Metodologia para classificação da qualidade dos solúveis coloca o Brasil como líder absoluto e pioneiro na pesquisa de café
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Após anos de estudo, nova metodologia será apresentada em 2022 e promete movimentar o setor cafeeiro
O consumo de café solúvel cresce a taxas superiores a 2% ao ano no mundo, acima dos percentuais de crescimento apresentados pelo produto torrado e moído. O Brasil, como maior produtor e exportador mundial de café verde, também lidera a produção e embarque de café solúvel. A atividade gera receita de mais de R$ 1 bilhão no mercado interno e movimenta cerca de US$ 600 milhões em divisas com remessas que vão para mais de 100 países, totalizando volumes superiores a quatro milhões de sacas.
A Solúvel é uma gigante no setor cafeeiro mundial, pois cerca de 27,5% do consumo ocorre na forma de café solúvel. No Brasil, o consumo do produto ainda é baixo, em 5%, embora esteja crescendo rapidamente, o que representa grande potencial e um grande mercado a ser desenvolvido. Para aproveitar esse cenário e consolidar a posição de liderança do país, a Associação Brasileira da Indústria do Café Solúvel (Abics), em parceria com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) e, na divulgação global, com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), desenvolveu uma metodologia inovadora de avaliação da qualidade do produto, a primeira a ser reconhecida internacionalmente por solúvel.
“O Brasil tem tudo para ser protagonista nesta metodologia, que vem sendo desenvolvida há mais de dois anos, com a participação de técnicos especializados em café solúvel e representantes de grandes marcas”, afirma o diretor de Relações Institucionais da entidade, Aguinaldo Lima.
Reposicionamento do café solúvel no mercado
O documento técnico sobre a metodologia (White Paper), uma compilação de todo o trabalho realizado durante o processo de estabelecimento da classificação do produto, será divulgado durante a Semana Internacional do Café (SIC), que acontecerá de 16 a 18 de novembro , em Belo Horizonte (MG).
“Uma metodologia para avaliar a qualidade do café solúvel torna-se ainda mais relevante no momento em que as indústrias lançam produtos de maior valor agregado, com diferentes características e para diferentes usos, que incluem desde o preparo de cappuccinos, bebidas e outros tipos de café. de bebidas, cápsulas e até uso culinário. Tudo isso somado à praticidade de consumir o solúvel. Todo esse processo possibilitará a criação de uma linguagem comum de avaliação desses cafés, criando referências para o setor, e marcando um reposicionamento do café solúvel no mercado”, afirma o diretor da Abics.
A metodologia é descritiva e avalia a intensidade das características presentes no café solúvel, afirma Aline Garcia, Pesquisadora Científica do ITAL. A equipe do Instituto participou ativamente do desenvolvimento da metodologia de avaliação do café solúvel, juntamente com outros membros e especialistas do setor. Aline sugeriu a aplicação de testes descritivos como Sorting e CATA para refinar a metodologia e coordenou a interpretação desses resultados em algumas reuniões da equipe envolvida na criação da metodologia.
“A questão principal foi desenvolver uma metodologia que se comunicasse com o consumidor, ou seja, informando as características da bebida para que o consumidor possa fazer sua escolha”, enfatiza o pesquisador.
“É uma mudança de paradigma, uma forma de entender melhor o produto e, principalmente, sua aplicação, em que os descritores podem ser extremamente positivos para auxiliar a indústria na comunicação com seus clientes”, afirma Eliana Relvas, especialista em avaliação sensorial e consultora. da Abics, que coordena este projeto.
“A comunicação entre as indústrias (grandes exportadores e fornecedores de grandes marcas globais), consequentemente, serve de base para as empresas que têm contato com os consumidores, para que possam tomar sua decisão de compra”, complementa Eliana.
Como funciona a metodologia pioneira?
Diferentemente da metodologia de avaliação do café torrado e moído, que é baseada em notas de notas, a metodologia do café solúvel apresenta uma avaliação da intensidade dos atributos, em uma escala de classificação das características sensoriais, que vai de zero a cinco, e uma classificação principal em três categorias: convencional, diferenciado ou de excelência. “Assim, a metodologia categoriza o produto solúvel e destaca seus atributos, o que é mais perceptível pelo consumidor em relação ao sistema de classificação”, diz Aguinaldo Lima.
É possível reconhecer aromas e sabores no café solúvel
No processo de desenvolvimento da metodologia, diversos testes foram realizados em amostras de café solúvel do Brasil e do exterior. Foi identificada a intensidade dos principais atributos percebidos nos testes, como, por exemplo, notas de especiarias, nozes, chocolate, frutas, entre outros. Foram elencados 15 atributos e, de acordo com sua intensidade, cada um tem seu peso na avaliação. Os dados são inseridos em um sistema e esse peso é calculado por meio de um algoritmo, que indicará a categoria do produto.
“As amostras analisadas mostraram produtos diferentes, mas, ao mesmo tempo, interessantes e complexos”, analisa Eliana. “Excelentes cafés solúveis costumam ser mais doces e ácidos, com pouco ou nenhum amargor, e podem ser apreciados puros”, explica o especialista.
Ainda segundo ela, os diferenciados são mais complexos de descrever, pois podem conter notas diversas, como chocolate e especiarias, e podem ser consumidos com leite, em diferentes misturas, como drinks, ou outras bebidas geladas ou puras.
Os convencionais são mais “potentes” no paladar, com sabor mais forte e são recomendados para consumo com leite. Cada categoria tem sua aplicabilidade.
Próximos passos
Um curso de avaliação de produtos também deve ser ministrado a todas as indústrias e cadeias que trabalham com café solúvel no Brasil. A ideia é formar profissionais para “nivelar” o conhecimento de clientes nacionais e internacionais.
Esse processo de avaliação, com a metodologia pioneira, deverá incluir também, no futuro, um selo voluntário indicando a qualidade do produto. “O projeto deve continuar e a estimativa é que, a cada seis meses, seja realizada uma calibração das análises das amostras, com a comprovação constante feita pela equipe, seja presencial ou online”, enfatiza Eliana Relvas.
“A nova metodologia de avaliação do café solúvel reforçará o protagonismo do setor, que poderá se mostrar ao mundo de forma mais inteligente”, acredita o diretor da Abics.
Projeto Imagem – Abics e ApexBrasil
Para prestigiar a divulgação e o lançamento da metodologia, a Abics, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), realiza um trabalho de divulgação internacional, denominado “Projeto Imagem”. O projeto deve trazer jornalistas e formadores de opinião de importantes veículos de comunicação do exterior para participar do evento.
Este projeto também inclui a visita de líderes setoriais de organizações mundiais do café, como a National Coffee Association (NCA) e a Specialty Coffee Association (SCA), dos EUA, a All Japan Coffee Association (AJCA), a Federação Europeia do Café ( ECF) e também o Coffee Quality Institute (CQI), uma organização sem fins lucrativos que atua internacionalmente em projetos que visam melhorar a qualidade do café e a vida das pessoas envolvidas em sua produção.