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GUIA SOBRE TIPOS DE ORDENHA E MANEJO DOS ANIMAIS

Tipos de ordenha

12 minutos para ler

O leite é um dos alimentos mais consumidos no mundo, e o Brasil tem uma importante participação nesse cenário, ocupando a 4ª posição no ranking de produtores. Uma das razões que fizeram o país alcançar esse patamar foi a adoção de boas práticas de manejo em todos os tipos de ordenha.

Para atender à demanda do mercado consumidor e às exigências das novas diretrizes sobre produção de leite, os pecuaristas precisam inovar e garantir o acerto nas tomadas de decisão quanto ao procedimento central da sua produção. A boa condução na hora da ordenha evita contaminações e, dessa forma, não se comprometem os investimentos realizados ao longo do ciclo.

Continue sua leitura, entenda quais são os tipos de ordenha, veja qual deles se adéqua melhor a sua propriedade e saiba quais são os cuidados para garantir a qualidade e a segurança do leite!

Quais são os tipos de ordenha e suas diferenças?

Existem dois tipos de ordenha: o manual e o mecânico. Os dois métodos se diferenciam, basicamente, pelo uso ou não de um equipamento acoplado no úbere das vacas. Falaremos melhor sobre eles em seguida.

Antes de nos aprofundarmos mais a respeito deles, é importante destacar que a técnica escolhida não interfere na qualidade do leite, desde que todas as boas práticas de higiene de ordenha sejam seguidas corretamente.

Variações na composição do leite que podem acontecer estão relacionadas à nutrição dos animais ou a problemas de saúde e doenças, e não ao tipo de ordenha. Assim, a contaminação por microrganismos está atrelada ao grau de higienização dos utensílios, dos tetos e do próprio ordenhador.

Na ordenha manual, o leite é retirado diretamente pelas mãos do ordenhador e posto em um balde. São necessários, de forma geral, poucos e simples instrumentos: peia para conter a vaca, banquinho para o ordenhador, balde, filtro e tanque de refrigeração.

Esse método é empregado por pequenos produtores, já que requer poucos recursos e, no geral, o tamanho do rebanho não compensa o investimento em ordenha mecânica. Porém, exige mais mão de obra e resulta em baixa eficiência — exatamente o contrário do que a ordenha mecanizada proporciona.

Portanto, a escolha do sistema deve ser feita levando-se em consideração a infraestrutura da fazenda, o número de animais e de funcionários, a raça dos bovinos de leite, a produtividade (kg de leite/dia) e o aporte de capital para o negócio. Entretanto, já podemos mencionar que a ordenha mecânica oferece uma vantagem sobre a manual: a redução do estresse das vacas, devido ao rápido contato com o ordenhador.

Como todo produtor leiteiro sabe que apenas 25% da produção do rebanho é determinada por causas genéticas e 75% por causas ambientais, é crucial levar em conta o tipo de ordenha para interferir o mínimo possível nesse processo, garantindo bem-estar aos animais. Nos próximos tópicos explicamos como funciona a ordenha mecânica. Acompanhe.

Como é feita a ordenha mecânica?

A ordenha mecanizada é realizada com o auxílio de um equipamento que simula a mamada do bezerro, em um sistema de dupla câmara com pulsador. Ele permite a realização de dois ciclos, um de massagem e outro de extração ou ordenha propriamente dito. Esse sistema é mais eficiente, visto que é menos dependente de mão de obra experiente — embora seja necessária a capacitação do ordenhador para lidar com os equipamentos e utensílios.

Para sistemas de vacas de alta produção, com animais de alto mérito genético, é indispensável a automação do processo de ordenha na fazenda, garantindo maior eficiência e controle do processo.

Além disso, o método possibilita uma retirada mais rápida do leite, o que resulta em maior volume por dia, caracterizando um sistema intensivo de produção. Ademais, se bem conduzida e de acordo com as boas práticas sanitárias, oferece menos risco de contaminação.

Que técnicas são aplicadas à ordenha mecânica?

A ordenha mecânica é subdividida em dois tipos: balde ao pé e canalizada. Esta última é comumente realizada de três formas diferentes — espinha de peixe, tandem e lado a lado —, conforme a entrada e a disposição das vacas leiteiras nos galpões de ordenha. Veja a seguir.

Balde ao pé

O sistema balde ao pé é o mais simples e, também, o mais barato de ordenha mecanizada. As vacas são ordenhadas individualmente, e a produção é menos eficiente. Isso porque o leite é tirado e depositado em um recipiente ou latão para, só depois, ser transferido para dentro do tanque de refrigeração.

