Sumário
1. Introdução
2. Caseína
2.1 Proteínas do soro
2.2 Proteínas do leite
3. Diferenças entre o leite A1 e A2
4. Intolerância x alergia
5. Análise genética
6. Mercado brasileiro de leite A2
7. Considerações finais
Introdução
Tem sido pautas de discussões frequentes atualmente as reações causadas pelo consumo de leite, seja relacionado a alergias ou sensibilidade a produtos lácteos e por isso muito se fala em leite A2, mas para entendermos melhor sobre isso, precisamos primeiro compreender quais as diferenças existentes entre o leite A1 e o leite A2 e o ao que se refere as suas respectivas terminologias.A1 e A2 são genes responsáveis pela produção de uma das variantes da caseína a beta-caseína, considerada a principal proteína do leite, sendo formada por um conjunto de aminoácidos que se diferenciam pela forma de construção da mesma.Nesse texto iremos discutir sobre as principais diferenças relacionadas ao leite A1 e A2, como também a disponibilidade de análises genéticas para identificação de animais positivos para o gene A2A2 e como se comporta o mercado do leite A2. Sem tempo para ler agora? Baixe este artigo em PDF!
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Tem sido pautas de discussões frequentes atualmente as reações causadas pelo consumo de leite, seja relacionado a alergias ou sensibilidade a produtos lácteos e por isso muito se fala em leite A2, mas para entendermos melhor sobre isso, precisamos primeiro compreender quais as diferenças existentes entre o leite A1 e o leite A2 e o ao que se refere as suas respectivas terminologias.
A1 e A2 são genes responsáveis pela produção de uma das variantes da caseína a beta-caseína, considerada a principal proteína do leite, sendo formada por um conjunto de aminoácidos que se diferenciam pela forma de construção da mesma.
Nesse texto iremos discutir sobre as principais diferenças relacionadas ao leite A1 e A2, como também a disponibilidade de análises genéticas para identificação de animais positivos para o gene A2A2 e como se comporta o mercado do leite A2.
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Caseína
Já é sabido que o leite é a secreção da glândula mamária de mamíferos e tem sua porção líquida composta basicamente por água e a matéria seca também conhecida como extrato seco composta por sólidos. Dentre esses sólidos estão presentes as proteínas que podem ser divididas em dois grupos:
- Proteínas do soro: alfa lactobumina e a betalactoglobulina que correspondem a 20% da proteína total;
- Proteínas do leite: Caseínas (alfa s1, alfa s2, kappa e beta-caseína) que correspondem a 80% da proteína total.
O gene responsável pela produção de beta-caseína que compõe em torno de 30% da proteína do leite é o CSN-12. Existem 13 variações genéticas para esse tipo de proteína, mas as mais encontradas em bovinos leiteiros são as variações A1 e A2.
Portanto, definimos que os termos A1 e A2 para se caracterizar o tipo de leite é advindo do tipo de variação da beta-caseína presente no mesmo.
Diferenças entre o leite A1 e A2
Historicamente a beta-caseína A2 é a forma original de proteína, pois está presente no rebanho bovino desde a sua domesticação há milhares de anos, a forma A1 surgiu devido a uma mutação genética em torno de 5 a 10 mil anos atrás.
A diferença dessas duas variantes se dá devido a uma mudança na sua sequência de nucleotídeos no momento da construção da cadeia de aminoácidos da beta-caseína, a sequência é modificada produzindo o aminoácido histidina no alelo A1 e prolina no alelo A2, ambos se ligam a leucina.
Entretanto, é importante destacar que o leite A1 é semelhante ao leite A2 em termos nutricionais, ou seja, considerando proteínas, gorduras, vitaminas, carboidratos e minerais, apresentando diferença apenas na posição do aminoácido.
Em virtude dessa modificação na sequência de aminoácidos, no momento da quebra dessa proteína, ocorre a liberação de uma cadeia de aminoácidos que é por sua vez um peptídeo, conhecida com beta-casomorfina-7 (BCM-7). É esse peptídeo que causa reações adversas nos seres humanos, sendo considerada um fator oxidante e predisponente ao desenvolvimento de alergia a proteína do leite.
