Foto: Kiko Catelli

A obsessão pelos números pode levar a pecuária ao lado errado; corremos o risco de cometer o mesmo erro já registrado pelas faixas de teste

Por William Kory Filho* – No início do mês estive na Fazenda Ressaca, em Cáceres (MT), onde a Nelore Grendene promoveu mais um leilão histórico, obtendo excelente valorização e liquidez ao apresentar mais de 1.000 touros selecionados por números e morfologia. Depois, fui para a Bolívia para realizar acasalamentos guiados e também participar, como comentarista técnico, do 4º Remate Boi com Bula – Touros de Produção. Este leilão obteve o maior preço médio do ano naquele país para esta commodity, mostrando que o melhorista boliviano valoriza, principalmente, o morfologia funcional e biótipo precoce e muscular.

Como o mercado é soberano, segundo o jargão popular, esta introdução trata do título da coluna e mostra uma esperança positiva. Em outras palavras, temos que dizer, mais uma vez, sobre o caminho tortuoso que o Nelore pode tomar se não considerarmos a seleção por biótipo e morfologia funcional. Isso mesmo: o obsessão por números pode levar a pecuária brasileira ao lado errado. Atualmente, corremos o risco de cometer o mesmo erro já registrado pelas trilhas de julgamento na busca por desempenho a qualquer preço (mesmo que baseado em números).

Como consultor que sempre defendeu o uso de avaliações genéticas, é um desafio diga ao mercado que a genômica não é uma verdade absoluta e que as avaliações genéticas precisam ser interpretadas sem que eu seja rotulado como atrasado ou “negativo”. Hoje, observo claramente que a visão simplista de olhar os índices e procurar o extremo do número, os famosos TOPs 0,1%, podem nos levar a animais maiores e, consequentemente, com maior demanda energética para se manterem. Sem falar na dificuldade das porcas em apresentar bons escores de condição corporal e em evitar perdas no desempenho reprodutivo. Desta forma, será que animais com DEP de +30Kg de desempenho ao sobreano são desejáveis? Além de vacas mais exigentes, para onde pode ir o peso ao nascer – se não for monitorado? Não que o TOP 0,1% não possa ser bom; Sim, você pode, se tiver um biótipo funcional precoce e uma regra de EPD equilibrada.

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Foto: Marcio Peruchi / CompreRural

O desafio da raça Nelore é produzir machos que ganhem peso em confinamento e porcas de tamanho médio capazes de desmamar bezerros com cerca de metade do seu peso vivo.

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Nelore é a raça base da pecuária brasileira, devido à sua adaptação e à aclamada rusticidade e funcionalidade, que resultam em excelente desempenho nas características produtivas, principalmente na fertilidade. Não podemos perder essas características deixando de olhar para o todo, procurando sempre “o mais”. Esse maior potencial produtivo tem um preço, e esse preço pode ser um ambiente muito caro – um sistema de produção – que compete diretamente com a própria alimentação humana. Entrando nesse tópico, estamos passando por um momento conturbado – devido à guerra entre Rússia e Ucrânia – a partir do qual, os preços de fertilizantes e grãos (além do petróleo) dispararam.

Agora temos o link para o conceito de sustentabilidade. Produzir animais com genética de ciclo curto, eficientes em sistemas de produção a pasto, é o caminho para uma pecuária de baixo impacto ambiental ou mesmo carbono neutro, já que o capim o sequestra durante a fotossíntese. Isso mesmo: a grama cresce com energia solar, água e nutrientes. Nesse processo, sequestra moléculas de carbono da atmosfera. É claro animais a pasto devem receber a suplementação correta e que o confinamento para terminação pode ser uma boa estratégiaconsumindo resíduos da agroindústria, além de grãos nobres como milho e soja.

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Foto: Divulgação

Na última Conferência do Clima das Nações Unidas (COP26), em Glasgow, na Escócia, o Brasil se comprometeu a mitigar 50% de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2030, utilizando o ano de 2005 como linha de base e, como referência, a Quarta Nacional de Emissões Inventário. Para isso, será de suma importância que a pecuária se torne mais eficiente; para isso, a genética bovina e boas práticas de manejo do solo e pastagens são essenciais.

Em recente visita a uma grande empresa de genética sediada no Texas, EUA, a sustentabilidade nos foi apresentada como principal atributo de acordo com uma ampla pesquisa de valores percebidos de mercado.

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Foto: Divulgação

Tão amigos, fique de olho no tamanho do Nelore e nos índices genéticos para não perder a mão em um dos pilares da sustentabilidade que mais afetariam seu negócio no curto prazo: sua carteira! Se não for pela ideologia, mas pela saúde financeira da atividade, acho bom ficar ligado à sustentabilidade na pecuária de corte. Isso mesmo! Vamos lá!

William Koury Filho – Zootécnico, Mestre e Doutor em Produção Animal, juiz de pista de Angus a Zebu e proprietário da Brasil com Z – Zootecnia Tropical

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