de pecuária a alguns anos atrás não dá mais certo hoje e é preciso que o pecuarista acorde, observe os seus erros e aprenda com eles, enquanto ainda existe tempo e fôlego para corrigi-los e mudar a atitude em relação ao manejo das pastagens.

Muito se fala em pecuária sustentável, porém enquanto existir a degradação das pastagens a pecuária não será sustentável.

Faz-se necessário urgente a consolidação do conceito de sustentabilidade na pecuária para que possamos nos manter como o pais do maior rebanho comercial do mundo.

Somente através da sustentabilidade nós faremos respeitar pelos governantes, pelos políticos, pela sociedade, outros países e ecologistas que muito entendem de meio ambiente e pouco atentam para a importância da carne e do leite como uma boa fonte de alimento do homem.

*Wagner Pires é Engenheiro Agrônomo – especialista em pastagens. Ministra consultoria a empresas ligadas ao Agronegócio e empresas pecuárias no Brasil e Exterior.  

É autor do Livro: MANUAL DE PASTAGEM – Formação, Manejo e Recuperação.

Fonte: Circuito da Pecuári

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