Impacto da pecuária no aquecimento global: estudo revela estratégias da indústria
No cenário atual, a pecuária é um setor que enfrenta críticas em relação ao seu impacto ambiental no aquecimento global. Recentemente, um estudo revelou que empresas como a JBS USA e o Burger King estão financiando pesquisas em universidades norte-americanas que minimizam esse impacto e buscam influenciar políticas climáticas favoráveis ao setor. Essa estratégia tem gerado controvérsias e levantado questões sobre a relação entre a indústria da carne e a pesquisa acadêmica.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!Neste artigo, iremos explorar mais detalhadamente as descobertas desse estudo, analisando como as empresas do agronegócio financiam pesquisas, promovem conteúdos pagos e buscam influenciar a opinião pública a respeito da pecuária e das mudanças climáticas. Vamos examinar os conflitos de interesses envolvidos nesse processo e como isso pode impactar nas políticas ambientais e na conscientização da sociedade.
Descubra como o financiamento de pesquisas pode influenciar as percepções sobre a pecuária e o clima
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Financiamento de pesquisas e conteúdos pagos
A indústria pecuária dos Estados Unidos investiu US$ 6,4 milhões entre 2018 e 2023 nos centros de estudo AgNext e Clear. A American Feed Industry Association (Afia) foi a principal investidora, com US$ 2,8 milhões no centro Clear e US$ 106 mil diretamente no Burger King. A JBS aplicou US$ 203 mil no AgNext. Esses investimentos visam promover uma visão favorável da pecuária, financiando conteúdos jornalísticos pagos sobre os centros de pesquisa e influenciando políticas públicas, como a exclusão de menções à redução do consumo de carne em guias alimentares.
Guru da pecuária defende nova forma de medir gases de efeito estufa
O Centro Clear, coordenado por Frank Mitloehner, propõe uma nova forma de medir os gases de efeito estufa na pecuária, denominada GWP, visando a “neutralidade climática” em vez de “neutralidade do carbono”. Isso permitiria considerar como positivas as reduções nas emissões de metano, associadas à pecuária. No entanto, estudos apontam que a pecuária é responsável por um terço das emissões de gás metano causadas pelo homem, destacando a importância de reduzir essas emissões no combate às mudanças climáticas.
Pesquisas não têm revisão de cientistas do clima
O “guru” Mitloehner é criticado por não se apresentar em conferências de ciências climáticas e por não contribuir para relatórios do IPCC. Suas publicações se concentram em revistas de ciência animal, não climáticas, e nem sempre divulga o financiamento da indústria. A abordagem do GWP tem sido contestada, pois pode minar a ciência climática ao confundir empresas e decisores políticos, desviando o foco da redução das emissões de gases de efeito estufa. A pecuária está ligada à destruição de mata nativa, contribuindo significativamente para as emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
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Conclusão
A relação entre a indústria da carne e as universidades públicas norte-americanas revela um cenário preocupante de influência e manipulação de informações para minimizar o impacto da pecuária sobre o aquecimento global. Os financiamentos de pesquisas, as estratégias de comunicação e lobby adotadas por essas instituições mostram como interesses privados podem distorcer a ciência em prol de benefícios econômicos.
É essencial que haja transparência e ética nessas relações, evitando conflitos de interesses e garantindo a integridade da produção acadêmica. A conscientização sobre os danos ambientais causados pela pecuária é fundamental para a implementação de políticas climáticas mais eficazes e a busca por soluções reais e sustentáveis.
O debate sobre a responsabilidade da indústria da carne e as práticas de sustentabilidade nesse setor deve ser ampliado, levando em consideração não apenas os interesses econômicos, mas também o impacto ambiental e social de suas atividades. A busca por alternativas e ações concretas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa é urgente e necessária para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo
Análise sobre o Financiamento da Indústria da Carne a Pesquisas sobre Aquecimento Global
A JBS USA e o Burger King estão financiando pesquisas de universidades nos EUA que minimizam o impacto da pecuária no aquecimento global. Esse apoio visa influenciar políticas climáticas desfavoráveis ao setor.
