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Pesquisadores e apicultores trabalham juntos para salvar abelhas ameaçadas de extinção

Pesquisadores e apicultores trabalham juntos para salvar abelhas ameacadas de

  • Desmatamento, uso indiscriminado de agrotóxicos e deslocamento inadequado de ninhos colocam a abelha nativa do Cerrado Uruçu Amarela (Melipona rufiventris) em risco de extinção.
  • A espécie é responsável pela polinização de imensas áreas naturais e agrícolas, e pela renda de pequenos produtores e agricultores familiares.
  • A equipe envolvida na pesquisa quer detectar o grau de ameaça de desaparecimento do inseto e estabelecer critérios sustentáveis ​​para o manejo das colmeias.
  • O trabalho, que envolve análises genômicas e genéticas de populações de abelhas, é estratégico para viabilizar ações de prevenção de riscos ambientais e subsidiar políticas públicas.
  • Risco de extinção de Uruçu Amarela do Cerrado é reconhecido em portarias do Ministério do Meio Ambiente.

A Uruçu Amarela do Cerrado (Melipona rufiventris), sem ferrão, capaz de produzir até cinco quilos de mel por colônia por ano, é o elo entre pesquisadores e técnicos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), instituições parceiras e apicultores (criadores de espécies

O inseto é responsável pela polinização de imensas áreas naturais e agrícolas e pela renda de pequenos produtores e agricultores familiares. Sua raridade, na natureza e na meliponicultura (criação racional de abelhas nativas sem ferrão), faz com que seus produtos tenham maior valor agregado.

A equipe envolvida na pesquisa quer detectar o grau de risco de desaparecimento da abelha e discutir e estabelecer critérios para a elaboração de um plano de manejo sustentável, que permita sua conservação. O trabalho inclui, entre outros estudos, análises genômicas e genéticas de populações de insetos.

O desmatamento de grandes áreas naturais para expansão agrícola ou desenvolvimento urbano e o uso indiscriminado de agrotóxicos estão entre os principais motivos que colocam em risco a espécie nativa do Cerrado brasileiro. Soma-se a estes a predação de ninhos naturais para retirada criminosa do mel ou dos próprios ninhos, muitas vezes vendidos pela internet, prática adotada pelos “meleiros”, que pode causar a morte do enxame.

Por isso, desde dezembro de 2014, uma portaria do Ministério do Meio Ambiente (MMA) colocou Uruçu Amarela do Cerrado na categoria EN, ou seja, em risco de extinção. A mais recente Portaria (MMA nº 148 de 07/06/2022) a manteve na lista de espécies ameaçadas de extinção, alertando a sociedade e a comunidade científica sobre restrições relacionadas ao seu manejo.

Deslocamento indiscriminado de ninhos

Segundo o apicultor e presidente da Associação dos Apicultores do Distrito Federal (AMe-DF), Anselmo Carvalho, a atividade da apicultura, apesar de generalizada, ainda não possui uma lei federal que a regule, gerando insegurança jurídica para os criadores . Alguns estados têm até lei própria, mas a maioria está sujeita à Resolução Conama 496/2020, que permite, por exemplo, a captura de enxames utilizando recipientes de isca como forma de formação de bandos e também isenta os criadores de registro no órgão ambiental nas criações considerados não comerciais, ou seja, aqueles com até 49 colônias.

Muitos meliponicultores conseguem multiplicar seus enxames, que são vendidos por R$ 400,00 e R$ 1.000,00 ou são trocados entre criadores, visando aumentar a diversidade genética em seus rebanhos. Como a área de ocorrência natural nem sempre é respeitada por alguns criadores, no presente estudo é necessário avaliar o potencial efeito adverso ou benéfico, sobre populações naturais, do deslocamento indiscriminado e sem critérios científicos dos ninhos de Uruçu Amarela do Cerrado .

Segundo a pesquisadora da Embrapa Débora Pires, coordenadora do projeto Avaliação da diversidade genética da abelha nativa Uruçu Amarela do Cerrado e o risco de movimentação antropogênica de ninhos, a movimentação frequente e indiscriminada de ninhos pode favorecer uma maior frequência de acasalamentos entre indivíduos de populações de meliponário provenientes de regiões fora da ocorrência natural com as populações do bioma Cerrado.