Em média, uma pessoa consegue ordenhar 15 vacas/hora. Se considerarmos a média produtiva da vaca de 10 litros, em uma ordenha de 3 horas, um ordenhador retira 450 litros de 45 vacas. Esse sistema é utilizado em produções de menor escala.

Canalizada

Na ordenha canalizada, o leite é retirado e depositado diretamente no tanque de refrigeração, por meio do sistema de canais. O leite, portanto, não tem contato com o meio externo e é menos manipulado.

O rendimento dessa técnica é maior, já que um ordenhador pode manipular 28 vacas/hora. Então, em 3 horas de ordenha, um ordenhador lida com 90 a 100 vacas e retira 900 a 1.000 litros de leite, considerando o mesmo exemplo anterior, ou seja, vacas com produção média de 10 litros. Confira os três modos mais comuns de ordenha canalizada.

Espinha de peixe

Na ordenha espinha de peixe, que é um tipo de ordenha canalizada, as vacas ficam posicionadas em um ângulo de 33° em relação ao fosso de ordenha (em diagonal). Isso facilita a visualização dos tetos e do úbere e diminui o espaço necessário na lateral do fosso. As vacas podem ficar dispostas em apenas um ou nos dois lados do fosso.

Tandem

Na ordenha tipo tandem, as vacas ficam dispostas em fila indiana, uma atrás da outra. Como elas se posicionam paralelamente ao fosso, essa é a única técnica que permite uma ordenha mecanizada com o bezerro ao pé.

Entretanto, é difícil aplicá-la em rebanhos muito numerosos, já que é necessária uma sala comprida, o que dificulta o trabalho do ordenhador.

Lado a lado

Na ordenha mecanizada lado a lado, as vacas ficam dispostas perpendicularmente ao fosso, uma do lado da outra. Essa posição reduz o espaço necessário na sala de ordenha, mas, como o rebanho fica de costas para o fosso, a visualização completa dos tetos é dificultada.

Ainda há o sistema em carrossel, em que as vacas são dispostas em uma plataforma giratória e recebem os equipamentos de um ou dois ordenhadores; e o sistema de ordenha robotizada, em que todo o procedimento (inclusive a limpeza do úbere) é controlado e realizado por robôs e computadores.

Esses sistemas têm uma altíssima eficiência, em que um grande número de vacas é ordenhado com uma redução considerável de mão de obra. Porém, requerem grande aporte de investimentos e, por isso, são raros no Brasil.

Quais são as vantagens de uma boa ordenha?

A ordenha é o procedimento mais importante da produção leiteira. Embora os cuidados com o gado comecem muito antes, no pré e pós-parto das vacas leiteiras, esse é o momento em que o produtor passa a colher os frutos de todos os investimentos que fez em nutrição e em sanidade para o seu rebanho.

Ou seja, realizar uma ordenha seguindo as melhores práticas de manejo é a forma de garantir a qualidade do leite produzido, uma vez que os devidos cuidados evitam possíveis contaminações. Entre as vantagens de atentar aos detalhes da ordenha, podemos destacar:

  • mantém a qualidade do leite;
  • evita contaminações;
  • favorece o controle de doenças, como a mastite;
  • garante a adequação às normas regulamentadoras;
  • assegura a comercialização segura do leite;
  • reduz custos de produção.

Que cuidados devem ser tomados na hora da ordenha?

A seguir, selecionamos os pontos que precisam de atenção no momento da ordenha. Antes, é importante ressaltar que esses cuidados devem ser tomados tanto na ordenha manual quanto na mecânica. Veja só!

Bem-estar na condução das vacas

O pecuarista que investe no bem-estar do seu rebanho leiteiro só tem a ganhar. O tratamento digno aos bovinos em todas as etapas de produção faz com que os animais se alimentem corretamente e produzam leite na quantidade e na qualidade desejada.

Sendo assim, a boa ordenha começa com a condução das vacas à sala. Isso deve ser feito com muita tranquilidade, sem tapas ou gritos (é o manejo “nada nas mãos”), eliminando qualquer situação estressante que possa comprometer a descida do leite.

Além disso, é importante respeitar as particularidades dos animais. Bovinos têm boa memória, reconhecem seus ordenhadores e gostam de rotina. Dessa forma, a programação das tarefas diárias da fazenda deve ser disciplinada e pontual, repetindo-se cada etapa de modo igual e direcionando as vacas para ocuparem sempre os mesmos locais na sala de ordenha.

