Frutas exóticas fazem parte do projeto e devem ser o principal produto da produção da região
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Cerrado deve se tornar o mais novo polo fruticultor do Brasil, com foco no mercado interno, mas também nas exportações
O Cerrado do Brasil Central pode se tornar, nos próximos anos, o mais novo polo frutífero do Brasil. Essa transformação vem sendo trabalhada no âmbito da Rota da Fruticultura RIDE-DF. Ações relacionadas ao cultivo de açaí e mirtilo já começaram a ser realizadas. A ideia é que a região da RIDE-DF se torne referência nacional no plantio comercial (não extrativista) de açaí, típico da região amazônica. Centenas de mudas de variedades de açaí desenvolvidas pela Embrapa (BRS Pará e BRS Pai d’Égua) já começaram a ser distribuídas para agricultores familiares do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais.
Neste primeiro momento, serão plantados 1.000 hectares de açaí, envolvendo a participação de cerca de 100 cooperativas e mais de 1.000 produtores rurais. A meta é entregar mais de um milhão de mudas até maio de 2023. Para fazer parte do projeto, é preciso utilizar mudas certificadas pela Embrapa, o que garante qualidade e produtividade. Estão previstas ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação para monitorar os pomares implantados e atender as reais demandas do setor produtivo.
A previsão é que as lavouras comecem a dar frutos em três anos. Até lá, sugere-se que os agricultores trabalhem em consórcio com outras culturas. A BRS Pará foi a primeira cultivar de açaí para terra firme desenvolvida pela Embrapa e lançada em 2005. A BRS Pai d´égua foi lançada em 2019 com o objetivo de expandir o cultivo em terra firme. O diferencial da variedade é a distribuição equilibrada da produção anual – fato importante para superar a sazonalidade da produção de frutas.
Diferentes árvores frutíferas exóticas e nativas serão trabalhadas na Rota da Fruticultura. Para isso, estão sendo realizadas atividades que reúnem fruticultores, agentes públicos e privados, técnicos, profissionais do setor e grupos empresariais dispostos a participar efetivamente do desenvolvimento da fruticultura, gerando impactos econômicos e sociais na região. A Rota da Fruticultura é coordenada pela Codevasf e desenvolvida em conjunto com a Embrapa e a Conab, além de diversos parceiros públicos e privados.
De acordo com Luís Curado, coordenador da Rota, desde a concepção do projeto, a ideia sempre foi focar o trabalho em culturas de alto valor agregado, como o açaí e, também, o mirtilo e outras frutas vermelhas. Segundo ele, o novo polo de fruticultura que está sendo criado também terá como foco o cultivo de morangos, amoras, framboesas e jabuticaba. Ainda haverá espaço e incentivo para outras frutas cultivadas com sucesso na região do Cerrado, como goiaba, mamão, maracujá, pitaia, abacate, cítricos, além das frutas nativas do Cerrado, que são uma forma de geração de renda para pequenos produtores em áreas de restauração. de passivos ambientais e também áreas com aptidão para o extrativismo.
Segundo Curado, o trabalho da Rota da Fruticultura está se tornando referência e servindo de exemplo para outras rotas de integração nacional. “Simplificamos a metodologia do programa. Nosso objetivo é identificar os problemas, suas causas e soluções. Além disso, nosso planejamento é amplo e vai desde a muda certificada até o consumidor final”, disse. Segundo o coordenador, o objetivo do programa é gerar riqueza no campo. “Para isso, tem que ser um trabalho integrado, com foco no cooperativismo, associativismo, organização e formação dos agricultores”.
As ações em andamento da Rota da Fruticultura foram apresentadas durante o Fórum da Fruticultura, encontro realizado dentro da programação da Expoabra 2022, evento que aconteceu de 6 a 18 de setembro, no Parque de Exposições da Granja do Torto, em Brasília-DF. O tema do Fórum foi “Fruticultura transformando o cenário agrícola”. Além das ações da Rota, também foi apresentado o tema do mercado de frutas. “Mais de 80% da fruta consumida em Brasília, por exemplo, vem do exterior. Temos um grande mercado para explorar. Nossa intenção é atender tanto o mercado interno quanto o externo”, disse Curado.
