Lula associa MST a invasao e quer mudar decretos de

Lula associa MST a ‘invasão’ e quer ‘mudar’ decretos de armas

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Cristiane Mattos/Reuters

Na entrevista ao Canal Rural, Lula evitou criticar o MST. No entanto, ela usou o verbo “invadir” para se referir às ações promovidas pelo grupo. Nesse sentido, ela afirmou que “pouquíssimas terras produtivas foram invadidas” no país.

O Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que aceita fazendeiro armadodisse que os sem-terra estão mais “maduros” e sinalizou que seu governo representaria a paz no campo. Apesar de não criticar diretamente o MST, Lula usou o verbo “invasor” para se referir a ações realizadas em propriedades rurais de outras pessoas. No entanto, opinou que “pouquíssimas terras produtivas foram invadidas” no país nos últimos tempos.

O político do PT também afirmou que as propriedades rurais precisam ser produtivas. Caso contrário, será entregue ao Estado para realizar os assentamentos “Não se pode ter terra para especulação quando há pessoas que precisam de terra para produzir”.
Entrevista completa com Lula

No declarações do PT em entrevista ao Canal Rural, exibida na noite de quarta-feira (21), fazem parte de uma nova ofensiva do ex-presidente com acenos ao setor agropecuário — segmento que representa uma das bases de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

A tentativa da campanha é aumentar o apoio para tentar ganhar as eleições no primeiro turno. Na entrevista, Lula reforçou sua posição contra as armas da sociedade, mas disse que isso não significa que os fazendeiros não possam ter armas para garantir sua segurança. Ele até mencionou que seu pai tinha uma arma em casa.

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“Meu pai era caçador no Guarujá, ele tinha uma arma em casa. Ninguém vai proibir o dono de uma fazenda de ter uma, duas armas. Agora, se ele tem 20, não é mais uma arma de defesa. 30 pior ainda. É apenas bom senso”, afirmou.

Lula disse que vai “mudar” decretos de armas propostos no governo Bolsonaro “discutindo com a sociedade”.

“Vamos discutir por que é necessário ter controle. Você não pode deixar a sociedade armada do jeito que está. Alguém compra 12, 10, 15, 20 armas. Você sabe onde estão essas armas? Que alucinação é essa? Não estamos em guerra. A violência que vemos na periferia da cidade não é resolvida pela polícia, é a ausência do Estado”, disse o ex-presidente.

“Ninguém vai proibir um fazendeiro de ter uma ou duas armas”

O PT também comparou o discurso de armas de Bolsonaro ao do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. “Não é necessário, você sabe, esta liberação selvagem de armas. Para favorecer quem? O que diz Bolsonaro e seu filho diz? ‘Ah, o povo armado…’. É o mesmo discurso que Chávez fez. O povo não precisa de armas, o povo precisa de trabalho, salário, educação. É disso que o povo precisa”.

Questionado sobre a proximidade do PT e de alguns partidos que apoiam Lula com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o ex-presidente afirmou que “pouquíssimas terras produtivas foram invadidas no país” e que, atualmente, “a dos sem-terra é muito diferente e muito mais maduro”. “Eles se tornaram um setor altamente produtivo”, disse ele.

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“No Brasil de hoje, posso garantir que as coisas estão muito mais harmonizadas e tranquilas do que nunca”, disse. Ele também afirmou que, durante seus governos, o campo teve paz. “Não só fez [paz] pois foi um dos momentos mais extraordinários em campo”.

A realidade das invasões de terras sob sua gestão é diferente do que se diz hoje. O clima com os sem-terra teve grande tensão nos primeiros anos de seu governo. O número de invasões de terras nos três primeiros anos do governo Lula (2003-2005), por exemplo, superou em 55% o número registrado nos últimos 36 meses do governo Fernando Henrique Cardoso.

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Divulgação de fotos.

O número de assassinatos por conflitos agrários aumentou 63% no mesmo período.

A pressão dos sem-terra começou a diminuir logo em seguida, em grande parte por causa da consolidação do Bolsa Família, da política de valorização do salário mínimo e da geração de empregos nos centros urbanos.