“Para populações naturais, pequenas e isoladas – características de espécies ameaçadas de extinção -, o cruzamento contínuo de rainhas descendentes híbridas, resultantes de pais de populações naturais e de meliponários, com machos de populações parentais de meliponários, pode causar, ao longo do tempo, o empobrecimento da diversidade genética de populações naturais. Seus genótipos são substituídos pelos genótipos das populações de meliponários”, explica o cientista. Como resultado, importantes adaptações locais ao ambiente, como resistência a doenças, podem ser perdidas.

Para avaliar o grau de risco de desaparecimento das espécies nativas do bioma Cerrado e descobrir o que de fato está acontecendo com o Uruçu Amarela do Cerrado, a pesquisadora Débora Pires conta com a ajuda dos apicultores Anselmo Carvalho e Roberto Montenegro na coleta de abelhas em ninhos . do Distrito Federal e regiões do bioma e também nas fazendas. Eles têm visitado pequenas propriedades para conscientizar os criadores sobre a importância da pesquisa, além de levar o tema para as escolas. A equipe liderada pelo cientista tem autorização do Sistema de Autorização e Informação da Biodiversidade (SISBio), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), para realizar essa atividade, que consiste apenas na coleta de abelhas, em ninhos naturais e em meliponários no Distrito Federal e estados que fazem parte do bioma natural da espécie.

Campanha para salvar Uruçu Amarela do Cerrado

A direção da AMe-DF está realizando uma campanha com os apicultores para que colaborem repassando aos pesquisadores a indicação de onde há ninhos naturais. E, ao mesmo tempo, que eles forneçam material de seus ninhos para enriquecer a pesquisa e, consequentemente, gerar mais dados. “A localização dos ninhos naturais e dos meliponários, bem como a identidade dos meliponicultores, são informações mantidas em sigilo. Não há divulgação de dados, pois assim evitamos saquear os ninhos naturais da espécie”, explica Pires, ressaltando que o estudo tem finalidade estritamente científica.

As abelhas coletadas são levadas ao laboratório de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa para análise genômica e genética populacional. Para a conferência taxonômica, eles são enviados ao laboratório de taxonomia de abelhas nativas da Universidade de Brasília (UnB), sob responsabilidade do professor Antônio Aguiar.

Após a análise científica, o próximo passo será convidar os apicultores, a comunidade científica e os órgãos reguladores para juntos tomarem conhecimento do grau de risco detectado e discutirem critérios para a elaboração de um plano de manejo que permita a conservação de Uruçu Amarela do Cerrado. A intenção é que o manejo multiplicativo dos ninhos-mãe e a venda ou troca de ninhos sejam sustentáveis.

“A coleta de dados deste projeto é estratégica para viabilizar ações de prevenção ou mitigação de risco ambiental irreparável e inestimável, com apoio direto às políticas públicas.” regulamentado pela Instrução Normativa ICMBio nº 21/2018.

Quem é o Uruçu amarelo do Cerrado?

A abelha nativa sem ferrão Uruçu Amarela compreende nove espécies crípticas, distribuídas em diferentes biomas, que formam o ‘complexo rufiventris’. Espécies crípticas são aquelas morfologicamente muito semelhantes, a ponto de serem necessárias análises genéticas para distingui-las.

Dentre essas espécies está Melipona rufiventris (Uruçu Amarela do Cerrado). O Cerrado é o bioma nativo desta abelha sem ferrão, que tem alcance médio de voo de 2,5 km e estabelece colônias com população de até cinco mil abelhas em ocos de árvores em áreas remanescentes de Cerrado no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia e Minas Gerais.

O mel de Uruçu-Amarela do Cerrado é considerado um dos mais saborosos méis produzidos por abelhas nativas. A espécie está entre as de maior capacidade produtiva. Sua produção pode chegar a cinco quilos de mel por colônia por ano.

Instituições parceiras no projeto

  • Associação dos Meliponicultores do Distrito Federal (AMe-DF)
  • Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF)
  • Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF)
  • Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
  • Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)
  • Universidade de Brasília (UnB)
  • Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb)
  • Universidade Federal de Viçosa (UFV)



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