O que dizem CEPEA/EMBRAPA/Abraleite e Viva Lácteos
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O preço do leite captado em fevereiro/22 e pago aos produtores em março/22 subiu 3,3% frente ao mês anterior, chegando a R$ 2,2104/litro na “Média Brasil” líquida do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!Esse valor supera em 4,1% o registrado no mesmo período do ano passado e é o maior para um mês de março da série histórica do Cepea, iniciada em 2004, em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA de fev/22).
A valorização do leite no campo ocorre sobretudo em função do aumento dos custos de produção, que têm limitado os investimentos na atividade e, com isso, o potencial de oferta.
O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea refletiu esse cenário de oferta limitada e registrou queda de 0,63% de janeiro para fevereiro. É importante frisar que, apesar do preço do leite avançar, isso não significa lucro para o produtor.
Durante fevereiro, as indústrias de laticínios enfrentaram competição acirrada para garantir o abastecimento de matéria-prima, fator que elevou os preços do leite ao produtor. Com estoques reduzidos, os laticínios intensificaram a compra de leite no mercado spot (entre indústrias), visando evitar capacidade ociosa de suas plantas processadoras.
Em Minas Gerais, o preço médio saltou de R$ 2,13/litro na primeira quinzena para R$ 2,42/litro na segunda quinzena de fevereiro, alta de 13,9%, segundo pesquisa do Cepea.
Com a matéria-prima mais cara, as indústrias se viram forçadas a fazer o repasse da alta no campo ao preço dos derivados durante todo o mês de fevereiro. A pesquisa do Cepea com o apoio financeiro da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) apontou que o valor médio do leite UHT recebido pelas indústrias de laticínios nas negociações com canais de distribuição do estado de São Paulo aumentou 5,8% de janeiro para fevereiro, em termos reais, chegando a R$ 3,40/litro. O valor é 8% maior que o registrado no mesmo período do ano passado.
No caso da muçarela, a valorização de um mês para o outro ocorreu apenas na comparação nominal – quando considerados os dados deflacionados, observa-se que o valor médio de fevereiro, de R$ 24,29, ficou 0,3% abaixo do comercializado em janeiro. Comparando com fevereiro/22, a alta foi de apenas 1,3%.
MARÇO
Em março, tanto o leite spot quanto os derivados registraram consideráveis altas, indicando que o movimento de valorização no campo deve persistir e se intensificar no próximo mês (preço do leite captado em março a ser pago em abril). Em Minas Gerais, o preço médio do leite spot subiu 15,4% da primeira para a segunda quinzena de março, chegando a R$ 2,93/litro. No caso do UHT e da muçarela, os aumentos foram de 11% e de 16,6% em relação à média do mês anterior (considerando-se dados diários até 29/03/22).
Gráfico 1
Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de fevereiro/2021)
Tabela 1
Preços líquidos nominais pagos aos produtores em março/2022 referentes ao leite captado em fevereiro/22 nos estados que compõem a “Média Brasil”. Preços líquidos não contêm frete e impostos
Tabela 2
Preços líquidos nominais pagos aos produtores em março/2022 referentes ao leite captado em fevereiro/22 nos estados que não estão incluídos na “Média Brasil”
Nota 1: O sinal * indica que há informações, mas que o dado não pode ser divulgado por questão de amostra limitada. O sinal – indica que não houve informação coletada. Para o cálculo da média estadual são consideradas todas as informações obtidas.
O cenário para o setor lácteo no Brasil é mais desafiador hoje do que no início da pandemia de covid-19, há dois anos, avalia o pesquisador da Área de Leite do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP) ), Natália Grigol. Em entrevista à Broadcast Agro, ele explica que a cadeia produtiva passa por uma fase complicada, influenciada pelos altos custos de produção, pela dificuldade de repasse de preços ao consumidor e pela redução da demanda. Nem com o preço do litro de leite pago ao produtor batendo recordes, a situação é melhor para o agricultor.