Esquema demonstrando a diferença na posição do aminoácido. Fonte: Revista Leite Integral
No caso de leite contendo somente a variante A2, a hidrólise enzimática não ocorre, ou quando ocorrer produz o peptídeo (BCM-9) o qual não apresenta nenhum efeito clínico nos seres humanos, ou seja, é um alimento de melhor digestão.
Intolerância x alergia
É importante entendermos a diferença entre intolerância a lactose e alergia às proteínas do leite de vaca (APLV):
- Intolerância à lactose: se refere a incapacidade do organismo em digerir o açúcar presente no leite, a lactose, geralmente por problemas enzimáticos;
- Alergia às Proteínas do Leite de Vaca (APLV): nesse caso o que acontece é uma resposta anormal do sistema imune, que desencadeia uma reação a substâncias normais e comuns ao ser humano, nesse caso, a proteína do leite e seus derivados.
Sendo assim, o consumo de leite A2 não será efetivo contra a intolerância a lactose, mas poderá ajudar pessoas com reações alérgicas a proteína do leite, especificamente ao peptídeo BCM-7.
Análise genética
Existem animais (A1A1) que produzem somente o leite A1, os animais (A1A2) produzem o leite A1A2 e animais com gene (A2A2) vão produzir respectivamente o leite A2, conforme mostrado na imagem abaixo.
Relação do genótipo do animal e do tipo de leite produzido. Fonte: Revista Leite Integral
Para se saber qual a variante da beta-caseína os animais produzem é necessário realizar a análise do seu perfil genético, ou seja, pelo teste de genotipagem, que analisa tecidos biológicos desses animais.
Existem laboratórios do Brasil que realizam esse teste a um custo entre R$35,00 e R$65,00 por animal. Além disso, existe o kit de testagem rápida que identifica animais positivos para o gene A2A2 através de uma gota de leite, e pode ser realizado na própria fazenda, cada teste custa em torno de R$ 40,00 e testa um animal.
Realização do teste rápido que identifica animais positivos para o gene A2A2. Fonte: Scienco
Várias frequências genotípicas foram descritas em raças utilizadas na pecuária leiteira e uma curiosidade é que de um modo geral as raças zebuínas apresentam maior frequência do genótipo A2A2 do que as taurinas. Resultados nacionais de rebanhos zebuínos leiteiro encontraram frequências gênicas do alelo A2 variando de 89 – 100%.
Mercado brasileiro de leite A2
O Brasil é destaque na produção de leite, estando em 6º lugar no ranking mundial com produção anual de aproximadamente 35 milhões de toneladas, e tem grande potencial de investimento no mercado de leite A2A2 selecionando e estabelecendo o rebanho com enfoque no gene de interesse.
Esse nicho de mercado ainda representa muito pouco do leite comercializado, cerca de 100 milhões de reais por ano em torno de 1% de toda a renda com leite de vaca. São poucos os produtores no país e a produção ocorrem em fazendas verticalizadas, e com programas de rastreabilidade.
Existem também, criado em 2019 pela Integral Certificações, o selo VACAS A2A2 que garante a origem e rastreabilidade do leite A2 através de certificação de terceira parte. A Confederação Da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) assinou um acordo de cooperação em conjunto com a Integral Certificações para que o processo de certificação seja mais transparente e robusto.
Selo de certificação de vacas A2A2. Fonte: Revista Leite Integral
Exemplos de leite tipo A2A2 comercializados no Brasil, demonstrando o selo de certificação na embalagem. Fonte: Piracanjuba
A maior empresa que comercializa leite A2 no mundo se chama A2 Milk Company, fundada em 2000 na nova Zelândia. Além do país de origem, atua nos mercados do Reino Unido, EUA e da China, comercializando leite fluído, iogurte, leite em pó sorvete e fórmulas infantis.
Considerações finais
Diante disso, sabemos que o leite A2 se refere aquele leite produzido por animais que dispõem do gene A2A2 em sua conformação genética, essa identificação dos genes pode ser realizada por análises laboratoriais que irão avaliar materiais biológicos desses animais. É um tipo de leite recomendado para pessoas com sensibilidade ao peptídeo BCM-7 por ser um produto com o processo digestível facilitado.
