Impacto das Mudanças Climáticas no Agronegócio
As mudanças climáticas têm modificado significativamente o cenário agrícola global. Um estudo recente mostrou que produtores agrícolas de diversos países já observam impactos expressivos do aquecimento global em suas propriedades e estão preocupados com os efeitos futuros das mudanças climáticas para o seu negócio.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!O Cenário no Brasil
No Brasil, as recentes ondas de calor são um exemplo concreto do impacto dessas mudanças no agronegócio. Há reflexos nas lavouras de soja, milho, algodão e café nas principais regiões produtoras do País, resultando em queda na produção e preocupações com os preços dos produtos e inflação.
Projeções e Perspectivas
Projeções da safra 2023/2024 indicam que as condições climáticas desfavoráveis continuarão afetando as culturas, como soja, milho e trigo, resultando em uma redução na produção e impactando a economia do país.
As regiões Norte e Centro-Oeste especialmente sofrerão com temperaturas acima da média, afetando a produção de soja, enquanto a produção de milho estará mais sujeita ao ataque de pragas. Já a produção de café será reduzida devido à florada antecipada e às temperaturas elevadas.
As mudanças climáticas têm modificado o cenário agrícola global já há algum tempo. Um levantamento recente, contratado pela Bayer e conduzido pela empresa global de comunicação estratégica Kekst CNC, com 800 produtores agrícolas do Brasil, Austrália, China, Alemanha, Índia, Quênia, Ucrânia e Estados Unidos mostrou que 70% deles já observam impactos expressivos do aquecimento global em suas propriedades, e que 76% estão preocupados com os efeitos futuros das mudanças climáticas para o seu negócio.
No Brasil, neste ano, as recentes ondas de calor são um exemplo concreto do impacto dessas mudanças no agronegócio. Há reflexos nas lavouras de soja, milho, algodão e café nas principais regiões produtoras do País. Já se fala em queda na produção de grãos, café e fibras. Na pecuária, o gado de corte e leite está sofrendo com a exposição ao calor e com a queda na qualidade dos pastos.
O atraso no plantio da soja devido à inconstância do tempo – seca em algumas regiões, chuvas demais em outras – e às temperaturas elevadas compromete o calendário das próximas safras, como a do milho-safrinha. E isso pode se refletir também nos preços dos produtos e, consequentemente, na inflação.
Na quinta-feira, 7, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou sua projeção para a safra 2023/2024 no Brasil: a previsão é de atingir 312,30 milhões de toneladas, um volume 2,4% inferior ao obtido na safra 2022/23 (319,97 milhões de toneladas). A justificativa é a baixa ocorrência de chuvas e as altas temperaturas registradas nos Estados do Centro-Oeste, enquanto no Sul do País, principalmente no Rio Grande do Sul, há um excesso das precipitações. Essas condições climáticas adversas afetaram o desenvolvimento de importantes culturas, como a soja e o trigo.
:quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/DBFQSTHMRRA4BMA2Z44PSJV6KE.jpg)
O diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Silvio Porto, disse que a redução da expectativa da safra 2023/24 está diretamente associada ao comportamento desfavorável do clima, em função do El Niño, evento atmosférico que se caracteriza pelo aumento significativo e anormal da temperatura em determinadas regiões. Como a previsão do clima para os próximos meses é desfavorável, não há expectativa de que a produção se recupere de forma a chegar a um novo recorde de produção, segundo ele.
“Além do excesso de chuva no Sul e irregularidades na precipitação na região do Matopiba e Semiárido brasileiro, o País seguirá apresentando altas temperaturas. Isso poderá acarretar a perda de produtividade e redução da área plantada de milho 2.ª safra”, disse. Isso não significa, segundo ele, que a produção brasileira atingiu patamar de estagnação, mas apenas que, na safra atual, a produção sofre influência do comportamento desfavorável do clima.
Modelos de previsão do Instituto Internacional de Pesquisa e Clima indicam que a fase quente do El Niño vai se prolongar em todo o verão, até o final de março. Durante o período, as temperaturas ficarão acima da média em todo o País. A cultura mais atingida é a soja, principal cultivo de verão do Brasil, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Veja as culturas e produções que sofrerão maior impacto:
Soja: atraso no plantio e menos grãos
:quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/XQ7BMCGRDRGSBB2V6IQAY4WFNY.jpg)
A estimativa de produção da soja nesta safra é de 160,2 milhões de toneladas – uma alta de 3,6%. Mas, segundo a Conab, o plantio da oleaginosa continua atrasado em todas as regiões produtoras. “Estamos em uma área de clima mais temperado, diferente do calor de Mato Grosso, mas até aqui já houve impacto no crescimento vegetativo em algumas regiões. O pior ainda está por vir, porque entramos no pico da floração e há previsão de temperatura de 33 a 34 graus. Um calor desses causa abortamento das flores”, disse o engenheiro agrônomo e produtor Vandir Daniel da Silva, de Itapeva, no sudoeste paulista.
