por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – Os protestos com bloqueios de estradas em Mato Grosso, maior produtor de grãos e oleaginosas do Brasil, são espontâneos, não têm organização de entidades agropecuárias e refletem insatisfação com os resultados eleitorais, disse o presidente da Federação da Agricultura. e Pecuária de Mato Grosso (Famato).
“É um movimento espontâneo, não com uma organização de alguma entidade, pelo que vi até agora”, disse o presidente da Famato, Normando Corral, à Reuters.
A federação, que apoiou o presidente Jair Bolsonaro em sua candidatura à reeleição, disse que apesar da insatisfação com o resultado, “até o momento, não há como contestar a legalidade do ocorrido”.
“Até prova em contrário, as eleições ocorreram sem contestação”, disse, lembrando que a eleição foi “radicalizada” desde o início e o resultado favorável a Luiz Inácio Lula da Silva teve “uma pequena margem”.
“Você pode ver que temos um país dividido em suas opiniões. Mais do que nunca agora, é preciso ter bom senso, e aguardar o cargo, principalmente do Presidente da República, que não foi bem sucedido na eleição”.
Segundo Corral, Bolsonaro deveria ter um posicionamento.
Protestos realizados por manifestantes que apoiam o presidente Jair Bolsonaro bloquearam a BR-163 em seis pontos no Mato Grosso na manhã desta segunda-feira, enquanto a Via Dutra foi impactada nos dois sentidos em um trecho do Rio de Janeiro, após o resultado do segundo turno. das eleições.
Se continuarem, os protestos teriam potencial para prejudicar o trânsito de produtos agrícolas, entre outras cargas.
Mato Grosso deve responder por cerca de 27% da produção de soja do Brasil, maior produtor e exportador mundial da oleaginosa na nova safra 2022/23, que está sendo plantada, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No caso do milho, essa proporção é ainda maior, 35% do total produzido no país.
O estado também é líder na produção de carne bovina no Brasil, respondendo por 15% do abate de bovinos no segundo trimestre, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo Corral, os protestos podem atrapalhar o fluxo da produção, dependendo da duração.
O Brasil, que já embarcou a maior parte da soja colhida este ano, agora exporta milho safrinha em maior volume no momento.
Mas grande parte desse fluxo para os portos também é feito por via férrea. Pode haver, no entanto, dificuldades para o produto chegar aos terminais ferroviários.
“Se vai interferir no fluxo de produção, ainda é cedo para dizer, porque começou ontem. E eu não sei quanto tempo vai durar e se vai durar…. Não há como saber, isso pode acabar hoje. Toda e qualquer interrupção causa problemas”, disse ele.
Evandro Lermen, sócio da Cooperativa Agropecuária e Industrial Celeiro do Norte (Coacen), com sede em Sorriso, o maior município produtor de soja do Brasil, disse à Reuters que os caminhões praticamente não foram carregados com milho no fim de semana devido ao feriado. de Finados na quarta-feira.
Dessa forma, minimizou o impacto no segundo turno, caso os protestos sejam logo encerrados. “Não estamos preocupados”, disse ele, acreditando que até quarta-feira a situação nas estradas deve voltar ao normal.
Outros estados também registraram protestos.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou por volta das 10h que foram registradas situações de “bloqueio/aglomeração” em 12 estados, incluindo o Distrito Federal, com 70 pontos no total.
A situação nos portos de Santos e Paranaguá, dois dos principais pontos de exportação de grãos e outros produtos agrícolas, é normal, informaram as administrações portuárias.
Geralmente, os portos possuem estoques e os impactos dos protestos levam algum tempo para serem sentidos.
POR LEGALIDADE
Corral, da Famato, destacou que a federação não suporta bloqueios.
“De forma alguma, o que apoiamos é a legalidade, até o momento não há provas de que houve alguma ilegalidade para contestar (a eleição).”
Destacou que “a maior causa de insatisfação é a opinião das pessoas”, lembrando que o presidente eleito “tinha sido condenado por atos ilícitos”.
“Não é que ele foi absolvido, ele concorreu por um motivo peculiar no Brasil, o arcabouço legal é muito falho”, comentou.
As acusações contra o PT no âmbito da Lava Jato foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que concluiu que o julgamento ocorreu fora do foro competente e que o juiz Sérgio Moro, que analisou o caso em primeira instância, foi parcial.
Corral comentou que, como o PT disputou e venceu, ele será o presidente do Brasil, “mesmo que o país esteja dividido”, e pediu bom senso.
“Temos que ter líderes com bom senso. O agronegócio brasileiro se desenvolveu pela competência dos produtores, pela pesquisa, é pela ciência que produzimos em clima tropical”, disse, acrescentando que o setor tende a prosperar nos próximos anos com uma forte demanda global por alimentos.
Mas ele considerou que as ações do novo governo podem atrapalhar. “Por isso temos que ter cuidado para que isso não aconteça”, disse, lembrando que o setor conta com o apoio do novo Congresso, que manteve boa parte de sua base agrícola.
Ele disse que os produtores têm “medos” com “a insegurança jurídica causada por movimentos ilegais” ligados ao partido do presidente eleito, especialmente o MST, dos sem-terra.
“Isso será repelido não só pelas forças policiais, mas haverá uma movimentação acirrada por parte dos produtores”.
(Por Roberto Samora; com reportagem adicional de Ana Mano, André Romani e Rafaella Barros; editado por Letícia Fucuchima)