Crédito agrícola, tendência ou desafio?

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Crédito agrícola, tendência ou desafio?

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As técnicas rurais e máquinas agrícolas, com foco nos ganhos do produtor.

No entanto, à medida que as inovações tecnológicas ganham espaço, fica cada vez mais claro que a longa espera pela aprovação e obtenção de crédito é mais uma página da história.

A chegada de novos tempos, amparados por mentalidades e tecnologias nunca antes vistas, não apenas transformou a forma como agricultores, pecuaristas e aquicultores estabelecem atividades produtivas, mas também reformulou o papel desses produtores na comercialização dessas culturas.

De acordo com a série de estudos Visão de Futuro do Agro Brasileiro, realizada pela Embrapa durante a pandemia, os desafios para o setor agro brasileiro serão baseados em uma série de eixos que, até 20 anos atrás, nem eram considerados um prioridade.

Alguns exemplos: adaptações às mudanças climáticas, intensificação tecnológica e concentração da produção (aumento da produtividade).

Ou seja, ficou no passado o cenário em que a cultura bancária floresceu no passado e ajudou a transformar as paisagens brasileiras de um continente desconhecido, de longe, em uma rede produtiva integrada por terra, água e ar.

Hoje mais de 90% das fazendas e propriedades têm cobertura de internet e quase 75% dos produtores fazem negócios ou adquirem crédito diretamente na ponta, ou seja, não precisam de mercados, bancos ou quaisquer outros intermediários para fazer negócios ou aumentar a produção.

Se, por um lado, a banca foi uma forma de pavimentar o agronegócio nacional como um dos maiores mercados de exportação de grãos, carnes e derivados de animais, por outro, a democratização do crédito e a transparência no financiamento agrícola nunca foram um trunfo da atividade.

Segundo levantamento realizado pelo Instituto Locomotiva em 2021, atualmente cerca de 34 milhões de brasileiros não têm acesso a serviços bancários, ou seja, não podem acessar contas correntes, depósitos, contas-salário e, sobretudo, linhas de financiamento para projetos. investimentos urbanos e rurais.

Ainda segundo a pesquisa, cerca de R$ 371 bilhões não são movimentados na economia formal por simples falta de adequação à tradição bancária.

Não à toa, nos últimos anos, o Banco Central, por meio de novas regras de transparência e transferência de crédito, lançou o programa Open Banking, cujo principal trunfo foi democratizar e facilitar o fluxo de recursos.

O resultado não poderia ser mais imediato: 115 milhões de contas abertas em instituições financeiras só em 2021.

Segundo dados da pesquisa Market Analysis: Digital Banks, produzida pela regtech Idwall, o ecossistema de banco digital configura atualmente 250 milhões de cadastros abertos, ou 117% do total da população brasileira.

O número impressiona quando consideramos a qualidade ainda baixa da internet brasileira em relação às grandes potências globais.

Não obstante as dificuldades de acesso do consumidor, o protagonismo das instituições financeiras, nativas do mundo digital, tem sido um dos principais fatores de estímulo a uma cultura financeira não bancarizada, em que ambos os lados do balcão têm amplo acesso às condições da atividade que estão contratando.

Não é à toa que, segundo o relatório Global Digital Banking, realizado pelo N26 com a consultoria Accenture, entre 2018 e 2020, houve um aumento de 73% no número de clientes brasileiros que só possuem contas em bancos digitais.

Assim como no Brasil em sentido mais amplo, o agronegócio também se beneficiou com a chegada de instituições financeiras dedicadas exclusivamente à disponibilização de crédito rural.

Dados da plataforma Radar Agtech Brasil 2020/2021 registram mais de 1.550 startups focadas em apresentar propostas e respostas para o desenvolvimento da economia agrícola.

Essas das quais 53 oferecem alternativas financeiras para produtores e empresários do universo agrícola, que vão desde tecnologia e inovações dentro propriedades a soluções prontas para uso, reunindo logística, planejamento de negócios e planejamento financeiro.

Com o tempo, o florescimento dessas inovações no campo não é mero acaso.

De acordo com dados do AgTech Pocket Report 2022, lançado pela startup de inovação Distrito em junho, entre 2017 e 2022, as agritechs tiveram um salto de investimentos da ordem de 600%, com destaque para o ano passado, em que empresas de base tecnológica agrícola receberam contribuições de US$ 109,2 milhões.

No caso específico das agfintechs, ou seja, empresas que oferecem soluções de financiamento, o investimento foi da ordem de quase US$ 82 milhões nos últimos anos, culminando em um aquecimento do mercado de crédito para pequenos, médios e grandes produtores em todo o país.

Um dos facilitadores para ter uma grande safra de agrotechs foi, sem dúvida, a aprovação de dois dispositivos legais que aumentam a competitividade do setor agropecuário.

Apelidadas de Lei do Agro 1 e Lei do Agro 2 — respectivamente, lei 13.986/2020 e lei 1.104/2022 — ambas trazem importantes transformações no funcionamento e financiamento do agronegócio: por um lado, ampliam o leque de soluções para o produtor rural.

Assim reduzindo impostos e criando modalidades de investimento como Cédulas de Produtor Rural (CPRs) 3.0; por outro lado, incentivam a participação de novas instituições de crédito, como as agfintechs, no financiamento de cultivos e desenvolvimento agrícola.

Embora essas medidas tenham um impacto disruptivo e possam, no longo prazo, resultar em transformações duradouras para o agronegócio, ainda é cedo para avaliar seu real impacto na inserção de agricultores e pecuaristas no mercado de crédito.

O que podemos dizer com absoluta certeza é que a inclusão desses novos agentes de mercado alterou progressivamente o apetite dos produtores.

Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no final de junho, na edição 2022|2023 do programa, foram disponibilizados R$ 340,8 bilhões, dos quais R$ 53,61 bilhões foram destinados apenas às pequenas e médias empresas proprietários de terra, um aumento de 36% em relação à edição anterior.

Ou seja, mesmo com os alertas do FMI sobre uma possível recessão global, no contexto da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia – principalmente na área produtiva – nunca vimos um volume tão grande de crédito ao setor agrícola.

É possível que essas mudanças de mentalidade levem anos ou mesmo décadas para se consolidarem em um país continental como o Brasil, mas uma coisa é certa.

Os atributos de resiliência, engenhosidade e liderança, típicos da cultura do agronegócio, serão cada vez mais elogiados como ondas de desbancarização chegam para irrigar o mercado.

Gustavo Foz é CEO e cofundador da Culttivo, startup que garante financiamento 100% online para produtores de café em um prazo muito menor do que os bancos tradicionais.

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