Apesar da crise, a produção brasileira de suínos continuou crescendo no primeiro semestre de 2022 (Tabela 1). O segundo trimestre teve produção recorde de 1,3 milhão de toneladas de carcaças, 6,78% superior ao mesmo período do ano passado e 4,53% superior ao abate do primeiro trimestre de 2022. Ao comparar os volumes do primeiro semestre de 2022 com o mesmo No período do ano passado, o crescimento foi de 6,4%, porém, foi apenas 1,5% superior ao do segundo semestre de 2021. Mantendo as médias dos primeiros 6 meses para o restante do ano, o país deve fechar 2022 com quase 5,1 milhões de toneladas ( 4% a mais que 2021).
Tabela 1. Dados de abate de bovinos, aves e suínos para 2022 (toneladas de carcaças e 1.000 cabeças), comparados a 2021, por trimestre (T) e por semestre (SEM). Fonte: IBGE
NOTA: * dados preliminares do 2T 2022; **projeção para 2022 em média para o primeiro semestre do ano
As exportações de carne suína in natura ainda são inferiores aos volumes do ano passado (tabela 2). A China, que no ano passado respondeu por mais da metade das exportações, de janeiro a julho de 2022 não chega a 40%, representando uma redução de 127 mil toneladas nos embarques para o gigante asiático neste período em relação ao ano passado. Com alguns países como Filipinas, Cingapura e Argentina comprando mais, no total a redução do volume embarcado pelo Brasil foi de apenas 47 mil (-7,94%) toneladas entre janeiro e julho de 2022. Há sinais de aumento nas exportações para o próximos meses com a reação gradual dos preços da carne suína na China. O mês de agosto, com média diária de embarques acima de 4,8 mil toneladas na primeira quinzena, deve ultrapassar facilmente a barreira das 90 mil toneladas de carne suína in natura exportada, marca que não superamos desde setembro de 2021.
Tabela 2. Volumes totais exportados de carne suína brasileira in natura de janeiro a julho de 2020, 2021 e 2022 (em toneladas) e comparação da diferença percentual entre 2022 e 2021.
Elaborado por Iuri P. Machado com dados da Secex
Na balança de produção e exportação, a disponibilidade interna de carne suína aumentou consideravelmente em 2022 (gráfico 1), determinando maior consumo per capita projetado para este ano, que deve se aproximar de 20 kg por habitante.
Gráfico 1. Balanço trimestral da carne suína brasileira de 2020 a junho/22: produção, exportações e disponibilidade interna, em toneladas (eixo esquerdo), e consumo per capita projetado por ano em kg/habitante/ano (eixo direito)
Elaborado por Iuri P. Machado com dados da Secex e IBGE.
Em todos os meses do primeiro semestre de 2022, houve aumento da disponibilidade interna em relação ao mesmo período de 2021 (tabela 3), totalizando um aumento de 195,6 mil toneladas no período (10,34%). A título de comparação, em todo o ano de 2021, o superávit despejado no mercado interno em relação ao ano anterior foi de 295 mil toneladas.
Tabela 3. Saldo mensal da carne suína brasileira no primeiro semestre de 2022: produção, exportações e disponibilidade interna (em toneladas), sendo esta última comparada com o mesmo período de 2021.
Elaborado por Iuri P. Machado com dados da Secex e IBGE.
Com todo esse excedente de oferta, principalmente nos meses de maio e junho, quando a disponibilidade interna ficou acima de 360 mil toneladas por mês, era de se esperar estagnação e até queda no preço pago ao produtor, mas isso não foi o que aconteceu, ao contrário, já que os preços de junho reagiram em todos os mercados e as carcaças em agosto (Gráfico 2) finalmente ultrapassaram a marca de 10 reais o quilo. Essa reação dos preços, mesmo em meio à maior oferta de carne suína, é uma indicação clara de que a demanda no Brasil voltou a aumentar de forma consistente.
Gráfico 2. Preço da carcaça especial suína em São Paulo (SP) de março a agosto de 2022 (até 19/08/22).
Fonte: CEPEA
Devido aos custos ainda elevados, esse aumento ainda não permite margens positivas para todos os produtores (tabela 4), mas demonstra uma tendência de recuperação gradual do setor, principalmente porque estamos nos aproximando do final do ano em que a demanda por carne suína sempre aumenta.
Tabela 4. Custos totais (ciclo completo), preço de venda e lucro/prejuízo estimado nos três estados do sul (R$/kg de suíno vivo vendido), em 2021 e em 2022 até julho. Elaborado por Iuri P. Machado com dados: Embrapa (custos) e Cepea (preço).
A colheita do milho 2ª safra está chegando ao fim e, mesmo com volumes recordes de produção, os preços desse cereal têm se mantido estáveis. As exportações de milho estão a todo vapor, impulsionadas pelo câmbio favorável e pela expectativa de alta demanda externa que oscila à medida que a safra norte-americana se desenvolve, com clima relativamente seco e incerteza sobre o volume de queda que, somado aos problemas da Ucrânia, outro grande exportador, colocam o Brasil como potencial fornecedor de milho para suprir a demanda que pode não ser atendida por outros exportadores.
Gráfico 3. Preço por saca (60kg) de milho em Campinas (SP) nos últimos 60 dias úteis (até 19/08/22).
Fonte: CEPEA
Com a crise de oferta e custos no setor desde o início do ano passado, era esperada uma redução na produção de suínos em 2022. De acordo com a análise do presidente da ABCS, Marcelo Lopes, “os dados de abate do primeiro semestre demonstram que essa redução não se concretizou, pelo contrário, houve um aumento da produção e da disponibilidade interna e, mesmo assim, o preço pago ao produtor está reagindo, mostrando que o consumo de carne suína no Brasil está efetivamente mudando de patamar. Apesar da boa disponibilidade de milho, não há queda significativa nos custos de produção, mas o produtor já vê margens positivas à medida que o final do ano se aproxima e as demandas internas e externas da nossa carne suína aumentam”, conclui.