Como tradicionalmente ocorre nesta época do ano, os produtores de soja da América do Sul estão com os olhos voltados para o céu, esperando que as chuvas cheguem em épocas apropriadas, com bons volumes e boa distribuição. E neste primeiro momento, onde já é possível iniciar os trabalhos de campo, as condições são adequadas e permitem que a safra 2022/23 comece efetivamente.
Como o diretor do Pátria Agronegócio, Cristiano Palavroem uma avaliação de curto prazo, é possível perceber que as chuvas já estão chegando em bons volumes no Paraná e também no Paraguai, podendo ambos os locais iniciar o plantio logo após o término do vazio sanitário.
Para Mato Grosso, a intensidade das chuvas começa a aparecer a partir do dia 18, assim como para regiões produtoras de Rondônia e também para partes de Mato Grosso.
“As chuvas não são tão volumosas, então, a nosso ver, teremos uma boa janela de plantio para essas regiões, mas não tão cedo quanto vimos no ano passado. Há chuvas com acumuladas de 60 a 100 mm nos próximos 15 dias , mas não para todas as regiões do Mato Grosso. Serão principalmente as regiões mais ao noroeste do estado, ali mesmo na divisa com Rondônia”, diz Palavro.
Os mapas climáticos, por outro lado, não apresentam volumes consideráveis para os próximos dias para o estado de Goiás, restando apenas entre 20 e 30 mm a mais no final do mês, ou seja, configurando um cenário ainda insuficiente para o início do trabalho de campo. . Em Mato Grosso do Sul, neste curto prazo, as chuvas são melhores mais ao sul do estado, nas divisas com Paraná e Paraguai.
Nas projeções de médio prazo um pouco mais longas, a preocupação permanece com o La Niña, conforme explicou Palavro.
“Temos um fenômeno que passou por mais resfriamento e mais intensificação nos últimos meses e hoje ainda não temos um La Niña totalmente configurado quando olhamos para os principais modelos de análise. E quando olhamos modelo por modelo, médio prazo de NOAA, isso se confirma com mais intensidade do fenômeno. E como todo La Niña, chove abaixo da média para o sul do Brasil, Paraguai e Argentina”, diz.
As imagens disponibilizadas pelo Pátria, com modelos de longo prazo, de fato indicam que as chuvas estão abaixo da média normal, principalmente com o Rio Grande do Sul com possibilidade de chuvas abaixo dessa média durante o verão, com novas situações.
“Chuvas abaixo da normalidade, por si só, podem causar grandes prejuízos se forem bem distribuídas. Apesar do volume total do mês estar abaixo da média, se as chuvas forem bem distribuídas, o problema não é tão grande. médio prazo, os estados do sul do Brasil, além do Paraguai e da Argentina”, acrescenta o diretor do Pátria.
Quanto ao centro do Brasil, a marca é de maior variabilidade dessas chuvas, com alguma irregularidade, o que também é marca de La Niña. Enquanto isso, ao norte, as chuvas podem estar acima da média, o que pode ser um fator positivo para o Matopiba.
Embora outras variáveis também preocupem o produtor brasileiro no momento, as condições climáticas para a nova safra estão no centro do radar, principalmente porque este é o início da safra mais cara da história da soja brasileira. O planejamento do produtor tem que ser suficientemente detalhado para que seus investimentos sejam otimizados e os efeitos do que não pode ser controlado por ele sejam mitigados.
“O ambiente climático dá vários sinais de que o período de plantio acontecerá bem dentro do período ideal para a safra brasileira, como também está acontecendo no Paraguai”, acredita Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting. Assim, as informações sobre a nova safra na América do Sul já começam a bater nas portas do mercado internacional, inclusive limitando o potencial de valorização dos futuros de soja na Bolsa de Chicago ou até mesmo exercendo alguma pressão.
As expectativas para a nova safra, principalmente do Brasil, intensificaram-se no início desta semana, quando o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe uma revisão considerável na safra norte-americana 2022/23 de 123,31 para 119,16 milhões. toneladas, deixando o mercado ainda mais apreensivo quanto à relação oferta e demanda.
“O mercado olha e vê as perdas americanas, mas ao mesmo tempo sente que essas perdas serão compensadas pela safra sul-americana”, acrescenta Brandalizze. “E por isso acredito que pode haver mais pressão do lado negativo com o avanço desse plantio se tudo correr dentro da normalidade nas próximas duas, três semanas. E nessas duas, três semanas também tem a colheita americana”.
O corte promovido pelo USDA na última segunda-feira (12) na safra americana deixou o mercado futuro dos EUA bastante confuso, já que a intensidade de suas mudanças neste relatório de setembro foi bastante surpreendente e inesperada, conforme explicado Luiz Fernando Gutierrez, analista da Safras & Mercado.
“No boletim de agosto ele (o USDA) elevou a safra quando todos esperavam um corte, e em setembro ele cortou a safra dos EUA muito mais do que o mercado esperava. Então o USDA estava corrigindo alguns erros cometidos em relatórios anteriores, principalmente em áreas e produtividade”, diz. “O mercado não esperava uma safra inferior a 120 milhões de toneladas, os estoques estão apertados novamente. E acho muito interessante esse contraste com o relatório de agosto e o relatório do Pro Farmer”.
Gutierrez também acredita que essa estimativa de safra menor trazida pelo departamento norte-americano pode conter parte do peso da safra que chega nas próximas semanas, quando começam os trabalhos de colheita nos Estados Unidos.
A semana foi bastante movimentada para os futuros da commodity na Bolsa de Chicago, que chegaram a testar US$ 15,00 por bushel, mas aos poucos perderam força e retornaram parte dos ganhos acumulados. Nesta quinta-feira (15), o mercado fechou no vermelho, com pequenas quedas de pouco mais de 3 pontos nos principais contratos, com novembro – referência para a safra americana – valendo US$ 14,51 – e maio – referência para a safra brasileira – a US$ 14,58.