Quanto à comercialização, sabemos que é um nicho de mercado que ainda representa muito pouco do leite total produzido e vendido no país, mas que apresenta possibilidade da especialização do rebanho nacional para que a produção aumente.
Entretanto, é algo que requer investimento e tempo, logo, é interessante que exista demanda suficiente para consumir toda oferta.
Hoje, já existem produtores que estão apostando no aumento da oferta desse leite e já iniciaram a seleção de animais no rebanho.
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Reações alérgicas ao consumo de leite têm sido frequentemente discutidas nos últimos tempos, levando ao surgimento de muitos debates sobre o leite A2. No entanto, para compreender melhor essa questão, é necessário entender as diferenças entre o leite A1 e o leite A2, bem como suas respectivas terminologias.
O leite A2 refere-se ao tipo de leite produzido por animais que possuem o gene A2A2 em sua conformação genética. Por outro lado, o leite A1 é produzido por animais com o gene A1A1. Esses genes são responsáveis pela produção de uma das variantes da caseína, chamada de beta-caseína, que é a principal proteína do leite.
A caseína é composta por um conjunto de aminoácidos que se diferenciam pela forma de construção. Existem 13 variações genéticas para essa proteína, sendo que as mais comuns em bovinos leiteiros são as variantes A1 e A2. Portanto, os termos A1 e A2 são usados para caracterizar o tipo de leite de acordo com a variação da beta-caseína presente nele.
Historicamente, a beta-caseína A2 é a forma original dessa proteína e está presente no rebanho bovino há milhares de anos. A forma A1 surgiu devido a uma mutação genética ocorrida há aproximadamente 5 a 10 mil anos. A diferença entre essas duas variantes está na sequência de nucleotídeos no momento da construção da cadeia de aminoácidos da beta-caseína. A sequência é modificada no alelo A1, produzindo o aminoácido histidina, enquanto no alelo A2 é produzida a prolina. Essas diferenças na sequência de aminoácidos afetam a quebra da proteína durante a digestão, resultando na liberação do peptídeo BCM-7 no caso do leite A1. Esse peptídeo pode causar reações adversas em seres humanos, como alergia às proteínas do leite.
No caso do leite A2, a hidrólise enzimática não ocorre ou produz o peptídeo BCM-9, que não causa efeitos clínicos nos seres humanos. Portanto, o leite A2 é considerado mais facilmente digerível para pessoas com sensibilidade ao peptídeo BCM-7.
É importante ressaltar a diferença entre intolerância à lactose e alergia às proteínas do leite de vaca. A intolerância à lactose ocorre devido à incapacidade do organismo em digerir o açúcar presente no leite, enquanto a alergia às proteínas do leite de vaca envolve uma resposta anormal do sistema imunológico a essas proteínas. O consumo de leite A2 pode ajudar pessoas com alergia às proteínas do leite, especificamente ao peptídeo BCM-7, mas não será eficaz contra a intolerância à lactose.
Para identificar animais que produzem o leite A2, é necessário realizar análises genéticas por meio de testes de genotipagem. Esses testes analisam os tecidos biológicos dos animais e podem ser feitos em laboratórios especializados. Também existe a opção de realizar um teste rápido que identifica animais positivos para o gene A2A2 através de uma gota de leite, podendo ser realizado na própria fazenda.
O mercado brasileiro de leite A2 ainda representa uma pequena porcentagem do leite total produzido e comercializado no país. No entanto, existe um potencial de crescimento nesse mercado, com a possibilidade de especialização do rebanho nacional para aumentar a produção de leite A2. Atualmente, existem produtores que já estão investindo na seleção de animais para aumentar a oferta desse tipo de leite.
Além disso, foi criado no Brasil o selo Certificado Vacas A2A2, que garante a origem e rastreabilidade do leite A2 por meio de certificação de terceira parte. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) assinou um acordo de cooperação com a Integral Certificações para aprimorar o processo de certificação.
A maior empresa que comercializa leite A2 no mundo é a A2 Milk Company, fundada em 2000 na Nova Zelândia. Além do país de origem, a empresa atua nos mercados do Reino Unido, EUA e China, oferecendo uma variedade de produtos lácteos.
