Como você viu no “De Olho no Boi” da semana passada, o mercado de animais coexiste com um cenário de oferta ‘saindo pelo ladrão’.
O cenário de alta oferta é o principal fator que influencia os preços das proteínas desde o início de 2023.
Além disso, o ritmo das exportações do Brasil para China começa a ganhar maior intensidade pouco mais de dois meses após o fim do embargo à carne brasileira, entre fevereiro e março.
Para entender o quadro atual de preços, oferta, demanda e custos, o Tempos Agro conversou com Felipe Fabbri, analista de mercado e cadeia produtiva animal da Scot Consultoria, além de ouvir Fernando Iglesias, especialista em proteína animal e analista da Safras & Mercado.
Oferta, demanda e preços
No mercado interno, foi registrado um cenário de queda na arroba do boi, cenário que, segundo Fabbri, representou uma melhora para os frigoríficos.
“Em maio, nosso indicador Scot Deboning (margem bruta entre as vendas no atacado de carne desossada, couro, sebo e miúdos) atingiu o melhor nível desde 2021. Assim, em termos de margem bruta, o momento da indústria com queda na arroba É ótimo”, explica.
Ainda assim, no atacado, não houve grandes variações em São Paulo.
| Atacado Cortes Base SP – (Safras & Mercado) | 26/mai. | 02/jun. | Variação |
|---|---|---|---|
| frente casada | R$ 13,70 | R$ 13,70 | 0 |
| burro casado | R$ 18,40 | R$ 18,40 | 0 |
| Ponta da agulha | R$ 13,60 | R$ 13,50 | -0,74 |
Nas principais praças entre abril e maio, a arroba do boi derreteu de 7% para 15%.
| Boi Gordo – R$/@ – Culturas e Mercado | 28/abril. | 31/mai. | Variação (%) |
|---|---|---|---|
| SP – Barretos | R$ 255,00 | R$ 225,00 | -7,55 |
| GO – Goiânia | R$ 240,00 | R$ 210,00 | -10,2 |
| PR – Norte | R$ 255,00 | R$ 225,00 | -11,54 |
| baiana | R$ 240,00 | R$ 215,00 | -10,2 |
| PA – Redenção | R$ 227,00 | R$ 190,00 | -15,22 |
“No Centro-Oeste, com destaque para Mato Grosso, a pressão baixista foi ainda maior. A região vive o pico do que chamamos de ‘desova de final de safra’, e a arroba, entre os quatro mercados monitorados pela Scot na região (Cuiabá, Norte, Sudeste e Sudoeste), caiu em média 8,3%, com destaque para o norte do Mato Grosso, onde as cotações caíram 9,6%”, explica.
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Exportações
Apesar do melhor ritmo dos embarques em maio, os preços pagos nas exportações, principalmente para a China, continuam pressionando as indústrias, que têm menos apetite para embarcar para o país asiático.
“As exportações de maio de 2023 tiveram o melhor desempenho da história para o mês, em relação aos seus pares, com 168,3 mil toneladas de carne in natura enviadas ao mercado externo, com embarque diário 10,6% superior ao mesmo mês do ano passado, que até então tinha sido um recorde. O preço da tonelada exportada, porém, registrou queda de 21% na comparação anual, um deságio de quase 1/4 – ou seja, pressão nas margens das indústrias exportadoras, com menor apetite por prêmio ao “boi da China”, comenta Fabbri.
O que esperar nos próximos meses?
Para o analista da Scot Consultoria, os próximos meses devem reservar uma recuperação para o boi gordo, com destaque para Julho.
“O confinamento deve ser menos ofertado em relação ao ano anterior, apesar do excelente cenário de redução de custos – considerando a queda no preço de insumos e reposição -, ainda há muito estoque de alimentos caros para ‘queimar’ e pouco espaço no mercado físico e futuro de gado gordo que atraiu confinamentos. Ou seja, a oferta, que sazonalmente já está baixa no segundo semestre, pode vir relativamente menor”, comenta Fabbri.
No entanto, pelo lado da demanda, a China deve ter um apetite mais “voraz”, principalmente entre setembro e outubro, avalia.
“Apesar disso, não temos a percepção de que os preços pagos pelos chineses voltem aos máximos observados em 2022 (US$ 6 mil/t) tão cedo. No mercado interno, o consumo pode ganhar fôlego no segundo semestre, com menor pressão de endividamento da população brasileira, bom desempenho macroeconômico e repasse na ponta, o que deve melhorar o fluxo”, diz.
Por fim, a retomada dos preços do boi gordo, porém, não deve ser encarada como uma explosão de preços, até porque, o descarte de fêmeas em 2023, acompanhando o ciclo de preços do boi gordo, deve ser o maior desde 2003, segundo o analista.
