Mercado de orgânicos no Brasil: Uma Análise Detalhada
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Nos últimos anos, o mercado de produtos orgânicos no Brasil cresceu significativamente. Estima-se que as vendas aumentaram quatro vezes entre 2003 e 2017, atingindo R$ 5,8 bilhões em 2020. No entanto, a pesquisa revela uma lacuna na oferta em relação à crescente demanda por produtos orgânicos. Com um aumento de 30% nas vendas e um acréscimo de 75% no cadastro de produtores entre 2017 e 2022, a produção ainda não sufocará tal demanda, indicando uma oportunidade de crescimento no setor.
Desafios e Oportunidades
Diversos desafios cercam o mercado de orgânicos no Brasil. Um deles é a necessidade de investimentos para o desenvolvimento de tecnologias de produção de sementes, peça fundamental nesse processo. Além disso, a certificação de alimentos orgânicos e o acesso a bioinsumos e maquinários adequados são barreiras significativas. Também identificamos a logística e a comercialização como pontos críticos. Estratégias eficazes de distribuição e maior espaço no varejo são essenciais para atender à crescente demanda.
O Papel da Agroecologia
É fundamental reconhecer a importância da agroecologia como o único caminho viável para frear as mudanças climáticas. O relacionamento com o meio ambiente precisa evoluir, e a agricultura familiar desempenha um papel crucial nessa mudança. Seu protagonismo está ligado à preservação e regeneração do meio ambiente, criando uma conexão holística entre o homem e a terra.
Conclusão
Diante dos desafios e das oportunidades que o mercado de orgânicos no Brasil apresenta, precisamos refletir sobre a necessidade de investimentos, desenvolvimento de políticas públicas e a criação de espaços de participação mais amplos. A construção conjunta entre consumidores, produtores e órgãos públicos é essencial para impulsionar o setor de orgânicos e direcionar o Brasil em direção a um futuro sustentável.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo
Uma pesquisa feita por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) mostrou que, apesar de o Brasil ser vasto em terras cultiváveis e ter um dos principais mercados agrícolas do mundo, incluindo o de produtos orgânicos, ainda há falhas no levantamento de dados referente ao cultivo de orgânicos no país. A pesquisa foi publicada no último dia 24 na revista científica Desenvolvimento e Meio Ambiente.
A pesquisa se baseou em dados do Censo Agropecuário de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO), realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e informações sobre consumo de pesquisas da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Segundo os dados, entre 2003 e 2017, as vendas de produtos orgânicos no país aumentaram quatro vezes. No ano de 2020, tiveram expansão de 30%, com o movimento de R$ 5,8 bilhões. Há ainda 953 certificações de orgânicos para produtos importados, de um total de 23 países, segundo dados do Mapa. São alimentos provenientes de espécies características de outros países (como amaranto, quinoa, damasco, azeite de oliva). A pesquisa também revelou que houve aumento de 75% no cadastro de produtores de orgânicos no país em quatro anos (2017 a 2022).
Mercado de orgânicos registrou aumento de 30% nas vendas em 2020 – Paulo Pinto/Agência Brasil
De acordo com a pesquisa, 1,28% das áreas de cultivo é referente a propriedades com agricultura orgânica e, dessas, 30% estão no Sudeste do país. Estimativas apontam que esse tipo de cultivo ocupa 0,6% das áreas agrícolas do país, com predomínio da produção vegetal em 36.689 estabelecimentos. Os outros 17.612 estabelecimentos dedicam-se à produção animal, enquanto uma parcela menor de 10.389 estabelecimentos têm produção animal e produção vegetal orgânicas.
“A oferta ainda não está bem esclarecida. A pesquisa mostra que há tendência de aumento da demanda, mas que a produção não suprirá essa demanda. Isso não está muito bem claro e precisa ser melhor estudado. Não está claro também os produtos que são mais demandados”, disse a pesquisadora da UFRGS Andreia Lourenço.
Para a pesquisadora, para melhorar esse quadro, é preciso abrir mais instâncias de participação na sociedade para construir isso junto com o consumidores e com produtores, já que esses espaços de discussão são essenciais para a elaboração de políticas públicas adequadas para os diferentes contextos existentes no Brasil.
Produtos orgânicos no Armazém do Campo – Paulo Pinto/Agência Brasil
“E que elas possam aprimorar ações que levem em consideração justamente esses diferentes contextos também pensando nas ações para diferentes escalas. Uma coisa é pensarmos numa escala mais local, outra coisa é a gente pensar em escala mais regional ou territorial. Por isso é importante ter não só uma política nacional, mas políticas estaduais de agroecologia e produção orgânica”, afirmou Andreia.
