Durante o mês de abril, esta coluna será composta por duas partes: A) gestão sanitária do mês; B) registro recente de doenças transmissíveis ou não transmissíveis, sugerindo medidas para sua prevenção.
Tais registros são obtidos com o apoio dos Órgãos Estaduais de Defesa Sanitária Animal, Professores Universitários, MAPA, EMBRAPA e rede de contato de veterinários de campo, bem como minhas observações
TRATAMENTO ESTRATÉGICO CONTRA FASCIOLA HEPATICA EM BOVINOS DAS REGIÕES SUL/SUDESTE
Em abril, o único tratamento estratégico sugerido é contra a Fasciola hepatica, usando vermífugo à base de tricabendazol, nitroxinil, clorsulon ou closantel. Esta vermifugação é recomendada nas seguintes áreas:
RS – todo o estado, exceto a região noroeste;
SC – planalto e regiões litorâneas;
PR – municípios litorâneos e centrais;
SP – Vales do Ribeira e Paraíba, além do município de Buri.
A fasciolíase causa perda de peso, anemia e, em casos extremos, até a morte.
“VACA LOUCA” ATÍPICA NO PARÁ: RAIO X DO IMÓVEL E DO ANIMAL
De fonte confiável e técnica, obtive informações inéditas e detalhadas sobre a propriedade e o bovino, diagnosticado com encefalopatia espongiforme atípica (EAE) (“vaca louca”), que mais uma vez abalou a exportação da carne e o preço da arroba em do norte ao sul do país.
Propriedade – Localizada no município de Marabá, a fazenda tem cerca de 150 hectares e é considerada um grupo familiar, com suas terras previamente regularizadas e concedidas pelo INCRA, e administradas pela mãe e seus filhos. A propriedade possui 160 cabeças, sendo uma parte de vacas para produção de leite e outra para corte.
Segundo a investigação, o rebanho é composto por 70 vacas, sendo 38 bezerros, um touro, sendo os demais machos (vendidos para abate, com média de 3,5 anos) e novilhas. Todo o rebanho foi recentemente vacinado contra febre aftosa e os bezerros contra brucelose.
Embora Marabá não esteja na lista dos 50 municípios paraenses onde a vacinação contra a raiva é obrigatória, todos os bovinos são vacinados anualmente contra a doença. O rebanho recebe continuamente sal mineral “batizado” de sal comum e nunca foi suplementado com uréia e “esterco de galinha”.
Animal – O animal diagnosticado com EEA foi o touro, da raça Nelore, utilizado na reprodução. O bovino foi adquirido há cinco anos em outra propriedade da região, e na época foi vendido como se tivesse quatro anos.
A fonte consultada suspeita que ele fosse mais velho no momento da compra, ultrapassando a idade oficialmente registrada de nove anos, confirmada apenas pelo histórico e não pelo desgaste dos dentes incisivos (da frente).
O quadro nervoso apareceu de repente, e até então o animal estava normal e em boas condições corporais. Na tarde do dia anterior ao sacrifício, notou-se que o animal, que sempre liderava o rebanho, era o último, ao ser manejado, andando mais devagar e com alguma dificuldade. Pela manhã, encontrava-se deitado de lado, com a cabeça flexionada, em posição de “olhar as estrelas” (opistótonos), mas ainda mantinha o olhar vivo, reagindo parcialmente aos estímulos sonoros e dolorosos.
Sua musculatura não estava tensa e não apresentava tremores, mas certo grau de paralisia. O animal não berrava e não apresentava espasmos indicativos de dor. O quadro clínico evoluiu muito rapidamente, ao longo do dia, com o animal perdendo a consciência e entrando em estado de coma, quando optou-se pelo sacrifício, seguido de necropsia e coleta de amostras para exames.
A carcaça foi incinerada, portanto a idade não pôde ser confirmada com mais precisão posteriormente. O exame inicial foi negativo para raiva e posteriormente foi confirmada a ocorrência de EEA, tanto em laboratório no Brasil quanto no Canadá.
Estudos de casos de EEA ocorridos ao redor do mundo indicam que a idade média dos bovinos com a doença é de 12 anos, enquanto nos casos típicos (que ingeriram o agente causador por meio de farinha bovina) é de cinco.
Cerca de 80% dos casos confirmados de EEA ocorreram em bovinos de corte e fêmeas. Aliás, este é o primeiro caso de EEE em homens no Brasil. Enquanto na forma típica o animal ingere a proteína infecciosa através da ração, na forma atípica uma proteína semelhante, que existe no cérebro (príon), pode sofrer mutações com o envelhecimento, multiplicando-se fortemente no cérebro e causando a doença.
Uma encefalopatia espongiforme (Doença de Creutzfeldt-Jacob-DCJ) afeta humanos com mais de 65 anos, causando demência, e se desenvolve da mesma forma que a EEA, ou seja, por mutação do príon cerebral.
Estudos epidemiológicos em humanos indicam que uma pessoa em cada milhão que chega aos 70 anos desenvolve DCJ, mas falta o mesmo levantamento em relação à EEA, descrita até hoje em não mais de 70 bovinos no mundo.
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