em movimento atípico, preço do leite captado em janeiro sobe 5%

O preço do leite arrecadado em janeiro subiu 5% no “Brasil Médio” líquido do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, atingindo R$ 2,6619/litro, 17,6% superior ao registrado em janeiro de ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de janeiro/23). É também a maior média real do mês de janeiro, considerando a série histórica do Cepea, iniciada em 2004.

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A alta de preços em janeiro é algo atípico, já que, historicamente, o início do ano é marcado por preços baixos, tendo em vista o aumento sazonal da produção. Porém, no início de 2023, verifica-se exatamente o contrário: limitação da produção, fruto das condições climatéricas adversas, fruto do fenómeno La Niña.

O Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L) caiu 2,1% de dezembro para janeiro na “Média Brasil”. Nos estados do Sul, houve queda média de -0,2%, que, por sua vez, esteve ligada à estiagem na região. Nos estados do Sudeste e Centro-Oeste, houve queda de 2,3%, pois o excesso de chuvas prejudicou a produção.

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Além da questão climática, é importante destacar que os preços firmes dos insumos, principalmente das rações, têm limitado as margens dos produtores de leite, dificultando o investimento na atividade. Levantamentos do Cepea mostram que o Custo Efetivo Operacional (ECO) da pecuária leiteira subiu 0,68% em janeiro.

Com produção limitada no campo, a média mensal do leite à vista em Minas Gerais vem subindo desde a segunda quinzena de dezembro, com alta de 22,4% em janeiro, quando atingiu R$ 2,81/litro, segundo levantamento do Cepea. A valorização da matéria-prima resultou em alta nos preços dos lácteos em janeiro. No atacado paulista, o preço médio do UHT subiu 4,2%; mussarela, 3,3%; e leite em pó, 1%, em termos reais.

Também é importante notar que a oferta interna limitada e o aumento dos preços em toda a cadeia estimularam o crescimento de 2,8% nas importações de dezembro para janeiro. Segundo dados da Secex, as compras externas totalizaram 156,9 milhões de litros de leite equivalente em janeiro, volume 2,3 vezes maior que o internalizado no mesmo mês do ano passado. As exportações, por outro lado, caíram 30,1% em janeiro, totalizando 5,7 mil litros de leite equivalente.

PERSPECTIVA

Segundo funcionários do Cepea, a oferta no campo permaneceu limitada em fevereiro. Em Minas Gerais, o leite spot registrou média mensal de R$ 3,05/litro, alta de 8,3% em relação a janeiro. Porém, é importante observar que a valorização spot ocorreu na primeira quinzena do mês – na segunda quinzena, a média caiu para R$ 2,96/litro, pressionada pela demanda enfraquecida por lácteos no final da cadeia, o que limitou as negociações das indústrias com os canais de distribuição, reduzindo o apetite das indústrias por compras à vista.

Agentes do mercado ouvidos pelo Cepea relataram aumento dos estoques após 20 de fevereiro e sinalizaram preocupação com a fragilidade do consumo de lácteos. Outro ponto que pode frear a intensidade da valorização no campo é o aumento das importações, já que os preços internacionais dos lácteos seguem em tendência de queda.

Gráfico 1. Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquidos), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de janeiro/2022)

Tabela 1. Preço líquido nominal do leite cru coletado em janeiro/23 nos estados que compõem o “Brasil Médio”. Os preços líquidos não incluem frete e impostos.

Mesa 2. Preço líquido nominal do leite cru coletado em janeiro/23 nos estados que não fazem parte do “Brasil Médio”. Os preços líquidos não incluem frete e impostos.