Para Carla Guindani, da empresa Raízes do Campo, que atua no setor de orgânicos da agricultura familiar, é necessário que haja investimentos nesse setor, principalmente para o desenvolvimento de tecnologias para produção de sementes, o que é a base de todo esse processo, porque são essas famílias que de fato fazem a produção agroecológica no Brasil hoje. Ela destacou ainda a importância do acesso a bioinsumos, maquinários adequados e da certificação de alimentos orgânicos.
“Hoje há muito essa dúvida sobre comercializar e depois certificar porque é um processo caro e geralmente o agricultor não tem esse recurso. Poderia se criar uma metodologia e um incentivo de certificação sem a participação tão expressiva das certificadoras privadas que têm esse alto valor agregado”, disse.
Segundo ela, a logística também impacta no preço dos produtos, porque não há eficiência para fazer a distribuição. Outro item é a comercialização da produção orgânica, já que o varejo precisa compreender o novo momento vivido com a crescente demanda pelo consumo desses produtos.
“O varejo precisa aumentar o espaço na gôndola para oferecer os produtos agroecológicos para o consumidor e entender que esse segmento tem um valor agregado e que o consumidor está buscando esse tipo de produto. O preço sempre é o fator limitante e a gente vai diminuir o preço quando houver o aumento de consumo. E, quando há tecnologias adequadas para produção, diminui o custo da produção, e esses alimentos chegam ao supermercado e ao consumidor com preço mais acessível.”
Ela analisou ainda que a agroecologia é o único caminho que resta para a humanidade frear as mudanças climáticas. “Elas estão aí é são a prova da necessidade e da urgência de mudarmos os nossos hábitos de consumo e de relacionamento com o meio ambiente. O desmatamento, os monocultivos e o uso intensivos de agrotóxicos vêm cada vez mais provando ser um modelo inviável.”
Para Carla, a mudança de hábitos é necessária para criar um mecanismo e situações nas quais o relacionamento com o meio ambiente aconteça a partir da preservação e da regeneração. “E esse protagonismo está na agricultura familiar.”
Perguntas frequentes sobre o cultivo de produtos orgânicos no Brasil
Quais os principais números atuais do mercado de produtos orgânicos no Brasil?
De acordo com a pesquisa, as vendas de produtos orgânicos no Brasil aumentaram quatro vezes entre 2003 e 2017, com uma expansão de 30% em 2020, atingindo R$ 5,8 bilhões. Além disso, houve aumento de 75% no cadastro de produtores de orgânicos no país entre 2017 e 2022.
Quais são os desafios enfrentados pelos produtores de orgânicos no Brasil?
Um dos desafios apontados pela pesquisa é a demanda crescente por produtos orgânicos, e a produção atual não será capaz de suprir essa demanda. Além disso, a produção de sementes é citada como uma questão fundamental que precisa de investimento, especialmente entre agricultores familiares.
Quais são as dificuldades relacionadas à comercialização de produtos orgânicos?
Segundo a pesquisa, a logística impacta no preço dos produtos orgânicos devido à falta de eficiência na distribuição. Além disso, o varejo precisa compreender e se adaptar à crescente demanda por produtos orgânicos, aumentando o espaço para esses produtos nas prateleiras.
Qual a importância da agroecologia e da produção orgânica?
A pesquisadora destaca a agroecologia como o único caminho viável para frear as mudanças climáticas. Ela ressalta que a mudança de hábitos de consumo e relacionamento com o meio ambiente é essencial para preservar e regenerar o meio ambiente, e que a agricultura familiar desempenha um papel central nesse processo.
Como a sociedade pode contribuir para o desenvolvimento do setor de orgânicos no Brasil?
A pesquisadora aponta a importância de abrir mais instâncias de participação na sociedade para que consumidores e produtores contribuam para a elaboração de políticas públicas adequadas. Além disso, o investimento em tecnologias para produção de sementes e o acesso a bioinsumos são aspectos fundamentais para o desenvolvimento do setor.
