A redução é de 7,08% nos preços de venda do produto aos distribuidores. Com a medida, a queda acumulada de combustível chega a 19,22% em 40 dias e fica próxima ao patamar visto antes da guerra na Ucrânia, iniciada há seis meses. O valor do litro de gasolina passa de R$ 3,53 para R$ 3,28 nas refinarias, uma queda de R$ 0,25 por litro a partir de hoje.
Embora existam argumentos técnicos para justificar a redução, incluindo a queda do preço do petróleo, a variação do dólar e o corte de impostos, especialistas consideram que os frequentes anúncios de novos preços da gasolina e do diesel têm viés eleitoral. Chama a atenção a rapidez com que ocorreu a redução do preço do diesel nas refinarias estatais. O produto teve dois cortes recentes, após 17 meses sem alteração, que somaram uma queda de 7,63%.
Nesta semana, a Petrobras também anunciou reduções nos preços de venda de querosene de aviação (QAV), gasolina de aviação (GAV) e asfalto. As quedas dos preços dos combustíveis têm sido semanais e a tendência, dizem as fontes, é que, no caso da gasolina, continuem nesse ritmo até 2 de outubro, dia do primeiro turno das eleições.
A rodada de reduções de impostos feita pelo governo contribui para a redução dos preços, uma vez que os impostos são uma parte importante do preço final dos combustíveis. Houve, por exemplo, a redução das alíquotas do ICMS, com o estabelecimento de um limite de incidência pelos Estados, e o governo zerou os impostos federais (PIS/Cofins e Cide) sobre a gasolina.
A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) estima que, mesmo após as últimas reduções, a gasolina vendida nas refinarias pela Petrobras ainda estaria 7% acima dos preços do mercado internacional, enquanto para o diesel esse percentual seria de 4%, em média seis portos nos quais a entidade monitora os preços diariamente. Sérgio Araújo, presidente da Abicom, disse que a Petrobras está praticando o que está previsto no preço de paridade de importação (PPI), política da estatal que busca alinhar os preços internos aos do mercado externo. A visão é a mesma do consultor de gestão de risco da StoneX, Pedro Shinzato, segundo o qual os preços da gasolina no mercado externo estão abaixo do que eram antes da guerra na Ucrânia, o que justificaria a redução atual.
Existem contas diferentes. Fontes com conhecimento dos números da empresa afirmam que os preços praticados pela Petrobras no país ainda estavam cerca de 20% acima do mercado externo para a gasolina e, após a redução de 7,08% anunciada ontem, ainda haveria espaço para cortar os preços em 13%.
São quatro os elementos considerados para definir os preços dos combustíveis no mercado doméstico: preço internacional, custo de internação e distribuição, dólar e volatilidade dos preços. Fontes dizem que a empresa tem ignorado o elemento de volatilidade e feito reduções mais rapidamente como no caso do diesel. A questão é o que a Petrobras fará se houver uma reversão das expectativas e os preços do petróleo e derivados (diesel e gasolina) voltarem a subir no mercado internacional no curto prazo.
Hoje, o cenário internacional favorável, com queda do preço do petróleo, apoia a Petrobras a reduzir os preços domésticos. O preço do contrato do petróleo Brent (referência global da commodity) para novembro fechou ontem em queda de 3,06%, a US$ 91,32 o barril, o menor patamar desde 10 de fevereiro. O câmbio também ajudou as contas da Petrobras. Mas analistas dizem que não há garantia de que os preços não subirão novamente.
Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, fez o que pode para capitalizar a queda de combustível e transformar a questão em votos. Várias das reduções de preços foram anunciadas pela Petrobras às quintas-feiras, bem a tempo de Bolsonaro comentar o assunto em suas vidas, que são sempre realizadas às quintas-feiras. Na quinta-feira, 4 de agosto, a Petrobras reduziu em 3,56% o preço do diesel vendido nas refinarias. Em 11 de agosto, quinta-feira, a estatal reduziu o produto em mais 4,07%.
Ao transformar o combustível em bandeira da reeleição, Bolsonaro passou a antecipar oscilações nos preços da estatal, o que coloca em dúvida a governança da empresa, na visão de especialistas. Na terça-feira, Bolsonaro antecipou que haveria a redução anunciada ontem. Ele disse, em ato de campanha, em Curitiba (PR): “Hoje é quarta-feira, acho que até sexta-feira haverá boas notícias porque está sendo uma prática do novo presidente da Petrobras”.
Caio Paes de Andrade, o novo CEO da Petrobras, tomou posse no dia 28 de junho com mandato do presidente para trabalhar na redução de preços, dizem fontes. Os quatro cortes nos preços da gasolina ocorreram no governo Andrade. O executivo assumiu a empresa em um momento em que os preços internacionais do barril de petróleo estão em trajetória de queda, o que ajuda em sua missão.
Ontem, em nota, a Petrobras justificou a queda dos preços da gasolina em função da evolução do cenário internacional: mas sem repassar aos preços domésticos a volatilidade de curto prazo das cotações internacionais e da taxa de câmbio”.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, disse que a Petrobras poderia ter reduzido ainda mais os preços da gasolina, considerando que a diferença entre o mercado doméstico e o internacional era de R$ 0,30 por litro. Os cálculos da XP Investimentos indicam, por sua vez, que os preços da gasolina ainda teriam um “prêmio” de 1,5%, o que significa que o preço médio de venda da Petrobras ainda estaria acima do verificado no mercado externo.
Carla Ferreira, pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo (Ineep), destacou que, desta vez, o corte de preços foi além da paridade, ao comparar o preço da empresa com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Ela destacou a volatilidade do mercado, causada por incertezas geopolíticas e questões como o isolamento nas cidades chinesas por conta do contágio da covid-19.
André Vidal, analista de óleo e gás da XP Investimentos, disse: “Vimos a Petrobras operar com um pouco mais de ágio no diesel do que na gasolina, talvez para garantir o abastecimento diante dos baixos estoques do derivado no mundo”. O diesel estaria, segundo cálculos da XP, com preços 7,3% acima dos praticados no exterior, destacou.