Calor e luminosidade são essenciais para as lavouras de clima tropical como a soja, mas na medida certa. O excesso pode causar o murchamento e a escaldadura das folhas, prejudicando a fotossíntese, processo essencial para a alimentação da planta, segundo especialistas. Conforme o engenheiro agrônomo José Renato Bouças Farias, pesquisador da Embrapa Soja, temperaturas acima de 30 graus aceleram o ciclo vegetativo da cultura, fazem as plantas emitir flores mais cedo, com as plantas muito baixas, o que acarreta produtividade menor.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, disse que os produtores estão apreensivos com a seca e as ondas de calor que têm afetado o Estado, maior produtor nacional do grão. “Temos acompanhado as situações de campo e ainda é difícil mensurar o impacto das perdas. O fato é que já existem e vai depender de como se comportará o clima daqui por diante. Toda queda de produção traz queda de rendimento e isso vai afetar a formação das novas safras, seja a segunda safra, que é milho, seja a safra futura de soja”, disse.
Segundo ele, o produtor que vem fertilizando o solo com folga há algum tempo tem condição de usar sua reserva de solo e reduzir a aplicação de insumos. “O principal insumo do produtor é a rentabilidade, e ele vai fazer as contas. Na pandemia, os preços dos fertilizantes subiram e a gente viu uma nítida redução principalmente na aplicação do fósforo. Sem dúvida, a situação climática pode trazer uma redução de tecnologia, inclusive no uso de fertilizantes, para reduzir custos e tentar fazer com que a safra fique viável nos próximos anos”, disse.
Leia mais sobre mudanças climáticas e agricultura
No Rio Grande do Sul, as chuvas fortes sucedidas por ondas de calor atrasaram o plantio de soja em regiões como o noroeste gaúcho, segundo o produtor e presidente do Sindicato Rural de Santo Ângelo, Laurindo Nikititz. “A sensação térmica hoje (1º de dezembro) aqui é de 40 graus. O plantio da soja já deveria ter se encerrado, mas estamos com menos de 70% plantados. Já tivemos de fazer o replantio em algumas áreas nas coxilhas por causa do excesso de umidade e pelo calor, com o escaldamento da soja nova.”
Esse atraso, segundo Farias, da Embrapa, vai atrapalhar o calendário de cultivos. “A alta temperatura rouba muito rápido a água do solo e o produtor não pode plantar. O plantio atrasado pode levar o agricultor a perder a janela (melhor período de plantio) da próxima safra e assim estreitar o calendário. Com todas essas mudanças no clima, o produtor terá de avaliar os riscos e ver se vale a pena fazer duas ou mais safras por ano. Ele talvez precise abrir mão de uma lavoura, investindo mais em uma única safra de menor risco”, disse.
Milho mais sujeito ao ataque de pragas
:quality(80):focal(-5x-5:5x5)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/GSJ6RXXEVBLTPGYPMUWIV6GIHQ.jpg)
Na produção de milho, segundo grão mais cultivado no País – 21,1 milhões de hectares que devem produzir 119 milhões de toneladas -, o risco está no aumento de pragas. “O ciclo da cultura é adiantado e a produção cai. Só o calor não seria tanto problema, mas ele é associado à alta demanda de água. A alta temperatura provoca um consumo energético mais elevado e a planta precisa retirar mais água do solo. É quando acontece o estresse hídrico, que reduz a produção”, explicou o pesquisador da Embrapa, José Renato Bouças Farias.
Uma temperatura média noturna acima de 24 graus provoca um consumo energético mais elevado para a planta se desenvolver e causa queda de produtividade. O milharal fica mais sujeito ao ataque de pragas.