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Uma pesquisa feita por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) mostrou que, apesar de o Brasil ser vasto em terras cultiváveis e ter um dos principais mercados agrícolas do mundo, incluindo o de produtos orgânicos, ainda há falhas no levantamento de dados referente ao cultivo de orgânicos no país. A pesquisa foi publicada no último dia 24 na revista científica Desenvolvimento e Meio Ambiente. A pesquisa se baseou em dados do Censo Agropecuário de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO), realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e informações sobre consumo de pesquisas da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Segundo os dados, entre 2003 e 2017, as vendas de produtos orgânicos no país aumentaram quatro vezes. No ano de 2020, tiveram expansão de 30%, com o movimento de R$ 5,8 bilhões. Há ainda 953 certificações de orgânicos para produtos importados, de um total de 23 países, segundo dados do Mapa. São alimentos provenientes de espécies características de outros países (como amaranto, quinoa, damasco, azeite de oliva). A pesquisa também revelou que houve aumento de 75% no cadastro de produtores de orgânicos no país em quatro anos (2017 a 2022). Mercado de orgânicos registrou aumento de 30% nas vendas em 2020 – Paulo Pinto/Agência Brasil De acordo com a pesquisa, 1,28% das áreas de cultivo é referente a propriedades com agricultura orgânica e, dessas, 30% estão no Sudeste do país. Estimativas apontam que esse tipo de cultivo ocupa 0,6% das áreas agrícolas do país, com predomínio da produção vegetal em 36.689 estabelecimentos. Os outros 17.612 estabelecimentos dedicam-se à produção animal, enquanto uma parcela menor de 10.389 estabelecimentos têm produção animal e produção vegetal orgânicas. “A oferta ainda não está bem esclarecida. A pesquisa mostra que há tendência de aumento da demanda, mas que a produção não suprirá essa demanda. Isso não está muito bem claro e precisa ser melhor estudado. Não está claro também os produtos que são mais demandados”, disse a pesquisadora da UFRGS Andreia Lourenço. Para a pesquisadora, para melhorar esse quadro, é preciso abrir mais instâncias de participação na sociedade para construir isso junto com o consumidores e com produtores, já que esses espaços de discussão são essenciais para a elaboração de políticas públicas adequadas para os diferentes contextos existentes no Brasil. Produtos orgânicos no Armazém do Campo – Paulo Pinto/Agência Brasil “E que elas possam aprimorar ações que levem em consideração justamente esses diferentes contextos também pensando nas ações para diferentes escalas. Uma coisa é pensarmos numa escala mais local, outra coisa é a gente pensar em escala mais regional ou territorial. Por isso é importante ter não só uma política nacional, mas políticas estaduais de agroecologia e produção orgânica”, afirmou Andreia. Para Carla Guindani, da empresa Raízes do Campo, que atua no setor de orgânicos da agricultura familiar, é necessário que haja investimentos nesse setor, principalmente para o desenvolvimento de tecnologias para produção de sementes, o que é a base de todo esse processo, porque são essas famílias que de fato fazem a produção agroecológica no Brasil hoje. Ela destacou ainda a importância do acesso a bioinsumos, maquinários adequados e da certificação de alimentos orgânicos. “Hoje há muito essa dúvida sobre comercializar e depois certificar porque é um processo caro e geralmente o agricultor não tem esse recurso. Poderia se criar uma metodologia e um incentivo de certificação sem a participação tão expressiva das certificadoras privadas que têm esse alto valor agregado”, disse. Segundo ela, a logística também impacta no preço dos produtos, porque não há eficiência para fazer a distribuição. Outro item é a comercialização da produção orgânica, já que o varejo precisa compreender o novo momento vivido com a crescente demanda pelo consumo desses produtos. “O varejo precisa aumentar o espaço na gôndola para oferecer os produtos agroecológicos para o consumidor e entender que esse segmento tem um valor agregado e que o consumidor está buscando esse tipo de produto. O preço sempre é o fator limitante e a gente vai diminuir o preço quando houver o aumento de consumo. E, quando há tecnologias adequadas para produção, diminui o custo da produção, e esses alimentos chegam ao supermercado e ao consumidor com preço mais acessível.” Ela analisou ainda que a agroecologia é o único caminho que resta para a humanidade frear as mudanças climáticas. “Elas estão aí é são a prova da necessidade e da urgência de mudarmos os nossos hábitos de consumo e de relacionamento com o meio ambiente. O desmatamento, os monocultivos e o uso intensivos de agrotóxicos vêm cada vez mais provando ser um modelo inviável.” Para Carla, a mudança de hábitos é necessária para criar um mecanismo e situações nas quais o relacionamento com o meio ambiente aconteça a partir da preservação e da regeneração. “E esse protagonismo está na agricultura familiar.”
