Após uma escalada de altas, o preço do leite pago ao produtor recuou. No pagamento de setembro, que remunera a produção captada em agosto, os preços caíram 6% em relação ao mês anterior. Entidades do setor e pecuaristas dos estados da região Sul, que representa 39% da produção nacional estão preocupados que este movimento descendente persista nos próximos anos e, desta forma, aumente o abandono da atividade.
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Os preços pagos ao produtor atingiram níveis recordes nos últimos seis pagamentos, principalmente em agosto, quando atingiu a média de R$ 3,00. Em setembro, porém, o produtor recebeu, em média, R$ 2,79 por litro de leite, valor que, no entanto, não gera margem para o setor produtivo. A análise nesse sentido é feita pelo Consultoria Escocesa em 18 estados brasileiros.
“O preço pago ao produtor vinha aumentando porque a captação era muito fraca e, por isso, a indústria precisava muito de matéria-prima. Aumentaram esse preço para conseguir capturar um pouco mais, para ver se, por exemplo, trouxeram novos produtores para capturar. “Dito isso, estimulou essa maior produção”, diz Jessica Olivier, agrônoma e analista de mercado da Scot Consultoria.
“Mas agora eles têm um pouco mais de produção sem mais matéria-prima e aí vem essa barganha”, continua o agrônomo. Eles querem reduzir o preço pago ao produtor porque o preço está muito caro, estava sendo repassado para o varejo, que estava com dificuldade de vender laticínios”, acrescentou o profissional escocês.
Preço pago em Santa Catarina
Em Santa Catarina, o preço médio pago aos produtores em setembro foi R$ 2,95. Para a Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri), o comportamento do preço recebido pelos produtores é muito menos determinado pelo consumo e muito mais determinado pela oferta.
“Esse movimento de alta de preços que ocorreu em um período mais crítico de oferta que começa no mês de abril, está passando”, observa Tabajara Marcondes, engenheiro agrônomo da Epagri. “Estamos em um momento de aumento significativo da oferta em relação à demanda.
Como a oferta está se recuperando, a tendência é essa, era visível que os preços iriam cair daqui para frente”, disse. “Para você ter uma ideia: neste mês de outubro, os primeiros sinais que recebemos são as reduções de preços recebidas dos produtores na faixa de R$ 0,50 a R$ 0,55.
Preço pago ao produtor no Paraná
No Paraná, a tendência para os próximos meses também é de um cenário de maior pressão sobre os preços pagos aos produtores de leite. Dados do Departamento de Economia Rural (Deral) mostram que em setembro o preço médio recebido pelo produtor por litro de leite foi de R$ 3,08. A saber: valor R$ 0,27 a menos que em agosto, quando o preço pago foi de R$ 3,35. No varejo, porém, o preço médio no mesmo mês foi de R$ 5,30.
“Não tínhamos toda aquela alta que aparecia nas prateleiras dos supermercados”, lamenta a produtora de leite Vilma Fulber. “Até temos acompanhado isso com preocupação. Agora, no início de outubro, já está sendo anunciado abaixo de R$ 0,40 centavos o litro”, comenta. “Isso me preocupa.
Se houver uma queda ainda maior, acredito que haverá escassez de produto no mercado, ou que eles vão se importar muito, porque nosso produtor não vai aguentar mais quedas.”
Produtor de laticínios do Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, a situação também é preocupante. Segundo o Conseleite, o preço pago por litro em setembro foi média de R$ 2,27, o que representa uma queda de 12% em relação a agosto. Nesse sentido, o Cepea estima a média brasileira em R$ 3,04 litros. A Associação dos Pecuaristas Holandeses (Gadolando) destaca que, além de tudo, o Rio Grande do Sul sofreu o impacto de três anos de seca.
“Tivemos que… não gosto da palavra endividado, mas tivemos que ir a linhas de crédito para comprar ração para os animais, ou vender os animais”, diz o presidente da Gadolando, Marcos Tang. “Praticamente todas as propriedades aqui no Rio Grande do Sul tiveram que tomar essa decisão. Claro que quem tem mais poder de crédito ou que tem algo associado a ele foi comprar esse alimento.
É que estamos comprando alimentos que não comprávamos no passado, que é a silagem de milho que faltou por causa das condições climáticas.”
Para a família Gilnei Remonte, que produz leite no noroeste do Rio Grande do Sul, o cenário é visto de forma bastante crítica. “Há alguns meses, a indústria vendia um litro de leite por R$ 7 ou R$ 8 na gôndola do supermercado. Para quem mora na cidade, é muito difícil consumir esse produto. Desta forma, automaticamente, vem a redução do consumo e sobra de produto. E isso acontece: o produto é desvalorizado, principalmente o da pequena propriedade.”
“Aqui em Pinhal (RS), que é formado majoritariamente por pequenas propriedades, muitos produtores de leite abandonaram a atividade”, comenta Gilnei. Segundo ele, cerca de 20% dos produtores que comercializavam leite na região abandonaram a atividade apenas no último ano.
Produtores param de trabalhar com leite
Baixo não é considerado normal neste momento. Normalmente, os preços tendem a cair mais no final do ano. Agora, porém, a preocupação das entidades é com as consequências que isso pode trazer para o setor. Isso ocorre porque os custos de produção são maiores.
Levantamento da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) destaca que apenas na alimentação o custo da ração subiu 53% de 2020 a 2022. Os fertilizantes, por exemplo, variaram mais de 115% no mesmo período. Além disso, o que preocupa é que as importações de países vizinhos, como Argentina e Uruguai, cresceram mais de 130% e são mais vantajosas do que comprar no mercado interno.
“Enfatizo que o produtor de leite, diferentemente de outras atividades agrícolas ou de quem planta grãos, não pode plantar leite um ano e no outro, dependendo do clima, não produzir”, enfatiza Marcos Tang. “Não dá. Você tem um rebanho, o bezerro que nasce hoje em outubro de 2022 só dará algum retorno em outubro de 2024 se for criado com conforto, boa comida e carinho. Atividade que é sempre de médio e longo prazo”.
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