Além do pop e da tecnologia, o agronegócio está cada vez mais feminino. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de estabelecimentos rurais administrados por mulheres aumentou 38% em um período de 12 anos, entre 1998 e 2020. Esse crescimento mostra que em 15 de outubro, Dia Internacional da Mulheres Rurais, elas desempenham um papel fundamental no sucesso atual do setor.
Uma pesquisa de 2021, realizada pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), mostra que 59,2% das mulheres que trabalham na área são donas ou sócias; 30,5% fazem parte do conselho e atuam como gerentes, administradores ou coordenadores; e 10,4% são empregados e colaboradores. Além disso, 57% participam ativamente de sindicatos e associações rurais. Os números mostram que as mulheres estão em todas as áreas do agronegócio, seja nas administrativas, técnicas ou nas que exigem força.
Em Goiás, o responsável pela coordenação das equipes de montagem dos sistemas de irrigação do Grupo Pivot, um dos líderes nacionais no segmento de máquinas agrícolas e irrigação, o engenheiro agrônomo Kari Araújo, 32, reconhece que ainda há resistência masculina ao trabalho das mulheres no campo, especialmente em cargos de comando.
Para ela, o que tem ajudado a mudar essa cultura de desconfiança é o fato de grandes empresas, como a Pivot, colocarem mulheres em cargos e cargos que há alguns anos eram ocupados apenas por homens. “Felizmente isso mudou muito. Diferente do que era há algumas décadas, você tem muito mais mulheres no campo trabalhando em pé de igualdade com os homens, inclusive em cargos de liderança”, destaca o engenheiro.
Comandando 25 homens em suas equipes de montagem, Kari conta que trabalha com irrigação agrícola há seis anos e está sempre no campo, seja com técnicos ou com clientes. “Entre minhas responsabilidades aqui na Pivot estão orientar e acompanhar essas equipes durante a montagem dos sistemas de irrigação nas fazendas; repassar as fichas técnicas de todos os sistemas com os quais trabalhamos; programar treinamento; Também sou responsável por dar feedback aos clientes, esclarecer algumas dúvidas”, descreve Kari.
senhora do agro
Conhecida como Dama do Agro, na região de Unaí, noroeste de Minas Gerais, a empresária e produtora rural Liliane Queiroz, 41 anos, é a prova de que a presença de mulheres no agronegócio é tendência e sinônimo de sucesso. Vencedora do prêmio Mulheres do Agro 2021, prêmio idealizado pela Bayer e ABAG, Liliane, que veio do interior de São Paulo para Minas aos 17 anos, quando se casou, conta que se dedicou inteiramente à agricultura por 24 anos, inclusive participando do trabalho diário das fazendas que administra com o marido.
“Trabalho na área administrativa, mas faço questão de estar presente na área operacional. Então, se eu precisar vacinar o gado, eu faço, se eu precisar andar a cavalo, eu faço, se eu tiver que dirigir um trator, eu faço também. Eu, por exemplo, tenho habilitação de caminhão, preciso ter justamente porque faço muita coisa operacional. Mas, apesar de tudo isso, não deixamos de fazer a manicure, de usar batom, anel, brinco. É esse toque feminino que convive muito bem com o ambiente rústico da fazenda que eu amo”, destaca a produtora, ao relatar um pouco do seu dia a dia.
Juntamente com o marido, Liliane administra cerca de 2.000 hectares de terras nas duas fazendas da família: Primavera e São José. Segundo ela, a maior parte das terras pertence ao sogro, e ela e o marido arrendam. Em uma das propriedades, eles produzem soja, sorgo, milho e, em poucos anos, plantam feijão. No setor pecuário, eles criam uma versão do gado Nelore PO, o Nelore Dama, que leva o nome de sua marca, Dama do Agro. “Trabalhamos também com sistema de criação e engorda”, acrescenta.
conquistando espaço
Sobre a existência de preconceito contra a presença de mulheres no setor, Dama do Agro admite que ainda há resistência por parte de algumas, mas, segundo ela, isso nunca impediu sua paixão pelo campo. Para ela, a mulher conquista seu espaço buscando aprender tudo na fazenda e, quando necessário, se impor. “Hoje, as mulheres precisam ter atitude, precisam ser respeitadas, não só no campo, mas em qualquer lugar e em qualquer área”, defende.
Para Liliane, as mulheres na agricultura podem trazer uma visão muito mais ampla e cuidadosa do negócio, preocupando-se com a produtividade, mas também com a sustentabilidade. “As mulheres têm uma visão mais ampla do agronegócio. Pudemos ver e perceber todos os setores de uma só vez, e de forma muito zelosa e cautelosa. Você tem, por exemplo, a questão da sustentabilidade, que é um assunto que as mulheres enfrentam muito bem”, avalia.
boa influência
Apesar de não atuar como influenciadora, Liliane admite que acaba desempenhando esse papel pelo respeito que conquistou na comunidade do agronegócio de sua região. Ela é dona de um perfil no Instagram com mais de 10.000 seguidores, onde mostra seu dia a dia na fazenda. “É um perfil voltado para o agronegócio. Neste momento, em época de plantio, mostro algumas novas tecnologias que estamos adotando na fazenda. Faço lives para demonstrar o funcionamento dessas novas máquinas, mostramos como é nosso processo de produção. Damos também um espaço especial para a prática da sustentabilidade dentro do agro”, revela Liliane.
Para Liliane, sua presença e de outras mulheres do agro pode ser uma boa influência para as próximas gerações. “As meninas hoje em dia já podem ver que são, sim, capazes”, ressalta. Mas o produtor rural lembra também que as mulheres não podem fazer tudo sozinhas e os homens também não, portanto, não se trata de uma relação de competição entre os gêneros. “Acho que a entrada das mulheres no agronegócio veio para fortalecer ainda mais o trabalho. Homens e mulheres precisam caminhar lado a lado e não um na frente e outro atrás”, conclui a Dama do Agro.