Embrapa
Segundo a Embrapa, o preço do leite ao produtor registrou aumento no pagamento de março, em função de menor oferta de leite e incremento dos custos de produção. O preço médio nacional pago ao produtor foi de R$ 2,21 por litro.
Ainda assim, em março/22, houve leve piora na relação de troca leite/mistura. Foram necessários 58,2 litros de leite para aquisição de 60 kg de mistura. Esse valor foi próximo ao observado em março/21.
No varejo
No início da pandemia, em março de 2021, o Brasil estava em um cenário menos crítico há dois anos. Vale lembrar que houve até injeção de dinheiro na economia, com o pagamento do auxílio emergencial.
“Tínhamos meios de garantir o consumo de laticínios pela população, mas não é isso que acontece hoje”, diz.
O Cepea observa uma dificuldade do consumidor em absorver o efeito inflacionário no campo e a alta dos preços com os custos de produção. “Para complementar isso, há uma dificuldade ainda maior de entender como vamos lidar com esse movimento.”
A pesquisadora destaca que o leite e seus derivados, em geral, têm uma variação de consumo diretamente ligada à renda. Se variar positivamente, há uma recuperação da demanda, mas se houver um efeito negativo, o mesmo acontece com o consumo. “A renda do consumidor brasileiro vem se depreciando nos últimos anos, ao mesmo tempo em que há um movimento inflacionário nos custos de produção do campo devido ao aumento dos insumos de produção.”
É um momento muito difícil para ela, e o setor como um todo está reagindo a esse alto custo de produção. Estamos vendo um movimento muito forte na cadeia para tentar passar esse preço para o final do comprador.
Nas últimas duas semanas de março, o pesquisador observou movimentos importantes no mercado de derivados lácteos em relação à negociação que o setor realiza com os canais de distribuição. Não estamos falando nem do preço que chegou à prateleira, estou falando de um preço anterior.
O leite longa vida (UHT) comercializado entre as indústrias do país, que encaminhou o produto para os canais de distribuição de São Paulo, maior centro consumidor, cresceu 12,3% para as indústrias nos últimos 15 dias do mês passado.
Os preços pagos aos produtores de leite estão atingindo recordes, mas mesmo assim a situação do setor é complicada, já que os preços não cobrem os custos da produção de leite no Brasil.
O principal motivo é o aumento dos preços da soja e do milho, que encarecem muito as rações.
Segundo Natalia, o produto tem um preço mais alto para o consumidor, pois além dos custos que os centros de distribuição devem arcar, há o custo do combustível, que também disparou. “Se o preço do leite chega à prateleira próximo a R$ 5 o litro, começamos a ouvir dos agentes do mercado que o consumo começa a estagnar mais”, explica. Ele ainda ressalta que a formação de estoques de produtos começa a aumentar neste momento.
“Se o consumo não reagir, podemos ver a ‘fuga da galinha’, movimentos de preços que não são sustentáveis. Eles duram, se durarem, um mês. Depois disso, há indícios de dificuldade para o consumidor pagar o preço cobrado, o que acaba aumentando a volatilidade dos preços”, avalia. A pesquisadora destaca que esse movimento dificulta o planejamento de investimentos e planos dos agentes econômicos.
Natália lembra que a decisão do governo federal de reduzir a tarifa para importadores que trazem queijo mussarela de fora do Brasil torna a situação ainda mais preocupante. “A queda do dólar vai baratear as importações de lácteos. Como perspectiva, o setor começa a se preocupar com as importações, já que não temos uma produção autossuficiente”, diz. Ela lembra que sempre há um déficit na produção brasileira que precisa ser compensado com importações. “Nos últimos anos, as importações caíram muito porque tivemos uma situação de valorização do dólar, o que encareceu os produtos, mas agora temos uma valorização do real.”
o preço da cesta de lácteos exibiu aumento mensal de 4,2%. Todos os itens pesquisados apresentaram elevação de preço, com destaque para o aumento no preço do leite UHT. Em 12 meses, a inflação de leite e derivados foi de 13,5%, ficando acima da inflação oficial brasileira, o IPCA, que acumulou 11,3% em 12 meses.
