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BRASÍLIA (Reuters) – Economistas ligados à campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trabalham em modelos para dar uma virada verde à proposta de reforma tributária que apresentarão se o PT for eleito presidente no domingo, com incentivos que beneficiam setores em transição ecológica dentro de um novo regime tributário geral.
Embora o plano ainda não tenha um formato definido, a decisão política de implementá-lo já foi tomada. Lula tem falado com certa regularidade que, se voltar ao Planalto, quer dar uma nova ênfase à agenda ambiental e à economia sustentável, em consonância com governos de centro e centro-esquerda no mundo, como o de Joe Biden (EUA) e Emmanuel Macron. (França).
O conceito que norteia os debates dos economistas é incentivar, por meio da tributação, uma migração da economia para setores menos poluentes enquanto aqueles mais poluentes ou com mais riscos à saúde seriam mais penalizados.
“É uma discussão muito técnica. O importante é que, ao desenhar a reforma, a transição ecológica seja levada em conta”, disse à Reuters o economista Guilherme Mello, um dos que debatem a questão em torno do PT.
O economista explica que a chamada tributação sustentável pode assumir várias formas, que podem ser uma tributação seletiva, com alíquotas diferenciadas para produtos ou setores ligados à transição ecológica, ou uma tributação mais alta para setores altamente poluentes.
A intenção é conseguir reduzir impostos para setores mais diretamente ligados à melhoria ambiental. Duas áreas são mais citadas: produtos ligados à biodiversidade, que podem ajudar no desenvolvimento da região amazônica, e agronegócio, com recuperação de áreas degradadas e transformação para agricultura de baixo carbono.
Mas isso não exclui outros setores como, por exemplo, o desenvolvimento e produção de veículos elétricos – que, hoje, têm tributação mais alta do que os veículos comuns no país.
Para reduzir a tributação nesses segmentos, economistas estudam algumas propostas, mas apontam que não há uma decisão ou mesmo um modelo pronto, cientes da dificuldade de acomodar interesses e lobbies em qualquer discussão tributária, com muitas das decisões precisando da aprovação do Congresso.
Entre essas ideias na mesa da campanha de Lula está, por exemplo, a criação de uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico Ambiental (Cide), que teria como foco atividades altamente poluentes ou degradantes do meio ambiente, como a extração mineral.
Outra poderia ser uma Cide sobre atividades que impactam a saúde, como refrigerantes, tabaco, agrotóxicos.
E uma terceira hipótese seria alterar o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) com a ideia de zerá-lo, ou quase, e utilizá-lo como um imposto seletivo, que incidiria apenas em setores poluidores ou prejudiciais à saúde, ou ambos – – O atual ministro da Economia, Paulo Guedes, também prometeu eliminar o IPI, mas sem citar destaques especiais no plano.
Os recursos que seriam levantados nessas situações seriam usados para financiar reduções de impostos para setores de interesse ambiental.
“Em geral, esse é o mapa que temos. Mas não há definição. São estudos que estamos fazendo. Tudo tem que estar nesse quebra-cabeça para tornar a tributação mais equitativa e também não aumentar a carga tributária no país”, afirmou. explica. o economista Eduardo Fagnani, que também abordou essas ideias gestadas pelo PT.
As definições de setores beneficiados e sobretaxados, novas alíquotas, só podem ser feitas no contexto de uma ampla reforma tributária e que só deve ser desenhada de fato no caso da vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições.
“Temos acesso a alguns números e estamos fazendo algumas contas, mas neste momento é difícil tomar uma decisão. Apresentaremos após a eleição as opções técnicas para decisão política.”, diz Fagnani.
CARRO ELÉTRICO
Neste momento, as discussões estão longe de Lula e até do coordenador do programa de governo, Aloizio Mercadante, porque estão justamente no detalhamento técnico e na construção de hipóteses.
“A reforma tributária, além da progressividade, tem que incorporar essa dimensão da transição ecológica”, disse Mercadante.
Os impostos verdes fazem parte da política que o partido quer implementar para incentivar a reindustrialização do país, uma das bandeiras de Lula, mas com empresas voltadas para uma economia mais verde. Mercadante cita a indústria automobilística brasileira como um dos exemplos além do agronegócio e da indústria da biodiversidade.
“A transição não é um processo que acontece da noite para o dia, mas tem que começar. Ou a indústria se moderniza em relação ao carro híbrido ou vai ficar para trás. O Brasil vai ter que modernizar sua estrutura automotiva. incentivar”, defende.
Segundo Guilherme Mello, devido à sobreposição de incentivos e uma estrutura tributária confusa, hoje um carro elétrico ou híbrido paga mais impostos do que um motor a combustão, mas, segundo ele, não adianta fazer mudanças específicas. É necessária uma reestruturação de todo o sistema tributário.
“A tributação não foi pensada para dialogar com o meio ambiente e não foi pensada para promover a progressividade. Não adianta fazer uma mudança pontual. O que estamos tentando discutir é uma mudança na estrutura da tributação”, explicou.
As mudanças tributárias se somam a outras medidas, como o crédito verde – linhas de financiamento mais baratas para quem cumpre metas ambientais no agronegócio, que pode ser expandido para outras áreas – e um foco do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). ) na economia sustentável.
“O critério é ajudar a construir uma política de crédito que estimule essas atividades. Incluir outro S no BNDES”, defende Mello. “Tem que haver uma avaliação de impacto ambiental, políticas que dialogam com as transições que queremos promover.”
As mudanças estariam dentro de um bojo geral de reforma tributária que o PT pretende apresentar, em alguns casos até aproveitando propostas que já estão no Congresso.
“Ela (proposta de reforma) parte de uma ideia que tem que ser feita globalmente. Não adianta lidar só com consumo. É preciso reduzir o consumo e os impostos sobre a folha de pagamento e compensar a renda e o patrimônio. E depois tem a questão ambiental.”, disse economista Eduardo Fagnani.