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RN registra menor produção de leite industrializado desde 2018

Preço ao produtor cai 15 centavos/litro

Foto: Divulgação

“A alta significativa dos preços tornou a carne mais atrativa. Muitos criadores estavam desativando os laticínios ou reduzindo a produção.”

Produzir leite não é apenas ordenhar a vaca. Esta é apenas uma etapa do processo. É preciso investir em genética de rebanho, além de commodities, que são concentrados, alimentos utilizados para que os animais produzam bem e em boa quantidade. Esses produtos subiram de preço exponencialmente.

“Em 2020, comprávamos uma saca de soja por R$ 60. Hoje temos, em média, uma saca de soja por R$ 160, R$ 170 e ainda mais, por R$ 180, R$ 190. Algodão a torta, que custava em média R$ 40, agora custa R$ 100. O milho, que conseguimos até no armazém da Conab, que pertence ao Governo Federal, estava entre R$ 30 e R$ 40 e hoje está entre R$ 90 e R$ 100. Então, o custo de produção aumentou até mais de 100%. Isso sem falar na adubação dos piquetes”, diz o produtor Luiz Diógenes de Sales, da Fazenda Lagoa das Cacimbas, na zona rural do município de Caraúba.

Como vice-presidente da Associação dos Produtores de Leite da Região Oeste (ASPROLO), Sales afirma que o cenário é semelhante em todo o país. O custo dos insumos disparou, em parte, devido à guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A Ucrânia é um grande importador de milho, usado para ração animal, e da Rússia, que fica do outro lado da trincheira, compram-se fertilizantes.

Outra explicação está no clima mais seco e tradicional da entressafra, que encareceu os custos, conforme observou o agrônomo César Oliveira, diretor-geral do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RN). “Há uma combinação de fatores. Há o fenômeno natural da seca na região dos maiores produtores de leite, que fica no Sudeste e Sul, o que prejudicou a qualidade das pastagens. Isso já vinha acontecendo em anos anteriores e os efeitos apareceram agora”, explica César Oliveira.

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Os produtores também viram a mercado mais atrativo para o comércio de carne bovina, uma vez que a alta do dólar teve um impacto positivo nos preços de exportação. “A alta significativa dos preços tornou a carne mais atrativa. Muitos criadores estavam desativando os rebanhos ou reduzindo a produção. Quando tudo isso é somado, vemos uma redução na produção de leite”, explicou César Oliveira.

De acordo com a Estatística da Produção Pecuária, elaborada pelo (IBGE), o RN produziu, no primeiro semestre deste ano, 33,2 milhões de litros de leite industrializado. Se comparado aos dois anos anteriores, nota-se uma queda crescente, já que no mesmo período de 2021 foram 34,8 milhões e 38,9 milhões em 2020. Os dados são da pesquisa trimestral do leite, elaborada pelo IBGE.

Considerando apenas o período de abril a junho de 2022, o RN produziu 16,5 milhões de litros de leite industrializado. Em relação ao trimestre anterior, houve queda no volume do produto de 224 mil litros, redução de aproximadamente 1,3%. Segundo o IBGE, a indústria de leite potiguar produziu apenas uma quantidade menor no primeiro trimestre de 2018 (16,1 milhões de litros). Na comparação com o mesmo trimestre de 2021, o Estado teve redução de cerca de 1,7 milhão de litros do produto.

Com grande parte dos produtores migrando para a pecuária de corte, a oferta de leite caiu e os que permaneceram na cadeia leiteira viram seu trabalho se valorizar. O reflexo é visto pelo consumidor final que se deparou com o aumento dos preços desses derivativos também. “Conheço várias pessoas que venderam suas vacas e não produzem mais um copo de leite. Para continuar tendo o produto e fazer os derivados, como iogurte e queijo, chegarem ao consumidor, eles tiveram que pagar mais aos produtores que ficaram. Se não fizessem isso, não conseguiriam mais produzir derivados”, explica Luiz Diógenes de Sales, da Fazenda Lagoa das Cacimbas.

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A indústria de laticínios teve que se ajustar para manter o negócio funcionando. “Uma indústria que trabalhava com 100.000 litros por dia para operar sua fábrica, quando passou a entrar apenas 50.000, teve que aumentar a margem de lucro para manter aquela máquina funcionando. Então, ficou com capacidade ociosa. Esse movimento começou há dois ou três anos e a conta já chegou”, explica o produtor Marinho de Sousa, da Fazenda Caju, em Ceará-Mirim.

O leite que ele produz não é comercializado. Ele utiliza praticamente toda a produção para fazer queijo artesanal que é vendido diretamente ao consumidor final. Por falar em queijo, este é um dos produtos lácteos que também têm preços elevados e os preços também foram atualizados na Fazenda Caju. “Não havia como segurar. Não repassamos tudo para o cliente, mas reajustamos o preço do queijo em cerca de 30%”, revelou.

A expectativa é que neste semestre, com maior oferta e final do período de seca, há um alívio para o bolso do consumidor.

Apesar dos sucessivos aumentos até o mês de julho, em agosto o preço médio do litro de leite no atacado paulista já caiu quase 17%, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Nos supermercados da capital RN, a queda ainda é tímida, mas mostra sinais de recuo.