Fonte: Centro de Inteligência do Leite (CILetite/Embrapa)
Abraleite e Viva Laticínios
Na avaliação da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), a medida anunciada pelo Ministério da Economia em 21 de março prejudica o setor lácteo. O produto foi incluído na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul até 31 de dezembro de 2022, estendendo o benefício fiscal já concedido aos integrantes do bloco para todos os demais países.
O presidente da Abraleite, Geraldo Borges, afirma que a medida é “totalmente errada”, pois não vai interferir no aumento da inflação para a população. “Se levada à frente, trará muitos danos ao setor agropecuário, principalmente à cadeia produtiva do leite nacional, que emprega milhões de pessoas no campo e nas cidades e que vem passando por graves problemas de alto custo com insumos, tendo tido aumentos muito superiores ao produto leite e seus derivados nesse período de pandemia e guerra (no Leste Europeu).” Para ele, quem pagará a conta a médio prazo serão os consumidores.
Quanto às perspectivas para o próximo trimestre de 2022, o diretor executivo da Associação da Indústria de Lácteos (Viva Lácteos), Gustavo Beduschi, pontua que a demanda ainda é incerta, já que depende, inevitavelmente, da renda da população brasileira.
“É um ano de eleição, o que gera bastante incerteza quanto à economia. Hoje, a tendência é de que as margens do setor fiquem apertadas.”
Em relação aos preços, a pesquisadora do Cepea aponta, ainda, que é um momento em que o setor começa a entrar na entressafra de produção, quando se é esperada uma alta nos preços. “O problema é que esses preços já estão num patamar muito elevado.”
Durante a entressafra, altas consecutivas são esperadas, com o pico de preços acontecendo entre julho e agosto, observa.
“A gente ainda está em março e o preço já ultrapassa o patamar de preço do campo, e chega num nível que desestimula o consumo na ponta final da cadeia.” Para ela, os preços dos produtos lácteos devem ter, ainda, alguns meses de valorização. “Agora, a intensidade é muito difícil de prever. A capacidade da demanda está em xeque.”
O presidente da Abraleite, Geraldo Borges, diz que a medida é “totalmente equivocada”, pois não vai interferir no aumento da inflação para a população.
“Se levado adiante, causará muitos prejuízos ao setor agropecuário, principalmente à cadeia produtiva do leite nacional, que emprega milhões de pessoas no campo e nas cidades e que vem enfrentando sérios problemas de alto custo com insumos, tendo tido aumentos muito maiores em produtos lácteos e seus derivados neste período de pandemia e guerra (na Europa Oriental).” Para ele, quem vai pagar a conta no médio prazo serão os consumidores.
Sobre as perspectivas para o próximo trimestre de 2022, o diretor executivo da Associação da Indústria de Lácteos (Viva Lácteos), Gustavo Beduschi, destaca que a demanda ainda é incerta, pois depende inevitavelmente da renda da população brasileira. “É um ano eleitoral, o que gera muita incerteza sobre a economia. Hoje, a tendência é que as margens do setor sejam apertadas”.
Em relação aos preços, o pesquisador do Cepea destaca ainda que é um momento em que o setor começa a entrar na produção fora de época, quando os preços devem subir.
“O problema é que esses preços já estão em um patamar muito alto.” Durante a baixa temporada, são esperados aumentos consecutivos, com picos de preços entre julho e agosto, diz ele.
Ainda estamos em março e o preço já supera o nível de preço do campo, e chega a um patamar que desestimula o consumo no final da cadeia.
Para ela, os preços dos laticínios ainda têm alguns meses de valorização. “Agora a intensidade é muito difícil de prever. A capacidade de demanda está em jogo”.