FAQs
1. Qual o objetivo do financiamento da indústria da carne às pesquisas sobre aquecimento global?
O objetivo é minimizar o impacto da pecuária no aquecimento global e influenciar políticas climáticas desfavoráveis ao setor.
2. Quais universidades estão envolvidas nesse financiamento?
As universidades envolvidas são a Universidade Estadual do Colorado e a Universidade da Califórnia em Davis.
3. Como as empresas de carne influenciam as pesquisas realizadas nessas universidades?
As empresas financiam os centros de estudos, influenciando pesquisas, campanhas de comunicação e participação em reuniões governamentais.
4. Qual a abordagem desses centros em relação às emissões de gases de efeito estufa causadas pela pecuária?
Os centros minimizam as contribuições da pecuária para a crise climática e promovem soluções tecnológicas favoráveis ao setor, além de minimizarem a necessidade de regulamentações.
5. Qual a recomendação das pesquisadoras para reduzir as emissões da pecuária?
As pesquisadoras recomendam a redução da produção e do consumo de produtos de proteína animal em sociedades de alto consumo como forma de diminuir as emissões.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo
A JBS USA, subsidiária da companhia brasileira nos Estados Unidos, e o Burger King, rede controlada por um grupo de investidores brasileiros, estão financiando pesquisas de universidades públicas norte-americanas que minimizam o impacto da pecuária sobre o aquecimento global. Esse apoio faria parte de uma estratégia da indústria da carne para “obstruir” políticas climáticas desfavoráveis ao setor e conquistar a opinião pública.
Essas são as conclusões de um estudo publicado na revista científica Climatic Change e assinado por pesquisadoras da Universidade de Yale e da Universidade de Miami, nos Estados Unidos.
Elas analisaram as atividades de dois centros de estudo apoiados pela indústria da carne: o AgNext, da Universidade Estadual do Colorado, e o Centro Clear, da Universidade da Califórnia em Davis, que pesquisam as emissões de gases de efeito estufa na pecuária.
As pesquisadoras apontam conflitos de interesses na relação entre empresas e universidades, pois os centros de estudo não atuam apenas na produção acadêmica, mas também prestam outros serviços para seus financiadores do agronegócio, como atividades de relações públicas e campanhas de comunicação, participação em reuniões governamentais, entre outros.
“Esses centros frequentemente minimizam as contribuições da pecuária para a crise climática, promovem ‘soluções’ tecnológicas que favorecem a indústria e minimizam a necessidade de regulamentações das emissões de gases de efeito estufa pelo gado”, afirma Viveca Morris, da Universidade de Yale, em entrevista por e-mail à Repórter Brasil.
Segundo o estudo publicado na Climatic Change, esses cientistas emprestam seu prestígio universitário e apostam em controvérsias científicas para, na prática, fazer lobby em prol de interesses privados. É o que as pesquisadoras chamam no artigo de “captura corporativa de instituições acadêmicas”.
“As empresas contratam pesquisadores para serem testemunhas em processos legais, ajudar a estabelecer metas regulatórias, escrever conteúdos para redes sociais, desenvolver e manter sites. E os conflitos de interesse dos pesquisadores possivelmente nunca serão divulgados publicamente”, afirma o estudo, que é assinado por Morris e por Jennifer Jacquet, da Universidade de Miami.
Financiamento de pesquisas e conteúdos pagos
Segundo o levantamento, a indústria pecuária dos Estados Unidos investiu, entre 2018 e 2023, US$ 6,4 milhões (equivalente a R$ 32,3 milhões) nos dois centros de estudo em questão
O principal investidor foi a American Feed Industry Association (Afia), a associação norte-americana da indústria de alimentação, da qual a JBS faz parte. Por meio de seu braço educacional, ela aplicou US$ 2,8 milhões (cerca de R$ 14,5 milhões) no centro de estudos da Universidade da Califórnia, o Clear (sigla que pode ser traduzida para Clareza e Liderança para Conscientização e Pesquisa Ambiental). Este centro recebeu também aporte de US$ 106 mil (R$ 547 mil) diretamente do Burger King. O Clear é coordenado por Frank Mitloehner, que se autodenomina como “guru dos gases do efeito estufa”.
