o presidente da Aliança Paraense da CarneFrancisco Victer classificou como oportunista a decisão divulgada esta semana pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que estabelece um protocolo de gerenciamento de risco para desmatamento ilegalrestringir a concessão de crédito aos frigoríficos que abatem bovinos de corte.
“Não é de estranhar que uma organização de bancos promova algum tipo de autorregulação. Mas, no nosso entendimento, a forma como é apresentada, a forma como é colocada, soa a um certo oportunismo”, disse Victer, em entrevista ao Canal Rural.
Segundo o presidente da aliança que reúne diversas entidades da cadeia da carne e do setor agropecuário paraense – como associações de criadores, sindicatos da indústria, federações da agricultura etc. -, a cadeia agroindustrial da carne nos estados do A Amazon vem realizando, desde 2009, um esforço para cumprir compromissos no sentido de excluir fornecedores que estejam ligados a problemas ambientais, conflitos agrários e trabalho análogo ao escravo.
“[Tomamos] Uma série de medidas que tornam a origem de nossa matéria-prima mais segura e, portanto, naturalmente em conformidade com a legislação. Então, quando a Febraban anuncia um posicionamento como esse, nos soa oportunista”, afirmou.
Expectativa de cooperação da Febraban
A expectativa, diz ele, era de uma atitude mais colaborativa por parte da entidade. “E não apenas uma cena anunciando algo que nem é novo. Desde 2021, o Banco Central e o Conselho Monetário Nacional vêm atualizando uma política sobre riscos sociais, ambientais e climáticos. E a Febraban, agora, com algum atraso e de forma indevida (…), lança isso na imprensa como se fosse protagonista de um processo que já está em desenvolvimento, que a indústria, que os produtores e o próprio governo , do Ministério Público Federal, vêm se desenvolvendo há muitos anos, sem o aporte do sistema financeiro, diga-se de passagem”.
Victer lembra que as iniciativas da cadeia da carne no Pará já passaram por quatro auditorias externas neste período, alcançando um número crescente de operações e um percentual de conformidade cada vez maior. Segundo ele, na auditoria mais recente, houve cerca de 94% de conformidade no controle de fornecedores.
“Esperávamos que a Febraban anunciasse medidas para recompensar linhas de crédito mais robustas, em condições mais favoráveis para quem já vinha contribuindo para esse objetivo (de combate ao desmatamento)”.
Geladeiras e desmatamento
Ele também questiona o foco da medida, voltada exclusivamente para frigoríficos. “Os abatedouros, por si só, não promovem o desmatamento. A questão do desmatamento é muito mais ampla (…) Não é um problema simples, não se resolve com uma medida só, não se resolve com uma medida contundente. Exige muita construção de estruturas que vão poder enfrentar um problema que não é exclusivo do Brasil, não é exclusivo da Amazônia”, afirmou.
dependência de crédito
Como qualquer segmento, diz Victor, a cadeia produtiva da carne depende necessariamente de crédito, por isso a decisão da Febraban pode ter forte impacto.
“Pode faltar recursos para investimento, pode faltar recursos para capital de giro. Isso prejudica as operações, porque a indústria não consegue adquirir gado. Não consegue nem investir em medidas relacionadas à sustentabilidade”, enumera.
Convite para a Febraban
O presidente da entidade afirma ainda que a Febraban seria muito bem-vinda se decidisse aderir à Aliança Paraense pela Carne, contribuindo para a discussão com todos os segmentos da cadeia, ao invés de propor medidas consideradas drásticas.
“Cortar o crédito de uma empresa por um ou outro problema significa realmente estagnar a atividade e criar muitos problemas para os produtores, para as próprias indústrias, para a sociedade em geral, porque cada indústria que para de funcionar é uma a menos para contribuir com o abastecimento. de carne e comida”, disse Victor.
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