O Banco Central (BC) elevou a projeção de crescimento econômico neste ano. A estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) passou de 1,2% para 2%, devido a “surpresas positivas em algumas atividades da indústria e do setor de serviços no primeiro trimestre, além de melhores previsões para a agricultura”. A projeção consta do Relatório de Inflação, publicação trimestral BC.
“A atividade econômica apresentou forte crescimento no primeiro trimestre (1,9%), superando em muito as expectativas. O resultado refletiu principalmente o desempenho do setor agropecuário. Por sua vez, a evolução da demanda doméstica e dos componentes da oferta mais sensíveis ao ciclo econômico reforçam a avaliação de arrefecimento da atividade econômica”, explicou o BC no relatório.
“Apesar desse aumento, a projeção continua refletindo um cenário prospectivo de desaceleração da atividade econômica em 2023, sob influência da desaceleração do crescimento global e dos impactos cumulativos da política monetária doméstica. [alta da taxa básica de juros]”, alertou a autarquia.
O Comitê de Política Monetária (Copom) da BC mantém taxa Selic em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado, o maior nível desde janeiro de 2017, apesar da queda da inflação e pressão do governo para reduzir os juros básicos.
A Selic é o principal instrumento do BC para atingir a meta de inflação porque a taxa afeta os preços, já que os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, evitando o aquecimento da demanda. Os efeitos do aperto monetário são sentidos no reforço de crédito e a desaceleração econômica.
setores da economia
Em 2022, a economia brasileira cresceu 2,9%, após alta de 5% em 2021 e queda de 3,3% em 2020. O setor de serviços foi o que mais contribuiu para o crescimento do PIB no ano passado. Segundo o BC, os setores do setor foram fortemente afetados pela pandemia de covid-19, inicialmente, mas desde então têm apresentado trajetórias de crescimento econômico.
Para este ano, a projeção para o setor de serviços passou de 1% para 1,6%, dado o bom desempenho de algumas atividades. Entre eles estão os transportes, “possivelmente influenciados pelo escoamento da safra de soja”, e as atividades financeiras. O BC também cita o comércio, que teve variação modesta, mas acima do previsto, possivelmente também beneficiado pela alta da agropecuária.
Na indústria, a projeção passou de 0,3% para 0,7%, com maior crescimento na indústria extrativa e na produção e distribuição de eletricidade, gás e água. Esta última atividade vinha de uma projeção de crescimento de 0,4% a 5%, beneficiada no primeiro trimestre pela redução da participação das termelétricas na produção total de energia elétrica, o que deve continuar ocorrendo ao longo do ano, em um cenário de reservatórios de hidrelétricas em níveis confortáveis e a maior oferta de energia de usinas eólicas e fotovoltaicas.
“Em sentido contrário, houve redução nas estimativas para a indústria de transformação e construção civil, atividades mais sensíveis ao ciclo econômico e que recuaram mais do que o esperado no primeiro trimestre”, informou o BC.
A projeção de crescimento da agropecuária para este ano foi elevada de 7% para 10%, após queda de 1,7% em 2022, refletindo previsões favoráveis para a produção agrícola, notadamente soja, segunda safra de milho e cana-de-açúcar.
Com relação aos componentes domésticos da demanda, a projeção para o consumo das famílias aumentou ligeiramente, de 1,5% para 1,6%; para o consumo do governo, de 0,7% para 1%, e para a formação bruta de capital fixo (investimentos) das empresas, de estabilidade para queda de 1,8%. As exportações e importações de bens e serviços neste ano devem variar de 3,7% a zero, ante projeções respectivas de 2,4% e queda de 0,5% no Relatório de Inflação de Março.
Riscos
Segundo o BC, o relatório de março mencionava uma possível desaceleração na concessão de crédito mais intensa do que seria compatível com o atual estágio da política monetária, representando um risco negativo para a atividade econômica. Na atual publicação, “apesar do risco continuar”, o BC sugere que as concessões de crédito com recursos livres “têm evoluído em linha com o esperado”.
As concessões de crédito com recursos livres (com juros determinados pelos bancos) vêm apresentando desaceleração desde o final do ano passado, principalmente no segmento pessoa jurídica, e recuaram 3,7% no trimestre encerrado em abril. “Já se esperava um menor dinamismo no mercado de crédito, tendo em vista o grau de aperto da política monetária. Porém, no início de 2023, ocorreram eventos relevantes, no Brasil e no exterior, que potencialmente trazem deterioração adicional ao mercado de crédito, de magnitude incerta”, analisou o BC.
Segundo a instituição, o avanço na criação do novo regime fiscal contribui para a redução dos riscos, “que reduziram a incerteza associada a cenários extremos de crescimento da dívida pública”. Desde o último Relatório de Inflação, novas medidas foram apresentadas ou estão em discussão e o Ministério da Fazenda também sinalizou seu interesse em reduzir os benefícios fiscais.
Ainda assim, no relatório, a avaliação é de que a aprovação do novo regime tributário na Câmara dos Deputados e o anúncio de ações para aumentar a arrecadação “ainda não impactaram significativamente as projeções dos analistas para as variáveis fiscais”. O BC incorpora as expectativas do mercado nas decisões de política monetária (sobre taxas de juros).
No ambiente externo, entre os possíveis riscos ao crescimento global, o relatório menciona a persistência de pressões inflacionárias nos países centrais, o que pode exigir um aperto monetário mais prolongado, com efeitos sobre a atividade econômica; o ritmo de reabertura e recuperação da economia chinesa e os riscos decorrentes dos ajustes no setor imobiliário do país; e reflexos de episódios recentes envolvendo bancos no exterior, apesar do contágio limitado nas condições financeiras até o momento.
Inflação
Segundo o BC, as projeções de inflação caíram para todo o horizonte considerado. A inflação, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve encerrar este ano em 5%, no cenário de juros básicos de 12,25% ao ano e câmbio de R$ 4,85. No relatório de março, a projeção era de 5,8%.
O BC também projeta que a inflação deve ficar em 3,4% em 2024 e 3,1% em 2025. Nessa trajetória, a taxa Selic chega ao final de 2024 e 2025 em 9,5% e 9% ao ano, respectivamente.
O relatório destaca que a chance da inflação oficial ultrapassar o teto da meta neste ano caiu de 83% no relatório de março para 61% agora em junho.
A meta para este ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3,25% de inflação, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 1,75% e o limite superior de 4,75%. Para 2024 e 2025, o CMN estabeleceu meta de 3% para o IPCA, em ambos os anos, também com tolerância de 1,5 ponto percentual.
(Com Agência Brasil)
(Débora Damasceno/Sou Agro)