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“Acho que o pior momento de alta de preços já passou”, diz Samuel José de Magalhães Oliveira, pesquisador de economia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Leite, sugerindo que cotações muito altas devem ceder neste segundo semestre.

Isso porque os altos preços oferecidos pelas indústrias voltaram a estimular os produtores e, além disso, os sinais de recessão na economia global provocaram queda nos preços dos grãos e redução de custos.

Outra indicação de que o pior já passou é o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta sexta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no qual o preço do leite longa vida caiu 1,78% em agosto no país.

“A queda do leite foi o principal fator que contribuiu para a desaceleração dos preços dos alimentos. O preço subiu muito e a base de comparação foi muito alta. Os preços continuam em patamar elevado, mas estamos nos aproximando do fim da entressafra, que melhora as pastagens e aumenta a produção”, destacou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, na divulgação do resultado do IPCA de agosto, que caiu de 0,36%.

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Ele ressaltou, no entanto, que a magnitude dessa queda recente no preço do leite é muito pequena se comparada às altas registradas anteriormente. Nos últimos 12 meses da pesquisa, o produto acumula alta de 60,81%.

Mas em nível local, o diretor-geral do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RN), César Oliveira, fala com cautela sobre essa recuperação. “Não é possível fazer uma afirmação categórica, mas esperamos uma reação porque estamos saindo da baixa temporada e entrando na temporada do leite. Mas já há sinais que indicam uma tendência de queda dos preços no Brasil e no mundo. Esperamos que se estabilize e comece e caia”, prevê.

Segundo ele, há uma redução do rebanho leiteiro no Brasil. “No entanto, a recuperação de um rebanho leiteiro não ocorre imediatamente. Até porque o preço da carne ainda é muito atrativo”, enfatiza o diretor da Emater.

Para quem produz, a cautela em falar em redução de preços é ainda maior. Só que entre fevereiro e junho, período mais chuvoso do estado, eles economizam em insumos porque o pasto fica mais abundante e o leite geralmente é mais barato. No entanto, este ano isso não aconteceu. “Agora, quando chegar a estação seca, deve estabilizar ou aumentar. Mesmo tendo um preço bom para o produtor, ainda é muito difícil produzir. Na nossa realidade, se houver queda de preço, haverá escassez. O ideal seria a ração baixar o valor”, sugere o produtor Luiz Diógenes.

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Com as mudanças no setor, o agricultor Marinho Souza acredita que os pequenos produtores devem ganhar destaque no mercado. “A produção de leite tende a ficar nas mãos dos pequenos produtores para que completem o ciclo, até a venda. Mas ainda estamos no processo, por exemplo, de legalizar os queijeiros artesanais. Isso terá um impacto nos preços. porque são pequenos produtores que poderão ter acesso ao mercado que não estava disponível até então, e com isso, ter um preço, talvez, mais competitivo”, argumentou.

Entre os itens da cesta básica em Natal pesquisados ​​no mês de agosto, leite apareceu entre os mais altos em preço, variação que também havia sido observada em meses anteriores. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) destacou que em junho, o produto foi um dos que aumentou o preço entre os alimentos que compõem a cesta básica em Natal.

A alta foi de 6,91%, que subiu mais 30,95% em julho e flutuou para 6,36% em agosto. Nos últimos 12 meses, o Dieese diz que a alta do leite integral está em 61,22%. Em Natal, o Índice de Preços ao Consumidor – IPC, calculado pela Coordenação de Estudos Socioeconômicos (CES) do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) também apontou que a o leite foi o alimento básico que mais cresceu em agosto: 12,50%.

Outra forma de fomentar a produção de leite no estado vem com o Programa Alimenta Brasil (PAB-Leite). Em 6 de agosto, o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RN) lançou, no Diário Oficial do Estado, o Edital 001/2022, para o credenciamento de laticínios interessados ​​em fornecer leite pasteurizado para o PAB. O programa conta com 250 agricultores familiares para o fornecimento de leite bovino e 650 entidades assistenciais cadastradas, que recebem os alimentos utilizados no preparo das refeições oferecidas.

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“Trata-se do credenciamento para que possamos capturar, pasteurizar, envasar e distribuir leite junto ao produtor e laticínios cadastrados no Idiarn (Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do Rio Grande do Norte) ou Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)”, explica o diretor da Emater César Oliveira. O litro de leite adquirido pela Emater-RN custa R$ 3,39, sendo R$ 2,25 pagos aos produtores e R$ 1,14 aos laticínios para o processamento do produto.

“É uma ação do Governo do Estado junto ao Ministério da Cidadania, por meio do programa Alimenta Brasil. São mais de 500 entidades na rede assistencial credenciada, entre hospitais, creches e entidades filantrópicas. É importante porquee atende 250 produtores que poderão vender seu leitelaticínios na área industrial e famílias que geralmente se encontram em situação de vulnerabilidade social”, disse.

Serão aplicados R$ 5,8 milhões e a versão completa da Chamada Pública, incluindo o Edital e seus respectivos anexos, estão disponíveis no site do Portal do Cidadão (https://cidadao.rn.gov.br). “Além disso, o Governo tem o Programa Leite Potiguar (PLP), no qual paga R$ 2,54 por litro”, destacou Oliveira.

Fonte: Tribuna do Norte

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