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Reuters: Subindo no segundo turno, desinformação vira arma para atrair indecisos

por Débora Ely

25 de outubro (Reuters) – A disseminação de desinformação no segundo turno das eleições presidenciais entre o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usa o medo na batalha pelos poucos votos ainda em aberto. e para reter os eleitores existentes, disseram pesquisadores à Reuters.

A situação levou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a ampliar seus poderes para determinar a remoção de conteúdo falso das redes sociais na reta final da votação, logo após o presidente da corte, ministro Alexandre de Moraes, declarar publicamente que o problema piorou na fase final da disputa.

A artilharia mais pesada vem do bolsonarismo, de acordo com uma pesquisa da Reuters Fact Check. Entre os dias 3 e 20 de outubro, o Reuters Fact Check e outras sete iniciativas de verificação (AFP Checamos, Aos Fatos, Comprova, Estadão Verdade, Fato ou Fake, Lupa e UOL Confere) desmentiram 67 inverdades sobre os candidatos presidenciais. Destes, 54 atacaram Lula e 13 atacaram Bolsonaro. Prevaleceram as falsidades que acusavam os candidatos de não serem cristãos ou que mentiam sobre os planos para um futuro mandato.

“Esses conteúdos provocam surpresa e medo nas pessoas, que são sentimentos muito importantes nas campanhas políticas, porque, em geral, os candidatos não conseguem se comunicar com os eleitores apenas com suas propostas. E os candidatos sabem usar muito bem essa retórica da desinformação, principalmente os de extrema direita”, disse Yasmin Curzi, pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio.

Para o coordenador do Observatório de Desinformação Online nas Eleições 2022 da FGV Direito SP, Alexandre Pacheco, essa estratégia é voltada para quem não está com Lula nem com Bolsonaro – uma fatia estreita do eleitorado, mas que pode decidir a eleição.

Segundo pesquisa do Ipec divulgada nesta segunda-feira, apenas 2% dos eleitores se declararam indecisos. Lula tem 50% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tem 43%, segundo a pesquisa.

“Parece que as campanhas não querem atingir os militantes, que são inflexíveis e amplamente engajados. Esta campanha focada no ataque visa impactar os indecisos, os não engajados e aqueles que ainda não decidiram se votam. Atua na lógica do medo como indutor da tomada de decisão, buscando atingir esses sujeitos com algo que consideram urgente, como religiosidade ou honestidade”, disse Pacheco.

AGENDA CONSERVADORA E RELIGIÃO

Nas mensagens desinformadas sobre Lula, 21 abordaram falsas propostas do ex-presidente, com foco na agenda conservadora e anticomunista. Disseram que, se eleito, o PT supostamente acabaria com a luta contra as drogas, estabeleceria um controle de custos para a população, criaria banheiros unissex nas escolas e implementaria a “ideologia de gênero”. Outros nove conteúdos falsos buscavam associar Lula ao crime organizado, e oito promoveram desinformação de cunho religioso sobre o PT.

Todos esses discursos compõem o repertório de “fake news” nutrido pelo bolsonarismo há pelo menos seis anos, segundo Wilson Gomes, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). São velhas falsas alegações, que foram reativadas nas redes sociais com novos elementos a fim de “demonizar” o adversário às vésperas da votação.

“As ‘fake news’ funcionam para afugentar as pessoas de tal forma que elas não decidem votar em você, mas decidem votar contra seu inimigo e, portanto, votam em você”, disse Gomes. “Mas, no caso do bolsonarismo, acho que servem mais para manter o grupo de pessoas já convertidas, porque reforçam sua identidade e impedem que busquem o contra-argumento.”

Entre os falsos discursos relacionados a Bolsonaro, quatro conteúdos apurados acusavam o presidente de ter relações com o diabo ou atacar católicos. Os discursos surgiram com o resgate de imagens antigas de Bolsonaro em uma loja maçônica.

Outros três abordaram supostos riscos para os mais pobres em caso de reeleição. Tais ameaças nasceram de um vídeo publicado pelo deputado federal André Janones (Avante-MG), responsável por incorporar à campanha de Lula uma tática de artilharia digital semelhante à do bolsonarismo, com o uso da linguagem das redes associada à agilidade para aproveitar dos debates atuais. e ataques aos adversários.

“São pessoas que dominam as armas digitais e que decidiram levar a guerra para a casa do inimigo. Mas o principal recurso não é ‘fake news’, é guerra de informação”, diz Wilson Gomes, da UFBA. [do cenário eleitoral] pode significar que teve um efeito, que impediu o outro lado de crescer e correr solto. Mas isso é especulativo”, disse.

Professor do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia (EUA), David Nemer disse que o expediente tem pouco potencial para virar votos para Lula, mas pode ajudar a reduzir a abstenção que prejudica o ex-presidente.

“Essa tática tem deixado muitos grupos bolsonaristas na defensiva, o que pode deixá-los desmotivados para ‘lutar’ pelo presidente. Por outro lado, ela animou muito a base de Lula, e isso pode incentivar mais eleitores a sair de casa para votar”, disse.

(Reportagem de Débora Ely em Porto Alegre)



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