Florada antecipada, menos café no pé
:quality(80):focal(-5x-5:5x5)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/QFFTHIHBD5LKRMA5QMWINKI7WI.jpg)
Os produtores de café já dão como certa a redução na safra em relação à anterior. Em Minas Gerais, maior produtor de café arábica do País, as floradas foram antecipadas e os grãos estão sem uniformidade e em menor volume. “Quando o calor passa de 30 graus, a planta diminui a fotossíntese, reduz o desenvolvimento e emite uma florada irregular e não há uma granação uniforme”, disse o produtor Francisco Sérgio de Assis, presidente da Cooperativa de Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo.
Os cafezais da região emitiram a florada em outubro, após uma sequência de dias de muito calor. “Agora é a fase de emissão dos chumbinhos (grãos pequenos), mas as rosetas de café estão ficando banguelas, ou seja, onde era para ter 20 chumbinhos têm apenas 6. As folhas ficaram escaldadas pelo calor e algumas amarelaram, reduzindo a fotossíntese. Tem feito muito calor e as plantas não estão preparadas para isso. Às 10 da manhã, com o tempo nublado, a temperatura está em 32 graus”, disse.
Feijão: plantas murcham sob calor
:quality(80):focal(-5x-5:5x5)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/2UAJABM6NZJWHOJNODFU5EY4GE.jpg)
Cultura essencial para a cesta básica do brasileiro, o feijão teve um aumento de área nesta safra, segundo a Conab, mas as lavouras podem ser muito afetadas pelo calor intenso. O plantio da primeira safra, ou safra das águas, está em em andamento no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. A expectativa é de produção de 3,1 milhões de toneladas em 2,78 milhões de hectares.
O produtor Arnaldo Vivan, de Quadra, interior de São Paulo, plantou 25 hectares de feijão no final de setembro e viu a produtividade minguar devido às sucessivas ondas de calor. “As chuvas que vieram foram fortes e rápidas, sucedidas por períodos de veranico (temperaturas altas) que prejudicaram muito a floração. Teve uma semana inteira com o feijoeiro todo murcho. Planto há mais de 40 anos e poucas vezes vi um calor assim”, disse.
:quality(80):focal(-5x-5:5x5)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/ELE5DO3ETRIUXNRLNVPDFWK3DA.jpg)
O algodão vai ocupar área recorde nesta safra, de 1,71 milhão de hectares, com a produção podendo chegar a 3 milhões de toneladas de pluma, segundo a Conab, mas a lavoura também é suscetível ao calor em excesso. O clima mais quente deixa a planta sujeita ao ataque de doenças e pragas, especialmente as lagartas, que podem prejudicar a qualidade das plumas. Por outro lado, produtores do Mato Grosso estão antecipando o plantio de algodão em áreas em que não conseguiram cultivar a soja devido ao calor e à falta de chuvas.
Plantas invasoras no arrozal
:quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/XBL7QYOLNVBEBDEJFA7SCNMVWY.jpg)
O arroz está em fase de semeadura e o calor excessivo pode prejudicar a formação das lavouras. Segundo a Conab, o cereal tem previsão de aumento na área plantada e na produção, que pode chegar a 10,8 milhões de toneladas. Os plantios estão adiantados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Goiás.
A maior parte do arroz brasileiro é irrigada, mas a planta pode ser prejudicada pela elevação excessiva da evaporação. Nas áreas irrigadas, o excesso de chuva prejudica o manejo da cultura. Em Dom Pedrito, região da campanha gaúcha, muitos produtores deixaram de semear por conta dos alagamentos.
1. Quais são os impactos das mudanças climáticas nas lavouras de soja, milho, algodão e café?
– As mudanças climáticas têm causado ondas de calor, secas e chuvas irregulares que afetam a produção de grãos, café e fibras, bem como a pecuária.
2. Como as mudanças climáticas têm afetado o plantio e crescimento vegetativo da soja?
– As altas temperaturas causam atraso no plantio da soja e afetam o crescimento vegetativo, resultando em menor produtividade.
3. Quais são os riscos associados ao plantio tardio de milho devido ao calor excessivo?
– O plantio tardio de milho devido ao calor excessivo pode levar o agricultor a perder a janela ideal de plantio da próxima safra e estreitar o calendário de cultivos, além de aumentar a vulnerabilidade do milharal a pragas.
4. Como as mudanças climáticas têm impactado a produção de café arábica em Minas Gerais?
– O calor acima de 30 graus tem causado a antecipação da florada, reduzindo a uniformidade e volume dos grãos, afetando a produção de café arábica na região.