Higiene do tratador

Pode-se dizer que o ordenhador é a peça mais importante do procedimento. Somente o tratador pode executar uma ordenha higiênica, tranquila, silenciosa, rápida e profunda, como precisa ser. Contudo, ele pode ser o veículo de contaminação de patógenos no úbere da vaca e no leite.

Portanto, o ordenhador deve ter bons hábitos de higiene, como:

  • manter unhas e cabelos aparados;
  • usar uniforme limpo;
  • usar touca para prender os cabelos;
  • lavar as mãos com água sanitária a 5%;
  • usar luvas descartáveis;
  • evitar fumar, cuspir e comer durante a ordenha;
  • ter acompanhamento médico anual ou semestral para evitar transmissão de doenças, como brucelose e tuberculose.

Higiene da sala de ordenha e dos equipamentos

A sala de ordenha deve ter piso de alvenaria, para facilitar a limpeza e evitar o acúmulo de lama. Além disso, deve ter distribuição de água (e bom escoamento) para que seja lavada com periodicidade e após cada ordenha, evitando a proliferação de microrganismos e insetos.

Os equipamentos e os utensílios devem ser higienizados antes da ordenha, além de estarem organizados e funcionando. Após cada ordenha, os instrumentos precisam ser novamente higienizados, desinfetados e guardados em local limpo e protegido da umidade.

Desinfecção do úbere das vacas

A qualidade do leite e a saúde do úbere da vaca estão relacionadas à higiene na hora da ordenha. Então, os tetos das vacas devem estar limpos e secos.

É indicado lavá-los com água corrente e, depois, proceder ao pré-dipping (mergulhar o teto em uma solução desinfetante, que pode ser água clorada a 2% ou iodada a 0,5%, por pelo menos 30 segundos). Após, deve-se secar cada teto com um papel toalha diferente para evitar contaminações.

A limpeza dos úberes também deve ser feita após finalizada a ordenha. Para isso, proceda ao pós-dipping, mergulhando cada teto inteiramente em solução desinfetante iodoglicerinada (iodo a 15,0%, glicerina líquida a 7,5% e água destilada a 77,5%).

Controle da mastite

Antes de proceder à ordenha propriamente dita, o ordenhador deve fazer o teste da caneca de fundo escuro para verificar a presença de grumos que indicam uma mastite bovina em curso. Descartar os primeiros jatos de leite também é importante para eliminar os microrganismos encontrados nos canais dos tetos.

Semanal, quinzenal ou mensalmente, deve-se realizar o teste chamado Califórnia Mastite Teste (CMT), que detecta a mastite subclínica nas vacas. Dessa forma, o pecuarista pode prevenir o surgimento de uma infecção mais intensa, que exigiria mais gastos com medicamentos e causaria prejuízo por descartar o leite das vacas afetadas.

Vale lembrar que, nas fazendas em que a ordenha é mecânica, as vacas sadias devem ser ordenhadas primeiro, até que as vacas com suspeita de mastite sejam tratadas e curadas, evitando, assim, a contaminação cruzada. Nesse processo, o leite das vacas afetadas deve ser descartado.

Ordenha contínua

Outra questão importante a destacar é que se deve tentar evitar qualquer interrupção durante a ordenha, e o leite precisa ser extraído com rapidez. Isso porque a ação do hormônio ocitocina, que favorece a descida do leite, dura de 4 a 7 minutos.

Qualquer interrupção provoca queda na produção. Além disso, se forem frequentes, há risco de prejudicar a vaca, já que o leite acumulado na glândula mamária serve de meio de cultura para que as bactérias causadoras das mastites se desenvolvam.

Agora você já conhece os tipos de ordenha e o manejo adequado no momento da ordenha de vacas leiteiras, pode avaliar qual deles é o mais interessante para o seu negócio, dadas as particularidades da sua fazenda. Lembre-se de que nenhum deles interfere na qualidade do leite, desde que sejam seguidas as boas práticas de higiene na hora da ordenha.

O que achou do nosso artigo? Você costuma seguir estas boas práticas na sua fazenda? Deixe seu comentário no post e compartilhe a sua experiência!

Este conteúdo foi elaborado com a colaboração de Vitor Pereira Bettero e Josiane Pereira dos Santos, especialistas em Nutrição de Ruminantes na Vaccinar.

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