A cultura do milho continua enfrentando um dos principais desafios fitossanitários de sua história, o nanismo, que pode reduzir em mais de 70% a produção de grãos em plantas suscetíveis, segundo informações da Embrapa. Além de garantir que a área esteja livre de plantas voluntárias de milho (tiguera ou guaxas), outro método que pode ajudar a diminuir a incidência do problema é o tratamento de sementes, que ajuda a proteger a planta de milho até que ela surja e obtenha suas primeiras folhas.
De acordo com o especialista em milho da Bayer, Paulo Garollo, o tratamento das sementes é uma prática de manejo fundamental para manter os adultos da cigarrinha (Dalbulus Maidis), vetor e disseminador do complexo de dublês, longe da nova cultura de milho. “Esse manejo pode trazer uma eficiência de até 90% no início da semeadura, isso reduz significativamente a incidência da praga na lavoura, além de facilitar o manejo contra ela posteriormente. Ou seja, é mais um cuidado preventivo que vai ajudar a evitar que o problema saia do controle”, comenta.
Um dos tratamentos de sementes que tem mostrado maior eficiência e bons resultados em campo é o grupo químico dos neonicotinóides, comenta Garollo, que auxiliam não só no manejo da cigarrinha, mas também de outra praga de difícil controle, a verde bicho de barriga.
“A primeira dica para o produtor é observar se o tratamento de semente adquirido está registrado na praga alvo, no caso a cigarrinha, com a dose específica para isso. Alguns produtos comerciais recomendam doses mais altas para cigarrinhas, em comparação com percevejos, por exemplo.”
Tratamento industrial X Na fazenda
Ao adquirir as sementes, o produtor tem a opção de escolher se as sementes já serão entregues com tratamento industrial (TSI) ou se o revestimento será aplicado na própria fazenda. Segundo Garollo, embora os custos pareçam menores quando a opção é fazer por conta própria, vários fatores mostram que isso não compensa.
“O tratamento feito com máquinas industriais garante que cada semente receba a quantidade exata do princípio ativo, de forma homogênea e com maior aderência. No tratamento feito na fazenda, o produtor terá que dividir o tempo que já é gasto durante a semeadura para realizar o processo e, não poderá se dedicar como deveria. Além disso, o ingrediente ativo é colocado no tanque de mistura e não há garantia de que cada semente receberá a quantidade certa dele, sendo capaz de gerar imperfeições que podem comprometer a proteção individual das plantas, além de aumentar a chance de bloqueio distribuição. do plantador”, comenta o especialista em milho.
O tratamento industrial também evita que sementes fora do tamanho sejam repassadas ao produtor e que máquinas específicas não causem fissuras ou rachaduras durante a aplicação dos ingredientes ativos. Na fazenda, o manejo é mais rústico, geralmente realizado em tanques que podem danificar a semente.
“Se, após o tratamento na fazenda, a semente apresentar uma fissura ou rachadura, há uma grande chance de que isso gere doenças no período de emergência, ou até facilite a entrada de fungos que causam a morte das plantas antes mesmo de elas surgirem. Ou seja, a economia gerada no tratamento trará prejuízos devido a essa safra desigual e imperfeita”, comenta Garollo. “Isso é uma dor de cabeça desnecessária, pois o custo benefício não compensa.”
Cuidados de armazenamento
Uma vez definido o método de tratamento, outro ponto de atenção que pode alterar drasticamente a eficácia dessa estratégia é o armazenamento das sementes. De acordo com o especialista da Bayer, o produtor precisa estar atento ao horário acordado de recebimento da semente e que está adequado ao cronograma de início do plantio do milho, para não prolongar o tempo de despejo dessa semente.
“Uma semente tratada armazenada por muito tempo pode perder sua qualidade fisiológica e, assim, ter seu potencial de germinação e vigor reduzidos. Claro, o local de armazenamento também deve ser adequado, o espaço não pode ser muito quente e abafado. O ideal é optar por armazená-los em pallets, para garantir uma boa circulação de ar e menor captação de umidade do solo, além de evitar colocá-los próximos a fertilizantes ou sal para ração animal, que captam a umidade que pode ser transmitida às sementes” , diz Garollo.
Caso o produtor já tenha iniciado o plantio e precise interromper o trabalho, principalmente devido às chuvas, é importante que as sementes armazenadas nos tanques da plantadora não entrem em contato com a umidade.
“Manter as sementes nas semeadoras durante a noite não é um problema. No entanto, esse maquinário precisa ser mantido longe da chuva, guardado em galpão, ou mesmo sob uma lona para que as sementes não entrem em contato com a umidade. Se entrarem em contato com a umidade, além de terem boas chances de começar a germinar, podem inchar, ficar presos no disco e estragar o plantio”, comenta Garollo.
Gerenciamento e monitoramento integrados
Garollo ressalta que o tratamento de sementes por si só não é suficiente para minimizar o nível de incidência e danos causados pela cigarrinha. Soma-se também ao Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIPD) a escolha de híbridos mais tolerantes, a eliminação do milho voluntário e o monitoramento recorrente das áreas. Isso porque nem todo agricultor planta na mesma data e, como as cigarrinhas são capazes de percorrer grandes distâncias por dia (mais de 20 km em um dia), a explosão populacional pode acontecer até de um dia para o outro, por isso é importante ficar alerta e aja antes de perder o controle.
“Com todos esses cuidados iniciais tomados, o produtor deve estar atento e continuar monitorando suas áreas. E, ao perceber que a população de cigarrinhas está aumentando, já optando pelo controle químico, completando as ações para minimizar os danos gerados pelo complexo de nanismo. Cada uma dessas ações de manejo se complementa e reduz a população da cigarrinha, aumentando a chance de sucesso”, conclui o especialista.