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Os preços do leite e derivados começam a cair

Os preços do leite e derivados começam a cair
Os preços do leite e derivados começam a cair

Centro de Inteligência do Leite da Embrapa analisa (CILite) apontam para quedas em todos os produtos lácteos, o que inclui também o valor recebido pelos produtores.

“Segundo dados divulgados pelo Conselho Paritário de Produtores/Indústria de Leite dos Estados (Conseleites) em relação ao pagamento ao produtor em setembro, podemos dizer que o movimento de alta chegou ao fim”, destaca Samuel Oliveira, pesquisador da Embrapa Gado de Leite (MG).

A forte pressão sobre o preço do leite e seus derivados foi motivada por diversos fatores, entre eles a queda na oferta do produto.

A entressafra, que ocorre nos meses de outono/inverno, quando há menos pastagem para o rebanho, faz com que a produção diminua. Isso já é esperado pelo setor.

No entanto, outros fatores contribuíram para a queda da produção mais do que o normal, como o alto custo de produção e a deterioração da rentabilidade das fazendas.

A guerra no Leste Europeu e o aumento dos preços de fertilizantes, combustíveis e commodities agrícolas em geral acabaram pressionando os custos.

A desorganização das cadeias produtivas, que ocorreu em todo o mundo devido à pandemia de Covid-19, também é apontada como uma das variáveis, devido à analista José Luiz Bellini, da Embrapa.

Com a chegada da primavera no Hemisfério Sul, e com ela a estação chuvosa, a produção no campo começa a aumentar, primeiro nos estados do sul do país; depois em outras regiões.

Para o pesquisador Glauco Carvalho, da Embrapa o aumento da produção já pode ser observado no mercado ver (compra e venda de leite entre indústrias).

O ver registrou queda de 37,6% no preço praticado em agosto, fechando a segunda quinzena em R$ 2,83 o litro”, informa Carvalho.

“Isso sinaliza uma rápida mudança de tendência em relação aos últimos meses, demonstrando que começou a haver uma maior quantidade de matéria-prima disponível na indústria”, reforça o pesquisador.

Para Lorildo Stock, analista da Embrapa, o melhor preço pago ao produtor pela diminuição da oferta estimulou o setor primário a investir mais na alimentação do rebanho e as vacas responderam com maior volume de leite.

Outra frente que motivou a expansão da oferta foram as importações, que atingiram o equivalente a 172 milhões de litros em agosto, 63,3% maior em relação a julho e 129,9% em relação a agosto de 2021.

Outro fator não muito positivo que puxa os preços para baixo é a queda na demanda do consumidor pelo produto.

“A inflação comprometeu o poder de compra dos salários e impôs dificuldades para o mercado assimilar o aumento dos preços, o que provocou uma redução significativa na demanda”, diz Carvalho.

As consequências desse conjunto de fatores atingiram primeiro o mercado atacadista, onde o preço do leite UHT (Temperatura Ultra Alta), também conhecida como Longa Vida ou “leite em caixa”, caiu 23,5% em agosto e a mussarela, 15,7%.

A primeira quinzena de setembro mostra certa estabilidade nos preços, mas a tendência é que a redução se amplie em outubro, quando a produção nas regiões Sudeste e Centro-Oeste aumenta.

Mas o consumidor já está percebendo a desaceleração e até a queda nos preços dos lácteos no varejo.

Após o grande salto observado em julho (14%), o aumento do leite em agosto foi de 0,4%, com destaque para a queda de 1,8% no preço do leite UHT.

No ambiente doméstico, os índices da economia brasileira estão sendo revisados ​​para cima. A última previsão do Banco Central aponta para um crescimento em 2022 próximo de 2,5%.

O desemprego está caindo, atingindo 9,1%, o nível mais baixo desde 2016.

Esse cenário positivo deve-se à recuperação do setor de serviços e também à melhora dos investimentos.

No entanto, o cenário global ainda é preocupante. Os efeitos da guerra na Ucrânia causaram inflação e uma crise energética em várias regiões do mundo.

“A Europa, principalmente, mas também os Estados Unidos podem entrar em recessão no final deste ano”, prevê Oliveira.

Na China, há a perspectiva de uma crise imobiliária que limita o crescimento daquele país.

Alguns analistas já preveem um crescimento chinês de menos de 4% este ano.

Quanto ao mercado global de leite, Stock diz que a oferta continua restrita, impactada por questões climáticas e aumento dos custos de produção.

“O preço dos lácteos no mercado internacional ainda está acima dos níveis médios observados nos últimos anos, mas caiu nos últimos meses, o que pode ser reflexo da menor demanda na China”, aponta o analista.

Oliveira destaca que o acompanhamento atento do mercado internacional será fundamental para que o setor se posicione estrategicamente nos processos de produção e gestão do agronegócio leiteiro nacional.

“Os preços do leite tendem a cair, mas é preciso ficar atento ao fato de que os custos de produção são altos”, enfatiza Oliveira.

O preço dos insumos tem sido uma grande preocupação da cadeia produtiva, embora a relação de troca ainda seja favorável aos produtores.

De acordo com o ICPLeite/Embrapa, que mede o custo de produção, houve variação positiva de 10,4% nos últimos 12 meses (dados de agosto).

Mas a relação de troca litro de leite/mistura concentrada, que serve de alimento para a vaca, continua melhorando, justamente porque o preço do leite está em um patamar mais alto.

Em agosto, foram necessários 29,7 litros de leite para adquirir 60 kg de mistura, contra 38,6 litros observados em agosto de 2021.

Porém, com essa tendência de queda nos preços do leite e derivados, o produtor de leite precisa estar atento.

“Quedas acentuadas de preços podem comprometer a rentabilidade dos sistemas de produção e causar um novo desequilíbrio de oferta”, destaca Oliveira.

No entanto, há fatores que podem conter uma queda vertiginosa, que pode prejudicar a produção primária, como, por exemplo, o aquecimento da economia, que mostrou vigor no segundo semestre.

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