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13 dicas para produzir silagem de qualidade para a pecuária leiteira

Cevada na ração de vacas leiteiras para reduzir custos

Cevada na ração de vacas leiteiras para reduzir custos

Tudo que você precisa saber sobre como plantar os grãos, colher e ensilar corretamente

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A expressão silagem de qualidade chegou ao Brasil nos últimos 15 anos, reflexo das mudanças que aconteceram na pecuária de leite. De acordo com Jackson Silva e Oliveira e Pérsio Sandir D’Oliveira, pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, a introdução de tecnologias de manejo do rebanho e das pastagens foi marcante para essa evolução, porém a mudança mais importante que aconteceu foi em relação ao comportamento do produtor. “Hoje, ele [produtor] vê a produção de leite como um negócio e administra sua propriedade como se fosse uma empresa”, diz Oliveira.

Em 2012, uma pesquisa da Universidade Federal de Lavras consultou 272 produtores de leite de diferentes regiões do País e observou que aproximadamente 55% utilizavam a silagem de milho e 20% a de sorgo. Os outros 25% produzem outros tipos de silagem, principalmente a de capim e de cana de açúcar.

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Embora existam tecnologias acessíveis para a produção das melhores silagens, muitos produtores ainda fazem silagem de má qualidade e perdem dinheiro com isso. A produtividade dos animais e o custo do leite podem ser melhores ou piores em função da silagem. Segundo Oliveira, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, uma silagem de qualidade depende, basicamente, de uma boa lavoura e um bom processo de ensilagem. Confira algumas orientações que podem melhorar os resultados na produção.

1 – Planejamento é fundamental

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Fazer silagem de qualidade envolve custos, riscos e conhecimento. O processo exige rapidez, por isso é muito importante o planejamento. É necessário providenciar tratores, carretas, ensiladeiras e mão de obra em quantidade compatível com a área que será colhida e o número de silos da propriedade.

De acordo com Pérsio Sandir, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, a revisão e manutenção das máquinas e equipamentos devem ser feitas nas semanas que antecedem a data prevista para iniciar a colheita. Isso envolve a verificação das mangueiras, correias, níveis de óleo, engraxamento, afiação e regulagem das facas e contra-facas.

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2 – Invista na lavoura

Os produtores de leite evoluíram bastante na produção de silagem, mas as lavouras ainda não atingiram seu potencial máximo. “Mesmo que o processo de ensilagem seja muito bem feito, se a matéria prima for de baixo valor nutritivo, a silagem também será pobre em nutrientes”, diz Oliveira. “O consumo das vacas será menor e a produção de leite vai ficar abaixo do potencial de produção dos animais.”

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Segundos os especialistas, o erro dos produtores é manter uma lavoura pensando que aquilo é somente o alimento das vacas em tempo de seca, quando na verdade a silagem é parte importante dos negócios. “As lavouras para silagem devem ser tratadas para atingir alta produtividade e a participação de grãos”, afirma Sandir. Ele ainda afirma que vale a pena o produtor investir R$ 2,2 mil por hectare, que é o valor médio para conseguir uma boa lavoura de milho e conseguir entre 45 e 50 toneladas de forragem de bom valor nutritivo.

3 – Produtor de leite também precisa ser agricultor

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O objetivo, tanto na plantação de milho ou sorgo, deve ser uma boa lavoura, com cultivo e manejo como se fosse para a produção de grãos. Por isso, é importante que o produtor de leite também seja agricultor. “Na grande maioria das vezes, o conhecimento e experiência de um produtor de grãos são maiores do que o produtor de leite”, diz Oliveira “Daí, talvez, o porquê da maioria das lavouras para silagem não se desenvolverem tão bem como as destinadas à produção de grãos.”

Uma opção indicada pelo pesquisador para resolver problemas técnicos é optar por serviços terceirizados. Algumas empresas já oferecem ensilagem de milho terceirizada, assim como serviços para plantar e conduzir as lavouras. “A produção de forragem ficará a cargo de técnicos que dominam essa prática e o produtor poderá tirar essa preocupação da cabeça para se dedicar ao que mais sabe fazer, cuidar das vacas e produzir leite”, diz Oliveira.

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4 – Tenha cuidado com o solo

Conhecer o solo da propriedade é essencial para obter um bom retorno. O pesquisador diz que, por incrível que pareça, muitos produtores ainda não fazem análises rotineiras de suas áreas de lavoura. “Essa informação é extremamente necessária para que o solo seja corrigido sempre que necessário, que a lavoura receba os nutrientes na forma e quantidades necessárias e para que as plantas os utilizem de forma eficiente”, afirma Oliveira. “Além da adubação tradicional, lavouras visando silagem de alta qualidade devem sempre receber adubação foliar cujo objetivo principal é suprir microelementos.”