Em resumo, o leite A2 é um tipo de leite produzido por animais com o gene A2A2 em sua conformação genética. Esse leite é recomendado para pessoas com sensibilidade ao peptídeo BCM-7, pois é mais facilmente digerido. O mercado de leite A2 no Brasil ainda está em crescimento, com potencial para aumentar a produção e oferta desse tipo de leite. Por meio de análises genéticas, é possível identificar animais que produzem o leite A2. A certificação e rastreabilidade do leite A2 também estão sendo cada vez mais valorizadas no mercado.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo
Várias frequências genotípicas foram descritas em raças utilizadas na pecuária leiteira e uma curiosidade é que de um modo geral as raças zebuínas apresentam maior frequência do genótipo A2A2 do que as taurinas. Resultados nacionais de rebanhos zebuínos leiteiro encontraram frequências gênicas do alelo A2 variando de 89 – 100%.
Mercado brasileiro de leite A2
O Brasil é destaque na produção de leite, estando em 6º lugar no ranking mundial com produção anual de aproximadamente 35 milhões de toneladas, e tem grande potencial de investimento no mercado de leite A2A2 selecionando e estabelecendo o rebanho com enfoque no gene de interesse.
Esse nicho de mercado ainda representa muito pouco do leite comercializado, cerca de 100 milhões de reais por ano em torno de 1% de toda a renda com leite de vaca. São poucos os produtores no país e a produção ocorrem em fazendas verticalizadas, e com programas de rastreabilidade.
Existem também, criado em 2019 pela Integral Certificações, o selo VACAS A2A2 que garante a origem e rastreabilidade do leite A2 através de certificação de terceira parte. A Confederação Da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) assinou um acordo de cooperação em conjunto com a Integral Certificações para que o processo de certificação seja mais transparente e robusto.
Selo de certificação de vacas A2A2. Fonte: Revista Leite Integral
Exemplos de leite tipo A2A2 comercializados no Brasil, demonstrando o selo de certificação na embalagem. Fonte: Piracanjuba
A maior empresa que comercializa leite A2 no mundo se chama A2 Milk Company, fundada em 2000 na nova Zelândia. Além do país de origem, atua nos mercados do Reino Unido, EUA e da China, comercializando leite fluído, iogurte, leite em pó sorvete e fórmulas infantis.
Considerações finais
Diante disso, sabemos que o leite A2 se refere aquele leite produzido por animais que dispõem do gene A2A2 em sua conformação genética, essa identificação dos genes pode ser realizada por análises laboratoriais que irão avaliar materiais biológicos desses animais. É um tipo de leite recomendado para pessoas com sensibilidade ao peptídeo BCM-7 por ser um produto com o processo digestível facilitado.
Quanto à comercialização, sabemos que é um nicho de mercado que ainda representa muito pouco do leite total produzido e vendido no país, mas que apresenta possibilidade da especialização do rebanho nacional para que a produção aumente.
Entretanto, é algo que requer investimento e tempo, logo, é interessante que exista demanda suficiente para consumir toda oferta. Hoje, já existem produtores que estão apostando no aumento da oferta desse leite e já iniciaram a seleção de animais no rebanho.
Quer se tornar especialista e referência na produção de leite?
Perguntas e Respostas:
Quais são as proteínas presentes no leite?
Quais as diferenças entre a beta-caseína A1 e A2?
– A beta-caseína A1 surgiu devido a uma mutação genética há cerca de 5 a 10 mil anos, enquanto a A2 é a forma original presente no rebanho bovino desde a sua domesticação.
– A diferença entre as duas variantes está na sequência de aminoácidos da cadeia de aminoácidos da beta-caseína.
– A beta-casomorfina-7 (BCM-7) presente no leite A1 é responsável por causar reações adversas nos seres humanos.
O consumo de leite A2 ajuda na intolerância à lactose?
Não, o leite A2 não é efetivo contra a intolerância à lactose, pois essa condição se refere à incapacidade do organismo de digerir o açúcar do leite, a lactose.
Como é realizada a análise genética para identificação de animais positivos para o gene A2A2?
A análise genética pode ser realizada por meio do teste de genotipagem, que analisa tecidos biológicos dos animais. Existem também kits de testagem rápida que identificam animais positivos para o gene A2A2 através de uma gota de leite.