Já a filial norte-americana da JBS aplicou US$ 203 mil (cerca de R$ 1 milhão) no centro de estudos da Universidade Estadual do Colorado, o AgNext, que é coordenado atualmente por uma ex-aluna do “guru”, Kimberly Stackhouse-Lawson, ex-diretora de sustentabilidade da JBS USA. Para destacar os “esforços para construir uma pecuária sustentável”, a empresa também bancou conteúdos pagos sobre o centro de pesquisas em veículos jornalísticos, como o Wall Street Journal e o Politico.
Entre outras financiadoras destes dois centros estão a empresa de confinamento de gado Five Rivers Cattle Feeding, o programa National Pork Board (vinculado ao Departamento de Agricultura dos EUA, para promover a carne suína), a companhia de nutrição animal Diamond V (subsidiária da Cargill) e a associação Beef Alliance.
Guru da pecuária defende nova forma de medir gases de efeito estufa
O Clear é o mais influente. Criado em 2019 por meio de uma parceria entre Mitloehner, o “guru”, e a associação da indústria alimentícia (Afia), o centro mantém um conselho com representantes de seus financiadores para receber sugestões para pesquisas e campanhas de comunicação, como mostram documentos do Clear revelados em reportagem da Unearthed.
A partir de 2020, Mitloehner passou a defender uma nova forma de medir os gases de efeito estufa, chamada de GWP, pela qual se busca a “neutralidade climática” e não a “neutralidade de carbono”.
Para serem neutras em carbono, as emissões devem ser totalmente compensadas, ou seja, o saldo líquido deve ser zero. Já para ser “neutro em clima”, basta reduzir o nível de emissões. Por essa alternativa, se uma indústria diminui as emissões de gás metano pelo gado, ela pode ter seu impacto climático considerado como “positivo”.
O metano é um gás produzido pela digestão de bovinos, e liberado principalmente pelo arroto dos animais. Ele é o segundo gás de efeito estufa provocado pelo homem mais abundante na atmosfera, atrás apenas do dióxido de carbono (CO2), gerado pela queima dos combustíveis fósseis, queimadas e desmatamento.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnuma), a pecuária responde por um terço das emissões de gás metano causadas pelo homem, e a redução dessas emissões é “fundamental na batalha contra as alterações climáticas”.
Porém, Mitloehner defende que o metano proveniente do gado não tem o mesmo impacto de aquecimento que o proveniente de combustíveis fósseis, e que a pecuária não é uma grande impulsionadora das mudanças climáticas em comparação com esse outro setor.
Em entrevista à Repórter Brasil, Mitloehner afirma que a redução dos níveis de metano teria um impacto significativo em nosso clima. “Uma redução de aproximadamente 30% no metano ao longo de 20 anos compensaria outros gases de efeito estufa da pecuária e resultaria em um aquecimento negativo no setor”, ele diz.
Para Morris e Jacquet, essa é uma tentativa de minimizar os impactos do setor e impedir que haja políticas públicas mais duras. Elas avaliam que esse discurso foi comprado pela indústria. A associação da indústria alimentícia descreve Mitloehner como uma voz “neutra e confiável” para “repórteres e grupos impactados em conferências e outras reuniões governamentais importantes”.
Em artigo científico publicado em dezembro na Environmental Research Letters, o pesquisador Gaspar Donnison, da Universidade de Southampton, aponta como a indústria tem estimulado o uso dessa nova forma de medir a emissão de gases de efeito estufa, e afirma que isso seria um erro.
