Morreu nesta quinta-feira, 29 de junho, Alysson Paolinelli, o homem que mudou a produção agrícola nos trópicos, de uma revolução instalada em terras brasileiras, e hoje já chega ao mundo.
Considerado para o Prêmio Nobel da Paz de 2021, justamente por sua imensa contribuição, o ex-ministro Ernesto Geisel (1974 a 1979) estava internado há mais de um mês no Hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte (MG). Seu estado era gravíssimo e ele não resistiu às complicações decorrentes de uma grave infecção pulmonar.
Ainda pela manhã, várias foram as manifestações de personalidades, entidades e instituições do universo rural. A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) lamentou o falecimento de Paolinelli, seu sócio honorário: “Brasil perde uma de suas principais referências de pesquisa em segurança alimentar e inovação tecnológica”.
A ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, se manifestou em uma rede social: “Hoje perdemos o ex-ministro, meu amigo e conselheiro em todos os momentos. Tenho boas lembranças de seu brilhantismo nas reuniões em Brasília (DF) nos últimos anos. Seu nome sempre estará inscrito no panteão dos grandes brasileiros”.
O atual chefe-geral da Embrapa Gado de Corte, unidade de Campo Grande (MS), Antônio do Nascimento Ferreira Rosa, também manifestou seu pesar. “O Brasil deve muito a esse mineiro, agrônomo, homem simples e de personalidade radiante, com forte ligação com as questões rurais desde o nascimento. Mas, para coroar o trabalho de pessoas tão especiais quanto ele, o Altíssimo tem seus planos que nós, simples mortais, a muito custo, e nem sempre, só entenderemos muito mais tarde”.
O atual governo federal também divulgou nota de pesar. “A contribuição de Paolinelli para a agricultura e para o Brasil perpetua sua existência e faz renascer a cada dia seu espírito inovador”lamentou o ministro da Agricultura e Pecuária (MAPA), Carlos Fávaro.
Dedicação às coisas do interior brasileiro – A atuação como secretário de Agricultura, cargo que ocupou por três vezes, o levou ao Ministério da Agricultura, cargo que assumiu em março de 1974. Lá, abriu um período de políticas marcantes para o setor e para o desenvolvimento do país Centro Oeste. Sempre priorizou a ciência como fonte de respostas aos desafios produtivos.
Para isso, estruturou a Embrapa, criada durante a gestão do ministro da Agricultura Cirne Lima, em 1972. Paolinelli atraiu as melhores mentes de universidades e órgãos de assistência técnica, oferecendo mais de 2.000 bolsas de mestrado e doutorado, nas melhores universidades de ciências agrários do mundo.
O objetivo era trazer para o Brasil o que há de mais moderno em pesquisa e tecnologia agrícola no planeta. Ele queria expandir a agricultura de forma acelerada, pois queria reduzir a importação de alimentos e dar autossuficiência ao país. Ele queria intensificar a ocupação racional das áreas do Centro-Oeste.
Para enfrentar esse desafio, Paolinelli criou o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Polocentro) em 1975, com novos mecanismos de política agrícola e trazendo infraestrutura e tecnologia para a produção de alimentos na região. A criação da Embrapa Cerrados veio com esse propósito, impulsionando o grande salto da agricultura brasileira.
Para se ter uma ideia, entre 1975 e 2020, a produção brasileira de grãos cresceu 6,4 vezes (de 39,4 milhões de t para 251,9 milhões de t) e a área plantada apenas dobrou (de 32,8 para 65,2 milhões de ha). Foi a maior revolução agrícola tropical sustentável da história. Daí a repercussão internacional que lhe rendeu a indicação ao Prêmio Nobel da Paz.
Um pouco sobre sua trajetória – Paolinelli faria 87 anos no dia 10 de julho. Ele é mineiro da pequena cidade de Bambuí, a 270 km da capital Belo Horizonte. Lá, ainda no berço, percebeu a importância do papel do poder público no desenvolvimento da agricultura e na evolução da vida e da renda da população. Uma semente que germinou como visões e sonhos para a agricultura brasileira, ainda na sua juventude.
Aos 15 anos, deixou sua cidade natal e fez o ensino médio em Lavras (MG), onde também se formou engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL), em 1959. No mesmo ano tornou-se professor. de Hidráulica da mesma instituição, onde viria a ocupar o cargo de Diretor até 1970.
Carreira como servidor no Executivo de MG – Em Minas Gerais, iniciou a carreira como servidor, a convite da Secretaria de Agricultura do Estado, em 1971.
O desafio era implementar uma nova matriz produtiva, baseada na incorporação de tecnologia e políticas de crédito que estimulassem a modernização.
Criou então o Programa de Crédito Integrado (PCI) para implementar projetos de colonização pautados pela assistência técnica, política totalmente inovadora no Brasil rural à época.
Em 1973, outro projeto destacou a atuação de Paolinelli em Minas: o Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP), em parceria com a Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), que se tornaria modelo para a criação de outros projetos de colonização. agricultura no Cerrado brasileiro, como no Mato Grosso, entre outros estados.
O velório de Alysson Paolinelli está marcado para as 15h desta quinta-feira, no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. O sepultamento está previsto para sexta-feira, 30 de junho, às 11h, no cemitério Parque da Colina, também na capital mineira.