Home Cotação Arroba do boi não sobe e frustra os pecuaristas; E agora?

Arroba do boi não sobe e frustra os pecuaristas; E agora?

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Testes de desempenho identificam os melhores animais da Casa Branca
Testes de desempenho identificam os melhores animais da Casa Branca

Divulgação de fotos.

Ciclo da pecuária entre 2020 e 2021 foi marcado pela falta de animais para abate e altos preços da arroba; Mas para entendermos por que ele esperava isso – preços mais altos do gado – e por que hoje ele se sente frustrado, você precisa fazer uma análise macro. Verificação de saída!

Ao contrário do que o produtor dentro boi esperado, o preços gado não subiu no segundo semestre de 2022. Mas para nós entendermos porque ele esperava isso e porque hoje ele se sente frustradotambém é interessante entender como funciona a sazonalidade do mercado pecuário, que ainda ajuda a orientar preços da carne no atacado e no varejo. O artigo foi escrito por Lygia Pimentel, publicado em Forbes.

No Brasil, temos um regime de chuvas que favorece ou desfavorece o crescimento das pastagens. Chegam ao Brasil Central a partir de outubro, ganham força entre novembro e dezembro e já são capazes de produzir pastagens com bastante material a partir de fevereiro ou março. Portanto, podemos dizer que a maior abundância de capim ocorre na primeira metade do ano. Maior abundância de capim significa que é mais fácil engordar o gado, especialmente no pasto.

Neste período, temos um número maior de animais aptos a serem abatidos para produção de carne do que no segundo semestre. Afinal, a partir de maio, junho e principalmente julho e agosto, temos a estação seca e depois não chove. E com a falta deles, a queda das temperaturas e também a queda do número de horas que ficam ensolarados ao longo do dia, temos uma produção muito menor de grama. É precisamente no segundo semestre que vemos mais incêndios florestais e acidentes neste sentido.

Dito isso, já posso entender que no segundo semestre é mais difícil produzir gado a pasto e no primeiro semestre é mais fácil produzir gado a pasto. Como muitos produtores no Brasil não têm condições estruturais e financeiras para colocar esses animais em confinamento, que são aqueles locais onde um animal é intensamente suplementado para que possa engordar com milho ou silagem, entendemos que uma parcela menor dos produtores consegue para entregar bois no segundo semestre. Portanto, isso reflete negativamente na oferta de animais acabados prontos para abate. Reflete também na oferta de carnes no varejo.

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Basicamente, considerando a sazonalidade média, temos um primeiro semestre com mais gado e carne bovina e preços menos pressionados. O segundo semestre é marcado por menor oferta, menos animais acabados e pressão altista sobre os preços da carne.

O que fez de 2022 um ano diferente?

Essa é a grande pergunta que nos fazemos. Tivemos uma maior absorção de carnes pelo mercado interno, afinal, nos últimos meses vimos um cenário macroeconômico deflacionário, recuperação do nível de emprego no Brasil, distribuição de auxílio emergencial e também vimos a campanha eleitoral, que , querendo ou não, acaba distribuindo dinheiro e traz um aumento na disponibilidade de dinheiro na economia.

vaca nelore
Foto: Divulgação

Tudo isso acabou reforçando o consumo de carne bovina no Brasil. O que atrapalhou, em primeiro lugar, é que estamos passando pelo alto ciclo gado entre 2020 e 2021, que sistematicamente, globalmente, é a falta de gado disponível para abate. Isso é cíclico e acontece de tempos em tempos. O contrário, por exemplo, aconteceu entre 2016 e 2017, que foram anos muito ruins para a pecuária.

Se você não sabe muito sobre gado, não é um grande e profundo conhecedor, deve lembrar que em 2017 tivemos a operação “Carne Fraca” e o “Joesley Day” que acabou derrubando os preços. Isso desestimula o produtor, o que o faz deixar de investir na atividade. Com isso, ele acaba destinando as vacas que deveriam servir de ventres livres para o abate, não tem interesse em manter essa produção. Com esse abate, a consequência é que há menos fêmeas disponíveis para a produção de bezerros. Esses animais deixarão de ser produzidos e sentiremos os efeitos disso no futuro na falta de animais acabados disponíveis para abate e processamento.