O pesquisador explica que essa adubação é realizada entre os estágios V6 e V8, quando as plantas estão com seis e oito folhas. Outro recurso que vem sendo bastante utilizado é a aplicação de fungicida junto com a adubação foliar. “O objetivo não é combater fungos, mas estimular a produção de etileno na planta, o que vai resultar em um ligeiro aumento do ciclo e da janela de corte, além de melhorar a produtividade”, afirma Oliveira.

5 – Como preparar o solo

O preparo do solo pode ser o convencional, envolvendo aração e gradagem, ou direcionado para o plantio direto. O plantio direto é, de longe, o sistema mais eficiente pela série de benefícios que trás ao melhorar a estrutura do solo, manter sua umidade, minimizar a compactação e o uso de herbicidas. Segundo Sandir, são necessários conhecimentos sobre as coberturas verdes mais indicadas para região, métodos de dessecamento e plantadeiras específicas para o sistema de plantio direto.

6 – Como escolher o híbrido que será plantado

Ao escolher o híbrido para a silagem, o produtor deve buscar aqueles que produzam bastante grão e que sejam bem adaptados à sua região e às condições de manejo que irá dedicar à lavouras, dando preferência aos de grãos mais macios. No caso de híbridos transgênicos, o produtor deve saber como implantar e manejar as áreas de refúgio. “É muita informação e muito conhecimento a ser dominado pelo produtor de leite. Se ele não tem esse domínio, é recomendável contratar a assistência de um consultor agronômico”, afirma Sandir.

7 – A colheita ideal para ensilagem

A colheita para ensilagem envolve uma série de operações. O corte das plantas na lavoura, seguido de picagem, descarregamento nas carretas transportadoras e o descarregamento destas no silo.  A altura de corte, seja do milho ou sorgo, é entre 15 e 25 centímetros. Usar alturas menores que quinze pode causar a contaminação da forragem com terra ou mesmo permitir a entrada de pedras que podem danificar a picadeira, explicam os especialistas.

O tamanho do corte depende de vários fatores. Além do tipo de engrenagem usada para definir o tamanho da partícula, do afiamento das facas e do seu espaçamento com a contra-faca, o teor de matéria seca (MS) das plantas e a velocidade do trator podem interferir no tamanho e na qualidade do corte. “O produtor deve, inicialmente, seguir as recomendações do fabricante e deixar a ensiladeira devidamente regulada”, diz Oliveira. “Após colher os primeiros cinco ou 10 metros, ele deve parar o equipamento e verificar se a picagem está sendo feita dentro do esperado.” A orientação é para que as facas sejam afiadas pelo menos duas vezes ao dia durante a colheita. Facas cegas rasgam e dilaceram a forragem, dificultando a compactação e aumentando as sobras no cocho.

A porcentagem de MS da lavoura pode ser determinada facilmente picando algumas plantas e usando um forno de micro-ondas, ou um determinador de umidade tipo Koster, e uma pequena balança digital. As orientações para fazer as determinações com micro-ondas estão na Circular Técnica 77, que pode ser visualizada ou baixada para impressão no site da Embrapa Gado de Leite.

8 – Aprenda as técnicas de ensilagem

O processo de ensilagem, da colheita ao fechamento do silo, deve ser feito de forma rápida. Segundo Oliveira, o ideal é que o silo seja cheio e fechado em apenas um dia. Um dos pontos que compromete uma silagem de alta qualidade é o momento da colheita. De acordo com Oliveira, colher com a umidade correta facilita a fermentação, facilita a picagem e a compactação, e diminui as perdas. “A umidade da forragem, ou sua porcentagem de matéria seca (MS%), é o fator que determina o momento da colheita. Ela deve ser feita quando o teor de MS da forragem estiver entre 30 e 35%, ou entre 65 e 70% de umidade.”

9 -Ensiladeiras de automotriz

As ensiladeiras do tipo automotriz disponíveis no mercado fazem a colheita com muito mais rapidez e picam a forragem com mais perfeição, de acordo Sandir, pesquisador da Embrapa Gado de Leite. Além disso, a maioria dessas máquinas é equipada com “craker”, um equipamento que esmaga o grão, facilitando o aproveitamento do amido pelos animais. Segundo ele, essas colhedeiras são caras e a maioria delas é de empresas que fazem serviço de terceirização, de cooperativas para uso comunitário ou de grandes produtores.

A padronização do tamanho das partículas e a quebra dos grãos proporcionada pelo “cracker” da automotriz são diferenciais importantes para qualidade da silagem. Devido à rapidez com que essas máquinas trabalham, ao fazer a colheita com uma automotriz o produtor deve contar com um maior número de carretas ou caminhões transportadores. Devido à alta velocidade de descarga da forragem no silo é necessário um maior número de tratores para garantir uma boa compactação.