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Tudo isso esvaziou os acampamentos de sem-terra e, consequentemente, as invasões de terra — o MST manteve o tom crítico de Lula durante seus dois mandatos, apesar de nunca ter tido uma ruptura.

Em meio ao esforço da campanha petista para dialogar com o agronegócio, o candidato a vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) viajou nesta quarta-feira para Goiânia (GO). Na quinta-feira (22), ele segue para Porto Velho (RO).

Em Goiânia, Alckmin recebeu apoio de uma ala goiana do PSDB, reuniu-se com empresários do agronegócio e comércio na Fieg (Federação das Indústrias do Estado de Goiás) e participou de ato com militantes e candidatos da coligação petista na Estado.

A entrevista de Lula nesta quarta-feira não foi ao vivo — foi gravada na terça-feira (20).

Na véspera da gravação, em preparação para a entrevista, o ex-presidente conversou com três dos principais garantidores da campanha petista com o agro: o senador Carlos Fávaro (PSD), o deputado federal Neri Geller (PP), candidato ao Senado, e o empresário Carlos Ernesto Augustin. Os membros do PT referiram-se ao encontro como “agrotraining”.

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LULA INVASÃO DO MST
Divulgação de fotos

A ideia da campanha petista foi reforçar a mensagem de que o ex-presidente reconhece a importância do setor para a economia brasileira e de que, em um possível novo governo, estará atento ao agronegócio.

O ex-presidente foi criticado ao dizer, em entrevista ao Jornal Nacional, em agosto, que há uma parte do agro “fascista e direitista” que se opõe ao PT por ser contra as políticas de preservação ambiental.

Na época, Agostinho contou Folha que o ex-presidente errou ao se referir a parte do setor como “fascista” e defendeu que pedisse desculpas pela generalização.

Logo no início da entrevista ao Canal Rural, Lula foi questionado sobre sua declaração ao JN. Ele afirmou que dentro do segmento há dezenas de pensamentos políticos, econômicos e ideológicos e que “não é uma coisa só”. “Você tem pessoas com discurso fascista e pessoas com discurso altamente democrático”, disse ele.

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“Há empresários que querem desmatar de todas as formas possíveis e há empresários que têm consciência da responsabilidade de produzir agricultura de baixo carbono. Não posso generalizar nada, tem diferença até dentro das famílias”, continuou.

Lula ressaltou que tratará o agronegócio como sempre fez, “com respeito e sabendo de sua importância para a economia brasileira e para o desenvolvimento”.

Ele afirmou ainda que, dada a atenção dada ao setor nas administrações petistas, os representantes do agronegócio devem votar nele. “Se você pegar os dados e comparar Lula e Bolsonaro, o que cada um fez pelo agronegócio, todo mundo votaria em mim. E eles ainda ficariam orgulhosos de tornar esse voto público.”

Lula reiterou ao Canal Rural Lula que não haverá garimpo ilegal se for eleito e criticou o desmatamento.

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“Esse negócio de desmatamento é grotesco de gente que não tem respeito pela própria produção, porque pode ser prejudicada, o mundo é muito exigente”, disse.

“O discurso fácil, demorado, estreito que ‘vou derrubar, que você tem que invadir’. Isso é ignorância, não atitude de negócios. É uma atitude ignorante.”

Ainda na entrevista, o ex-presidente afirmou que, se eleito, concluirá o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia em seis meses.

Além disso, descartou a possibilidade de o Estado intervir nas exportações. “Não é possível um governo ser louco por querer intervir (…) Tentando intervir e bloquear, você vai quebrar a cara. Você quebra a cara do Brasil, dos negócios e quebra a cara de sua respeitabilidade no mundo.”

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Nos últimos dias, Fávaro, Geller e Augustin incentivaram o presidente a gravar a entrevista para reforçar o diálogo com os produtores rurais e furar a bolha da esquerda. Além disso, a avaliação é que a participação em um canal voltado para o setor poderia ajudar a compensar a falta de agendas presenciais.

A campanha do PT chegou a prever as viagens de Alckmin a estados com forte presença do agronegócio, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Essas agendas, no entanto, não saíram do papel.

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