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Foi justamente isso que caiu entre 2020 e 2021. Claro que a China também passou a ser a grande cereja do bolo, mas o principal motivo da pressão positiva sobre os preços foi a crise entre 2016 e 2017, que desanimava o produtor. Demorou alguns anos para acontecer, mas isso é cíclico e vem acontecendo desde que o Brasil se tornou um grande produtor de gado.

Existe uma série histórica de preços muito antiga que é do IEA (Instituto de Economia Agrícola) e mostra preços de boi gordo desde 1954. Se você deflacionar essa série e corrigir pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) ou qualquer outro indicador que esteja correlacionado com a atividade gado e produção, você sabe que esses preços sempre se comportam em ciclos e a fase de alta desse ciclo caiu justamente entre 2020 e 2021.

Dito isto, o preço da carne bovina subiu de forma muito vertiginosa e agressiva, o varejo não conseguiu repassar esse aumento de preço ao consumidor na mesma proporção que o gado vivo subiu — isso não quer dizer que o preço de varejo não subiu, subiu muito, mas ainda não subiu tanto quanto o boi gordo. Agora estamos vivenciando exatamente o oposto.

Vamos voltar para 2020/21 e tratar este biênio como se fosse o passado. Como esses dois anos foram anos de aumentos muito fortes de preços, cresce o investimento e o interesse na fêmea como matriz disponível para a produção de bezerros. O pecuarista então fez o processo inverso, passou a reter fêmeas no rebanho e podemos ver isso muito claramente através dos números de abate que são disponibilizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística).

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Vemos que houve uma retenção de fêmeas no rebanho e que essa retenção foi um recorde histórico. É exatamente por isso que estamos vendo agora o preço do bezerro cair, principalmente em termos reais. Em outras palavras, estamos produzindo mais bezerros e estamos produzindo mais animais acabados.

Tanto que exportamos mais em 2022, produzimos mais carne e isso disponibilizou mais carne no mercado interno brasileiro. Então mesmo com uma maior absorção de carne pelo brasileiro, principalmente em função dos indicadores macroeconômicos e considerando as exportações mais rápidas, tivemos uma oferta maior de carne. Fica claro também que a falta de repasse da queda do gado vivo ao consumidor final no varejo acabou influenciando e até dificultando que o consumo seja maior.

Divulgação de fotos. @agropecuáriaveneza

O varejo, para restabelecer as margens que lá perdeu em 2020 e 2021, não repassou a queda do gado engordado ou a queda da carcaça casada no atacado. Isso deixa o consumo interno, ainda que um pouco mais alto, abaixo do que poderia ter reagido a essas melhorias macroeconômicas que estamos vendo nos dados disponíveis e que estão correlacionadas com o consumo de carne bovina.

É justamente por isso que a sazonalidade deste ano não foi respeitada. Tivemos exportações mais fortes sim, mas quando a gente pega o abate de animais no Brasil, transforma isso em produção de carne e subtrai as exportações dessa conta, o que sobra no mercado interno é maior do que no ano passado e no ano retrasado. Ou seja, temos uma maior disponibilidade de carne no mercado interno, o que não permite que o preço do gado vivo suba.

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Este é o comportamento típico da fase de baixa do ciclo pecuário. Aliás, um fato curioso, é o primeiro ano eleitoral da história em que o preço do boi não sobe no segundo semestre. Exatamente por causa do aumento da oferta e da maior retenção de fêmeas no rebanho bovino brasileiro, já que há novidades.

Lygia Pimentel é veterinária, economista e consultora do mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007, atua no setor de agronegócios, ocupando cargos de analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operações de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.

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