“Há 400 anos plantamos cana-de-açúcar no Nordeste e é fato que a cultura teve altos e baixos, mas sempre sobreviveu, ao contrário do algodão, que foi dizimado pelo Bicudo e Sisal, substituído por fibras sintéticas. Portanto, uma cultura que perdura por tanto tempo, que representa um importante suporte econômico e social, que gera muitos empregos no campo, que aproveita tudo, e que ainda é matéria-prima para um combustível limpo e renovável precisa ser cada vez mais valorizado”, disse hoje (19), o presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), José Inácio de Morais. O dirigente canavieiro abriu o ciclo de palestras do IV Dia de Campo da Cana no Brejo Paraibano. O evento, realizado pelo Grupo de Estudos do Açúcar e Energia (GESUCRO) e do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFPB, com apoio da Prefeitura de Areia e do Senar, aconteceu na Fazenda Experimental Chã-de-Jardim, em Areia.
Antes dele, falaram o Vice-Diretor do CCA, Ricardo Romão, o Coordenador do Curso de Agronomia e Orientador da Gesucro, Fábio Mielezrski, a Presidente da Gesucro, Mayra Alves e o Secretário de Agricultura de Areia, Antônio Fernando. Todos destacaram os avanços e a excelência dos cursos de Ciências Agrárias da UFPB – Agronomia, Zootecnia e Veterinária – o advento de pesquisas recentes realizadas pela instituição e a qualificação da mão de obra especializada oriunda do CCA de Areia que, além da graduação cursos, possuem mestrado e doutorado, com atividades de ensino, pesquisa e extensão. O Presidente da Gesucro também agradeceu às instituições pelo apoio ao evento, com destaque para a participação da Asplan.
Em sua fala, José Inácio criticou o que chamou de preconceito contra a cultura, abordou a desinformação sobre o uso de defensivos agrícolas, fez um breve histórico da história e evolução da cultura da cana-de-açúcar na Paraíba, no Nordeste e no Brasil e aconselhou o público que assistiram, formado em sua maioria por alunos do CCA, que tiveram perseverança e olharam para a cultura canavieira com atenção especial. “Infelizmente ainda existem pessoas que, por absoluta falta de conhecimento, não conseguem enxergar a importância da cultura da cana-de-açúcar e seus inúmeros benefícios, ainda existem pessoas que condenam o uso de defensivos agrícolas, essenciais para a produção de alimentos, pensando que a agricultura orgânica seria capaz de abastecer os mercados em grande escala. Obviamente, onde você pode fazer agricultura orgânica, você pode fazê-lo, mas não é viável em grande escala”, disse ele.
Sobre a produção de cana-de-açúcar no Brejo, José Inácio lembrou que houve uma época em que a safra quase acabou na região, com o fechamento das usinas de Tanques e Santa Maria, e que muita gente migrou para a fruticultura, o que não foi uma escolha muito adequada , pois a umidade prejudica a fruticultura. “A produção de cachaça no Brejo, que é uma das melhores do Brasil, reviveu a cultura da cana-de-açúcar”, disse, lembrando que a cana-de-açúcar é uma cultura que pode ser manejada com outras formas de produção no campo. Ele também destacou o crescimento dos canaviais em São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, que tiveram ampla expansão enquanto no Nordeste a cultura permaneceu, mas não se expandiu. “Aumentamos a produtividade no NE, por meio do uso de tecnologias, irrigação plena e salvação, diminuindo as diferenças de padrões em relação ao Sudeste”, reiterou, lembrando que o Nordeste tem a vantagem da logística.
Por fim, José Inácio ressaltou que a cana lhe deu grandes lições de vida, sendo a maior delas a resistência à superação das adversidades e que a Asplan está aberta a ajudar no que for necessário para a evolução da cultura canavieira na Paraíba. “Além da cana, plantei várias safras, mas posso dizer que a safra da cana nunca me decepcionou”, reiterou, que, na ocasião, se emocionou ao saber da homenagem da turma de Agronomia 2017.2, que vai nomeie-o no quadro de formatura.
Resultados da pesquisa
Os resultados das pesquisas realizadas ao longo de cinco anos na Fazenda Experimental CCA-UFPB também fizeram parte do programa Dia de Campo. Coube ao Agrônomo e Doutorando em Agronomia da Ubyfol, Lucilo José Morais, apresentar os dados que foram coletados do trabalho realizado com 10 variedades: SP79-1011 e VAT90-212, e RB951541, RB992506, RB041443, RB021754, RB863129 , RB962962, RB93509 e RB002754, este último com os melhores resultados obtidos nos estudos, apresentando média de 100 toneladas por hectare na planta cana e 57 toneladas na 5ª folha, acima da média nacional na planta e regional na quinta cortar.
A variedade SP79-1011, a mais plantada na região do Brejo Paraibano, com calagem, utilizando 4,5 toneladas, obteve, segundo o estudo, uma diferença de 50% na produtividade, atingindo patamares de 85 toneladas por hectare. O estudo também avaliou o teor de sólidos solúveis do SP79-1011, que atingiu brix 21, apresentando o maior índice na pesquisa. “Concluímos que o melhor desempenho neste estudo foi apresentado pela RB002754 que, apesar de não ser a variedade mais plantada no Brejo, foi a que teve o melhor resultado”, disse Lucilo.
Cronograma
Além da palestra do presidente da Asplan, a programação do IV Dia de Campo da Cana no Brejo Paraibano contou com a participação do professor Emídio Cantídio da UFRPE, que falou sobre ‘Fertilidade do solo e nutrição de plantas: estratégias para aumentar a produtividade’ e outros sobre ‘Variedades e clones promissores para o Estado da Paraíba, ministrado por Amaro Epifânio, além de ‘Principais doenças da cana-de-açúcar na região Nordeste’, de William José, ambos da Ridesa-UFRPE.
Luiz Cláudio Santos, Diretor Técnico da Agromape, abordou o tema ‘Fixação biológica de nitrogênio em cana-de-açúcar’. “Biotecnologia e variedades CTC para o Nordeste” e tema da palestra seguinte, com o Representante Técnico Comercial do CTC, Wéliton Tenório. Ao final do dia, houve a apresentação dos resultados da pesquisa realizada na Fazenda Experimental do CCA-UFPB.