“Usando o GWP, um setor pecuário com emissões de metano altas, mas em declínio ao longo dos anos, pode afirmar ser neutro em termos climáticos. Essa lógica já aparece em alguns estudos como ‘efeito de resfriamento’, o que é enganoso, já que não está resfriando a atmosfera, apenas a aquecendo ligeiramente menos”, escreve Donnison.
“Isto corre o risco de minar a ciência climática, confundindo empresas, consumidores e decisores políticos. Estas recentes alegações de neutralidade climática distraem-nos do desafio urgente de reduzir as emissões de todos os gases com efeito de estufa de todos os setores, incluindo a agricultura”, ele completa.
Considerando o cenário brasileiro, os cientistas da pecuária ignoram também o fato de que a atividade está relacionada à destruição de mata nativa para abertura de pastagens, algo particularmente frequente na Amazônia.
Estudos apontam que mais de 70% das emissões no país estão ligadas ao agronegócio, e, mais especificamente, com a mudança do uso do solo, como desmatamento e conversão de florestas em pastagens. Os municípios de Altamira e São Félix do Xingu (PA), que possuem os maiores rebanhos do país, são os campeões em emissões de gases do efeito estufa.
A Repórter Brasil enviou a Mitloehner os dados sobre as emissões de gases pela pecuária brasileira, grande fornecedora de carne ao mercado dos Estados Unidos, mas o pesquisador afirmou desconhecê-los.
Pesquisas não têm revisão de cientistas do clima
Apesar de ser conhecido como “guru” do efeito estufa, Mitloehner é criticado por Morris e Jacquet por não ter se apresentado em grandes conferências de ciências climáticas e também por nunca ter contribuído como autor para um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – grupo de cientistas estabelecido pelas Nações Unidas para monitorar a ciência relacionada às mudanças climáticas.
Suas publicações são frequentes em revistas de ciência animal, sua especialidade, em vez das relacionadas ao clima. Nem sempre ele divulga o financiamento que recebe da indústria. “Os revisores e editores de artigos publicados em revistas de ciência animal são diferentes dos de revistas de ciências climáticas”, afirma Morris.
O “guru” veio ao Brasil em 2022 para participar do “Fórum Metano na Pecuária”, realizado pela JBS. O título de sua palestra: “Não precisamos eliminar a pecuária para parar o aquecimento global”. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, afirmou que a pecuária pode ser uma solução para as mudanças climáticas.
À Repórter Brasil, o pesquisador disse que não há interferência da indústria em assuntos investigados, metodologias ou resultados de pesquisas que saem de seu laboratório ou do centro de estudos Clear. “Minha pesquisa passa por uma rigorosa revisão por pares e pela análise pública e se sustenta”.
A assessoria de imprensa da JBS USA afirmou que o investimento em projetos de pesquisa faz parte de suas iniciativas em sustentabilidade. Já a Afia, por meio do seu braço educacional (Ifeeder), informou que o apoio ao Centro Clear “tem como objetivo reduzir a insegurança alimentar e o desperdício de alimentos, enquanto utilizam pesquisas científicas para mostrar como o setor de agricultura animal pode ser mais sustentável”. (Leia aqui as respostas completas).
Para Stackhouse-Lawson, do AgNext, é comum que a indústria e o governo financiem programas, equipamentos e até mesmo estudos no setor. Porém, ela nega haver interferência. “A pesquisa universitária é independente e objetiva. As fontes de financiamento não têm influência nos resultados dos estudos”, diz.
O Burger King e a AFIA foram procurados, mas não retornaram até o momento. O espaço segue aberto para manifestações.
Viveca Morris, da Universidade de Yale, afirma que a indústria da pecuária se promove cada vez mais como parte da solução para as mudanças climáticas, mas na verdade são grande parte do problema. “O potencial de mitigação das medidas tecnológicas disponíveis para reduzir as emissões da pecuária é limitado. Diante disso, a solução para diminuir as emissões passa pela redução da produção e do consumo de produtos de proteína animal em sociedades de alto consumo”, afirma.