A integração é essencial para o crescimento da produtividade e competitividade do agronegócio brasileiro, aliando as agendas de conservação ambiental e produção. O trabalho conjunto entre o setor público e o privado possibilita a formação de políticas públicas aplicáveis na prática e a construção de uma visão mais clara da bioeconomia circular e seus impactos nas cadeias produtivas de maior extensão. A união entre ciência, academia e mundo corporativo resultou no desenvolvimento de tecnologias para áreas tropicais, que permitiram a produção de 2 ou até 3 safras por ano no país, contribuindo para a redução da pegada de carbono da atividade.
“O Brasil tem características continentais e importantes, como a produção relevante de hidrocarbonetos, por um lado, e carboidratos, proteínas e fibras, por outro. Esses mundos estão cada vez mais integrados, incluindo a transformação de carboidratos em hidrocarbonetos verdes, traduzindo o uso de inovação e tecnologia na agricultura, além de agregar valor ao negócio. A soma das cadeias produtivas é a base do desenvolvimento agroindustrial que devemos ter”, afirmou Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG – Associação Brasileira de Agronegócios, durante o Webinar Crise e Desafios nos Sistemas Agroalimentares Globais, promovido pela Agropolítica Diálogo (APD), cuja abertura foi feita por Ingo Melchers, diretor da APD.
Em sua avaliação, houve uma mudança na visão sobre a biodinâmica do solo brasileiro nos últimos anos. “Depende essencialmente da tecnologia de produção desenvolvida no país, pois é quimicamente pobre, mas biologicamente rico. Com isso, o uso intensivo está garantindo resiliência, ao permitir o enriquecimento de sua biodinâmica”, explicou Carvalho, que acrescentou que o país tem condições de exportar esse conhecimento e tecnologia para países com solos semelhantes, como os africanos.
Outros pontos destacados foram o fato de o Brasil ser rico em água doce, o que cria potencial para o uso de tecnologias de irrigação como agregador de produtividade; maior utilização de técnicas sustentáveis como a integração de culturas; redução do uso de diesel; e o mundo digital que está sendo trabalhado em centros de tecnologia para ganhos de produtividade e redução de emissões.
Uma das preocupações do setor, segundo Carvalho, é a geopolítica, pois há uma tendência de retorno a iniciativas protecionistas e conservacionistas, além do populismo. “Reuni-me com embaixadores e grupos técnicos da União Europeia para falar sobre o Pacto Ecológico Europeu e comentei sobre a importância de lidar com as diferenças entre o mundo tropical e o mundo temperado. E só podemos fazer isso juntos. Portanto, tudo o que é desenvolvido em termos de regulação global, precisamos participar. Precisamos criar integração para que não haja isolamento”, concluiu.
O Webinar Crisis and Challenges in Global Agrifood Systems também contou com uma apresentação do cientista agrícola alemão Joachim von Braun, diretor do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento da Universidade de Bonn, que detalhou os sete fatores dessa crise, que é multidimensional: Covid-19 , mudanças climáticas, conflito entre Rússia e Ucrânia, inflação de preços de alimentos, preço de energia e custos de fertilizantes, dívida acumulada e destruição da natureza.
Para von Braun é possível reduzir a fome no mundo e um dos aspectos para atingir esse objetivo é aumentar a eficiência agrícola. Ele também mostrou que o custo real dos alimentos é três vezes maior do que o mercado afirma, já que os alimentos saudáveis e sustentáveis são mais caros, enquanto os alimentos insustentáveis e não saudáveis são muito mais baratos. Comentou sete pontos da agenda científica para sistemas agroalimentares resilientes e as principais questões para a estruturação de uma política econômica voltada para esse fim. Ele também falou sobre a implementação da bioeconomia para superar essa crise nos sistemas agroalimentares globais.
O evento online, mediado por Ingo Melchers, diretor da APD, também contou com a análise de Rachel Biderman, vice-presidente sênior para as Américas da Conservation International (CI) e co-facilitadora da Coalizão Brasil, que o país pode oferecer mais aos o planeta sobre as questões ligadas à natureza, biodiversidade e mudanças climáticas. “Mas, precisamos saber lidar com os contratempos e desafios que temos”, ressaltou. Para ele, é preciso manter os sistemas de produção de forma a preservar a biodiversidade e não descaracterizar o ecossistema. Ela também listou ações para reduzir o desmatamento no Brasil.
Marcos Jank, coordenador do centro Insper Agro Global, destacou que a questão da segurança alimentar ganhou destaque no mundo. “Meu primeiro pensamento é que os países procurem as políticas certas. Mas, infelizmente, o que se vê desde a OMC12 é que há mais forças reivindicando políticas erradas, para restringir exportações, construir estoques públicos ilimitados, conceder subsídios distorcidos”, ponderou. Nesse sentido, ele avaliou que as organizações multilaterais perderam a capacidade de coordenar a humanidade, pois, por exemplo, após a COP26, os governos vêm reagindo lentamente à questão climática. “Descobrimos que a transição de baixo carbono vai ser lenta, com o problema do gás, o problema do carvão e as questões de investimento”. Mas, segundo Jank, o Brasil tem um papel importante a desempenhar tanto em termos de segurança climática quanto de segurança alimentar.