Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) – A Caramuru Alimentos, maior empresa de capital nacional no processamento de soja, concluiu esta semana uma operação de financiamento de US$ 80 milhões vinculado a metas de sustentabilidade, via Pré-Pagamento de Exportação (PPE), para investir na produção e exportação de -Refeição OGM.
No parque de máquinas já instalado em Itumbiara (GO), a empresa vai construir uma nova planta para processamento de farelo de soja convencional com 62% de proteína, conhecido como SPC, com aporte estimado de 250 milhões de reais.
Além disso, a conclusão de um armazém com capacidade de 120 mil toneladas para grãos não transgênicos, em Sorriso (MT), com investimento de 75 milhões de reais, disse à Reuters o diretor-presidente do Caramuru, Júlio Costa.
A empresa já fornece para a Noruega a refeição de maior valor agregado, usada para alimentar o salmão, e pretende ampliar a oferta internacional para compradores asiáticos e australianos.
“Já atuamos nesses mercados com outros produtos, nossa área internacional já está trabalhando nisso”, disse sobre as negociações externas.
Costa lembrou que a empresa tinha, no início do ano passado, o plano de abertura de capital, mas como houve uma piora no cenário econômico deixado pela pandemia de Covid-19, foi preciso buscar outras alternativas, como o Agronegócio Certificado de Recebíveis (CRA) e agora o EPI sustentável, para arrecadar fundos.
“Tínhamos o objetivo de alongar a dívida, melhorar o balanço e fazer alguns investimentos com o IPO (oferta pública inicial de ações)… Agora acreditamos que nossa necessidade de caixa está bem equilibrada”, acrescentou o diretor de Relações com Investidores, Marcus Thieme.
Por enquanto, a empresa suspendeu os planos de IPO, disseram executivos.
O empréstimo recém-contratado tem prazo de pagamento de quatro anos, com amortizações semestrais a partir de junho de 2024 e pagamentos de juros semestrais. Para Thieme, a carência de dois anos para o início da amortização facilita o fluxo de caixa da empresa.
Com isso, a Caramuru pretende alongar seu perfil de endividamento, buscando melhorar sua estrutura de capital e, do ponto de vista operacional, investir na construção de um armazém para soja não transgênica e instalações para produção de farelo SPC.
“Cerca de 30% da soja que processamos não é transgênica. Mas para a empresa atuar nesse mercado, ela tem que ter uma logística independente, tem que ter um armazém para segregar esse produto. A questão da rastreabilidade é muito rígida para evitar a contaminação”, disse Costa.
O armazém deverá ficar pronto no início do próximo ano, enquanto a nova fábrica deverá estar concluída em abril de 2023, para que esteja em atividade comercial por volta de julho. A capacidade de produção da unidade de beneficiamento de farelo está estimada em 100 mil toneladas.
Dados do Caramuru indicam que a categoria de commodities diferenciadas, que inclui produtos não transgênicos, responde por 37% da receita líquida da empresa – o maior percentual entre todos os segmentos da empresa, que também atua em biodiesel e commodities agrícolas.
RECURSOS
A modalidade de crédito PPE já era utilizada pela empresa e se configura com a captação de recursos de instituições financeiras em troca de recebíveis de exportação. Quando o produto é enviado, parte do pagamento vai para a liquidação da dívida.
No caso desta operação de USD 80 milhões, o banco holandês Rabobank atuou como coordenador de transações e sustentabilidade. A operação também contou com a participação da Sumitomo Mitsui, Bank of China e Banco do Brasil.
“O Rabobank cuida de toda a parte operacional da transação. Quando esse contrato é depositado e o valor cai nessa conta, o Rabobank é quem faz a divisão com as demais instituições”, disse o diretor de RI da Caramur.
Este é o primeiro empréstimo da empresa vinculado a metas sustentáveis, que envolvem a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a ampliação da rastreabilidade na cadeia de fornecimento de matéria-prima. Se as metas forem cumpridas, a taxa de juros da operação cai de 4% para 3,9% ao ano.
Antes desse financiamento, a empresa realizou três emissões de CRA, uma convencional de 200 milhões de reais e duas emissões “verdes”, de 356 milhões e 600 milhões de reais.
NOVA COLHEITA
O presidente do Caramuru acredita que a expansão no processamento do farelo de soja tem oferta garantida de grãos não transgênicos, já que a área de plantio desse nicho também está em ascensão. Ele não detalhou quanto as culturas convencionais poderiam crescer no ciclo 2022/23.
Para a cultura em geral que começa a ser plantada, incluindo as geneticamente modificadas, ele disse que a expectativa é positiva, considerando as projeções climáticas favoráveis para o Centro-Oeste.
Ele comentou, porém, que os produtores estão mais cautelosos na venda antecipada de soja para a indústria.
“Tínhamos feito 700 mil toneladas (nessa época do ano passado) e agora estamos com 300 mil e pouco, o produtor também tem uma experiência de que o preço subiu muito depois que ele vendeu”, disse Costa.
“Mas estamos preparados, quando o produtor vier estamos prontos para aquisições.”
(Reportagem de Nayara Figueiredo)