Além de ser essencial para fornecer alimentos para quase 8 bilhões de pessoas, a agricultura também tem sido uma das principais fontes de grande inovação. Com os novos desafios de um mundo moderno altamente tecnológico, a área assumiu a liderança em oferecer formas de trabalho mais eficientes.
E não é só para aumentar a produtividade que novas soluções acontecem. De fato, especialistas e empresários propõem ideias para resolver problemas como a crescente falta de mão de obra qualificada.
De acordo com a pesquisa “Profissões Emergentes na Era Digital”, realizada pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), em parceria com o Senai e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), existe atualmente um descompasso entre a formação dos profissionais e as reais necessidades da área.
“A digitalização está ampliando as oportunidades de trabalho, mas para profissionais mais qualificados. Os profissionais dessa área precisam de conhecimento para utilizar os softwares existentes no processamento de todas as informações prediais e tomada de decisão, mas com atualização constante, pois programas e equipamentos rapidamente ficam desatualizados”, narra um trecho do estudo.
O levantamento mostra ainda que, no longo prazo, o Brasil precisará de quase 150 mil profissionais qualificados em áreas como técnicos em agricultura digital, técnicos em agronegócio digital e agrônomos digitais.
E as inovações do campo também são importantes para lidar com gargalos como a questão ambiental. Em um cenário de escassez hídrica, novas tecnologias no campo estão reduzindo o consumo e otimizando a irrigação com água de reúso, por exemplo. Com maior produtividade sem ocupar maiores extensões de terra, o agronegócio também evita novas ocupações e contribui para a preservação de mais áreas verdes.
“A tecnologia no campo tem servido não só como vetor para disponibilizar produtos agrícolas e alimentos cada vez melhores, mas também para contribuir com as metas de sustentabilidade. A aplicação de inteligência artificial, computação em nuvem, robótica e outras soluções é o que principalmente faz da agricultura brasileira uma referência em inovação”, diz Leonardo Luvezuti, diretor de negócios da Perfect Flight, agtech brasileira que oferece serviços de gestão e rastreabilidade de aplicações aéreas e que é presente nos Estados Unidos e na América Latina.
Os benefícios da robótica no campo
As soluções tecnológicas estão presentes em todos os setores da sociedade, inclusive no campo. Um relatório da Embrapa, do Sebrae e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostrou que 84% dos agricultores brasileiros utilizam algum tipo de tecnologia digital na produção.
Os trabalhadores rurais se beneficiaram principalmente com a disseminação do sinal de internet para aproveitar ferramentas como GPS, aplicativos, realidade virtual, sensores, drones e vários tipos de robôs que executam automaticamente diversas tarefas como a colheita.
A Perfect Flight oferece, por exemplo, uma plataforma de gestão e rastreabilidade que mapeia áreas agrícolas com o Google Maps. Com um sistema construído na nuvem, os produtores podem acessar a ferramenta por meio de computadores, smartphones e tablets, tornando a pulverização – que pode ser feita com robôs como drones – mais otimizada.
“Informatizar processos e aplicar soluções como a robótica tem sido quase um imperativo na área, pois grande parte do setor já passou pela revolução tecnológica. Com tanta competitividade e profissionalismo, os produtores já sabem que apostar nessas ferramentas melhora os produtos agrícolas e pecuários. Hoje não dá mais para imaginar pastagem ou cultivo sem nenhuma tecnologia aplicada”, argumenta Leonardo Luvezuti.
Luvezuti comenta que o software da Perfect Flight melhora a precisão da aplicação aérea, consequentemente ajudando na preservação do meio ambiente, reduzindo o uso de defensivos agrícolas e a quantidade de água utilizada. Tais sistemas também promovem a redução do tempo de voo de aeronaves e drones que pulverizam lavouras, o uso de combustível e até a redução da emissão de poluentes.
Ele também lista outros benefícios do uso de tecnologias como a robótica no campo:
- Facilita a execução de trabalhos que seriam extenuantes para as pessoas;
- Aumenta o rendimento operacional e a produtividade de pastagens e lavouras;
- Melhora a eficiência do plantio, pulverização e colheita;
- Reduz significativamente o desperdício de insumos e reduz o descarte de alimentos que não receberam tratamento adequado.
setor lucrativo
O agronegócio é conhecido por ser um dos motores da economia mundial e brasileira. O Valor Bruto da Produção (VBP) foi registrado em R$ 1,189 trilhão em 2022, o segundo maior da série histórica do país, segundo o Ministério da Agricultura.
Em termos de representatividade econômica, a agropecuária fechou o ano passado correspondendo a 24,8% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Ou seja, quase um quarto da nossa economia depende exclusivamente da pecuária e da agricultura.
A solidez financeira do setor aparece na forma de investimentos e crescimento no número de startups. O Radar Agtech Brasil informou que de 2021 a 2022 houve um aumento de 7,5% no número de agtechs (ou agritechs). Em termos de investimentos, o aumento apenas nas chamadas agfoodtechs aumentou 85% entre 2020 e 2021.
Leonardo defende que a mecanização e a robotização do agronegócio respondem não só pela melhoria e otimização da produção, mas também pelo aumento dos investimentos. Ele diz que os investidores olham com bons olhos para o setor justamente porque entendem que o trabalho profissional é um fator que efetivamente traz retorno financeiro.
“Aplicar soluções inovadoras antes, dentro e depois da fazenda também impacta o bolso dos produtores no curto prazo. Com ferramentas de ponta, é possível almejar melhores preços, já que o país exporta em grande parte os insumos que produz”, afirma.
Nesse cenário, as agtechs brasileiras já conseguem competir e entrar em outros mercados internacionais. A Perfect Flight, por exemplo, que tem mais de 32 milhões de hectares rastreados, já opera em mais de 100 cidades no Brasil e na América Latina. A empresa abriu até um escritório em Iowa, nos Estados Unidos, para atender os produtores locais.
“A inovação está no sangue dos brasileiros e nosso agronegócio mostra como estamos sempre aplicando o que há de melhor no mundo. A robótica e a tecnologia em geral não devem ser vistas como ferramentas que vão ocupar o lugar das pessoas, mas sim como soluções que vão abrir novos empregos, tornando o produto agrícola brasileiro ainda mais competitivo”, conclui Leonardo Luvezuti.
(Com agência)
(Emanuely/Sou Agro)