Tropicalização da fruticultura no Cerrado
Ações de pesquisa, desenvolvimento, transferência de tecnologia e inovação relacionadas à tropicalização da fruticultura no Cerrado também foram apresentadas no fórum. Os temas foram abordados por Fábio Faleiro, pesquisador e vice-chefe de transferência de tecnologia da Embrapa Cerrados. “A região do Cerrado é favorável à fruticultura. Temos mais de um milhão de propriedades rurais, em sua maioria pequenos agricultores. E a fruticultura é uma excelente opção de viabilidade econômica na pequena propriedade”, disse. Segundo ele, porém, é fundamental que os produtores, independentemente do seu perfil, utilizem tecnologia no sistema de produção. “O empreendimento tem que ser tratado de forma empresarial. Não tem como desistir”, enfatizou.
Segundo Faleiro, a ciência e a tecnologia transformaram a agricultura do Cerrado. Na década de 1970, o Brasil importava alimentos e atualmente produz alimentos para mais de um bilhão de pessoas (aproximadamente cinco vezes a população brasileira). Diversas tecnologias desenvolvidas ao longo dos anos foram importantes para a tropicalização de diferentes espécies de grãos e também estão sendo importantes para a tropicalização de frutas. Ele ressalta, porém, que cada região tem suas particularidades em relação ao sistema de produção de frutas e os ajustes tecnológicos necessários devem ser feitos no dia a dia dos pomares. “O sucesso da fruticultura em ambiente tropical depende de um conjunto de ações de pesquisa e desenvolvimento, transferência de tecnologia e também da vocação e força do produtor rural”, afirma.
A pesquisadora compartilhou experiências de fruticultura na região do Cerrado, onde frutas tropicais, subtropicais e temperadas são cultivadas com sucesso, desde que a tecnologia seja utilizada no sistema de produção. Um exemplo de sucesso apresentado por Faleiro foi a alta produtividade do maracujá azedo cultivar BRS Gigante Amarelo em casa de vegetação. “A média da região do DF é superior a 100 toneladas por hectare por ano, sete vezes superior à produtividade média nacional. Temos tecnologia para produção de cultivo protegido de diversas frutíferas, o que garante alta produtividade, longevidade do pomar, alta qualidade dos frutos, produção na entressafra, menor ocorrência de doenças e pragas e é uma alternativa para rotação de culturas” , ele explicou.
Segundo Faleiro, as principais pesquisas sobre fruticultura na Embrapa envolvem o melhoramento genético de materiais, sistemas de produção (propagação, manejo fitossanitário, nutrição, irrigação) e agregação de valor (na colheita, pós-colheita e na agroindústria). “Material de propagação com genética superior é a base do sucesso do pomar. É muito importante que os produtores utilizem materiais de propagação (sementes e mudas) desenvolvidos por pesquisas com características geneticamente superiores”.
Rotas Nacionais de Integração
A Rota da Fruticultura RIDE-DF é uma das Rotas Nacionais de Integração, redes de arranjos produtivos locais associados a cadeias produtivas estratégicas capazes de promover a inclusão produtiva e o desenvolvimento sustentável nas regiões brasileiras priorizadas pela Política Nacional de Desenvolvimento Regional. O objetivo da Rota da Fruticultura é profissionalizar a cadeia produtiva da fruta, integrando os subsistemas de insumos, produção, extrativismo, beneficiamento e comercialização, por meio da criação de sistemas agroflorestais, agroindustriais e serviços especializados.
São parceiros o Ministério do Desenvolvimento Regional, CODEVASF, CONAB, além da Embrapa, com apoio da Superintendência Federal de Agricultura do Distrito Federal (SFA/DF), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), SENAR-DF, EMATER-DF e Organização das Cooperativas do Distrito Federal (OCDF).