Irmãos Bonfim dão sequência ao trabalho dos pais e junto com a mãe, apresentam a grandiosidade do Chapadão de Ferrado ao Notícias Agrícolas
Crescemos sendo ensinados de que toda história tem começo, meio e fim. Mas depois de alguns anos acompanhando a cafeicultura brasileira de perto, me arrisco a dizer sem medo de errar que quando se trata de uma das grandes potências agrícolas do país, muitas histórias persistem com respeito, vontade de fazer acontecer e dia após dia novas linhas são escritas em cada nova geração de uma família.
Paisagens lindas e boa prosa também são características intrínseca do universo do café no Brasil: é comum encontrarmos cada uma dessas características nas fazendas espalhadas país afora. Não seria diferente com a Família Bonfim, nossa parada presencial do Entrelinhas do Cafezaldesta semana.
Aproximadamente a 25 quilômetros de Patrocínio/MG, próximo a uma cratera de um vulcão extinto, a família Bonfim nos recebeu para apresentar com paixão não só as particularidades da bebida apresentada na xícara, mas principalmente a riqueza que existe em um dos lugares mais lindos do Cerrado Mineiro.
Nossa aventura começou com Dona Márcia, mãe dos irmãos Bonfim, que nos esperou com condições também clássicas de Minas Gerais: café, pão de queijo, bolo e muita história para contar.
Márcia Maria Costa Bonfim nasceu em São Paulo e assim como boa parte dos cafeicultures do Cerrado chegou quando a cultura do café ainda era uma novidade na região e nem se imaginava a potência de qualidade e produtividade que se poderia alcançar por ali.
Como disse no começo, toda história tem um começo. E essa teve início quando dona Márcia e seu Ari se conheceram no Paraná, se casaram e uma semana depois chegavam ao Cerrado para trabalhar em uma fazenda de café.
Andando pelas entrelinhas do café no Chapadão de Ferro, ela relembra as boas histórias: “Aqui nessa fazenda, Virgínia, faziamos a adubação com uma colher de sopa para não errar a medida. Nessa outra, vimos tudo acontecer também”, relembra.
A fazenda própria família Bonfim chegou alguns anos depois quando o avô fez a divisa de terras na região. Gabriel, o filho mais velho, desde criança vivenciou a rotina da cafeicultura seja prestando serviço nas fazendas vizinhas, na própria produção, sempre com olhar atento para as ações dos pais. A família cresceu e Cristiano chegou para completar o time.
O meio da história aconteceu há dois anos quando Arivaldo Bonfim faleceu durante a pandemia da Covid-19. O susto de perder um dos pilares da família quando a pandemia ainda trazia muitas dúvidas para todos nós, chegou junto com a responsabilidade de seguir tocando os negócios para manter o legado de uma vida.
Entre as trilhas da Lagoa do Chapadão de Ferro, Márcia relembra que era uma rotina corrida com a cafeicultura e prestação de serviço, mas uma vida também construida com muito companheirismo. “Foi muito difícil mesmo, fazíamos tudo junto, absolutamente tudo, perdi meu companheiro de vida, mas dentro do que eu acredito, sei que era o momento dele”, comenta.
O trabalho continuou e um tempo depois nasceu o “Agro Bonfim”, marca dos dois irmãos que carrega o nome da família. Andar com Gabriel pelo cafezal e perguntar sobre seu Ari é ver com os próprios olhos que o pai mais do que passou seu legado, eles buscam mais: mais tecnologia, mais qualidade, mais oportunidade em uma produção pautada em sustentabilidade e paixão pela região onde a fazenda está localizada.
Neste período, as condições climáticas também foram desafios enfrentados pela família. A inesperada geada em julho de 2021 também atingiu as lavouras, que agora começam apresentar sinais de melhora, elevando a expectativa de produtividade, sempre mantendo o foco na qualidade da bebida. Alcançando boa pontuação, o café dos irmãos Bonfim também já se destacou em concursos de níveis estadual e nacional.
Questionado sobre as dificuldades climáticas e os desafios atuais, Gabriel, ainda assim, afirma que não existe a possibilidade de trocar o plantio de café por outras culturas, como aconteceu em algumas fazendas da região. “Café é o que sabemos fazer, aprendemos muito com meu pai. Eu nasci aqui, cresci aqui e aqui eu quero ficar”, afirma oferecendo para voltarmos para café e finalizar o dia com mais um café.