As nações prometeram o que não puderam cumprir – e corrigir essa falha pode desgastar a credibilidade sobre a importância de ações voltadas para a proteção ambiental.

Por Maurício Palma Nogueira*

A escassez de diversos produtos, causando pressão inflacionária em todo o mundo, vem causando flexibilização nas políticas de proteção ambiental em diversos países. Com isso, ganha força a crença de que as políticas de governança ambiental e social (ESG) têm sido uma mera moda. Acredita-se erroneamente que as políticas ESG não foram sustentadas diante da realidade global: peste suína africana, pandemia e conflito militar no Leste Europeu.

No entanto, a verdade é um pouco mais complexa. O que o mundo está presenciando no momento é o ajuste entre as políticas ambientais e o pragmatismo exigido na administração. O encontro entre discursos e ações está acontecendo. Ambos precisam se ajustar. Existem vários exemplos relacionados ao avanço das áreas protegidas com o objetivo de plantar ou explorar alternativas rápidas para a produção de energia.

É importante entender que a tendência não mudou. As políticas ESG vieram para ficar. Eles até tendem a ganhar mais força.

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A expressão lavagem verde tem sido usado para classificar as empresas que afirmam ser ecologicamente correto e sustentáveis, mas que usam essa imagem apenas para enganar os consumidores. Nesse caso, espera-se que o desencontro entre ações e discursos seja proposital, planejado estrategicamente para enganar a sociedade. Mas e quando esse descompasso ocorre inconscientemente ou acidentalmente? Que nome é dado?

A pergunta é retórica, pois a atitude da empresa ou organização será julgada como lavagem verde, intencional ou não. É bem provável que toda essa flexibilização, que agora contribui para levantar dúvidas sobre o futuro das políticas ESG, tenha sido consequência de metas, objetivos e estratégias que não se saíram conforme o esperado.

O planejamento falhou em prever situações, simular cenários e se preparar para dificuldades que não estavam no horizonte, ainda que a ocorrência de tais dificuldades seja possível, dada a experiência da própria humanidade. Em outras palavras, as nações prometeram o que não puderam cumprir. E corrigir essa falha pode minar a credibilidade sobre a importância de ações voltadas à proteção ambiental.

As empresas não estão livres desse tipo de equívoco. Em um mundo de rápida circulação de informações e de extrema relevância em se posicionar rapidamente diante das expectativas de clientes e investidores, o risco de erro acaba sendo maior.

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Embora seja possível exemplificar com diversos casos de desentendimentos sobre sustentabilidade, causando grandes prejuízos às empresas que se aventuraram em modismos sem se aprofundar no assunto, estes, de longe, representam o maior risco.

O maior risco está nas ações propostas. Organizações ideológicas, ávidas de apresentar resultados a seus doadores ou patrocinadores, fazem grande divulgação, o que acaba por mobilizar o poder público, a sociedade e os investidores a pressionar para que ações desejáveis ​​sejam implementadas.

Quase todas as ações são realmente importantes e precisarão ser implementadas ao longo dos anos. No entanto, é fundamental que sua execução seja planejada dentro das possibilidades técnicas e de acordo com a realidade do campo.

Um dos exemplos claros desse risco envolve programas de controle de fornecedores indiretos de bezerros. O tema representa hoje uma das maiores demandas ambientais para a cadeia produtiva da pecuária.

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Diversas iniciativas de monitoramento estão em fase de planejamento e execução, sendo avaliadas, testadas em campo e discutidas como ações viáveis ​​para o controle de fornecedores indiretos. Os desafios são grandes e, a cada passo, novas dificuldades surgem a serem superadas.

As iniciativas mais sérias estão lado a lado com produtores e frigoríficos, buscando respostas para todas essas questões, adaptando o monitoramento passo a passo. Outros tentam se impor pela pressão e pela força da lei, embora se recusem a apresentar respostas satisfatórias aos desafios apresentados por seus interlocutores.

A sociedade, que vem pressionando para que o setor produtivo implemente tais ações, também precisa aceitar um cronograma executável com ações bem planejadas, estudadas e avaliadas. Só assim será possível chegar a um modelo completo, abrangendo todos os produtores.

O outro caminho certamente levará a algo semelhante ao que temos visto em outras partes do mundo em relação a outros assuntos. Promessas não cumpridas e correções de rota a um custo muito alto, do ponto de vista econômico, social e ambiental. Repetir essas experiências interessa a alguém?

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*Maurício Palma Nogueira é agrônomo, diretor de atenagro e coordenador do Rali da Pecuária

Fonte: Conteúdo do Estadão

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