10 – Saiba quais são os silos mais utilizados

Os silos mais utilizados são os do tipo trincheira, com paredes laterais, e os de superfície. Segundo os especialistas, a compactação nos silos trincheira é mais fácil e eficiente. Além de reduzir perdas, o processo de enchimento é mais rápido nesse tipo de silo. Os silos trincheira são mais caros, pois exigem movimentação de terra, material e mão de obra durante sua construção. Uma vez construído, ele não poderá mudar de lugar e nem poderá ter suas dimensões alteradas, explica Oliveira.  “Ao planejar a construção de silos trincheira, devem ser levados em consideração o local onde será construído, a facilidade de acesso e a capacidade de armazenamento que deve ser em função do rebanho atual, mas sem esquecer os possíveis planos para o futuro”.

Os silos de superfície são de baixo custo e podem, em cada ano, serem instalados em locais diferentes ou não. Ao contrário do silo trincheira, ao acabar a silagem o silo também desaparece. Sua principal desvantagem é a dificuldade para uma compactação eficiente devida a falta de paredes laterais. Por essa razão, as perdas observadas em silos de superfície são maiores.

11 – Evite contaminação durante o descarregamento

Durante o descarregamento da forragem no silo é comum o tratorista avançar sobre o silo para descarregar a nova forragem sobre aquela que já foi compactada. Isso pode gerar um problema principalmente quando os pneus do trator e carreta chegam enlameados. “Ao fazer isso sucessivas vezes, a forragem estará sendo contaminada de micro-organismos indesejáveis que irão comprometer a qualidade da silagem. O mesmo acontece quando os tratores usados para transportar a forragem são os mesmos usados para compactação”, diz Sandir.

12 – Como garantir uma compactação bem feita

Nos silos tipo trincheira e de superfície, o enchimento é feito em camadas e começa pelo final do silo. O trabalho em cada camada é muito importante para que a compactação fique bem feita. Após o descarregamento, a forragem picada deve ser espalhada em uma camada de 20 centímetros sobre a rampa já compactada e somente após esse espalhamento a compactação deve ser iniciada.

A compactação sem o preparo da camada ou com camadas muito altas, maior que 20 centímetros, não fica bem feita, prejudica a qualidade e aumenta as perdas de silagem.  “Nos silos bem compactados, a silagem fermenta mais rapidamente e é menor a ocorrência de fungos e leveduras. Isso significa maior valor nutritivo, maior consumo, menor quantidade de perdas e maior economia de concentrado”, diz Sandir.

13 – É preciso vedar corretamente o silo

Após o enchimento do silo é necessário vedá-lo. Essa vedação é feita com lona de polietileno com o mínimo de 200 micras de espessura. “As de dupla face, com um lado branco e outro preto, são as mais indicadas e preferidas pelos produtores pelo fato de ser de manejo mais fácil e diminuir as perdas nas partes em que a silagem fica em contato com a lona”, diz Oliveira. Quando usadas, o lado branco deve ficar exposto para refletir a radiação solar e evitar o seu aquecimento e enfraquecimento.

Inicialmente, a lona deve ser estendida sobre o silo e, em seguida, fixada. A fixação deve começar pela parte detrás do silo. Nessa extremidade, a lona deve ser enterrada ou fixada no solo com uma cobertura de terra. Em seguida, a partir dessa parte já fixada, serão feitas a cobertura e fixação das extremidades laterais. “Isso deve ser feito ao mesmo tempo em que são colocados pesos sobre a lona, os quais irão forçá-la a ficar em contato com a silagem. Para essa função, pneus, sacos de areia ou mesmo terra podem ser colocados sobre a lona”, conta Sandir.  A fixação e colocação dos pesos devem ser feitas ao mesmo tempo, pouco a pouco, e sempre no sentido da parte traseira para a parte da frente do silo. O fechamento da extremidade final é feito da mesma maneira, enterrando a lona ou cobrindo-a com terra.

Quando se usa lona preta é preciso protegê-la do sol. Sem isso ela se enfraquece, torna-se mais permeável ao ar, o que aumenta a perda de silagem. Essa proteção pode ser feita com capim ou terra. Além do esforço a mais para colocar essa cobertura, a retirada desse material durante o período de utilização do silo também é trabalhoso.

Mesmo após o fechamento do silo, a forragem ensilada continuará “respirando”, pois um pouco de oxigênio sempre permanece no meio da forragem compactada. Somente após todo esse oxigênio residual ser “consumido” é que a fase de fermentação terá inicio. Uma boa compactação faz com que a fase de respiração seja bem curta e que a fase de fermentação inicie mais rapidamente. Ao final da fase de fermentação, a silagem estará estabilizada e pronta para o uso. Em silos de laboratório, essa estabilidade é alcançada entre seis e oito dias, mas em silos grandes, no campo, o período pode ser de 12 a 20 dias. Por garantia, recomenda-se manter o silo fechado pelo mínimo de 30 dias.

Por Naiara Araújo (naiara@sfarming.com.br)

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