5. Como os produtores estão lidando com os impactos das mudanças climáticas na agricultura?
– Os produtores têm reduzido a aplicação de insumos, como fertilizantes, para reduzir custos e tentar manter a viabilidade das safras, além de avaliar os riscos e optar por cultivos de menor risco.
Os Impactos das Mudanças Climáticas na Agricultura Global e no Agronegócio Brasileiro
### A influência das mudanças climáticas na agricultura
As mudanças climáticas têm afetado significantemente o cenário agrícola global nos últimos anos. Uma pesquisa realizada pela Bayer em parceria com a empresa de comunicação estratégica Kekst CNC entrevistou 800 produtores agrícolas em diferentes países, incluindo Brasil, Austrália, China, Alemanha, Índia, Quênia, Ucrânia e Estados Unidos. Os resultados revelaram que 70% dos produtores observaram impactos expressivos do aquecimento global em suas propriedades, sendo que 76% deles estão preocupados com os efeitos futuros das mudanças climáticas em seus negócios.
### Impactos das mudanças climáticas na agricultura brasileira
No Brasil, as recentes ondas de calor são um exemplo concreto dos efeitos das mudanças climáticas no agronegócio. As altas temperaturas têm impactado as lavouras de soja, milho, algodão e café, resultando em possíveis quedas na produção desses produtos. Além disso, a pecuária, tanto de gado de corte quanto de leite, tem enfrentado desafios devido à exposição prolongada ao calor e a queda na qualidade dos pastos.
### Projeções para a safra 2023/2024
Recentemente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou sua previsão para a safra 2023/2024 no Brasil, estimando uma produção 2,4% inferior à safra anterior. As condições climáticas adversas, incluindo baixa ocorrência de chuvas e altas temperaturas, foram apontadas como justificativas para essa redução. O diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Silvio Porto, destacou que as mudanças climáticas desfavoráveis, especialmente devido ao evento atmosférico El Niño, foram determinantes para essa diminuição na expectativa de produção.
### Impacto nas culturas
Diversas culturas foram afetadas pelas mudanças climáticas, com destaque para a soja, cujo plantio tem sofrido atrasos em todas as regiões produtoras. O calor excessivo tem causado problemas como o abortamento das flores, comprometendo assim o crescimento vegetativo dessas plantações. Além disso, a produção de milho também tem sido impactada pelo aumento de pragas devido ao ciclo adiantado da cultura e pela alta demanda de água motivada pelo calor.
### Efeitos na produção de café
Os cafeicultores já estão prevendo uma redução na safra de café em relação à última temporada, devido às mudanças climáticas que causaram uma antecipação na florada das plantas. Com temperaturas acima dos 30 graus, as plantas reduzem a fotossíntese, resultando em floradas irregulares e um menor volume de grãos.
### Desafios para os produtores
As mudanças no clima têm levado os produtores a enfrentar desafios no manejo de suas lavouras, como a redução no uso de insumos devido aos custos e a viabilidade das safras, a necessidade de replantio em áreas afetadas pelo excesso de umidade e calor, e a avaliação dos riscos envolvidos no calendário de cultivos. Além disso, a perspectiva de um clima desfavorável no futuro próximo preocupa a comunidade agrícola, uma vez que isso pode afetar a produção e os rendimentos das safras futuras.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo
FAQ – Perguntas Frequentes sobre Mudanças Climáticas e Agronegócio
Como as mudanças climáticas estão impactando o agronegócio?
Agricultores de diversos países têm relatado impactos significativos do aquecimento global em suas propriedades, afetando a produção de grãos, café, fibras e até a pecuária. A variabilidade climática, como ondas de calor e atrasos no plantio, tem comprometido a produtividade e o calendário das safras.
Que tipos de culturas e produções são mais afetadas pelas mudanças climáticas?
As culturas mais impactadas pelas mudanças climáticas incluem a soja, que tem sofrido atrasos no plantio e menor produtividade devido ao calor excessivo, o milho, que tem risco aumentado de pragas devido ao ciclo adiantado e a demanda de água provocada pelas altas temperaturas, e o café, que apresenta menor uniformidade na florada e nos grãos devido ao calor acima de 30 graus.
Conclusão
As mudanças climáticas têm impactado o agronegócio em diversas regiões do mundo, levando a atrasos no plantio, redução na produtividade e menor uniformidade nas colheitas. A preocupação dos produtores agrícolas com os efeitos futuros das mudanças climáticas é evidente, e medidas de adaptação e mitigação se tornam cada vez mais importantes para garantir a sustentabilidade do setor.



