Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) – O aumento do número de pesquisas eleitorais divulgadas publicamente, algumas contratadas por corretoras de investimentos também em busca de visibilidade, intensifica o debate sobre diferentes metodologias em um momento em que algumas pesquisas mostram diminuição da distância entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo Palácio do Planalto.
Enquanto institutos como o Ipec (sucessor do Ibope), Datafolha e Quaest – contratados pela corretora Genial Investimentos – optam pelo modelo tradicional de entrevistas presenciais, há também aqueles que optaram por entrevistas por telefone, que tiveram seu auge na pandemia, e até mesmo para coleta de respostas pela internet.
Ipespe, contratado pela XP Investimentos, FSB Pesquisa, que faz pesquisas para o banco BTG Pactual, e PoderData fazem suas pesquisas por telefone, por exemplo. Por outro lado, o instituto AtlasIntel optou pela coleta online.
Na última rodada das principais pesquisas, todas divulgadas entre os últimos dias de julho e esta quarta-feira, a vantagem de Lula, que lidera a disputa pelo Planalto, nas pesquisas telefônicas é de 7 pontos, na pesquisa BTG/FSB, e 8 pontos em Power Date. Nas pesquisas presenciais, Lula tem uma frente de 12 pontos, no Genial/Quaest, e 18 pontos, no Datafolha. Todas as pesquisas têm uma margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Questionados pela Reuters, os responsáveis pelos institutos consideram todas as metodologias válidas, desde que sejam utilizadas ferramentas para compensar a desvantagem de cada um dos modelos.
“Este é um falso dilema”, disse Felipe Nunes, CEO da Quaest. “O verdadeiro inimigo da sociedade é a pesquisa falsa, que é inventada ou comprada para distorcer a realidade.”
Márcia Cavallari, CEO do Ipec, explica por que seu instituto só publica resultados de pesquisas presenciais. “Preferimos divulgar apenas as pesquisas eleitorais pessoalmente porque entendemos que maximizamos as possibilidades de representar o eleitorado como um todo, além de podermos utilizar recursos visuais (discos, cartões, simulação de urnas, etc.) à Reuters por e-mail.
Entre os argumentos a favor do modelo presencial estão o acesso à população de menor renda e a possibilidade de apresentar os nomes dos candidatos em disco, o que elimina possíveis vieses de uma lista de questionário online ou de uma lista de voz dos candidatos .
Ao mesmo tempo, é mais difícil coletar dados de eleitores de maior renda, que muitas vezes moram em condomínios de difícil acesso para o entrevistador ou que raramente transitam por pontos de fluxo nas cidades, preferindo o deslocamento de carro.
Mas, na opinião do CEO da Quaest, essa aparente deficiência pode até contar a favor do modelo presencial.
“Se olharmos para o padrão de votação e abstenção na sociedade brasileira, você verá que o eleitor que mais falta na eleição é o eleitor de renda média, das grandes cidades do Sudeste, e as pesquisas presenciais são justamente o aqueles que têm dificuldade em falar com esse público”, disse ele.
“Ou seja, quando optamos por realizar uma pesquisa domiciliar com essa metodologia, garantimos alta cobertura do tipo de eleitor com maior probabilidade de ir votar no dia das eleições”, disse Nunes.
Na outra ponta, os defensores das pesquisas por telefone e internet apontam o alto custo das pesquisas presenciais – com remuneração dos entrevistadores e transporte em um país continental – e defendem ainda que a coleta online ou telefônica – muitas vezes por robôs – – torna a entrevista mais impessoal.
“Não há evidências no último ciclo eleitoral no Brasil (eleições municipais de 2020) de que as pesquisas presenciais sejam mais precisas do que as pesquisas telefônicas ou pela web”, disse o CEO da AtlasIntel, Andrei Roman, à Reuters.
“O mais importante não é a metodologia em si, mas a experiência que um instituto tem em usar e desenvolver bem essa metodologia, e isso se constrói ao longo do tempo. Por isso acho importante olhar para a trajetória dos institutos e não apenas considerar que uma metodologia específica seria superior”, avaliou.
AUSÊNCIA DE CENSO E PREFERÊNCIA PARA PRESENCIAIS
Além das diferenças metodológicas, um desafio aparentemente mais latente para os diversos institutos neste ano especificamente é a realização de amostras para pesquisa, dada a não realização do Censo em 2020.
Embora alguns institutos apontem que os dados eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da Pesquisa Nacional Contínua por Amostra de Domicílios (PNAD) permitem a formulação de amostras confiáveis, analistas consultados pela Reuters concordam que o Censo é deficiente.
“Por enquanto, digamos que estamos trabalhando com informações incompletas e potencialmente imperfeitas”, disse o analista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.
Diante de várias possibilidades de coleta de dados, o modelo presencial parece ter uma pequena vantagem, pelo menos na preferência dos analistas. O Eurasia Group, por exemplo, disse em um relatório recente a clientes que as pesquisas telefônicas são tendenciosas a favor de Bolsonaro.
Cortez, da Tendências, diz que acompanha todas as pesquisas independentemente da metodologia, mas vê a coleta presencial como tendo maior peso.
“A reunião presencial parece-me ter um peso devido à amostragem a captar mais os vulneráveis, que é uma parte importante do eleitorado.”
Creomar de Souza, também analista e CEO da Dharma Political Risk, aponta a proximidade com o eleitor, presente na modalidade presencial, como importante na coleta de dados.
“Para coletar a opinião de uma pessoa, quanto mais próximo você estiver dessa pessoa, quanto mais neutro você apresentar esses dados, melhor você coletará as informações”, disse ele.
Ainda assim, ele também opta por analisar todas as pesquisas disponíveis ao realizar análises e traçar cenários.
“Mesmo que do ponto de vista metodológico possamos ter uma reserva com uma pesquisa ou outra, todas as pesquisas nos dão algum tipo de insight, porque as perguntas geralmente são diferentes.”
Além das diferenças no método de coleta, é justamente na forma de perguntar que pode ser a explicação para algumas das diferenças de resultados observadas em algumas pesquisas, ainda não necessariamente para a eleição presidencial, mas para disputas estaduais, que são ainda menos presente. no radar do eleitorado.
Por exemplo, pesquisa divulgada no mês passado pela Quaest e AtlasIntel para o governo da Bahia. O primeiro destacou ACM Neto (União Brasil) com 61% à frente de Jerônimo Rodrigues (PT) com 11%. O segundo instituto apresentou uma vantagem bem menor que o ex-prefeito de Salvador: 39,7% para 32,6%.
“Nossa pesquisa também colocou os partidos de cada um na lista de candidatos. Quando você pergunta: ‘você votaria em Jerônimo, do PT?’ é totalmente diferente de você perguntar ‘você votaria em Jerome'”, disse Roman, da AtlasIntel.
“Na pesquisa da Quaest colocaram os dois dados. Não colocaram ‘candidato do PT’, mas colocaram ‘apoio de Lula'”, disse.
Na pesquisa da Quaest, quando Rodrigues é apontado como candidato de Lula, ACM Neto aparece com 43% contra 38% do PT.
“Duas pesquisas que aparentemente estão muito fora de sintonia na verdade não estão fora de linha. É apenas uma questão de como você pergunta”, disse Roman.