Aos 15 anos, Anísio Nunes Cordeiro plantou as primeiras mudas de café na propriedade localizada em Água Boa (MG), na região do Vale do Jequitinhonha. Encantou-se, mas entre “idas e vindas” passaram-se 46 anos e só agora, aos 61, é o produtor que sustenta a família trabalhando em sua própria plantação de café.
A primeira vez que viu uma plantação de café foi no Espírito Santo quando, ainda adolescente, foi com a família visitar um tio no interior do Estado. Ficou encantado com “aqueles pés de café”. Ao voltar para sua terra em Minas, trouxe a lembrança e as sementes para começar a plantar. Mas o sonho de ter seu próprio cafezal teve que esperar porque, a pedido do avô, Anísio foi cuidar de “outros afazeres” mais urgentes na propriedade.
Naquele momento, a única certeza era que sua história com o café estava apenas começando. As oportunidades de trabalho surgiram na região onde morava e Anísio saiu para trabalhar na safra em outras propriedades. Segundo ele, passou anos assim “ganhando a vida” para a família, mas ainda não conseguiu realizar o sonho de ter sua própria plantação de café.
Quando já era casado com Maria de Fátima Rodrigues Cordeiro e tinha oito filhos, Anísio voltou a ver no café a possibilidade de fazer tudo melhor e resolveu investir na produção própria. “No começo a produção era boa, mas descuidei, parei de adubar a terra. A produção começou a cair. E houve até uma altura em que o fogo destruiu tudo”.
Com tudo isso, Anísio teve que continuar nas lavouras de café da região. Dois de seus oito filhos também saíram e foram trabalhar em lavouras de café em outro estado. “Foi uma época de muitas dificuldades”, lembra o produtor.

Anísio fez mais uma tentativa frustrada de ter seu próprio café. Foi quando, desanimado, quase desistindo, conheceu a Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar enquanto participava de uma reunião no Sindicato Rural de Água Boa.
E foi aí que a situação dele começou a mudar. Ao iniciar as primeiras consultas na propriedade de Seu Anísio, a técnica de campo do Senar, Francy Santos, identificou que a lavoura, apesar de degradada, tinha grande potencial produtivo. “A primeira coisa que fizemos foi analisar o solo, adubamos, melhoramos a gestão da propriedade. E junto com essas ações, organizamos também a parte gerencial, que não existia”.

Os resultados surgiram com o primeiro ano de atendimento pelo Senar. A produção aumentou e Anísio passou a secar o café em sua própria propriedade ao invés de vendê-lo “verde na lata”. Ele e sua família finalmente viram sua renda aumentar. “Trabalhamos dentro da porteira para que ele produzisse com qualidade e triplicasse o valor de venda do seu produto”, diz o técnico do Senar.

Anísio reconhece a importância do atendimento ao cliente. “Depois que o Senar entrou na propriedade, aprendi a secar bem o café até esperar o momento certo para vendê-lo. Com esses ensinamentos, passei a lucrar, a vida mudou, não tenho mais dívidas”, destaca o produtor.

Os bons resultados da safra refletiram na melhoria da qualidade de vida da família. “Arrumei minha casa, comprei uma geladeira, fiz uma varanda em casa, toda de cerâmica, pintei a casa de verde, que é cor de café, ajudei meu filho a comprar uma moto”. Até a comunicação com a família ficou mais fácil. Diariamente, o casal conversa por videochamada com os filhos e netos que ficaram no Espírito Santo.

Dona Maria de Fátima também comemora os resultados. “Fiquei com muita vergonha quando alguém chegou na minha casa, mas hoje, com as benfeitorias e com as coisas que compramos, isso mudou”, diz a emocionada que enfrentou todos os momentos críticos ao lado de Anísio.

O casal lembra o empenho do técnico de campo do Senar como fator que fez toda a diferença para o sucesso da cafeicultura. “Francy chegou e não largou mais. Tinha dias que eu falava pra Maria: ‘Com essa chuva ele não vem’. Mas mesmo com aquele aguaceiro, bastava esperar para ouvir o barulho da moto dele”, lembra Seu Anísio.
Sob uma mangueira, o produtor colocou uma mesa que ele mesmo construiu e uma placa dizendo que a propriedade é atendida pela Assistência Técnica e Gerencial do Senar. “Ligo para cá do meu escritório. É aqui que faço o caderno Senar com a Francy”, diz Seu Anísio, referindo-se ao controle gerencial da propriedade.

No caderno, Anísio também coloca seus planos para o futuro com as lavouras. “Com o dinheiro que sobrar, quero comprar uma roçadeira, limpar tudo com foice, enxada, não dá mais. Comprar um carrinho também, se puder, né? Pra gente passear por aqui. E se Deus quiser, um dia poderei trazer meus filhos de volta.”
O técnico de campo do Senar confirma, com dados, as expectativas do produtor rural. “Neste ano, na safra 2022/2023, vamos colher em média 150 sacas, com bom preço de venda. Além disso, já estamos preparando o terreno para plantarmos novas mudas de café. O trabalho que realizo aqui no Seu Anísio é um dos que mais me orgulha”, diz Francy.

Hoje, o produtor rural de 61 anos, mais conhecido como “Seu Anísio”, ainda se emociona com aquela visão da lavoura de café que teve quando tinha apenas 15 anos. A diferença é que hoje ele conseguiu transformar esse sonho em realidade em sua propriedade. “Não quero mais sair daqui. E nem preciso malhar. Agora tudo que eu faço é aqui na minha terra”.
(Com CNA Brasil)
(Emanuely/Sou Agro)


