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Vírus impõe novo sistema de manejo do maracujá

O manejo do maracujá, importante fruticultura do Paraná, passou recentemente por mudanças para minimizar os danos causados ​​por um vírus, detectado há alguns anos. A constatação de que o vírus CABMV (sigla para “vírus do mosaico do feijão-caupi”) havia chegado ao estado aconteceu durante um curso do SENAR-PR realizado na região Noroeste. Na época, os instrutores da entidade estavam dando uma aula quando notaram estranhas lesões na planta.

“Detetamos a presença durante o primeiro treinamento do curso de maracujá, em 2015. Durante visita a uma propriedade, um dos participantes identificou plantas infectadas e nos aconselhou a enviar amostras para análise em laboratório”, diz instrutor do SENAR-PR Beatriz Meira. “As duas amostras enviadas ao laboratório voltaram com [diagnóstico] positivo para CABMV. Estávamos perdidos na época porque era uma doença que ainda não conhecíamos muito bem”, conta o profissional.

Diante da notícia, Beatriz e outros instrutores foram em busca de mais informações sobre a doença. Para isso, entraram em contato com especialistas do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) e foram saber mais sobre a doença com produtores de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, que já enfrentavam o vírus há mais tempo. “Descobrimos que a melhor forma de tratamento era a erradicação da cultura doente”, diz o instrutor.

Em condições normais, o maracujá é uma cultura semiperene, ou seja, os mesmos pomares podem continuar produzindo por três ou quatro anos consecutivos. Sob a influência do CABMV, as plantas devem ser erradicadas anualmente sob pena de graves perdas de produção.

“O prejuízo é grande. Tivemos áreas com problemas nutricionais onde as perdas foram de 100%”, conta o coordenador de fruticultura do IDR-PR, Eduardo dos Santos, que acompanhou o processo desde o início.

De acordo com o profissional, o vírus entrou no Paraná em 2004, mas foi só em 2014 que começou a causar problemas para os produtores de maracujá. “Dois anos depois [do vírus chegar à área de produção da cooperativa] houve uma drástica redução na produtividade. Em 2021 poderemos produzir o mesmo volume de antes”, diz Santos. O segredo dessa recuperação, segundo ele, foi a adoção do novo manejo da fruta.

manuseio correto

O CABMV é transmitido pela picada de um pulgão, que transporta o vírus de uma planta infectada para uma planta saudável. Segundo Santos, o sistema de manejo capaz de lidar com esse problema consiste em levar ao campo mudas maiores e, portanto, mais fortes e resistentes. Se antes as mudas saíam com até 30 centímetros do viveiro ao pomar, hoje elas devem ter pelo menos 1,5 metro de altura. “A estratégia é esse manejo cultural, com mudas maiores, e atenção especial à parte nutricional da planta”, explica o coordenador. “Se a planta começou a florescer, a doença não é mais um problema. Basta manter o controle com nutrição até o final do ciclo”, completa.

No caso do fruticultor José Luiz de Oliveira, de Jandaia do Sul, o plantio de maracujá já começou sob esse novo sistema de manejo. “Plantei uns pés há uns quatro anos para ver e acabei gostando. Quando comecei, as pessoas já falavam que não era possível plantar duas vezes na mesma área, que entraria um vírus”, lembra.

Com experiência no cultivo de uvas, Oliveira aproveitou a mesma estrutura em que cultivava as videiras para cultivar o maracujá. “Tem que plantar e erradicar todo ano, não cheguei ao ponto de rebrotar por dois ou três anos”, diz.

Com essa estratégia de levar ao campo as mudas mais desenvolvidas e erradicar os pomares anualmente, Oliveira alcançou uma produtividade média de 3,5 caixas (12 quilos) de maracujá por árvore, o que representa um bom desempenho. “As frutas que ficam um pouco menores eu tiro para fazer polpa, não perco nada”, diz o produtor, que ainda mantém uma pequena área com uvas.

Curso para formação de instrutores na área de maracujá

Segundo Santos, do IDR-PR, a erradicação dos pomares de maracujá funciona como um vácuo sanitário para conter a propagação do vírus. “É um período de 20 a 30 dias sem plantas no campo, enquanto a muda fica protegida do pulgão que transmite o vírus no viveiro. Esse vazio normalmente ocorre no final da safra, entre julho e agosto, de acordo com cada região. Você acabou de colher, já pode fazer”, ensina.

O instrutor do SENAR-PR lembra que, quando começaram a ser levados a campo, essas orientações encontraram resistência dos produtores tradicionais de frutas. “Os produtores não foram muito receptivos a essa recomendação”, lembra Beatriz. Essa atitude, segundo ela, pode ter acelerado a propagação da doença no estado. “Acredito que acabaria contaminando [outras regiões do Estado], mas não tão rápido quanto aconteceu”, observa. “Vimos áreas infectadas a uma distância de 30 quilômetros do foco. O fato de o produtor não conhecer a biologia e a forma de disseminação o faz subestimar o vírus. Por isso tem que fazer um curso, um treinamento, para entender o procedimento”, diz Santos.

Nesse sentido, o papel do SENAR-PR é estratégico. “A partir da confirmação da presença do vírus nos pomares, os produtores buscaram um sistema de produção que pudesse enfrentar esse novo cenário. Foi a partir disso que desenvolvemos o novo curso de maracujá no SENAR-PR, no qual ensinamos a conviver com o vírus e ainda obter alta produtividade. O produtor aprende a escolher a cultivar certa, manejar nutrição, irrigação, manejo de mudas, levar ao campo na hora certa, e aprender a identificar os sintomas do vírus, saber se existe no seu pomar ou não”, observa a técnica do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR Vanessa Reinhart. “Outra parte importante do curso é, no final do ciclo, erradicar as plantas para que o vírus não sobreviva de um ciclo para o outro, não continue indo de um vizinho para outro e não saia daquela área” , Ela adiciona.

O curso do SENAR-PR “Maracujazeiro” passou por uma reformulação para incluir o controle do CABMV e em breve estará disponível para os fruticultores do Estado.

Fonte: Sistema Faep/Senar-PR

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